Lilibeth: E não é que Milton Nascimento está certo nisso também? rs

Querubyn: Que bom que está gostando

Paula: O maior problema do Snape é que ele não se acha digno de ser feliz, ai ele fica complicando, mas ele vai entender melhor a situação. E parece que o Draco resolveu, enfim, crescer.

Ptyx: Severus e Harry são, na minha visão, criaturas muito passionais, mas meio travadas. Quando se soltam....

Morti: Severus se garante, o caso é que ele realmente é possessivo. Mortes? Não sei bem como anda minha veia sanguinária.... rs. Mas eu tenho lido fics da Mel

Noctiva-Girl: Que bom que gostou das outras e está curtindo essa.

Juju-Malfoy: O Harry realmente gosta do Severus, a questão é: será que isso é suficiente?

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Parte II – Inverno

Cura da Alma.

Capítulo VIII – A Última Neve.

País de Gales – 20/01/1999

Draco Malfoy:

Desço atrasado para o café da manhã. A mesa posta com mais cuidado que o habitual e um embrulho ao lado dos meus talheres indicam que Remus lembrou do meu aniversário. Mas eu não o vejo em lugar nenhum da casa. Abro a porta para ver se o encontro. Nenhuma pegada na neve. Pela porta ele não saiu. Volto ao escritório dele para ver se tem algum bilhete, quando ouço o barulho típico de uma chegada via Flu vir da lareira da sala.

Quase trombo com Remus saindo de lá. Antes que possa perguntar onde ele estava, sou entusiasticamente felicitado pelo meu aniversário, e praticamente arrastado para a cozinha, com a desculpa de que ele está faminto.

Remus está aprontando alguma.

-Abre seu presente, Draco.

Se fosse o contrário, ele já teria rasgado o papel do dele. Tão contido em quase tudo, Remus não se agüenta diante de um embrulho de presente.

É meu aniversário, tenho todo o direito do mundo de me divertir um pouco. Sento-me calmamente e, mais calmamente ainda, abro o embrulho. Pela cara de Remus, ele está pensando em me azarar. Divertido.

Ora essa, para quem implica tanto com a quantidade de roupas que eu tenho, Remus me surpreendeu. É algo de pano envolto em um segundo papel, esse de seda, com a marca da Madame Malkin. Olho para ele antes de acabar de abrir, e Remus está com uma enorme colher de pau, olhando-me fixo demais. Ele já percebeu a provocação.

Abro de vez o pacote. Um belíssimo casaco de couro de dragão, forrado em pele, com capuz e um par de luvas combinando. Ideal para voar no inverno. O detalhe que meu desligado lobisomem parece ter esquecido é que Snape seqüestrou a minha vassoura.

-Legal, Remus. É lindo. Obrigado. – Não dá para evitar a provocação. – Você sobreviveu bem a uma ida voluntária a uma loja de roupas?

-Sem problemas. Até comprei um par de luvas para mim.

-Progresso, enfim!

Ele me olha como se soubesse de algo que eu não sei e, quando faço menção de começar a comer, ele me pergunta:

-Não vai experimentar?

-Não tem muito sentido, uma vez que estou sem vassoura.

-Ah sim! Eu tinha esquecido. Accio pacote.

E minha saudosa Nimbus 3000 vem voando da sala direto para minha mão. A vassoura que comprei para meu sétimo ano, um páreo duro para qualquer Firebolt, linda, veloz e elegante.

-Remus, como você...

Ele me interrompe:

-Uma hora jurando a Severus que você não vai desaparecer montado nela.

-Obrigado. Eu vou voar. – Já estou com meu casaco novo e calçando as luvas

-Quando cansar, me encontre no vale. Espero você lá.

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Remus Lupin:

Draco decolou como se não suportasse mais ficar preso ao chão. Vai descer só quando a fome ou a sede o vencerem. Arrumo o café da manhã ainda intocado em uma cesta e aparato com ele nas proximidades do lago.

Faz um belo dia. Evoco duas cadeiras e uma mesa, um piquenique de inverno!

Draco mata as saudades do ar ainda por um longo tempo, antes de descer com os olhos brilhando. Já botei a correspondência em dia quando ele, enfim, começa o café da manhã.

-Eu estava precisando disso, Remus. Obrigado. – Ele come com um apetite inusitado. – Cadê sua vassoura?

-Em Londres.

-Por quê?

-Draco, eu sou um piloto de razoável para bom, mas vassoura para mim é só um meio de locomoção.

-Herege! Você deveria buscá-la, aí a gente poderia voar juntos.

-Qualquer dia desses.

-Seu lago está lindo. – Ele mostra o lago, coberto com uma fina camada de gelo e que parece saído de uma história encantada.

-Está sim. Mas espere para vê-lo no verão. Gosta de nadar, Draco?

-Mais ou menos. Eu gosto mesmo é de voar.

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Draco Malfoy:

Talvez Remus tenha razão. Talvez eu realmente não me permita esquecer e ser feliz. Acordei suando frio, imagens da minha infância e de Hogwarts passeiam descontroladas pela minha mente. Inferno.

Aperto a meia Lua no meu pescoço e fico sentado aqui, tremendo, incapaz de me mover. Com medo e sozinho. Quero gritar por Remus, mas minha voz não sai.

Que merda!

Antes que eu me perca de vez na crise, sinto os braços de Remus ao redor dos meus ombros.

Ele veio! Ele veio por mim!

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Remus Lupin:

Draco está tremendo em meus braços. Eu o acalento como a uma criança. É a primeira crise desde o Natal. É o primeiro dia em que ele esteve feliz demais.

Aos poucos ele se acalma, mesmo assim eu o mantenho em meus braços. Chego a pensar que ele dormiu, de tão quieto que está. Mas Draco levanta os olhos e sorri para mim:

-Obrigado.

-De nada, criança.

No momento que as palavras saem dos meus lábios, eu percebo: Ele não é mais uma criança, eu não o vejo mais assim. Hécate! Onde eu fui me meter?

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Draco Malfoy:

Remus me segura nos braços até que eu fique bem. Quando tenho certeza de que vou consegui olhar para ele sem chorar, eu o encaro e sorrio:

-Obrigado.

-De nada, criança.

Uma expressão estranha passa rapidamente no rosto dele, mas é só um lampejo de susto. Ele dá um beijo em minha testa, e se levanta.

-Dorme agora, menino.

Ele me trata como se eu tivesse cinco anos. Hoje eu deixo. Só hoje eu gosto. Sinto-me seguro, protegido.

Observo enquanto ele se afasta em direção a porta. Mesmo nesse frio ele dorme sem camisa! Tem os ombros largos.

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País de Gales – 24/02/1999

Draco Malfoy:

Já é quase noite quando a lareira dá sinal de visitas. Remus vai recebê-los, e eu continuo revelando minhas fotos. Desde que viemos para cá, de vez em quando alguns amigos de Remus aparecem. Eu evito ir até a sala; ninguém tem de agüentar tanta visitação! No entanto, Remus parece feliz em ver essa gente, e deixo para lá.

Mesmo com a porta fechada dá para ouvir o som de vozes exaltadas. Que merda é essa?

Quando entro na sala, encontro o Trio Maravilha da Grifinória. A Granger obviamente tentando acalmar o Potter, que parece nervosinho com alguma coisa. O Weasley tenta explicar ao Remus o que aconteceu, mas no meio da confusão que o Potter está fazendo fica meio difícil para o Cabelo de Tomate falar alguma coisa.

É Remus quem faz o Cicatriz ficar quieto:

-Harry, assim eu não consigo entender nada. Por favor acalme-se. – Remus aponta o sofá. – Sentem-se, meninos. E agora, Ron, me explique com calma.

A Granger senta abraçando o Potter. Se o Snape vê isso, não sobra um fio do cabelo de vassoura dela para contar a história.

Aproveito e sento-me também, não vou perder esse dramalhão por nada.

-Remus, você sabe da série de eventos de que o Ministério está fazendo o Harry participar?

Claro que o Remus sabe! Até eu sei. O Ministério parece muito a fim de fazer do Cicatriz seu garoto propaganda. O Potter fica puto com isso, mas obedece.

Quando Remus confirma o óbvio, o Weasley continua:

-Pois é, hoje nós fomos até um desses eventos. Por sorte era no Ministério e a Mione e meu pai estavam lá. Quando já estava acabando, uma senhora parou o Harry para falar com ele. Eu não vi o início, só percebi quando o Harry tava falando de um jeito que parecia que ele ia azará-la a qualquer minuto. A Mione também percebeu e nós fomos para perto dele, antes que acontecesse alguma coisa.

-Aquela vaca falou....

-Quieto, Harry. – Remus não deixa o Cicatriz continuar.- O que aconteceu depois, Ron?

-Nós acabamos conseguindo tirar o Harry de perto da mulher. Ela parecia que ia ter um treco por causa das coisas que ele falou. Aí nós achamos melhor trazer ele para cá para ele dar uma acalmada, e meu pai foi a Hogwarts falar com Dumbledore, para ele chamar o Snape.

-Certo. Harry. Agora, com calma, me explique a razão disso tudo.

-Aquela vaca veio me dizer que eu preciso arrumar uma namorada. Primeiro ela veio com uma conversa mole sobre o fato de eu ser um modelo para os jovens bruxos. Depois ela falou que era como membro produtivo da sociedade bruxa que ela falava. Ela disse que tinha ficado sabendo de umas coisas a meu respeite e que ela estava muito preocupada porque eu ando com companhias não recomendáveis. Quando eu disse que não tava entendendo ela veio me dizer que estava falando pro meu bem, que tinha idade para ser minha mãe, que era com o maior carinho que falava. – O Cicatriz levanta indignado. – Então ela disse que era amiga dos Chang, e que a filhinha deles, a Cho, tinha dito que eu estava muito ligado ao "Estranho Professor de Poções de Hogwarts". A cadela veio me dizer que o Severus não era boa companhia, que ele era ex-Comensal, e que tinha deixado a coitadinha da Cho assustada.

Merlin! Se eu conheço o Cicatriz, ele acabou com a tal bruxa.

-Harry, o que você falou para ela? – Remus parece ter a mesma visão que eu.

-Que ela devia dobrar a língua para falar do Severus. Que muito antes de Voldemort sumir pela primeira vez ele já se arriscava todo dia como espião. Que ele é mais corajoso e mais inteligente que qualquer outra pessoa. Que a Chang deveria deixar de ser fresca. Eu falei alguma coisa também sobre ser muito fácil ficar escondida durante uma guerra e depois ficar falando mal dos que se arriscaram nela. Que ela não tinha moral nem para lamber as botas do Severus. Que, enquanto tem gente que leva a vida fofocando em salões, ele se arriscou para salvar nosso mundo de ser dominado pelo Voldemort. Disse também que eu tenho muito orgulho da nossa relação. Aí o Ron e a Mione não me deixaram acabar de falar tudo e me arrastaram de lá.

Às vezes o Potter me surpreende agradavelmente. Foi uma reação burra, mas eu gostei.

-Se você visse o tom que ele usou, Remus.... – A Granger parece impressionada.

-Que história é essa do Severus assustar a Chang?

-Frescura dela, Remus. O Severus chegou no Três Vassouras e ela estava conversando comigo. Ele foi meio seco com ela. É só isso.

-E a Chang ainda está viva?

Mal abro a boca e eles se voltam todos para mim. Qual é!

O Potter senta novamente, já mais calminho.

-Pois é. Ele nem azarou ela!

Resumindo: o Snape fez um escândalo no Três Vassouras e o Potter um maior ainda no Ministério. Legal!

-Harry, o que exatamente o Severus fez no Três Vassouras? – Remus pergunta, tentando ver a gravidade do chilique.

-Ele a cumprimentou daquele jeito dele que você conhece, e eu disse para a gente sair de lá, e nós saímos.

-Imagino como foi essa saída dele!

Quando Remus diz isso, eu me descontrolo e começo a rir: tinha estado pensando exatamente isso. A Granger e o Weasley também, porque começam a rir como loucos. A crise de riso acaba atingindo Remus e Potter que, por fim, admite:

-Foi meio dramática mesmo. – Mas ele fecha a cara logo depois. – O que não dá direito àquela .... àquela coisa de falar mal do Severus.

-Tudo bem, Cicatriz. A gente sabe que você defende o namoradinho, pode ficar calmo.

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Remus Lupin:

Evito que Harry parta para cima de Draco depois do último comentário dele, no mesmo instante em que Severus sai da lareira e fecha a cara por me ver segurando Harry junto ao corpo.

Draco e Rony pioram tudo com outra crise de riso.

-Vamos, Ron. – Hermione tem um leve ar de riso também. – Vamos, que seus pais estão nos esperando.

Quando os dois saem, eu me viro para Severus e aviso:

-Vocês precisam conversar. Eu e Draco vamos fazer o jantar e depois vemos o que se pode fazer com essa confusão toda.

Por um instante, acho que Severus vai recusar. Mas ele olha para Harry e aceita.

Bom. Harry precisa dele agora, mas precisa dos amigos também. E eu preciso dar um jeito para que Draco não apronte nada com ele até o fim da noite.

-Vamos.

Eu puxo Draco para fora. Ele me acompanha calado, mas se detém no saguão, fazendo-me um gesto de silêncio. Depois aponta para a porta entreaberta da sala. Severus abraça Harry com força, e Harry se agarra a ele como se sua vida dependesse desse abraço.

É uma imagem linda. Tão forte. Os dois se pertencem, é impossível não ver isso.

Olho para Draco, e não encontro um dos seus habituais sorrisos irônicos, mas um ar sério e um pouco triste. Ele me indica a cozinha, e só lá nós voltamos a conversar:

-Potter vai ficar bem agora, Remus.

-Eu sei. Os dois parecem perfeitos juntos. – Imagino se há um pouco de inveja na minha voz.

-É.

-Qual o problema, Draco?

-Nenhum.

Quando ele começa assim, é melhor deixar para depois, mas ele me surpreende:

-Eu estava pensando no que eu faria no lugar do Potter numa situação dessas.

-Com assim, Draco?

-Se eu tivesse um... uma... alguém com quem eu me importasse desse jeito, e falassem dele dessa forma.

-O que você faria?

-Provavelmente uma besteira ainda maior que essa que o Potter fez. E você?

-Também. Não é uma coisa muito inteligente, mas...

-Pois é. – Ele dá uma risada. – No lugar do Snape, eu teria transformado a Chang em uma macaca. E no lugar do Potter, eu faria da velha intrometida um papagaio.

Não me surpreende isso. Apesar de ele falar brincando, minha intuição me diz que é melhor não provocar Draco nesse tipo de assunto.

Vendo-o ali, concentrado em picar legumes, fico imaginando como ele seria se estivesse apaixonado por alguém. Hesito só um pouco antes de perguntar:

-Você tem vontade de ter um relacionamento assim?

-Eu não sei. – Draco fica sério, olhando para o nada por algum tempo. – Eu não sei se conseguiria.

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Severus Snape:

Lupin arrasta Draco para fora da sala.

Eu aperto Harry contra meu peito, e ele me abraça forte de volta.

Meu menino doce e impulsivo.

Harry se afasta um pouco e segura meu rosto entre as mãos. Tão jovem e tão forte. Eu tenho um guerreiro em meus braços.

-Eu amo você, Severus.

Meu coração dá um salto toda vez que ele diz isso. Quero gritar de volta que não vivo sem ele, quero sussurrar no seu ouvido que minha alma lhe pertence. Quero dizer que acredito, quero rir de pura felicidade. Mas minha voz some toda vez que ele diz isso, e eu o beijo, sedento dessa doçura que só ele tem.

Ele brigou por mim. Tão tolo e tão romântico. E eu não consigo deixar de ficar feliz.

Ele me defendeu. Tento pensar nas conseqüências. Tento me lembrar de que estamos na sala da casa de Lupin. Mas ele passa os braços ao redor do meu pescoço e me beija de volta. Nada mais importa.

Nos dois meses desde o incidente com a Chang, eu ouvi alguns comentários sobre nosso relacionamento; nada com que eu não pudesse lidar. Mas essa foi a primeira vez que alguém falou algo contra mim na frente de Harry. Uma parte de mim fica eufórica pela veemência com que ele me defendeu, a outra fica em pânico.... Não. É mentira. Eu só consigo ficar feliz.

Nossos nomes estão vinculados agora. Eu tentei protegê-lo, mas não adiantou. Que seja, então.

À contragosto, afasto os lábios dos dele.

-Comporte-se, Harry.

-Mas eu me comporto! – Ele beija meu pescoço, me provocando.

Eu o afasto e o faço sentar-se ao meu lado no sofá. Não tenho idade para ser pego aos beijos na sala da casa de um estranho.

Harry me olha com os olhos brilhando.

-O que você vai fazer agora, Severus?

-Cumprir meu destino.

Ele se surpreende com a resposta e me olha, intrigado:

-E qual é seu destino?

-Ficar ao seu lado, enquanto você quiser.

-Você é impossível!

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Harry Potter:

Então eu sou o destino dele! É o mais perto que ele já chegou de dizer que me ama.

Até agora ele tem se esquivado das discretas perguntas sobre nosso relacionamento. Ninguém é louco o suficiente para perguntar diretamente a ele. Eu, pelo contrário, tenho deixado claro que ele é importante para mim, sem escancarar de vez que somos amantes. Agora resolvemos acertar nossas formas de agir.

Ainda conversamos um pouco antes de Remus aparecer nos chamando para jantar.

Na cozinha, eu levo algum tempo para assimilar. Malfoy preparou o jantar! Ou pelo menos ajudou. Isso é muito estranho.

Mais estranho ainda é termos um jantar agradável juntos. A interação entre ele e Remus é fantástica. Olho para Severus, mas ele não dá indícios de ter notado alguma coisa. Estranho. Talvez seja impressão minha.

-Harry, depois dessa cena que você fez, vai ser difícil manter a história de vocês longe dos jornais. – Remus espera a sobremesa para tocar no assunto. – Eu não me surpreenderia nada se o Profeta de amanhã já trouxesse alguma coisa. Tem algo em que eu possa ajudar?

-Não. Pelo menos a princípio – Severus responde calmamente, como se tivesse planejado tudo desde o início. – Mas provavelmente alguns repórteres vão tentar cavar a história toda. Vão procurar você, entre outras pessoas, para dar entrevista.

-Quer que eu os mande para o inferno ou que diga que vocês estão muito bem obrigado, e que isso não é da conta de ninguém?

-Acho que o tradicional "sem comentários" vai ser o suficiente.

-Estratégia burra, Potter.

-Hein?

Draco tinha estado admirando o teto da cozinha nos últimos minutos, mas aparentemente estava prestando a atenção na conversa.

-O que quer dizer, Malfoy? – pergunto, antes que Severus retruque algo mais... seco.

-Que, enquanto ficarem nesse lance de "sem comentários", a imprensa vai ficar tentando descobrir o caso todo.

-E tentando fazer da história de vocês algo sórdido. – De novo Remus e Draco estão raciocinando na mesma direção.

-Tem alguma idéia, Draco? – Severus tem em boa conta os talentos de estrategista do Malfoy.

-Claro. Escolham um fofoqueiro. Ou talvez dois. E enquanto todos ficam se recusando a comentar, esses dois deixam escapar parte da história. Cuidadosamente preparada para minimizar o impacto, sem deixar de tornar público o fato de que vocês estão juntos.

-Entendi o que Draco quer dizer. Vocês fariam uma filtragem do que querem que vá a público, alimentariam os abutres com isso e se preservariam um pouco. Excelente idéia.

Draco sorri, convencido, diante do elogio de Remus. Isso está cada vez mais estranho. Mas a idéia dele é boa.

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Severus Snape:

Harry está me transformando aos poucos em um idiota. Se eu fosse um pouco mais sensato, estaria dormindo agora tão profundamente quanto ele, e não aqui, acordado, velando-o e tentando descobrir por que, afinal de contas, eu o acho tão atraente.

Ele dorme tão sereno! Uma tempestade vai desabar e ele simplesmente dorme.

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Remus Lupin:

Tenho mantido qualquer ponta de interesse que não seja estritamente fraternal por Draco bem longe da minha mente. Mas hoje... hoje eu não consigo deixar de imaginar como seria Draco apaixonado. Ele é tão complexo sob a superfície fria...

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País de Gales – 13/03/1999

Draco Malfoy:

É oficial. Está em todos os jornais. O-Garoto-Que-Derrotou-Você-Sabe-Quem é gay e dorme com um ex-Comensal da Morte. Quase ninguém comenta que Snape também foi um espião para Dumbledore. A Sonserina é sempre injustiçada nessas horas!

O Potter deu um jeito de parecer que eles estão juntos há poucos meses e não desde a época em que ele estudava em Hogwarts. O babaquinha não é de todo burro, afinal de contas.

Quer saber? Esse assunto já me cansou.

Remus está atrasado. Faz mais de uma hora que ele deveria ter voltado da casa dos Weasley. Ele até me convidou, mas, sinceramente, quem quer ver um dos cabeça-de-pimenta ficar noivo?

É muita falta de consideração Remus me deixar aqui sozinho por tanto tempo! Já reli o trecho que ele escreveu baseado no que eu disse a ele sobre conviver com um lobisomem. Ficou ótimo.

É claro, falta acrescentar que esse lobisomem é sem consideração comigo, que me larga por aí e que tem amigos esquisitos demais para meu gosto.

Esse lugar está um tédio!

-Draco!

A voz de Remus vem da sala. Não vou lá de jeito nenhum. Qual é! Me deixa aqui esse tempo toda e acha que vou correndo? Ele se quiser que venha até aqui.

-Draco! – A voz dele agora está no pé da escada. – Você está em casa?

Não custa responder; ele fica preocupado se não respondo.

-Olá, Remus.

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Remus Lupin:

A voz dele soa mais arrastada do que o normal quando me cumprimenta descendo a escada com pose de um jovem rei. Está aborrecido comigo. Ah, Draco! Isso é tão engraçado.

-E então? Divertiu-se? – ele pergunta, simulando desinteresse.

-Muito. Tonks perguntou por você. Afinal, vocês são primos, e era o noivado dela.

-Eu mando um cartão qualquer hora.

Ele vai se comportar como um fedelho mimado por horas!

-Você parece chateado! Talvez não queira me acompanhar, então.

-Acompanhar aonde, Remus?

-Em uma caminhada.

-Está um lamaçal lá fora, com a neve se derretendo!

-E você vai morrer por causa de um pouco de lama? – Tática de provocação. – Eu gosto de ver a última neve se derretendo. E pensei que você poderia me falar da tal idéia que você teve para o livro.

Ele hesita. E então dá um suspiro profundo:

-Vamos, antes que escureça.

Rá! Ganhei de novo! Vamos ver a última neve do inverno.