Os pesados dias de preparativos, as Colônias pagando o preço alto, os detalhes, tão importantes detalhes, tratados na íntegra. Depois de tanto tempo, chegar ao alvo Terra parecia mais fácil e ainda mais importantes. Indispensável.
Zechs já havia dividido as legiões. Os EG - Escudos de Gundanium - iam à frente. Vários discordaram dessa iniciativa, já que os EG continham os grande líderes e estes deveriam ser protegidos, e não irem à frente, como proteção. Mas os pilotos desses Mobile Suits eram os excepcionais, os melhores, e que, se houvesse ataque armado contra a OZ II neste momento, eles conseguiriam destruir dezenas de Mobile Suits, sem precisar de ajuda. Os Gundams foram colocados à frente e atrás. Eram rápidos o suficiente para conseguirem proteger ambos os lados, ainda mais com os novos dispositivos que Eleni preparara. Partida.

"206 A.C.
20 Entrando na Esfera Terrestre"

Tenente Zechs?
Tenente Noin?
Faltam cinco minutos para as três da manhã. Preparando para decolagem em massa. Sim, senhora. Autorizado.
Maxwell, Barton, Chang, preparação para decolagem.
Tudo pronto, tenente.
Positivo.
Ótimo.
Todas as unidades, preparando para a decolagem. Quatro minutos para as três.
Os minutos passavam devagar. Segundos, segundos, segundos. Parecem demorar muito tempo quando olhados ininterruptamente, passando pelo relógio digital de luz verde.
Três minutos para as três.
Teria que dar certo dessa vez. Não havia motivo para falhas. Mesmo estando em menor número.
Dois minutos para as três. pausa. Pausa longa. Um minuto para as três.
E então a contagem inevitável.
10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1, 0. Decolar.
Mais uma vez aquela sensação, de novo, o Espaço negro à volta e a Terra azul e verde, uma esfera colorida iluminada pelo sol, as manchas de nuvens ocultando parte de seu interior. Zechs sentia o coração palpitar cada vez mais rápido. Por que aquela sensação de que não daria certo de novo?
O Escorpião EG poderia ser classificado tão bom quanto o Talgeese, talvez. Na verdade, era mesmo melhor, como a própria Eleni já disse. Quando Zechs ficara assustado quando ela dissera isso, pelo motivo óbvio de que Lady Une e os outros convocados não conseguiriam pilotar um Mobile Suit superior àquele Talgeese, ela respondera, em seu modo gentil:
Obviamente, monsieur Zechs, eu apenas desenvolvi ao extremo o seu EG, não o dos outros. Pensei que o senhor deveria ter o melhor Mobile Suit, porque afinal é cavalheiro de Peacecraft, homem confiável de Treize Khushrenada e ex-líder da extinta Presa Branca. Preparei-o especialmente para o senhor.
Mas, se ela sabia fazer um Mobile Suit superior ao Talgeese, quem era ela?
Nunca mais conseguira tempo para ficarem a sós e discutirem isso.
Agora, tinha que virar a atenção para esse ataque. Davam uma pequena volta pela Terra, localizando o Sul da África, o lugar onde a OZ II é vulnerável.
Noin passava as ordens. Ela ia à frente da expedição inteira, junto com Wuufei.
Já devem ter nos identificado, Zechs. ela disse, a voz nervosa. Temos que acelerar a decida. Claro. Noin deu as ordens. O ponto terrestre estava abaixo deles, ali, perfeito.
Som dos alarmes de cada Mobile Suit ali. Inimigos, OZ II, em pequena quantidade. Iam em grande velocidade, tentando cercar o grupo invasor a fim de ganhar tempo para que o reforço chegasse. Dessa vez não estava preparados.
Ótimo, não sabem de nada. Zechs disse em voz baixa a si mesmo. Depois, gritou uma ordem. Eliminem rapidamente, depois vaõ todos rumo ao alvo!
Um Sagitário inimigo atirou com o poderoso canhão em Zechs, que, protegido pelo escudo, nem sentiu o golpe. Avançou para quem o atacara rapidamente, cortando o Mobile Suit ao meio, despedaçando-o e fazendo-o explodir, marcando o início.
Disparou em direção à Terra. Todos já sabiam essa parte do plano: deveriam segui-lo, mesmo que deixassem vários inimigos vivos pelo caminho, numa espécie de fuga desesperada.
Noin era a segunda logo após de Zechs, e ao seu lado via Lady Une tentando acompanhar seu ritmo. Dando de frente com um Sagitário, golpeou-o apenas com o escudo, amassando o Mobile Suit. O piloto foi esmagado.
Logo mais reforços chegaram. Uma quantidade bem alta, de pilotos experientes.
Wuufei girava o tridente do Shenlong, destruindo os que se aproximavam. Chegou a proteger alguns soldados, inclusive Duo, encurralado por vários Mobile Suits numa tentativa de execução.
A Terra estava cada vez mais próxima. A pressão da atmosfera terrestre já afetava os Mobile Suits, tornando-os mais lentos.
Novas legiões de reforço. Quantas OZ II teria?
O Heavyarms de Trowa continuava perfeito para ataques à distância. De longe da grande massa de batalha, atirava em todos os Mobile Suits inimigos, Sagitários e outros que ele não identificou. Os que chegavam perto dele sentiam o peso de sua foice.
São muitos, muitos, mas nem tantos quanto a última vez. disse para si mesmo. Zechs, o que vai fazer?
Ah, sim, e agora: na metade da atmosfera eles estavam. Mobile Suits começavam a fechá-los em círculos, e os círculos foram ficando cada vez maiores envolta deles, até que todas as forças colonianas ficassem dentro dele. Os Mobile Suits atiraram de seus imensos canhões. Vários Libras e Escorpiões foram destruídos, explodiram. Os Gundams tiveram tempo de fugir, como alguns dos outros normais, e os EG conseguiram se defender.
Quase metade do exército! Noin exclamou para Zechs, na lingüagem automaticamente codificada. Zechs, temos que ir l.
Eu sei! Zechs destruiu dois dos inimigos com seu escudo. Todos, quero que todos me sigam, deixem-os para os Gundams!
Todos obedeceram. Zechs à frente, indo em alta velocidade em direção à Terra, já passando pelas camadas mais inferiores da atmosfera. Mirava o grande mar lá embaixo. Parte do plano de estilo de fuga era afundar os Mobile Suits na água profunda, para depois de dirigirem para o alvo. Claro, assim não precisariam se preocupar com o pouso, que teria conseqüencias ainda mais drásticas por causa do lixo nuclear daquela região, motivo da salvação deles na Terra.
Um tiro de um canhão-de-raios acertou algo atrás dele. Noin. O braço foi arrancado, sobranco o esquerdo, o que continha o escudo. Ela gritou de susto, mas depois recuperou-se. Não tinha forças para relatar nada a Zechs. Estava molhada de suor, tentando se concentrar na descida violenta. Poucas nuvens estavam acima do mar cinzento.
Lady Une esforçava-se para manter-se ao lado de Noin. Zechs virou-se, caía à toda velocidade de costas. Passou a tentar acertar os que os perseguiam, salvando os de menos habilidade. Estavam em desvantagem: ele esperava encontrar os inimigos à frente, e não atrás, por isso ficara à frente do exército. Mas as partes mais vulneráveis estavam nas mãos dos inimigos experientes.
Sentia agora o grande peso do ar. Tudo esbranquiçou-se em nuvens. O grande estrondo. Caíra na água.
Viu Noin e outros caírem na água suja também, inclusive o Deathcythe de Duo. Depois teve de se concentrar em ir tentando parar o Mobile Suit, facilmente por causa da densidade da água poluída. O comunicador. Noin, Noin numa voz desesperada.
Céus, Zechs, a Lady Une!
O quê?
Não houve tempo para resposta. Os Mobile Suits inimigos também afundaram na água, e mal era possível vê-los na imundície do mar. Noin, em direção ao continente!
Sim, senhor! Zechs sentiu Wuufei afundar ao seu lado. Este não disse nenhuma palavra, apenas empunhou o tridente para lutar de novo. Trowa também parou ali do lado.
Temos pressa. anunciou Zechs.
Prosseguiram para o alvo.
Mas a Lady Une! insistiu Noin.
Vou procurá-la, tenente! disse um dos oficiais, um que pilotava o EG. Saiu quando ganhou autorização para isso. Vá com ele. disse Zechs a Duo, que, a contragosto, foi.
Lady Une acabara de cair na água. Foi retardada por três Sagitários que a cercaram, mas conseguiu escapar, não sem danos. Mais inimigos em cima dela, se jogando na água, espalhando milhões de bolhas. Lady Une sentiu um golpe no peito do Mobile Suit, depois protegeu-se com o escudo. Várias partes estavam danificadas e a perna da coronel estava sangrando - algum golpe brusco. Ah, como gostaria de ser experiente como o Senhor Treize! Ataques com seu canhão. Estava tão zonza que nem sabia se havia acertado algo. Até que um golpe de um inimigo a fez perder o canhão da mão. Protegeu-se com o escudo, afastando-se, tentando fugir. Viu a luz da foice da morte do Deathcythe, ficando mais aliviada. A foice cortou vários dos Mobile Suits.
Parecia que haviam mais. Sim, reforços, reforços.
Lady Une, tá desarmada! exclamou Duo. Vá embora!
Es..tou indo. ele sussurrou, percebendo que era inútil permanecer ali.
Duo, no entanto, percebeu que estavam cercados. Girou a foice no ar, depois passou rápido por todos os que os cercavam, eliminando os que podia de uma vez. Um golpe certeiro na perna o fez se mover mais devagar.
Uma passagem, entre todos eles. Lady Une passou rápido, Duo indo atrás dela. Se permanecessem mais tempo ali.
O continente tá aqui perto! gritava Duo Não vão poder atacar quando chegarmos lá, eles sabem disso, anda, Une!
Ela não respondeu. Sua perna doía, doía muito. Sentia o corpo todo tremer.
Adiante, Une! Duo xingou. Ouviu um som atrás de si. Se virou rápido, ao não identificar que som era aquele, e então viu um enorme canhão, reluzindo uma vez avermelhada, carregado por três Mobile Suits. Parecia com aquele enorme da Presa Branca no Espaço. Uma luz vermelha, luz vermelha que seria disparada, e.
UNE! ele gritou para ela, tentando agarrar o EG com o Deathcythe, tentando tirá-lo do caminho.
Lady Une viu o imenso raio vermelho. O raio, o raio, o calor insuportável.
AAAHHGGH!
Duo arrastou o Mobile Suit para o continente.

Todos sangrentos, caídos, feridos. Pareciam um exército derrotado. Porém, era um exército vitorioso. Ao menos na primeira batalha, a batalha que abriu a Revolução Coloniana. Abram! Deixem ela sair!
Está viva!
Pelo amor de Deus!
Do EG danificado que Duo trouxera da batalha, tiraram Lady Une com cuidado.
A terra dessa região era cinzenta e batida, assim como o mar, o Oceano Índico, sujo e fétido. Ao longe, era possível ver Mobile Suits da OZ II. Mas não ousariam atacar: vigiariam dali, ou passariam a segui-los pelo continente mesmo. Os soldados pousaram Lady Une no chão, todos ao redor dela. Um oficial que também era médico analizou-a, e não foi preciso ele dizer para todos descobrirem.
Estava morta.
A perna direita estava dilacerada, as mãos completamente danificadas, parte do pescoço ferido. Mas o que a matara em si foi a forte radiação do canhão de raio vermelho. Duo fora protegido pelo Deathcythe, e ela não conseguira posicionar o escudo a tempo para se proteger.
Aqueles EG era magnífico quando o piloto era igualmente especial. Noin quase não suportou também. Quatro dos oficiais que os pilotavam morreram em batalha. E então aquele som. Era aquele som.
A corneta militar tocava sua melodia triste, em nome dos combatentes mortos. Menos de um terço. Metade dos Mobile Suits danificados. Estavam todos em pé. Contemplavam o mar com respeito; Lady Une coberta com sua própria capa militar.
Noin, que estava pouco atrás de Zechs, chegou mais perto. Subindo na ponta dos pés para alcançar, sussurrou-lhe no ouvido.
Vamos continuar? sua voz parecia chocada.
Ele não respondeu. Odiava a si mesmo por ter agora na mente o pensamento de que aquelas mortes foram necessárias, inclusive a de Lady Une. E Noin sabia muito bem disso.
As mortes talvez tenham sido mesmo necessárias. ela continuou, ninguém mais ouvindo. A corneta ainda era tocada. Como o Maganac Corps no deserto. Você sabe bem disso, e admite melhor do que eu, mas mesmo assim está inconformado. Por quê?
Ela soluçou de leve e enxugou uma pequena lágrima.
Detesto essa música.
Eu também.
Um soluço mais alto. Encostou a testa nas costas de Zechs, entre os cabelos claros e desarrumados.
Droga.
O que foi?
Você sempre me avisa: não fique tão íntima assim dos soldados, não os adore tanto. Mas eu, mas eu... a mão enluvada foi de novo aos olhos, enxugando mais lágrimas. Virou-se e olhou para os que estavam atrás deles. Havia uma multidão, atrás, à frente e dos lados. Eles estavam num plano mais alto, junto aos mais importantes, os pilotos Gundam e... e Lady Une.
Os pilotos Gundam. Noin olhou em seus rostos jovens um por um, imaginando o que seria ter eles mortos. E, nesse momento, pensava em Heero.
Sem sair de sua posição de sentido, olhando para a frente, Zechs estendeu uma mão para pegar a de Noin. Fechou-a delicadamente.
As honras terminaram, a música também. Zechs se virou para abraçar Noin apertado, e logo cremariam Lady Une.
Por Kitsune-Onna