Heero sorriu por dentro, mas não por fora:
Ai está você, pequena traidora.
206 A.C.
30
Sobre Noin e Sally
A revolução tinha viajado longe. A princípio, para fugir das ameaças constantes de tropas da região de atacá-los. Zechs garantiu que não queria lutar. Seu exército não estava preparado física e emocionalmente para tal.
Tinham ultrapassado as terras da Índia e já estavam nos pequenos reinos do sul da China. Nesse lugar, sendo tão povoado, mais uma vez estavam protegidos pelos civis ao redor.
Os chineses eram alheios a tudo. Próprio de seu povo (que os lembrava muito Wuufei), não se importavam se aquelas tropas estavam sendo procuradas por líderes internacionais ou não, mas se incomodavam com aquele monte de gente estranha cruzando suas terras. Não arriscavam uma luta contra eles. Mas também não lhes davam qualquer apoio, não se mostrando nem contra nem a favor da OZ II. Mantimentos? Hospedagem? Que comprassem.
Benditos africanos e árabes! desabafou Noin naquela tarde ensolarada, estando eles na capital de Chao-han. Aqui nos olham como se fôssemos pragas, se quer saber.
Nunca esteve por estas bandas, comandante? perguntou seu acompanhante, enquanto caminhava ao lado dela na rua estreita e lotada. Esse acompanhante era o jovem professor austríaco Stefan.
Stefan sabia quase tudo sobre todos os povos do mundo. Estava sendo de grande ajuda para Noin e Zechs; embora Zechs tivesse insistido que o jovem "rato de biblioteca" só poderia atrapalhá-los, e que seria melhor mandá-lo de volta para Clermont. Noin já viajara muito mas num estivera na China, Zechs só passara por lá uma vez a mando de Treize. Alguém com amplo conhecimento da Terra seria de grande utilidade.
Podemos ir para o Norte. O norte da China é deserto, não, professor? perguntou Noin enquanto caminhavam.
Já disse para me chamar de Stefan, comandante. sorriu ele, simpático. Sim, é. São florestas, ou extensões de terra árida, ou regiões de neve. Seria vantajoso?
Não, bem... depende.
Para Stefan, tido era uma grande aventura. Para que estudar tanto? Várias vezes imaginara que tudo o que sabia de nada adiantaria em sua vida. Aquela sim era a profissão de seus sonhos! E ainda tinha a maravilhosa companhia de Noin!
Por que me olha tanto, prof. Stefan?
O quê? Oh, não é nada.
Pelas ruelas de Chao-han, os chineses andavam espremidos, fazendo compras nas lojinhas enfileiradas, como havia sido desde tempos antigos. Não passavam carros por aquelas ruas, por serem estreitas demais. Eram acidentadas, e Noin afundava com freqüência sua elegante bota militar num buraco cheio d'água. E as pessoas não paravam, mesmo sendo esse dia véspera de Natal, a China continuava monótona como sempre.
Os dois haviam ido explorar a cidade, mais como um passeio, assim como a maioria dos soldados haviam feito. Precisavam ver gente e vida normal, garantira Noin a Zechs, mas ele preferira ficar longe da cidade, nas montanhas próximas, onde o exército se alojara.
Zechs desejava muito agora ver Wuufei. Compreendia que ele era tão indomável quando Heero, se não fosse mais ainda.
Que tolo que fui. disse para si mesmo, contemplando a cidade próxima, onde as pessoas pareciam pequenas e agitadas formigas. Ventava muito ali.
Não tinha certeza se Wuufei voltaria, e tentava imaginar em que lugar da China ele poderia estar. Mas provavelmente em um lugar isolado. Wuufei detestava pessoas, seria quase impossível achá-lo, mas Zechs ao menos queria anunciar que estava à procura dele.
Tivera sido difícil desde a partida dos pilotos Gundam. Eram eles que mais amedrontavam as tropas inimigas, e agora havia apenas Zechs para impor algum respeito maior. Os dois Gundam que haviam permanecido ali eram levados por MS preparados para transportar esse tipo de carga.
Zechs não quisera parar em Chao-han, mas foi por insistência de Noin. Claro, ele deveria compreender que ela não era uma pessoa como ele, que não precisava de civilização à volta, assim como nenhum dos seus soldados. Noin supunha que, quando achassem uma boa cidade, os dois passassem algum tempo juntos, apenas eles. Ela também deveria se livrar do insistente e apaixonado Stefan, que a seguia por onde quer que fosse.
Pensou também em Relena. Só de imaginar que ela estava administrando um lugar como Clermont já o deixava preocupado, ainda mais se ela estava a mando de Mallaica. Nunca vira Relena crescida pessoalmente, apenas em jornais, revistas e televisão, o que o fazia imaginar que ela ainda tinha 15 anos.
Mas, se Heero estava com ela, então não deveria se preocupar. Também tinha vontade de rever Heero.
Um comandante como você tem mais o que fazer ao invés de ficar pensando na vida.
Zechs reconheceu a voz atrás dele de imediato, mas não se virou, embora tivesse se assustado.
Wuufei?
Isso mesmo. Voltei porque achei que estava precisando de uma força.
Não exatamente. garantiu Zechs, enquanto um elegante Wuufei vinha se sentar perto dele, vestido com roupas tradicionais chinesas de cor negra. Onde esteve?
Sinceramente, acho que não lhe interessa. depois de ver que novamente comprava briga com os olhos gelados do comandante, emendou. Mas estive ao norte, numa região onde passam as muralhas. Não foi difícil achar vocês. ele riu Vocês fazem um barulho e tanto por onde passam.
Zechs suspirou, olhando para o chinês, sentado como ele, numa pedra, braços cruzados e pernas esticadas.
Gostaria de poder sumir como você.
É, cada um escolhe sua profissão na vida. Um líder tem menos liberdade que os seus subordinados, como meu mestre costumava me dizer.
Ficaram um tempo calados, como era de se esperar de uma conversa entre os dois; até que uma vez atrás eles exclamou espantada.
Wuufei!
Noin se aproximou apressada, para conferir se era ele mesmo. Estava um tanto suada e com o rosto vermelho, devido à caminhada pela cidade há pouco menos de meia-hora.
Nihao. cumprimentou Wuufei de forma simples.
Ni...Nihao. ela respondeu sem jeito. Resolveu ficar do nosso lado, então?
Se comecei desse modo, devo terminar assim. Quando acabarmos com tudo isso, finja que nunca me conheceu antes.
Noin contou sobre a cidade aos dois, onde não havia nada de realmente interessante. Disse que conseguira se livrar de Stefan por um tempo, pois ele, animado em explicar a alguns soldados características geográficas do local, a esquecera um momento.
Hum.., Wuufei... Noin chamou-o, desacostumada com ele. Encontramos Quatre logo depois que você partiu. Zechs contou?
Quatre?
Noin se sentou ao lado de Zechs (aproveitando para utilizá-lo como delicioso encosto) e começou a contar tudo o que lhes acontecera desde então.
Quando Heero entrou na sala com sua acompanhante, os presentes, que estiveram comendo graves e quietos, olharam de súbito, e prenderam a respiração. Todo o desgosto de Eleni se estampou em seu rosto naturalmente pálido.
Com o olhar baixo e triste, lá estava Sally Po.
Sally não quis ir até aquela sala, mas foi arrastada pelo olhar imperativo de Heero. A princípio, sentiu-se aliviada por não ver Wuufei lá, embora isso a tenha preocupado depois: se todos estava ali, por que não ele?
Major Sally. disse primeiro Relena, espantada.
Sally ergueu um sorriso inesperado.
Essa é a força do costume. Não sou mais major, Srta. Relena, faz muito tempo.
Relena sorriu de forma incerta e preocupada, vendo Sally tão cansada, mais magra e fraca. De súbito, voltou-se para Eleni:
Ela estava com VOCÊ!
Por que tanto desprezo nesse "você"? resmungou Eleni. Sr. Heero, o senhor disse que iria apenas ver os meus homens, e não trazer um deles até aqui.
Este aqui é alguém que estou esperando há um tempo. respondeu Heero, depois fez um gesto a Sally. Sente-se, por favor.
Filhos de uma puta! berrou Noin enquanto corria desesperadamente ao seu MS, em meio à confusão. Desgraçados!
Mesmo torcendo o tornozelo na pressa, ainda corria desesperadamente, enquanto Mobiles Suits inimigos poderiam alcançá-la facilmente se soubessem quem realmente era; havia vários outros soldados que corriam como ela, em busca de armas para lutar, despreparados como estavam.
O ataque, totalmente inesperado, começara há menos de dez minutos, sob o céu já escuro da noite chinesa. Ignorando a proximidade de Chao-han ou outras cidades, a OZ II os pegara de surpresa, de forma violenta. Talvez nem estivesse sob comando de Aurey Mallaica, simplesmente atacaram vendo uma boa oportunidade para finalmente acabar com esse pequeno e incômodo exército.
Noin, em terra, oculta entre árvores e ao lado de outros que não lutavam - como paramédicos e o prof. Stefan - massageava o pé torcido, quase chorando de raiva e susto.
Mal ouvia as pessoas falando ao seu lado, os tiros e as explosões. Tudo tinha a terrível sensação irreal de um sonho agitado. Acontecera ali, quando ela contava a história a Wuufei, começaram uma discussão sobre Sally, depois mísseis...
Alguém a empurrou sem querer, ela xingou, Smith pediu desculpas, comandante, olha só como está comandante! Noin percebeu que estava mesmo dolorida no rosto, e quanto passou as mãos nele, elas voltaram sujas de sangue. O míssil teria atingido onde ela e os outros dois estavam, explodido ali perto, ela se lembrava de ter caído com violência no chão e então foi erguida por Zechs. Partículas de pedra e areia deve tê-los atingido, então.
Meu Mobile Suit foi destruído! disse ela para o engenheiro militar, o Smith, porque ele perguntara algo parecido, talvez. Onde estão os de reserva? Na clareira, não estão?
A uns cem metros daqui, comandante! respondeu ele. E então novos tiros ensurdecedores.
Noin correu, ouviu a voz chorosa de Stefan, mas ignorou. Correu o máximo que pôde... por sorte seu caminho estava isento de incêndios, mas em alguma parte do percurso teve uma vista de Chao-han. Fumaça, fumaça, saindo de alguma parte dela! Que pena, pobres chineses. Continuou a correr.
A tal clareira fora um achado. Espaçosa, tinha árvores altas ao seu redor, além da encosta da montanha, para poderem ocultar algo grande como um Mobile Suit. Lá estavam guardados quatro MS do modelo mais simples que tinham. Teria de lutar com aquilo mesmo!
Mas então seus olhos focaram os Gundams.
Eu só lutei pela paz. ela disse com firmeza. Como sempre fiz, em toda a minha vida; eu nunca quis lutar por interesse.
Relena ajudou-a a se sentar. Quatre trouxe um copo d'água porque Sally não aceitou vinho nem champagne; Heero parecia satisfeito de onde estava.
Quero que me conte a sua história.
Heero, por favor, vá com calma. acudiu Relena. Estava pasma com a fisionomia fraca de Sally, outrora mais alegre e confiante. O modo como ela olhava Eleni fez Relena perceber que não era a única a odiar a megera. Esta, por sua vez, continuava enfurecida por ter sido contrariada, mas permanecia em silêncio.
Não, não, está certo! Sally falou sorrindo, apressadamente, parecendo nervosa. É uma maneira de saber mais sobre Aurey Mallaica. De qualquer forma, é o jeito de eu ajudar depois de tê-los atrapalhado tanto, srta. Relena. E... foi graças à Lady Une, não foi?
Ah! fez Relena. Lady Une! Por que, o que aconteceu?
Um arrepio percorreu o peito de Quatre quando ouviu esse nome: não contara a Relena sobre a morte da ex-Coronel. Se lembrara de contar, mas mais assuntos estavam sendo discutidos, e ele também não queria encher os pensamentos de Relena com ainda mais tristezas. As cinzas de Lady Une foram guardadas num templo árabe, mas Noin insistia que ela teria de ser sepultada ao lado de Treize Khushrenada.
Resolveu não contar naquele momento, e ao olhar Trowa viu que ele pensou no mesmo e foi conferir no olhar de Quatre. Mas Duo, ao seu lado, se inclinou perigosamente para fazer essa observação, e foi detido com um beliscão bem a tempo.
Lady Une continuava Sally, também inocente. Ela havia se tornado jornalista. Tratou de investigar e descobriu minha ligação com Mallaica e com um outro grupo pacifista terrestre, parte dele estava nas Colônias.
E quem era.
Um momento, Quatre. interrompeu Heero, assustando a todos. Sally, se a Une não tivesse te denunciado, você... teria denunciado a revolução mais uma vez?
Não! respondeu rápido Sally, depois ficou embaraçada e tentou explicar-se melhor. Não. Eu não os prejudicaria duas vezes! Eu não teria mais motivos, de qualquer forma.
Ótimo. disse Heero, e, dado por encerrado, voltou os olhos para Quatre para que ele voltasse a falar.
Eu ia perguntar sobre esse grupo pacifista de que você falou. Quatre prosseguiu.
Ah, eles. Sally agora parecia contente por falar. Uni-me a eles há mais de dez anos, depois me separei deles e novamente nos reunimos... ano passado. O detalhe é que o Mallaica fazia parte dele também.
Logo estava dentro do Deathcythe. Deveria ir rápido - a batalha ficava mais violenta.
Mas era como se violasse algo sagrado (imaginou-se ocupando o lugar de um padre escondida numa caixa de confissão). Fechou-se Gundam, sentiu o assento macio, o painel luminoso com muito mais comandos do que ela estava acostumada. Parecia até mesmo sentir o cheiro de perfume masculino bem característico de Duo - nada mau.
Como se lembrasse de repente que estava próxima a um campo de batalha, movimentou o Gundam um passo. Ele respondia rápido. Depois de três ou quatro passos, fez como se decolasse com ele, e logo viu o céu noturno, e Chao-han iluminada.
Sentiu como se todos os olhares convergissem para ela; e não estariam mesmo?
Ouviu a voz de Wuufei:
Não pode ser VOCÊ!
Noin preferiu não responder. Quando os primeiros MS vieram atacá-la, conseguiu acertá-los com mísseis, mas procurava como usar aquela foice-da-morte. Lutava com leveza, enquanto o Gundam lhe emprestava algumas habilidades. Nas duas vezes que foi atingida de leve, mal sentiu o golpe.
Finalmente conseguiu ativar a foice-da-morte. Partiu dois inimigos ao meio, no mesmo movimento.
A nova deusa da morte. ela disse para si mesma, baixinho, enquanto sorria satisfeita. Olhou, feliz, o Shenlong perto dela quase sem se movimentar. Wuufei... deve estar olhando chocado, não?
Cortou mais três MS, salvando dois soldados seus da morte certa. Sobrevoando o campo de batalha, veloz, procurava por Zechs. Na verdade, longe de querer se mostrar (ao contrário de que com Wuufei), estava preocupada com ele.
Zechs! chamou no comunicador, esperando que ele recebesse a mensagem.
Noin?! veio a voz de Zechs, e logo depois o rosto surpreso dele no monitor. Não acredito!
Fiz mal? perguntou ela, preocupada.
Não... não fez. Mas... ah, Noin! ele teve que se desviar de um ataque perigoso. Um Gundam é complicado de se pilotar. Se sentir qualquer dificuldade, abandone o campo de batalha imediatamente!
Sim, senhor. ela disse ao sorrir, pois aquela não era uma ordem de comandante.
204 A.C., Terra.
Gostaria de propor acordos. Mallaica começara, naquela noite, andando calmamente pela sala. Fizemos parte do mesmo grupo! Não faz sentido não levarmos em conta nossa antiga amizade.
Amizade que você desprezou há sete anos, exatamente! respondeu um deles que estavam ali, era um italiano de nome complicado, Sccaccabarozzi, talvez. Era um pouco mais velho que Mallaica e seus belos traços lembravam aqueles meninos de quadros renascentistas do século XIV.
Seis anos! E não desprezei!
Duas crianças brigando... suspirou um mais velho, era das Américas, ria simpaticamente sacudindo os ombros. Já tinha barba rala e branca e uma pele negra escuríssima, que poucas pessoas ainda conservavam. Chamavam-no "Jack.
Mallaica retomou a pose orgulhosa e polida, que aprendera com Treize e nem a vida que levava naquele momento conseguira tirar isso dele. Sally e Jack trocaram olhares e riram. O jovem preferiu ignorá-los.
Eu digo que deveríamos nos unir mais uma vez. procurou o apoio dos olhos da mortal Li-en, uma chinesa séria e antipática, que preferia lutar a conversar (Sally, vendo Wuufei, lembrava-se muito dela). Não foi possível achar qualquer apoio naqueles olhos frios Hunf, já deveria saber.
Li-en voltou os olhos à revista que lia.
Quanto a mim, sabe que não posso ajudá-lo de forma nenhuma, Aurey querido. Sally disse com delicadeza, embora fossem palavras inimigas. Sabe que me aliei aos pilotos Gundam. E com aquele documento.
... "Verdade Revelada"? Mas Sally, ninguém se lembra dele!
Não me interessa se lembram ou não! ela sacudiu a perna dobrada, nervosa. Raramente ficava assim, tanto que Jack e o italiano a encararam surpresos. Li-en apenas ouvia.
Sally continuou:
Isso acabou com eles, você sabe. Nunca mais ouvi falar de nenhum deles.
Mallaica olhou-a com arrogância, da maneira comum com que escondia tristeza e desgosto. Sally fora quase sua instrutora desde os seus treze anos, quando se conheceram. Havia muito tempo que não se viam, mas Sally continuava sendo uma pessoa especial, como a primeira pessoa que lhe mostrara a realidade da guerra. Treize, nessa época, só mostrara os MS, o cavalheirismo do soldado da alta classe, a realidade dentro da Aliança e da OZ. Mas via, agora, uma inferioridade em Sally, se comparada a Treize.
Com o pequeno grupo inominado, vivendo com roupas encardidas dias no meio do mato, arma pesada na mão, participava de pequenas guerrilhas por liberdade e paz, cujos resultados funcionavam por um curto período de tempo. Mallaica era apenas um moleque quando começou, e impressionava os mais velhos, já que sabia atirar como um adulto. Sally também começara a lutar com essa idade, junto com a tia.
Tivemos um bom passado juntos. ela disse com um sorriso, para acalmá-lo. Temos uma vida de guerra em comum, desde crianças. Isso foi justamente o que eu tentei dizer a você quando usou aquela arma contra os pilotos de Gundam.
Mallaica não a entendia. Aquilo era sentimento coloniano. Mas ambos sempre foram apaixonados pela Terra!
Ele havia reunido as pessoas que encontrara daquele antigo grupo. Eram 29, mas só achara quatro. Sentiam falta de algumas pessoas, como a doce Lily, que casou e mudou de nome, negando conhecer qualquer um com quem lutara no passado; ou Elias, um verdadeiro Duo de barbas ruivas, que morreu em combate - destino da maioria dos membros.
Mallaica insistiu ainda mais, no dia seguinte. Quando Sally viu novamente Noin e os pilotos, não contou nada a Mallaica e, portanto, ele continuou com as insistências, convencido de que Sally não lutava por nada.
Para ele, quando criança, ela era um soldado fenomenal. Mas quando se reviram Sally pareceu tão insignificante. Na verdade, perto de Treize, ela não era nada mesmo. Aliás, Treize ordenara que Mallaica ficasse longe de pequenos soldados inferiores. Que não faziam parte das elites, em especial da Aliança.
Foi então em 205 A.C. que Sccaccabarozzi, sabe-se lá como, talvez com suas habilidades de espião, descobrira que Sally lutava com aqueles que diziam ser os pilotos Gundam. Seu intenso amor pela Terra o fez contar ao seu quase-inimigo Mallaica.
Ao contrário do que Sally pensava, Mallaica não se enfureceu.
Animado, ele viu em Sally a chance de destruir os pilotos Gundam e, conseqüentemente, a problemática Relena Peacecraft, um verdadeiro estorvo.
Dessa vez, atacara Sally num ponto frágil: e se destruissem as Colônias?
Esse era o desejo do grupo há muito tempo, inclusive implantado pela própria Sally. Planejavam trazer os habitantes das Colônias para a Terra (contra a vontade deles, porque todos odiavam a opressora Terra) e destruir as Colônias. Era um projeto grande, que Mallaica, em seu atual posto, poderia executar.
Se Sally denunciasse os planos das Colônias, Mallaica derrotaria-as mais facilmente - com a promessa de não matar os pilotos dos Gundams nem Noin nem Zechs - e iniciaria o plano. Algumas vidas de soldados colonianos seriam sacrificadas e as Colônias perderiam para seu próprio bem.
Sally concordou. Afinal, como venceriam, com aquele pequeno exército, a OZ II? Onde Zechs estava com a cabeça?!
Onze horas da noite. Fim da batalha de Chao-han, com vitória do lado dos rebeldes.
A luta causou danos à área norte da cidade, o que fez os habitantes ficarem desesperados e já planejarem vingança, contatando cidades vizinhas. Nunca confiaram na OZ II, agora a odiavam ainda mais, por atacar justo ali. E odiavam também esses rebeldes asquerosos, que, ao invés de se explodirem no meio do deserto, ou onde quer que fosse, iam justo para o lado de uma cidade que nada tem a ver com isso.
Noin abriu o compatimento do piloto do Deathcythe. Sentiu o ar frio da noite com mais intensidade, devido ao suor. Cheirava a queimado. Zechs já a esperava lá embaixo.
Ela desceu.
Esperou qualquer expressão de Zechs, mas como esta, como sempre, não veio, Noin se prontificou a falar, em tom calmo e divertido:
Pensei que fosse mais difícil pilotar um desses.
Viu Zechs olhar para os lados e para trás, como se nem sequer a tivesse ouvido. Havia apenas algumas pessoas ali perto, se recuperando da batalha, a maioria se acumulava a centenas de metros escondidos por árvores. Noin já ia se indignar com a falta de atenção quando ele a abraçou.
Que graça!, pensou ela na hora, a rir, entendendo que ele não queria que ninguém visse a cena.
Foram abraços e beijos ternos (apesar dos dois estarem encardidos com terra e sangue), de esposa e marido; aliás, aquele romance nunca tivera a paixão sensual dos amantes. No fim, os dois, rindo, cumprimentaram-se em posição de sentido, a mão esticada ao lado da cabeça.
Bom trabalho, comandante!
É sempre bom servir ao senhor, comandante!
E então as tropas se reuniram para se retirar de Chao-han.
Contou toda a história rapidamente, sem omitir nada, tal era seu medo de que Heero percebesse alguma omissão ou mentira.
Explicou que as autoridades colonianas registraram pessoas naturais da Terra procurando informações sobre ela ou tentando libertá-la, quando estava presa nas Colônias.
Espero que sejam meu menino italiano e todos os outros; preciso reencontrá-los, sabe?
Olhou para Heero e ergueu as sombrancelhas com um sorriso, como para dizer "Satisfeito.
Eleni estalou a língua de impaciência e virou todo o resto do seu champagne.
Por Kitsune-Onna (foi difícil escrever este aqui. Ainda bem que
