Nenhuma notícia dele até agora?
Relena balançou a cabeça. Estava visivelmente preocupadíssima. Já passara um dia do prazo que Quatre estabelecera para voltar para Clermont, e nem sinal dele, nem dos que tinham ido com ele. Heero só mantinha a expressão um pouco diferente do normal, que era de receio. Ele não pode estragar tudo depois do que consegui.
Heero! exclamou Relena, furiosa.
Mas é verdade. Agora temos comunicação com as Colônias - e ainda - sem que a OZ II intercepte nada. Consegui ainda mais dados da revolução. ele pausou por um momento, parecendo sentir-se satisfeito. Unindo-se a elas, talvez tenhamos alguma chance.
Relena confirmou com a cabeça. Por mais que tentasse, nunca conseguia encarar os fatos com a serenidade de Heero. Só mais uma coisa, Relena.
Hum?
Vou trazer colonianos secretamente para Clermont. Só espero que não se importe.

206 A.C.
26 Relena e Heero

Quando Heero conseguiu o primeiro contato com as Colônias - em sua sala fechada e escura, na frente de computadores - ele falou com uma engenheira da Colônia em que a revolução havia partido. Depois de conversarem em desconfiança, sem saberem quem realmente era o outro, ela declarou que era Eleni Daeé. Heero reconheceu o nome famoso, mas não disse quem era, ao contrário do que ela esperava. Começou a perguntar algumas coisas.
Conseguiu entender que nas Colônias estava um caos muito grande. Abandonadas pela Terra, a economia estava abalada - o que fez os líderes espaciais jurarem lealdade à OZ II, e permaneciam ainda sem resposta. As pessoas das Colônias já protestavam contra a revolução, que, desde a sua primeira tentativa no ano passado, já acabou por prejudicar as Colônias do Espaço inteiro. Os Gundams há muito já eram tidos como inimigos.
A engenheira falou também de uma "traidora", explicando o que acontecera e porque a revolução fora atrasada. Ora, Sally Po fora quase apedrejada nas ruas! Muitos diziam em legalizar a pena de morte, nesse caso. Heero ficou mesmo surpreso. Só se lembrava de conhecê-la onze anos atrás, e para ele ela sempre fora uma idiota qualquer, sem muita capacidade.
A Daeé não revelou mais nada. Perguntou várias vezes com quem ela falava, mas todas as vezes Heero respondia com outra pergunta. Por fim, ela desistiu.
Não posso conversar mais, monsieur.
Posso entrar em contato com você novamente?
Não, não. Deixe que eu entro em contato com você. Ah, e por favor, diga a Relena Peacecraft que nos apóie. Ela não defende os fracos?
Heero se surpreendeu. Ela sabia que ele falava de Clermont.
Mais uma coisa.
Hum?
Vocês têm alguma informação sobre o paradeiro de Heero Yuy? Sabe se ele está vivo ou morto?
Deve estar morto. ele respondeu sem hesitar. Nunca apareceu por aqui. Procuramos, mas ele nunca apareceu.
O senhor tem certeza?

De madrugada, sem conseguir dormir, voltou à sala escura de computadores que havia montado para si. Nunca foi de dormir bem, mas agora estava pior. O fato é que se sentia impotente numa situação tão alarmante na Terra e nas Colônias. Só restava a Heero agir passivamente, pesquisando e montando estratégias que nem sabia se iria usar ou não. Ficaria ali, na frente daqueles computadores.
Ligou-os.
Procuraria por mais pessoas das Colônias. Daeé era esperta e desconfiada demais para passar qualquer informação importante, embora ela tenha errado passando seu nome verdadeiro. A não ser se esse não fosse seu nome verdadeiro. Mas que existia uma Eleni Daeé, existia: ele ouvira falar sobre aquela genial engenheira, que participou da construção dos melhores Mobile Suits já inventados. Nunca falara com ela, mas já devia tê-la visto uma vez de relance, falando com o Dr. J, ou com qualquer outro cientista ou engenheiro que ele tenha conhecido.
Ela tinha algum envolvimento com os Gundams? Ele não tinha certeza.
Foi quando viu que alguém estava ligando para Clermont, no número do telefone da sala de Relena. Dava para ver dali. Era um número qualquer, de um telefone que tinha câmera (era possível conversar com quem estava ligando através da tela). Heero não atendeu. Uma ligação internacional - era difícil ser engano. Mas o telefone era público.
Embora ele ignorasse, voltando a fazer o que viera fazer, a pessoa do outro lado insistia. Não queria atender, era arriscado ser visto. Por fim, tentou localizar de onde a ligação insistente vinha. Hallah, Península da Arábia?
Só se atendesse e visse, por uma fração de segundo, quem era. Se fosse Quatre... não poderiam falar nada suspeito. Afinal, o som poderia ser interceptado pela OZ II... porém, a imagem não poderia. Atendeu. Do outro lado, viu os inconfundíveis olhos grandes cheios de maquilagem, a boca pintada de marrom. Era aquela tal professora árabe. Nazira.
Boa noite. Samira. Isso, era Samira.
Boa noite! ela repetiu, sorrindo.
Boa noite.
Então Samira ergueu um papel escrito alguma coisa. Heero leu rapidamente, enquanto ela dizia:
Aí é de Clermont, não? Gostaria de falar com Ali Saoul, sabe, ele é meu sobrinho... Eu poderia?
Samira abaixou aquele papel e depois ergueu outro. Heero, enquanto lia, respondeu:
Sinto muito, senhora, mas é madrugada - quase todos os alunos estão dormindo. É urgent... urgente?
Quase engasgou com o que viu. Não só o conteúdo da mensagem. Duo, atrás de Samira, acenou alegremente para ele.
Madrugada? a mulher tornou a falar enquanto ergueu outro papel, enquanto Duo fazia "chifrinhos" nela com uma mão. Oh, sinto muito! Aqui são apenas sete da noite. Eu preciso prestar mais atenção nos fusos horários... Não, não é urgente, eu ligo amanhã, se possível. Muito obrigada, e desculpe o incômodo... Não foi nada.
Ela desligou. Heero levantou-se imediatamente, indo procurar Relena.

Abriu silenciosamente a porta do quarto.
Ao contrário do que esperava, Relena já fora se deitar. Um pequeno abajur, no canto do quarto, davam uma luminosidade amarelada e muito leve, sendo possível apenas distinguir vultos com ela. Aquilo era mania de Quatre que Relena também havia adotado para ela. Afinal, depois de quase um ano de casados.
Casados. Como era difícil para Heero imaginar aquilo. Não parecia que havia passado tanto tempo assim, já que ele pedera a memória todo esse tempo. Relena ainda era, para ele, aquela garota ingênua e ousada, extremamente inocente.
E casada ainda com Quatre. Nunca que ele imaginaria que eles iriam fazer isso nem politicamente. O casamento falso era bastante real: dormiam os dois na mesma grande cama. Por quê?
Toda a decoração do quarto fora caprichosamente escolhida. Um grande quadro abstrato retratando o que parecia ser uma rosa vista de muito perto ficava atrás da cama. Era a única coisa colorida e viva. O resto era em tons de bege e branco, móveis perfeitos, uma cama com uma colcha fofa, perfeita para cobrir-se no inverno ou deitar-se em cima no verão.
Heero se surpreendeu ao ver Relena de olhos abertos. Ela fechou-os de novo, mas ele já tinha visto.
Não conseguiu dormir? ele perguntou com voz baixa. Entrou no quarto e fechou a porta.
Ela se sentou na cama. É. Muito menos você. Relena respondeu com a mesma ternura.
Tive notícias de Quatre. Heero puxou uma cadeira macia e se sentou. Ele está na Arábia. Encontrou com a revolução.
Revolução? ela arregalou os olhos, parecendo ao mesmo tempo feliz e com medo.
Revolução. Duo, Trowa, Wuufei. Não, Wuufei está na China agora. Mais a Noin e o seu irmão.
Relena levou as mãos à boca.
Não pode ser!
Eles têm um exército enorme. Vários soldados foram se aliando a eles no caminho da África até a Arábia. Eu acho que esse exército é fraco e mal-treinado, também não deve ser unido. Mas já é alguma coisa.
Ah, é muito!
Pediram verba por parte de Clermont. Verba, alimentação, cuidados médicos, tudo o que é necessário para um exército. ele fez uma pausa, olhando Relena gravemente. Você vai mesmo entrar nisso, Relena?
Antes que ela respodesse, ele acrescentou.
Fazendo isso, você vai declarar guerra à OZ II. Eu sei!
Ela até hesitou por um segundo, sentindo-se irritada pelo modo como ele falava, como se ela nnca tivesse lidado com política na vida. Praticamente nascera para isso!
Mas não, não poderia parar agora. Isso seria abandonar a revolução, os oprimidos da Terra e das Colônias. Seu próprio irmão! Zechs deveria ter certeza de que ela faria tudo o que ele pedisse, arriscando qualquer coisa. Não poderia desistir. Mas então Heero acrescentou:
Você sempre foi contra guerra, Relena. Qual o motivo dessa vontade agora?
A situação está bem pior que qualquer outra que eu já tenha presenciado. A mulher das Colônias não disse a você?
Disse.
Talvez seja um motivo suficiente... combater com armas. Pelo menos até tirar Mallaica e outros governantes.
Ele olhou-a seriamente.
Relena.
Sim?
Você concluiu que o pacifismo não adianta em nada?
Não! N..não, é que.
Ela se surpreendeu com a afirmação dele. Mas talvez fosse verdade.
Só não vá se apaixonar pela guerra. ele respondeu com um quase-sorriso.
Relena sorriu também. Como essa expressão dele era linda! Na hora sentiu que poderia passar a noite inteira o contemplando daquela maneira. Mas.
Então eu vou fazer isso mesmo.
Vai?
Claro. Já tenho alguns planos arquitetados, e tenho certeza de que você já tem os seus, Heero.
E então veio, de repente. Heero sorriu.
Claro, claro.
Ele se afastou novamente, encostando-se mais uma vez no encosto da cadeira. Parecia cansado.
Vou dormir.
Ah, espere um pouco! ela disse antes que ele se levantasse. Fique um... um pouco aqui comigo.
Ele permaneceu sentado onde estava, encarando-a calmamente. Ela percebeu embaraçada que ele não sairia dali Não... não foi isso que eu quis dizer... Ele continuou ali. Está com sono, não? Pe...pegue um pijama do Quatre - ele tem muitos. Deite-se... deite-se um pouco aqui.
Ela deitou e se virou, tentando parecer natural, escondendo o rosto ruborizado.
Heero calmamente obedeceu. Relena sentiu-o subir na cama e deitar-se, de costas para ela. Virando-se de barriga para cima, começou a refletir até xingar a si mesma em pensamentos. "Não era o Quatre, Relena, hein, hein? Pelo amor de Deus, você é uma pessoa pública.
Virou-se para o lado e dormiu.

da autora:
quero me desculpar pela lentidão do fanfic. Ultimamente não tenho muito tempo para escrevê-lo... Mas, por favor, paciência! ' muito mais tensão daqui para a frente..

Por Kitsune-Onna, sua raposa favorita - com Messenger!