Sem dúvida alguma. Aquele era Quatre Raberba Winner.
206 A.C.
25
Segunda Vitória - Reencontro
Quatre viu que Noin estava igualmente maravilhada em revê-lo. Mas também percebeu logo que ela tentou disfarçar a surpresa.
Ah, então é o senhor, Sr. Asid... ela começou.
Quatre ainda mal conseguia falar. Noin prosseguiu:
Imagino que veio preocupado pensando nessas ordens que acabei de passar. Sinto muito. Mas, como apoio à nossa revolução, achamos simplesmente maravilhoso que o senhor estivesse aqui.
Uma pausa. Quatre conseguiu dizer:
Ah,.. sim.
Poderia me seguir? ela estendeu o braço para onde estava agrupado o exército.
Um dos homens chegou perto de Quatre e sussurrou em árabe:
Isso seria seguro, senhor?
Quatre mal lhe deu atenção.
Claro. Claro, comandante?
Noin. ela sorriu. Lucrezia Noin.
Apertaram as mãos.
Quatre a seguiu, e mandou que ninguém mais os seguisse.
Logo após uma duna alta, Quatre se impressionou.
O exército era imenso, não podendo ser visto da cidade nada mais que alguns dos Mobile Suits. Os soldados estavam sentados na areia, ou debaixo de tendas improvisadas, descansando. Os primeiros que viram a comandante Noin vindo com Karim Asid ao seu lado começaram a saudá-lo, e logo todo o exército fez o mesmo. Quatre apenas respondeu com um aceno de mão, como um político, e um sorriso impressionado.
Logo todo o exército recomeçou a conversar entre si.
Quatre! It's you!
Mal se virou e já recebeu um abraço. Duo, que o apertara com força, a voz emocionada:
Ah, nem acredito!
É... nem eu, Duo. depois do susto, Quatre correspondeu o abraço. Vocês... aqui.
Por cima do ombro de Duo, ele viu Trowa. Este parecia realmente surpreso em ver Quatre, como raramente se expressava. Depois de conseguir se livrar de um emocionado Duo (ou de Duo conseguir se livrar dele), abraçou Trowa, coisa que talvez nunca tenha feito na vida.
Depois um abraço formal com Noin. Quatre estava radiante.
Senhor?
Senhorita?
Ela entrou com verdadeira graça, os longos cabelos lisíssimos e claros escorrendo nas costas.
Bom dia!
Bom dia, Srta. Catalonia! Como é bom vê-la por aqui. Por que nunca mais veio me visitar?
Sabe, ando ocupada. sentou-se delicadamente no banco, contemplando o mar além deles. E acho que o senhor também esteve, não? Não pude encontrá-lo nenhuma vez fora da Base dos Alpes, e o senhor sabe que lá não é muito agradável para se visitar uma pessoa.
Sim, certamente.
Anda tendo trabalho com a revolução?
Ah, muito, senhorita, muito.
Desculpe, que pergunta óbvia a minha! e então, a risada graciosa. E será que eu o atrapalho?
Não, de maneira nenhuma! É bom tê-la aqui, Srta. Catalonia, principalmente agora numa época tão extressante. A senhorita traz bastante alegria.
Ah, obigada! Nossa, esse mar está cada vez mais bonito, não?
Ah, minha amada Dorothy!, exclamou Mallaica consigo mesmo ao contemplá-la, de costas para ele, olhando para o mar. Infelizmente eu não vejo motivo nenhum para confiar em uma raposa astuta como a senhorita, ainda mais nestes tempos difíceis!
Apesar de tudo, Mallaica amava Dorothy, e não por causa da beleza da jovem. Ela tinha uma maneira muito parecida com a dele de conseguir o que queria, além de terem personalidades parecidas. Se associaram cerca de seis anos atrás, foram amantes por um tempo, mas depois temeram "cair na boca do povo" e com isso perder prestígio. Dorothy preferira ficar um tanto longe dos assuntos políticos do mundo, sendo voltada para a economia.
Tanto que era dona de um dos maiores grupos industriais da Terra, que fabricava principalmente materiais bélicos.
Mas agora que uma guerra como essa está prestes a começar... ela explicou enquanto conversavam ali. Eu não posso ficar longe, não?
A senhorita realmente acha que será guerra certa?
Mas é claro! O senhor não?
O banco de pedra onde estavam sentados ficava no que fora um antigo templo - agora em ruínas. As águas azuis-escuras do Mediterrâneo se estendiam por todos os lados, sem interferência, até tocarem o céu de cor clara.
Mas a situação está mais calma? Dorothy retomou, após Mallaica ter respondido sua pergunta com nada mais que um sorriso. Por que o senhor veio ao Chipre?
Como o povo diz, "o Chipre é a casa de férias da OZ"! Só vou ficar aqui por dois dias. Preciso de um pouco de ar, e essa brisa do mar é realmente agradável.
Ela concordou com um aceno de cabeça.
E a Srta. Relena?
A Srta. Peacecraft? ele suspirou. Por enquanto, acho que está sob controle. O Winner está na Arábia, não sei ainda se teve algum contato com os rebeldes.
Ela se impressionou.
Mesmo? E o que ele foi fazer lá?
Parece que recebeu uma carta falando sobre a morte de sua antiga organização. E quis saber mais sobre isso, visitar os túmulos. Isso eu não posso proibir.
Dorothy confirmou com a cabeça, agora mais séria.
Mas ainda acho que foi ousadia - para não dizer "estupidez" - você ter entregue Clermont a eles dois.
Ele riu.
Como você é indelicada! Estupidez?
Então é uma cilada? ela voltou a sorrir. Me conte mais sobre isso!
Não, não é uma cilada. Mallaica se levantou e começou a andar pela antiga praça do templo, Dorothy ficou a fitá-lo. Mas a Srta.aft não pode se mover diretamente contra mim se tiver Clermont, minha querida. A não ser que consiga mudar aquelas milhares de cabeças.
Dorothy continuou a olhá-lo, enquanto ele retornava e se sentava novamente, prosseguindo:
E ela tem várias outras preocupações mais imediatas... Já é fim de ano, e também precisa dar início ao St. Anne.
St. Anne?
É o navio que, em todas as guerras, Clermont manda para atender as populações afetadas. Estive pensando no St. Anne esses dias. Além de mostrar seu apoio aos pobres civis, a Srta. Peacecraft tem que se mostrar contrária à guerra, não tem? Ela não pode se aproximar.
Dorothy confirmou com a cabeça. Mas como Aurey poderia ter tanta certeza assim sobre a Relena? Pelo modo como ele fitou gravemente o Mediterrâneo, havia algo mais do que ele tinha dito.
Logo apareceu aquele que Quatre podia se lembrar muito bem: Zechs Marchise, quem provavelmente guiava as tropas da revolução como comandante. Os dois se cumprimentaram com um formal aperto de mão. Depois Quatre perguntou sobre Wuufei. Disseram que talvez ele havia ido até a China, na verdade não sabiam muito bem.
Precisamos colocá-lo a par de tudo, não é, Quatre? Noin perguntou com carinho. Aconteceu tanta coisa!
É, eu tambem preciso contar muito a vocês, Srta. Noin! Quatre sorriu. Sua expressão era franca, e o sorriso era verdadeiramente alegre. Mas... precisam de mantimentos para o seu exército, não precisam? Agora.
Zechs o interrompeu com um sinal com a mão, polidamente, recusando.
Não, na verdade não precisamos. Acumulamos o suficiente durante a nossa travessia. Só precisávamos de hospedagem para todos. A areia por tanto tempo de viagem já está desanimando os soldados.
Quatre olhou para a cidadezinha, pensando o mesmo que Zechs Não havia lugar lá para hospedar tantos soldados, mesmo que expulsassem todos os moradores.
Precisávamos de grandes meios de transporte. Quatre olhava para os soldados, pensativo. Mas para atravessar o oceano... o Oceano Índico, quero dizer, é muito longe... Para onde vocês pretendiam ir?
Zechs precisou fazer uma pausa antes de responder.
Não há objetivo de um lugar fixo, por enquanto. respondeu por fim, lamentando a resposta vaga e desconfortável.
Pretendem, por onde passam, fazer as pessoas de voltarem contra a OZ II?
Exatamente. Mas gostaríamos de uma base. Não encontramos nenhuma decente e desocupada até agora.
Haviam passado pela base de Jiddah, Zechs lembrou-se, mas preferiu não falar a Quatre.
Quatre convidou-os para descansarem numa hospedaria da cidadezinha, assim poderiam conversar e contar tudo o que aconteceu de ambos os lados. Tanto tempo! Mas parecia, de certa forma, que não fazia tanto tempo assim, já que todos estiveram o tempo todo ocupados com a chegada na Terra, a suposta guerra, a situação mundial. Parecia uma data tão próxima: a OZ II invadiu aquela Colônia naquele dia, levando Quatre e Relena.
Quatre viu que seus visitantes ficaram fascinados com o festival. Stefan, curioso, seguiu-os cheio de perguntas, mas Quatre mandou que ele ficasse longe com uma voz autoritária que nunca utilizara em Clermont. Lala Samira, apesar de vê-los, preferiu ficar longe. Encarava Quatre, perplexa.
Apesar da festa e da música continuarem, todos os habitantes espiavam para ver quem eram os visitantes.
Quatre fechou a porta do quarto da hospedaria atrás de si, abafando o barulho de lá de fora.
Era um quarto simples, digno da pequena cidade. Duas camas com colcha bordada, uma mesinha com duas cadeiras. Um armário em frente às camas, e na mesinha havia uma pequena e antiga televisão.
Duo se jogou em uma das camas.
Aah, até que enfim! Cama de verdade!
Quatre riu. Como era bom ver Duo de novo, dessa maneira; e o olhar de censura de Noin diante da cena. Ela sentou-se na outra cama, ao lado de Quatre. Trowa e Zechs se acomodaram nas cadeiras.
Desculpem, mas... Quatre começou, embaraçado. esse é o único lugar que tenho... é humilde, mas.
Noin interferiu:
Ah, não, Quatre, está ótimo!
A gente tomou até banho de rio. fungou Duo afofando o travesseiro. É a primeira vez em meses que ponho os olhos numa cama, ai, ai.
Zechs sorriu e fez um gesto como se dissesse para Quatre não se importar. Trowa estava distraído, olhando as vigas do teto baixo.
Quatre reiniciou.
Podem começar a contar tudo? Eu queria ouvir as suas vozes.
Horas, madrugada adentro. Eles queriam descansar, mas os olhos atentos e insistentes de Quatre exigiam mais e mais sem que ele mesmo percebesse. Adorava ouvir suas vozes e risadas. Olhar dentro dos olhos deles. Quase não falou nada. Apenas ouviu com prazer.
Eram nove da manhã. Não havia quase ninguém nas pequenas ruas
Stefan caminhava por elas. Alguém chamou seu nome.
Stefan!
Se virou, vendo Lala Samira. Ela foi até ele, falando com voz baixa e com um toque de fofoqueira.
Quem eram aquelas pessoas? Eles conheciam Sid Quatre?
Por que está toda inquieta, Lala Samira? ele perguntou para provocá-la, com um sorriso sacana no rosto.
Agora não é hora, prof. Stefan, por favor. ela tentou não demonstrar-se tão curiosa quanto estava. Quem eram aqueles soldados? E todo esse exército, o que está acontecendo?
Bem.
Fala, homem!
Calma, mulher!
Stefan puxou-a mais para perto, imitando o tom mexeriqueiro da professora, deixando-a ainda mais irritada.
Dizem que é a tal revolução da África.
Mesmo!
Cuidado! ele disse em tom dramático. As paredes têm ouvidos.
Os líderes da revolução, aqueles? Será que eram pilotos Gundam?
Devem ser. O Sr. Winner tratou-os com tanta intimidade...
Eu não os vi muito bem.
Não?
Não. Estavam longe de mim, mas você passou perto, não passou?
Passei! Eram quatro. contou Stefan mordendo a isca de Lala Samira.
Quatro? Ah, contei isso mesmo! Mas a aparência... ela disse aparentemente inocente, incitando-o a falar mais.
Tinha um cara com um cabelo claro e comprido, muito elegante... Uma mulher muito linda de cabelo escuro cobrindo metade do rosto - nela eu reparei muito bem, minha cara! Um outro tinha cabelo muito comprido também, preso num rabo, e outro tinha cabelos castanhos e era bem alto.
Sabe onde estão eles agora?
Não faço a mínima idéia.
Hoje é o dia de voltarmos a Clermont. Lala Samira balançou a cabeça negativamente, com um suspiro. E como vamos fazer? Será que vamos voltar? Se a OZ II descobre que Sid Quatre apóia essa revolução, eu temo o que possam fazer a ele e à Srta. Peacecraft.
Stefan concordou. Depois disse, ao ouvir alguma coisa.
Hey, Lala... Não está ouvindo uma música?
Ela sorriu.
Um som de violino e flauta? Sim, estou. Bela música, não?
Por Kitsune-Onna
Ouvindo Sonata Arctica
