Heero de imediato demonstrou repulsa à tentativa, afastando-o. Alô, Duo disse, simplesmente. Quatre, Trowa. Onde estão os outros dois?
Lala Samira já foi para os aposentos dela. Quatre disse, apertando a mão de Heero. Stefan ficou na Arábia.
Heero assentiu, depois foi cumprimentar Trowa, que, apesar de estar evidentemente felicíssimo em ver o piloto em que se inspirara tanto antes, disse simplesmente:
Olá, Heero.
206 A.C.
28
Espera
Abraçaram-se, trocaram beijos no rosto e na testa. De volta àquele quarto belo e aconchegante, Quatre se sentia mais uma vez aquele coordenador de Clermont, e não mais o rebelde que dormia em cabanas. Notava o alívio e a felicidade de Relena, que o encheu de perguntas, sobre como estava por lá, como estavam os pilotos, como estava seu irmão e a Srta. Noin. Quatre explicou tudo, apesar do sono que sentia.
No caminho que percorrera no St. Anne, planejou exatamente como contaria a ela, fazendo um relatório mental. E agora não poderia deixar esperar.
O St Anne. Era um navio modesto, só de carga, que deixava toda a beleza e o luxo de lado para se tornar mais espaçoso e muito mais rápido. Depois do ataque nas regiões árabes, ele retornara diretamente à universidade. O que foi um alívio, porque os quartinhos em que dormiram por aqueles dias, quentes e fechados, pioravam ainda mais o pavor de Quatre por navios. Duo parecia não se simpatizar muito com eles também.
O importante é que chegaram. disse ela, ao fim de tudo. Não parecia satisfeita com a condição da revolta. Não sabe o quanto nos preocupamos com você? E amanhã devo falar com Lala Samira... andava pelo quarto, as preocupações voltando. E o prof. Stefan?! O que ele iria fazer num lugar como aquele!
Por fim parou de andar, encarando Quatre, sentado na cadeira.
Escute, Quatre. Não fui eu quem quis trazê-los até aqui.
É... ele não pareceu surpreso. Mas a idéia que Heero teve foi interessante. Eu gosto de lutar em equipe, mas algumas lutas só eu e Sandrock me farão bem. falando isso, deu um tapa na própria testa. E Sandrock... ele está nas Colônias!
Mais tarde, foram dormir os dois. Relena pensou em Heero, mas dormiu rápido demais para começar a sentir remorsos.
Foi o dia seguinte, Domingo.
Primeiramente, de madrugada.
Heero guiou Trowa até a sala de computadores que tanto amava. Precisava conversar com uma cabeça parecida com a sua, e Trowa era a pessoa com os sentimentos mais próximos dele, que ele conhecia. Amava Relena, mas as relações entre os dois eram bem diferentes se entrava política e guerra no meio.
Trowa ouviu calado tudo o que Heero contava sobre a tal Eleni das Colônias com quem ele conversava constantemente há algum tempo.
Ah, mas você conheceu Eleni.
Conheci?
Claro. Trowa sorriu. Ela foi de grande ajuda para a revolução. É uma engenheira e tanto.
Heero riu um pequeno riso.
E eu pensando o tempo todo que era um estranho anônimo para ela. Que decepção. depois do riso de Trowa, completou. Então por isso que ela me disse seu nome, de que Colônia era. E está disposta a vir à Terra o mais breve possível, quer trabalhar comigo, vocês, o Zechs.
Mesmo?
Vou ver se consigo contato com ela. Depois, quero que me conte tudo o que eu passei no tempo em que estive... inválido.
É claro, Heero.
E então uma palidez preencheu o rosto de Trowa. Foi tão repentino que Heero se assustou.
Que foi?
Trowa ignorou-o por um tempo, parecendo pensar consigo mesmo Depois, explicou:
Certamente você não se lembra do manuscrito em outra língua que achei na biblioteca da Colônia, não é?
Heero ficou quieto, esperando-o continuar.
Não lembrava que você não sabia disso.
Fale logo o que é, Trowa.
Pois bem. Trowa foi voltando ao normal. Como eu disse, achei um manuscrito em língua estranha - português ou romeno, não me lembro - de um habitante das Colônias, quando elas foram construídas.
E o que ele diz?
Acesse a biblioteca coloniana. Preciso relê-lo na íntegra.
E então, tarde daquele Domingo.
O fato de que as Colônias deveriam ser destruídas pelos Gundams não foi apenas sabido por Heero. Quatre contou a Relena, com a ajuda de Duo. Chocada, demorou um pouco para apenas dizer:
?
E agora esse é o grande conflito do romance. suspirou Duo. Agora a gente fica indeciso do que fazer e em crises de depressão.
Mas... vocês não vão destruí-las, vão? Relena perguntou apreensiva, e, ao não receber resposta, retomou. Eu sei que as tradições são importantes, mas há pessoas morando lá, e.
É claro que a gente tira eles de lá, dona Relena!
Mas como vai trazer toda aquela gente para a Terra, Duo!
Duo tentou disfarçar a idiotice da própria pergunta, enquanto Relena buscava apoio em Quatre:
As pessoas de lá na verdade nem caberiam na Terra. Não teriam onde morar, morreriam de fome.
Relena estava mais assustada com a idéia de destruir as Colônias do que Quatre havia imaginado. Preferiu mudar de assunto, falar das festas do fim-de-ano que teriam em Clermont, e decidiu que depois discutiria esse assunto com os outros pilotos.
Sabia que Relena não cederia: sem preferir arriscar e sem o sentimento coloniano, ela poderia terminar por impedi-los.
Demoraram dois dias para que Trowa pudesse falar com Eleni Daaé das Colônias. Já fazia algum tempo que ela também havia criado um sistema, com o auxílio de Heero, que impedia que qualquer organização - incluindo a OZ II - pudesse interceptar a conversa.
Isso veio a calhar. sorriu Trowa ao rever a amiga, de quem gostara muito quando estavam juntos.
Também acho! ela riu da forma calma de sempre. Era difícil ouvi-la ou vê-la, o sistema era falho. Mas, e então, como vão as coisas na Terra?
Nada mudou. disse Heero, apressado. Mas fale das Colônias.
Ah... começou Eleni em tom forçadamente calmo. Estão horríveis como sempre, não mudou nada. Não que eu esteja apressando-os, mas.
Escute aqui começou ele, interrompendo-a. Você me disse que tinha encontrado uma maneira de vir até a Terra.
Encontrei, sim.
Então preciso de você agora.
Calma, calma! ela riu. O que seria tão urgente?
Você me disse... Heero tentava ao máximo ser gentil, já que sabia que ameaçar Eleni não adiantava em nada. que sabia onde o Wing Zero estava. E então?
Trowa apenas ouvia quieto.
Ah, isso foi faz tempo, em alguma conversa nossa... disse ela pensativa.
E então? Heero insistiu mais uma vez.
O seu Gundam não tinha virado migalhas? interrompeu Trowa, embora depois se arrependesse, por causa do olhar de ódio que recebeu.
Foi o que eu pensei. respondeu Heero secamente. Mas ela disse que não.
Eleni mais uma vez riu. Ao notar a raiva crescente de Heero, preferiu explicar-se logo de uma vez:
Ele está muito seguro. essa afirmação causou bastante surpresa nos dois ouvintes. Se bem que, por causa do impacto, deve estar bastante danificado. Mas é claro que comigo, meus meninos e o dinheiro da Srta. Relena, tudo se conserta.
Nenhum dos dois disse nada por um certo tempo. Eleni se satisfazia com a expressão impressionada dos dois.
Estarei aí em três dias.
Estava tudo intensamente verde, uma floresta interminável se estendendo por todas as montanhas ao redor, até onde a vista alcançasse. E a Muralha, alta e imponente, serpenteava entre as montanhas, parecendo, perto delas, tão pequena, vista de longe. Não era possível ver onde ela começava e onde terminaria.
E a melhor sensação, além de ver a majestosa Muralha e as montanhas, junto ao céu azul, era perceber que não havia nenhuma alma humana a quilômetros dali. Era apenas ele, sentado no chão de pedra do monumento.
Wuufei levantou-se a apoiou-se no parapeito, olhando mais uma vez a vista.
Fazia dias que não via ninguém; e isso lhe fazia extremamente bem. Partindo para as terras chinesas, onde sempre se sentia tão à vontade como se estivesse em casa, fora finalmente conhecer o monumento milenar que sempre sonhara em ver: a Grande Muralha da China. Em sua Colônia, sempre ouvira falar nela, sua história e suas lendas. Era possível, ainda, para um bom observador, vê-la do Espaço.
Como é enorme!, pensou.
Estava com a mente totalmente em paz. Nunca se sentira tão bem.
Houveram tempos em que a Muralha defendeu a China dos bárbaros do norte, assim como houveram tempos em que ela era atração para turistas. Agora, em sua maior parte, era só uma construção de pedras abandonada.
Lógico que não era conservada como sempre fora. Alguns pedaços chegaram a desmoronar. Mas isso não tirara-lhe a imponência.
Wuufei mais uma vez sentou-se no chão.
Agora é preciso pensar, disse para si mesmo.
Esvaziara da mente a condição da Terra e das Colônias. Esquecera a revolução, OZ II, até mesmo seu fiel Nataku, que permanecia oculto entre as florestas próximas.
Não tinha idéia do que fazer.
Enquanto o navio de Clermont ia à Arábia, Wuufei deixou as Muralhas e vagou mais.
Foi até alguns vilarejos antigos e tradicionais, gente camponesa vivendo como há milhares de anos. Wuufei de início foi recebido com certa desconfiança, mas depois simpatizaram com ele. Ele, também, feliz de falar chinês e viver como eles viviam. Nada importante aconteceu, fez algumas amizades, encantou-se com uma moça do vilarejo, mas depois prosseguiu em sua viagem sozinho - que era o que preferia.
Só depois de dias a imagem de Heero lhe veio à mente. Na verdade, enquanto se deitava para dormir ao relento, podia ouvir a voz dele nitidamente. Também o importunava a voz e os olhos frios de Zechs, querendo lhe passar ordens.
Lembrou-se também de Sally, mas foi por um curto período. Chegou a quase rir quando lembrou de alguma piada idiota que Duo havia lhe contado, sem sucesso.
Mais algum tempo de caminhada, e chegou a ver a Muralha novamente. Dessa vez, a via de baixo, contemplando os muros de nove metros de altura. Pensou em escalá-los, as pedras antigas eram mais irregulares naquele ponto. Começou a subir. Nove metros.
Imaginava que gostaria de viver ali o resto da vida. Naquele vilarejo, estava muito bom. O resto do mundo não interferia naquele local muito mais que degradando a camada de ozônio, pensou vagamente.
Mas abandonar a luta agora? Não lhe seria digno. Ria da idéia ridícula de abandonar a luta e os planos iniciais, por mais que desejasse permanecer ali.
Quando tudo isso terminar, pensou, voltarei para cá e passarei o resto da minha vida aqui, como um ancião. Era bem jovem para ser um ancião, mas não tinha mais a mínima vontade de lutar - e ainda por assuntos que não lhe interessavam.
Conseguiu chegar ao topo. De lá, contemplou mais uma vez a vista e saiu andando pelo caminho que a Muralha fazia, indo buscar Nataku.
Por Kitsune-Onna
