Patty: Obrigado pelos elogios. :) Que bom que você está gostando.

Lilibeth: às vezes eu me pergunto se o maior preconceito não é exatamente do Snape.

Paula Lírio: Espero que seus joelhos estejam bem! Você devia escrever, eu dei muita risada com sua historinha. Que bom que você gostou, eu que seus amigos também gostaram.

Quer dizer que eu consegui fazer você achar o Snape cut? Estou me sentindo o máximo hoje. rs

Leila: eu detesto o Lucius, eu acho que devíamos ressuscitar ele para matar de novo, dolorosamente. É bom entusiasmar uma leitora assim.

André: Obrigado, cara.

Eric: Que sua professora não leia isso! rs Valeu.

Dilie: Eu queria ser um pouco como o Remus. Dispenso a licantropia, claro.

Gil: Tem mais sim, olha ai. rs

Claire R. Black: Dessa vez o Draco não foi salvo a tempo. Realmente eu fui cruel com ele. Sobrou para o Remus juntar os cacos. O Severus complica mesmo. Eu quero os dois juntos, mas para isso acontecer o Snape vai ter de lidar com suas feridas internas. O Harry até agora está segurando a barra, mas ele também tem seus próprios demônios.

Holly Moon: todo dia eu não prometo, mas uma ou duas vezes por semana, graças a minha falta do que fazer a noite por esses dias. O que você disse sobre achar meus textos claros e coerentes foi uma coisa muito boa de se ler. Obrigado.

Morticia Sheldon: Fica bravinha não, Lindinha. Essa fic é R, a classificação R é para maiores de 17. Foi só por isso que eu pus o aviso lá. Que bom que você está gostando. Que bom que você voltou.

Ptyxx: :) Sim você lê primeiro, e depois recebe um email pedindo para ignorar que eu resolvi mudar quase tudo! rs Você me faz muito mais que um favor ao betar minhas fics. Obrigado, do fundo do coração.

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Parte II – Inverno

Cura da Alma.

Capítulo V – Compras de Natal

País de Gales – 22/12/1998

Draco Malfoy:

Está nevando e Remus quer sair para dar uma caminhada! Pelo menos teve o bom senso de colocar um par de luvas e se agasalhar. Não vamos longe dessa vez; andamos pela trilha que sai dos fundos do chalé e segue por um terreno plano até encontrar uma escada cavada na rocha.

Claro que só um lobisomem teria a idéia de subir por escadinha cavada na terra, ainda por cima coberta de neve, só para ver a paisagem. E só esse lobisomem me arrastaria até aqui, com máquina fotográfica e tudo.

O pior é que ele está certo. A vista que se tem deste lugar é absolutamente fantástica. À luz do fim de tarde, os poucos flocos de neve no ar e seu amado lago lá no fundo do vale são perfeitos.

Ele senta-se em uma rocha, em um canto protegido da neve, e me observa fotografar. Qualquer outra pessoa me incomodaria, mas Remus fecha-se em um silêncio calmo. Ele leva algum tempo para perceber que o estou fotografando também.

-Draco!

Rá! Eu tinha certeza de que ele não ia gostar. Mas foi irresistível fotografá-lo, ali parado, totalmente absorto em seus pensamentos.

Eu me sento ao lado dele.

-Para quem tem tantas fotos pela casa, você parece muito indignado ao ser fotografado.

Ele não responde. Fita o lago lá em baixo por algum tempo antes de mudar totalmente de assunto:

-Vamos para Londres amanhã, fazer as compras?

Sair daqui? Encontrar outras pessoas? Isso me parece tão estranho. Compras? Que raio de compras são essas agora?

-Comprar o quê, Remus?

-Presentes de Natal. Estou atrasado com minhas compras de Natal. O Beco Diagonal vai estar um inferno amanhã. – Ele dá um pequeno sorriso. – Na realidade, não sei o que acontece, eu sempre deixo para última hora. Acho que gosto do tumulto nas vésperas do Natal.

-Bom, você vai e eu fico. Não estou muito a fim de sair.

-Por quê, Draco?

-Porque sim, oras!

-Está com medo?

-Não.

Ele não fala nada, fica ali, olhando o lago. Saco! Acabo falando.

-Um pouco.

-Por quê?

-Não quero ficar no meio de multidão, certo? É só isso.

Mais uma vez ele não responde, apenas levanta-se e fica olhando o vale lá em baixo.

Eu me distraio olhando o céu cinzento e só dou por mim quando ouço o clique da máquina.

O safado do lobo tinha pego a máquina sem que eu percebesse, e agora eu estava do lado errado da câmera.

-Me dá isso, Remus!

Droga, eu nem consigo brigar com ele quando ele dá essa risada.

Ele me estende a câmera e, quando a pego, ele não a solta, mas me encara sério.

-Vamos fazer uma aposta? Se você receber uma notícia boa hoje ainda, vai comigo amanhã cedo para Londres, segue a programação que eu quiser e voltamos no fim da tarde de depois de amanhã. Se não, eu vou sozinho e volto amanhã mesmo.

Eu o olho, desconfiado. Claro que ele está tramando alguma coisa.

-O que você sabe que eu não sei, Remus?

-Um monte de coisas. – Ele ri, descontraído. – Então? Apostado?

Dane-se. São quase cinco horas da tarde, o que falta acontecer hoje?

-Apostado.

Voltamos para o chalé, e ele me arrasta para a cozinha para tomar um chá. Ainda estamos à mesa quando uma coruja chega com a edição vespertina do Profeta Diário. Remus paga o nuque da coruja e abre o jornal, ávido.

-Pronto para pagar sua aposta? – Ele me estende o jornal, indicando o título da manchete:

"Ministro da Magia assina lei que veta qualquer redução de pena de Comensais da Morte já julgados."

Encosto-me à mesa e olho para Remus. Meu coração bate acelerado. Grande Merlin!

Remus! Só pode ter sido ele! Ele não deixou o desgraçado escapar de Azkaban. Um balão de felicidade enche meu peito.

-Remus, o que você fez?

-O filho do novo Ministro é meu amigo, e o irmão do Ministro foi da Ordem. Eu mandei umas corujas para eles, sobre como se sentiriam as vítimas e os parentes das vítimas se houvesse um abrandamento da pena. Acho que comentei alguma coisa sobre uma campanha nos jornais, ou algo assim.

Ele ameaçou um escândalo! Ele movimentou a própria família do Ministro, por mim!

Lobo louco! Lobo lindo. Lobo....

-Obrigado, Remus.

Ele sorri como se tivesse feito uma travessura.

-Eu nunca aposto sem ter certeza de ganhar, Draco.

A bendita aposta! Dane-se! Eu ando no meio da multidão do Beco Diagonal, eu faço compras, eu vou aonde ele quiser.

-A aposta! Certo, eu vou com você. Mas tem uma condição.

-Envolva-se com um sonserino e ele sempre vai tentar tirar vantagem da situação.

Ele está só me provocando; contenho a resposta malcriada e contra-ataco.

-De certa forma você trapaceou nessa aposta. Mas não vem ao caso. Eu vou, se a primeira parada for na Madame Malkin. E eu vou escolher um bom número de roupas para você.

-Draco, eu não preciso de roupas, tenho bastante.

-Remus, você sabe que precisa de roupas, sim. – Acertei na mosca, ele adora comprar livros e detesta comprar roupas. – E precisa muito.

-O que você chama de bom número?

Sujeitinho difícil de enrolar. Eu me lembro disso da época em que ele me dava aula.

-No caso do seu guarda-roupa? Uns quinze ou vinte conjuntos.

-Ficou louco, Draco? Dois, no máximo três. E eu escolho.

Levamos meia hora discutindo para chegar em sete conjuntos, sendo que eu poderia escolher um e dar palpites nos outros, mas a palavra final seria dele. Ele ainda me disse que escolheria uma roupa para mim. Isso foi o que mais me assustou.

Aprendi algumas coisas muito interessantes sobre Remus hoje. Ele trapaceia, e bem; se ele apostar de novo comigo é porque tem um coringa na manga; e ele negocia melhor que muita gente da Sonserina. Impressionante.

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Londres 23/12/1998

Remus Lupin:

-Cedo, Draco, quer dizer isso mesmo: cedo! Levanta logo.

Pela espada de Gryffindor! São seis e meia da manhã e já é a terceira vez que venho berrar com Draco do outro lado da porta.

-Já levantei.

Se ele tem mau humor matinal às oito, às seis e meia ele tem tendências homicidas.

-Estamos atrasados!

Ele me segura pelo braço; acho que preferiria apertar meu pescoço.

-Remus, nós vamos gastar uns vinte minutos para tomar café, um minuto para entrar nessa lareira e sair no seu apartamento em Londres, mais um minuto para aparatar no Beco. Qual a razão de você me tirar da cama ainda no escuro?!!!

-As lojas abrem às sete horas hoje. Eu tenho muita coisa para comprar, e quero pegar as lojas ainda vazias. – Vou falando e arrastando-o para a cozinha. – Já fez sua lista?

-Que lista? – Pelo tom sonolento da voz, eu acertei em fazer café preto hoje.

-De presentes.

Ele me olha, alarmado!

-Poderoso Salazar! Remus, você foi da Grifinória! – Ele respira fundo – Qual o tamanho da sua lista?

-Quatorze nomes. Acho que não esqueci ninguém.

-E você diz isso assim? Nessa calma!

Agora quem não entendeu nada fui eu.

Draco resmunga todo o café da manhã, resmunga quando chegamos a Londres e resmunga quando, às sete e cinco, aparatamos em frente à loja de roupas. Nem o sono nem o mau humor dele me livraram da compra de roupas.

Mas a loja me salvou do mau humor dele. Draco adora comprar roupas.

Às onze horas, quando enfim saímos de lá, quem está quase louco sou eu. Quatro longas horas dentro de uma loja de roupas, e um gasto absurdo em pano; estou próximo de um ataque de fúria ou de pânico.

Por que fui deixar ele escolher um conjunto de roupas para mim? Ele comprou uma veste laranja, com capa marrom de bordas douradas. Quando reclamei, ele disse que eu fico bem em cores quentes. Pensei seriamente em usar um feitiço para esquentar os pés dele até o ponto de combustão.

E ele ainda reclamou da roupa que escolhi para ele. Um terno trouxa. Também comprei um, bem mais formal do que o dele, mas isso não o acalmou. Quando eu o lembrei de que ele havia se comprometido a seguir a programação que eu quisesse, Draco quase entrou em pânico.

Resultado: os dois irritados quando nos sentamos no Caldeirão Furado para o almoço.

-Estou com dor de cabeça, Remus. É falta de sono. É culpa sua.

-É excesso de pano. A culpa é sua mesmo.

Ele me olha como se fosse discutir, e depois começa a rir.

-Excesso de pano! Remus, você não existe.

Rimos juntos, o que espanta o clima tenso e a dor de cabeça dele.

Às vezes, quando estou com Draco, esqueço que tenho quase quarenta anos; às vezes ele me faz sentir como se eu tivesse a idade dele.

A lista dele só tem Severus e eu. O meu presente ele diz que não me mostra, e compra uma garrafa de Uísque de Fogo para o tutor dele.

-Se Severus quebrar a garrafa na sua cabeça, não reclame, Draco.

Ele sai, rindo. O resto da tarde ele se distrai dando palpites tortos na minha lista.

-Draco, desiste! Eu não vou dar uma poção alisante para Hermione.

Ele me atrasa nas compras, implica todas as vezes em que paro para cumprimentar algum conhecido, mas me diverte o dia todo.

À noite, com apenas um terço da minha lista comprado, nós voltamos para o apartamento. Eu o apresso a se arrumar. Ele reclama de ter de vestir o terno, mas este fica muito bem nele.

Intrigado, ele me vê usar o telefone para chamar um táxi, e só na porta mostra a varinha:

-Onde eu ponho isso, Remus?

Eu o ensino a usar o bolso interno no paletó. O discreto perfume que ele usa é muito bom.

Recuso-me a dizer aonde vamos até chegarmos. Uma exposição de fotos trouxa. Draco me olha atravessado, mas entramos mesmo assim.

O fotógrafo é incrível. As primeiras fotos são fortes. Cenas de guerra e morte. Mesmo que Draco não conheça alguns dos armamentos e objetos, ele capta logo o sentido.

Pela respiração dele, percebo que está se emocionando com as fotos. A foto de uma mulher com o filho no colo em frente a uma aldeia destruída o faz virar o rosto. Eu estava certo. Draco é sensível à beleza. A crueza da vida deve ser mostrada assim para ele.

Ele fica longos minutos vendo uma foto de dois soldados, um amparando o outro sob o sol do deserto.

-Eu sei o que é isso. – O murmúrio dele é tão baixo que eu mal escuto.

Aos poucos, as fotos vão mudando; paisagens de todo o mundo estão ali, e pessoas também. Estranhas, exóticas, únicas. Bonitas em sua feiúra, ou realmente belas, elas surgem fotografadas nas mais diversas situações. Em toda a exposição poucas fotos são coloridas, e Draco não reclama nenhuma vez de que elas não se mexem.

Já no finalzinho, ele pára e leva uma das mãos à boca. Ele me olha emocionado depois de um tempo. Soltando o ar devagarzinho, ele explica:

-É tão lindo que dói.

Eu olho a foto. Até agora eu tinha estado perdido na contemplação da reação dele. É a foto de uma canoa em um remanso de rio, na região do alto Amazonas. Ele tem razão. É lindo.

Jantamos no restaurante do Museu. Quando Draco se arrisca a ir ao banheiro trouxa, eu compro o livro com as fotos da exposição para ele. Um discreto feitiço, murmurado com a varinha sob a mesa, faz com que fique minúsculo, e eu o escondo no bolso.

No táxi de volta, Draco está anormalmente calado. Parece meio fora do ar.

Ficamos presos no trânsito agitado. Ele se recosta no meu ombro e fecha os olhos. Quando chegamos, eu tenho de acordá-lo.

Ele sobe calado e se dirige para seu quarto, enquanto eu sento na sala para ler um pouco. Minutos depois, sinto a mão dele no meu ombro:

-Obrigado, Remus. Obrigado pelo que você fez em relação.... – Ele busca palavras. – Obrigado pelas corujas que você mandou. Nunca ninguém fez algo assim para mim. E obrigado por hoje, pela exposição, sabe. Foi muito legal.

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Londres – 24/12/1998

Draco Malfoy:

Convenci Remus de nos encontrarmos para o almoço e me livrei de fazer compras às sete da madrugada. Aproveitei para usar meu dinheiro reserva – Snape, o cretino, cortou minha mesada - para comprar um livro para Remus e duas garrafas de uísque para mim. Não tenho tido vontade de beber, mas se eu quero ter as garrafas eu tenho. E pronto.

No fim da tarde, voltamos para o Chalé. Estou cansado, mas um surto natalino parece ter tomado conta de Remus. Ele me despacha da sala e diz que quer arrumar a árvore sozinho. Bom divertimento!

Enfio-me em um banho quente, como alguma coisa e caio na cama. Mas o sono não vem.

Bem mais tarde, ouço o barulho de Remus no chuveiro e a porta do quarto dele fechando. O silêncio da casa me sufoca. Até ontem esse silêncio era a maior bênção do lugar. Hoje parece uma mortalha.

Sento-me na cama; o fogo na lareira mantém o quarto aquecido, mas eu sinto calafrios. Merda. Não gosto de ficar assim.

Minhas memórias estão novamente me rondando. Tento afastá-las, mas isso só parece piorar tudo.

Lembro-me de quando tinha seis anos e tive um pesadelo. Como qualquer criança, corri assustado para o quarto de meus pais. Lucius gritou comigo: "Malfoys não mostram fraqueza!"

Lembro da minha mão estendida para Potter no primeiro dia de aula. Lucius adoraria se eu tivesse influência sobre o Menino-Que-Sobreviveu. Lembro a humilhação que senti quando ele se recusou a ser meu amigo, e o medo de que Lucius descobrisse que eu fora publicamente humilhado.

Eu me abraço sozinho na cama. Quando percebo, estou balançando o corpo, exatamente como fazia quando acordava assustado na mansão da minha família.

Eu me sinto tão só!

Eu quero gritar por Remus, ao mesmo tempo não quero que ele saiba que eu posso ficar desse jeito.

Está tão frio!

Eu preciso de Remus.

Não. Não vou dar armas para que ele possa me controlar. Nunca. Ninguém vai me dominar nunca mais. Nem Lucius, nem Remus, nem... nem.... oh merda. Ninguém.

Por que isso agora?

A foto que vi ontem na exposição. Os dois guerreiros trouxas, ambos feridos, se apoiando para chegarem juntos a algum lugar. Tonks se arrastando apoiada em Shacklebolt, que tem o nariz sangrando.

O velho sem dentes que sorri com os olhos brilhantes em uma foto eternamente imóvel.

Odeio quando isso acontece. Imagens que eu não quero invadindo meu cérebro. Não consigo me mover. Tudo que posso fazer é esperar passar.

A canoa no rio sob a floresta. Linda! Remus sentado na pedra me esperando fotografar.

Lucius entrando em casa e os elfos correndo para atendê-lo. Narcissa presidindo o banquete de Natal.

Severus abraça Harry na cozinha da casa dele. O Cicatriz fecha os olhos e sorri.

É o maldito Natal. Toda essa euforia estúpida. Droga de lobisomem retardado e sentimental. Por que o lobo infeliz tinha de gostar tanto dessa festa boba?

Remus, me ajude.

As palavras não saem. O pânico me paralisa. Ele não vem, ninguém nunca vem.

Eu me sinto doente, sozinho, frio.

Aos poucos, o ataque vai passando. Sinto-me vazio e cansado. Tive sorte; nenhuma imagem dos dias de inferno desta vez.

Tomo uma dose dupla de Poção Para Dormir e o que resta na garrafa de Poção Sem Sonhos.

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País de Gales 25/12/1998

Remus Lupin:

Quase hora do almoço e Draco ainda não desceu. Ontem, quando chegamos, ele estava abatido.

Tento não me preocupar; ele só deve estar cansado. Faz mais de três meses que não sai de casa. Depois, reclamão do jeito que é, teria me dito se estivesse se sentindo doente.

Olho para a mesa posta e não dá mais para segurar a preocupação. Desde ontem tenho tentado ignorar minha intuição de que algo está errado. Chega.

Bato na porta duas vezes. O sono de Draco é leve, ele deveria ter acordado com as batidas. Está trancada, mas não magicamente; é fácil de abrir. Uma sensação de estar repetindo uma cena já vivida me assalta; já entro no quarto procurando por ele no chão.

Demoro um pouco a vê-lo na cama. Assustadoramente pálido. Merlin, ele está gelado!

Tento acordá-lo, mas ele nem se mexe.

Em cima da mesinha de cabeceira, os frascos de Poção Para Dormir e de Poção Sem Sonhos. Draco havia se gabado de que não precisava mais de nenhuma delas.

Aconteceu algo e ele não pediu ajuda.

Se ele tomou demais das duas juntas, estaria justificado esse sono e essa pele gelada. Ele precisa acordar.

-Enervate.

Ele geme sem abrir os olhos. Eu o faço sentar-se na cama, recostando-o no meu peito.

-Draco, você precisa acordar.

-Não. – Ele só resmunga.

-Vamos, criança. Você consegue. Acorda. – Sei que não adianta sacudir ou gritar nessa hora.

-As imagens..... - A fala dele ainda está incompreensível.

Não vai ter outro jeito. Eu o carrego no colo até o banheiro e o enfio de roupa e tudo dentro da banheira. Abro o jato de água. Sento-me na borda e o seguro sentado. Em instantes, estou quase tão molhado quanto ele.

Está frio demais para usar a água fria, mas mesmo na temperatura mais quente a água o acorda.

Ele resmunga, sacode a cabeça tentando fugir do jato no rosto:

-Merda, Remus! Você está tentando me afogar? – Ele está bravo, mas a voz ainda está pastosa.

-Draco, mantenha-se acordado. Não durma de novo.

-Me deixe.

-Quanto da Poção Para Dormir você tomou ontem?

-Não sei. Não interessa.

Criança teimosa! Garoto irritante! Será que ele não percebe o perigo?

-Draco, se você não cooperar, eu vou enfiar você na lareira e levá-lo direto ao São Mungo. É isso que você quer?

Ele me olha, raivoso.

-Duas.

-Duas o quê, Draco?

-Duas doses.

-E da outra.

-O resto.

-Draco!!

-Devia ter umas duas ou três doses, eu não sei.

Ele já consegue raciocinar. Isso é bom sinal. Mas o corpo mole e o fato de ele tentar dormir no instante em que se cala me preocupam.

Tento raciocinar. O treinamento básico de primeiros socorros que fiz me vem à mente. Ele precisa de cafeína e de se manter bem aquecido. Preciso preparar um café, mas não posso deixá-lo sozinho na banheira: ele se afogaria.

Eu o enrolo na primeira toalha que vejo e o levo de volta para o quarto. Tento mantê-lo e pé, mas está difícil. Se fosse qualquer outra pessoa, eu já teria despido e colocado na cama, enrolado em cobertores. Mas o histórico de Draco me faz ficar cauteloso.

-Draco, você tem de tirar a roupa molhada, está frio para você ficar assim. Vamos, Draco.

Ele leva a mão ao primeiro botão, mas deixa o braço cair em seguida. Draco só mantém os olhos semi-abertos com esforço, e ainda não caiu porque eu o seguro.

-Desculpe-me, garoto. Mas é para seu bem.

Uso um feitiço para remover-lhe as roupas e, antes que o pânico dele se manifeste, consigo envolvê-lo em um edredom. Ele geme; sei que está com medo.

-Calma, Draco. Vai ficar tudo bem.

Eu o abraço, por sobre a coberta, e o mantenho encostado em mim enquanto uso magia para levar sua cama para mais perto da lareira. Deixo-o na cama, embaixo de algumas cobertas.

Enquanto o ajeito, falo com ele; tenho de impedir que durma de novo:

-Eu já volto. Vou buscar um café para ajudar você. Vai ficar tudo bem, Draco.

-Tão frio. Sozinho. Tão frio.

Ah criança. Eu já volto.

Passo no meu quarto e pego uma muda de roupa. Enquanto a água ferve, eu me troco.

Levo algum tempo para conseguir que Draco tome o café.

A cor volta ao rosto dele; já não está mais tão gelado quando o deito novamente nos travesseiros.

Ele me olha, aturdido.

-O que houve, Remus?

-Você tomou Poção Para Dormir e Poção Sem Sonhos em exagero. Descanse agora.

-Remus.... o que houve?

Certo, ele quer detalhes. Dou um resumo para ele. Quando termino, ele me parece triste.

-Desculpe – pede baixinho, sem me olhar nos olhos.

Tem alguma coisa séria por trás disso tudo. Não é boa hora de deixar Draco sozinho.

Sento na cama e seguro o rosto dele, fazendo com que me olhe:

-Você fez de propósito?

-Não! – A voz dele sai rouca e intensa. – Eu só queria dormir.

-Então não há por que se desculpar. Vai ficar tudo bem. – Automaticamente, afasto uma mecha de cabelo do rosto dele. - Agora descansa, criança.