Paula: muitos risos e que ninguém mexa com um namorado da Paula. Mas idéia da galinha é boa. Ninguém tem nada haver com quem dorme com quem, seja um herói ou não. Remus já começa a pensar no Draco, mesmo que ainda relute.

Viviane: Severus e Harry são explosivos e intensos, Draco e Remus suaves. Mas uma hora a ficha do loiro cai.

Ptyx: Obrigado pelo elogio. Que bom que você fica curiosa quando recebe um capítulo novo. rs

Lili: Eu gosto de nadar e adoraria voar, e o Remus gosta de tudo e do lago. "Harry é um herói sobrevivente, Snape é um sobrevivente herói" muito bem colocado. Mais bem colocado ainda é a indignação com a muito mal amada senhora reclamona do ministério. Infelizmente o mundo ainda está cheio de gente assim, mas sou otimista. Um dia isso melhora.

rbara: O carrasco do Draco é o Mulciber, comensal especialista na maldição Imperius. Estava preso em Azkaban, mas fugiu quando houve aquela fuga em massa no 5o ano.

Momoni: Pois é, Harry e Severus se empolgaram no escritório. rs. Eu também gosto do dois casais igualmente. E concordo com você, está mesmo na hora do Draco cuidar um pouquinho do Remus.

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Parte III – Primavera

Época de Renascer

Capítulo IX – Sob uma Superfície Serena

País de Gales – 22/03/1999

Remus Lupin:

O cheiro da vida ressurgindo toma conta de mim. Entre todas as épocas do ano, o início da primavera é minha favorita. A terra está cheia de promessas de renovação, e tudo parece possível.

Minha alma fica em paz nessa época. Mesmo quando, como agora, algo me machuca.

Draco. Junto com a explosão de vida da primavera veio a certeza. Eu tenho um novo amor. Não é como o que sempre senti por Sirius, nem menor nem maior. Diferente.

Olhando para ele, ali, com suas máquinas fotográficas, concentrado em ângulos, iluminação e lentes, meu coração se enche de uma ternura inusitada. Tão sensível! Ele é cheio de facetas. Tão frágil quando seu passado o assola nas noites de crise, e tão cruel algumas vezes.

Ele me olha e sorri. Meu coração acelera com esse gesto simples, mas eu faço um gesto de recusa quando ele vira a câmera para mim.

Ele se volta para outro lado, ainda sorrindo, e me deixando preso à vontade de tocá-lo.

Mas eu não posso. Seria traí-lo. O mesmo passado doloroso que ainda o faz acordar assustado algumas noites me impede de tentar qualquer aproximação dele. Sou uma das poucas pessoas em que ele confia; se eu mostrar o quanto o desejo, vou feri-lo. Não. Draco não merece ser magoado assim.

De qualquer forma, que chances eu teria? Sou vinte anos mais velho que ele, um lobisomem grisalho e triste. Draco merece mais.

É minha sina, então. Amar a quem só vê em mim um amigo.

Draco se aproxima com seu inconfundível sorriso preguiçoso. Tão diferente de seis meses atrás. Tão mais querido agora do que jamais supus que ele seria um dia. Mas ainda tão ferido. Ele precisa do meu amor, não da minha paixão.

Por amor, consigo sorrir de volta sem que minha dor transpareça.

-Acabou?

-Quase. Falta fotografar você.

-Esquece, Draco.

Ele ri e volta ao tema com que tem me perturbado há dias:

-E as fotos do livro?

-Merlin, dai-me paciência.

Ergo-me do gramado onde estive sentado e vou para casa. Ele me segue, rindo. Draco se diverte muito quando consegue me fazer perder a calma. Vamos ver quem vai rir por último hoje.

Teimoso. Isso é que ele é.

Teve a infeliz idéia de acrescentar fotos ao livro. Seria perfeito, se não fosse um detalhe: é perigoso fotografar lobisomens de perto. Mas quem disse que ele escuta?

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Draco Malfoy:

Remus é engraçado. Principalmente quando eu consigo irritá-lo. Mas precisa subir tão rápido? Ele tem um fôlego impressionante para caminhadas rápidas. O meu melhorou, mas o dele é incrível.

Quando chegamos em casa, ele está rindo e eu arfando. Engraçadinho!

Remus é incrivelmente mutável. Ele é como a Lua. Pode ser a mais introspectiva das pessoas, ou a mais alegre. Coisas estranhas, como uma mudança no vento, podem alterar seu humor. Mas a única pessoa capaz de fazê-lo perder o controle sou eu. E é divertidíssimo. Ele detesta falar ou fazer alguma coisa antes de pensar bem nela. Acho ótimo quando o faço agir impulsivamente.

Irritante. Isso é que ele é.

Custa me deixar fotografá-lo? Botou na cabeça que não é fotogênico e não me deixa tirar nem uma foto dele. Ele sentado na grama me observando fotografar tinha um ar tão melancólico... Mesmo assim estava bonito. Mas é só ver a câmera que põe a mão na frente e aí esquece. Ninguém desempaca esse lobo.

De qualquer forma, gosto mais quando ele sorri. Ele fica com cara de criança que vai aprontar alguma. É um contraste incrível com os cabelos grisalhos dele.

Às vezes eu me pergunto se foi a licantropia que o deixou assim. Acho que não. Sei que ela tem uma forte influência em tudo que Remus é, mas algo me diz que, no fundo, ele sempre foi assim. Imprevisível, ligado no ambiente ao redor dele, apesar de parecer justamente o contrário, sensível e determinado. Não consigo imaginar Remus sem seu ar meio desligado nem sem sua risada de criança.

Eu tenho me pegado observando-o muitas vezes. Natural. Ele daria fotografias impressionantes.

Ele está revisando o livro. Nosso livro. Na realidade mais dele do que meu, mas eu gosto dessa sensação de ter produzido algo tão importante junto com ele. Custava ele aceitar a idéia das fotos? O caso é que Remus tem tendências superprotetoras. É obvio que, se eu fotografar lobisomens, vai enriquecer o livro. É claro que eu não sou um grifinório histérico e não vou nem pensar em fotografar um lobisomem que não tomou uma boa dose de Poção de Mata Cão. Mas Remus me escuta? Não. Botou na cabeça que é perigoso e se recusa a me dar endereço de algum conhecido dele, ou me deixar fotografá-lo. Me mandou fotografar a Lua Cheia em noites diferentes. Até que é uma idéia razoável. Mas a minha é melhor.

Custava colaborar? Irritante. Mas eu tenho um plano. Ele que me aguarde.

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Londres – 26/03/1999

Harry Potter:

Esse cara está doido?

O Conselheiro da Academia de Aurores me chamou. Não foi surpresa, é claro. Desde que a Rita Skeeter publicou as matérias falando do meu relacionamento com Severus que eu esperava ser chamado para receber "apoio emocional". Mas definitivamente eu não esperava algo tão estúpido assim.

Ele não diz diretamente, mas, com muitos rodeios, me expõe a teoria de que eu ando em busca de figuras paternas. Pela espada de Gryffindor! Eu adoraria ter conhecido meu pai, mas achar que durmo com Severus por falta de uma figura paterna na minha vida é ridículo!

Alguém deveria dizer a esse tonto preconceituoso que meu pai e Severus se detestavam, e que ele nunca se prestaria ao papel de substituto de James Potter.

Ele não conhece Severus. Ou estaria me dizendo que ele não tem nenhum instinto paterno. O que seria uma injustiça. Ele é muito mais que um pai para os sonserinos. Mas nunca foi assim entre a gente.

Será que as pessoas não podem simplesmente entender que eu realmente gosto dele? Porque eles sempre têm de se intrometer na minha vida?

Ontem um cara me parou no saguão agradecendo por eu ser um defensor dos direitos gays. De todas as loucuras que ouvi, é a única que eu entendo. Não sou defensor de nada, só quero viver a minha vida com a pessoa que eu amo, mas entendo o que ele quis dizer. Se o Garoto-Que-Sobreviveu pode dormir com um homem, então não é errado. De certa forma, eu realmente ajudo uma causa.

Como eu gostaria de não ser o Garoto-Que-Sobreviveu, de não ser famoso. De não ter de conviver com as pessoas me vigiando desse jeito. Se eu não fosse quem eu sou, não ouviria as insinuações de alguns homens, na maioria mais velhos do que eu, de que cuidariam melhor de mim do que Severus cuida. Parece que a teoria da figura paterna está se espalhando. Duvido que qualquer um deles enfrentasse Voldemort por mim como Severus fez. Mesmo que fizessem. Nenhum deles tem os olhos dele, tão intensos, tão cheios de dor, de amor e de força. Nenhum deles chega nem perto. Nenhum deles me interessa.

O infeliz Conselheiro agora está me falando de garotas. Que é normal se sentir inseguro perto de garotas, e que alguns rapazes passam por uma fase de se interessar por homens.

Eu não sou imune à atração por mulheres. Algumas são simplesmente maravilhosas. A Gina, por exemplo, é linda; Parvati tem um jeitinho sensual, e a Mione é muito próxima da perfeição. É claro que eu vejo isso. Mas, perto de Severus, elas se tornam meio apagadas. Se eu não tivesse me apaixonado por ele, talvez me interessasse por alguma garota legal, ou por outro cara. Quem sabe? Só que eu amo Severus. Quando eu estava na escola eu realmente era muito tímido, mas quando descobri o que sentia por Severus, tirei coragem de onde não tinha. E, francamente, ele é muito mais intimidador do que qualquer garota.

O monólogo do sujeito chega ao fim, e ele me encara esperando uma resposta.

-Senhor Conselheiro - uso um tom respeitoso, não quero dar margem a queixas –, todo auror em treinamento que é publicamente gay tem de ouvir isso tudo ou nesse caso, também, eu sou exceção? Se eu for, agradeço sua boa intenção, mas estou muito bem com o Professor Snape, ele não é um pai substituto e nem o escape para um medo irracional de garotas. Posso ir agora?

Saio da sala com a certeza de que, em muito pouco tempo, vou ficar com uma fama de arrogante pior do que a do Malfoy. É até engraçado.

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Severus Snape:

Essa mulher enlouqueceu!

Eu me lembro dela na época da escola. Pamela Fleet. Corvinal, uns dois anos mais nova do que eu, muito bonita, tanto naquela época quanto agora. Agora ela é Pamela Gudgeon, viúva de David Gudgeon. Na minha opinião ele era um idiota, e o filho é outro. Além do garoto na Grifinória, Casa do falecido marido, ela tem uma menina na Sonserina. E foi usando a filha como pretexto que ela marcou essa reunião comigo.

Há quase uma hora ela está simulando uma preocupação com o rendimento da garota. Preocupação descabida: as notas de Agatha estão todas acima da média. Eu me pergunto se ela ao menos sabe disso. Pelo que sei, o fato de sua filha ser da minha Casa foi uma fonte de muito desgosto para a Senhora Gudgeon.

Mulher estúpida. Não precisei nem de cinco minutos para perceber as insinuações dela para mim.

Que insanidade é essa? Quando estudávamos, ela nem sequer me cumprimentava. Não que isso me afetasse, mas é uma coisa que não pude deixar de reparar. Quando se tem dezesseis anos e se é alvo de chacota, fica-se muito atento a quem ri dessas piadas. Agora ela está se oferecendo para ir para a cama comigo.

Claro. Eu sou o amante do Garoto-Que-Derrotou-Você-Sabe-Quem, então eu devo ter algo de muito interessante.

Que coisa patética! Agatha merecia uma mãe mais digna.

De todas as atribuições do cargo, a que mais me irrita é tratar com pais de alunos. Mas nunca, nesses dezoito anos, eu me irritei tanto com um deles.

Olho novamente para o relógio, de forma ainda mais acintosa que das últimas cinco vezes. Harry está com Dumbledore, me aguardando para irmos para casa, e minha paciência está acabando.

Enfim eu consigo que ela se resolva a ir embora. Ela veio de longe para absolutamente nada.

Estou conduzindo-a pelo cotovelo até à porta quando ela pára.

-Muito agradecida pela atenção, Professor Snape. Ou posso chamá-lo de Severus?

-Faço questão que os pais dos alunos me tratem com a devida formalidade, Senhora Gudgeon. Assim como os estudantes.

-Oh, claro.

Ela está praticamente colada em mim, e o sorriso insinuante não é nada adequado. Quando eu a viro na direção da porta, ela estaca. Grande Salazar! Qualquer um ficaria sem ação.

Harry está parado à porta; os olhos dele brilham. Só o vi uma vez com essa expressão. Foi segundos antes de derrotar o Lord das Trevas. Como diabos ele entrou e eu não ouvi?

O som da Senhora Gudgeon engolindo em seco me faz prestar atenção nela novamente. A mulher está lívida, e Harry ainda nem se mexeu.

-Ah, Harry! Entre.

Ele descruza os braços e vem em nossa direção. Tem o andar de um predador.

-Senhora Gudgeon, creio que não conhece o Senhor Potter. Harry, a Senhora Gudgeon é mãe de uma aluna da minha Casa.

-Muito prazer, Senhora Gudgeon. – Onde Harry aprendeu a usar esse tom frio e mortífero?

-Encantada, Senhor Potter. – Se essa mulher não sair daqui logo, ela vai desmaiar. – Mais uma vez obrigada, Professor Snape. Pode deixar que eu encontro a saída.

Depois que a mulher sai, ele me encara:

-Você está se divertindo, Severus?

-Imensamente.

-Eu não.

Antes que eu possa dizer que a reação dele é totalmente exagerada, ele me beija. Não o habitual beijo sedutor e doce dele, mas um beijo dominador. Invade minha boca com a língua, dando um choque de excitação em todo meu corpo. Ele morde, não tão de leve, meu lábio inferior antes de interromper o beijo e me encarar de perto. Sua voz é só um sussurro quando me avisa:

-É bom que você tenha deixado claro àquela senhora que ela deve deixar as garras bem longe de você.

-Está com ciúmes, Harry? – Eu o provoco.

-Severus....

Merlin, ele está realmente irritado!

-Aquela mulher não me interessa, garoto.

-Vamos para casa. – Isso definitivamente foi uma ordem.

Eu o puxo mais para perto:

-Está muito mandão hoje, Harry.

-Não gosto de abutres rondando o que é meu.

Eu o beijo.

-Vamos para casa, Severus. – O tom agora é de um convite, cheio de promessas.

Harry com ciúmes. Escondo um sorriso. Vai ser uma noite muito interessante.

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País de Gales – 30/03/1999

Draco Malfoy:

Primeiro dia de Lua Cheia. Faz meia hora que Ela domina os céus. Hora de pôr meu plano em prática.

Remus é difícil de enrolar, mas eu consegui ter certeza de que ele não esqueceu de tomar a poção justo hoje. Duvido que exista alguém que saiba tanto quanto eu a respeito de lobisomens, com exceção, é claro, do Remus. Sei mais do que muitos lobisomens sabem sobre sua própria condição. A única coisa que não sei é como é ser um lobisomem. Mas hoje eu vou saber como é estar com um.

Revejo tudo que eu sei, enquanto me preparo mentalmente. Com a poção, Remus mantém grande parte da sua consciência. Ele controla o Lobo. Ele vai reter a memória do que acontecer essa noite, e as reações dele serão meio humanas. Escolhi não levar a câmera hoje. Só vou fotografá-lo se Remus amanhã concordar. Tudo o que eu quero é provar que é possível.

Respiro fundo e entro no quarto dele. Minha mão treme ligeiramente quando aponto a varinha para a porta. Decidi não aparatar para não assustá-lo. O que vou encontrar ali é Remus, mas também não é. A porta abre-se sem ruído; eu a enfeiticei durante a semana para que fosse assim - nem os ouvidos sensíveis do Lobo detectam o ruído da lingüeta se soltando.

Empurro a porta. Ele se volta para mim antes mesmo que eu entre.

É lindo!

Um lobo enorme, cinzento, sentado orgulhoso em frente à janela. A luz da Lua lhe confere uma beleza sobrenatural. Ele fica imóvel enquanto eu entro e fecho a porta atrás de mim.

Remus recua à medida que eu avanço. Eu paro ao lado do colchão, já na área iluminada pela Lua, enquanto ele se esconde nas sombras do fundo do quarto.

Ajoelho-me devagar. Já nem me lembro porque eu vim, tudo o que me importa é que ele venha até mim. Meu coração chega a doer diante de tanta beleza.

Ele me encara. Não tira os olhos de mim nem por um segundo. É como se ele só agora acreditasse que eu realmente estou aqui.

Remus! Ah, meu amigo! Confia em mim. Vem.

Devagar, ele se aproxima.

Ele vem até que suas patas dianteiras estejam sobre o colchão. O mundo é uma mistura de prata e cinza que me entorpece os sentidos. Eu estendo a mão e toco seu pescoço. No instante em que o sinto pressionar a cabeça contra meu braço, sinto, também, minhas lágrimas. Merlin, a beleza me faz chorar!

Intuitivamente Remus entende o que acontece, e o Lobo se aproxima um pouco mais. Eu me movo na direção dele, e acabo por sentar-me no colchão, abraçado a ele.

Sou o primeiro humano a tocar Remus em sua forma lupina. Nem Black, nem Potter. Ninguém. Só eu. Há algo de sagrado nisso.

Deixo que as lágrimas lavem minha alma. Nunca me senti assim. Quando meu choro cessa, encaro os olhos do Lobo. Lá no fundo está Remus. Então está tudo certo.

Acaricio sua face, e ele fecha os olhos. Ficamos assim por um tempo enorme, até que passo os braços ao redor do corpo dele e, juntos, fitamos a Lua Cheia.

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Remus Lupin:

Volto à forma humana velando o sono de Draco.

Garoto louco. Não acreditei quando o senti entrando no quarto. Afastei-me na esperança de que ele fosse embora. Mas nem mesmo como Lobo eu queria realmente que ele saísse. Quando ele me tocou, minha solidão se foi. Ah, Draco! Você não faz idéia do bem que me fez hoje.

Enrolo-me em uma coberta sentindo falta dos braços dele em volta de mim. Quando o cansaço começou a cobrar seu preço, Draco se deitou e me puxou para perto. Ele dormiu assim, abraçado comigo. Não preguei os olhos. Mesmo na forma de Lobo eu o amo. Tão absurdamente lindo sob a luz da lua.

O sol já vai nascer, e na hora mais fria ele se encolhe de frio. Meu coração deseja que seja também por sentir falta do meu corpo encostado no dele.

A ironia: como lobo, eu me enrodilho nele, como homem, não me atrevo.

Ele abre os olhos lentamente:

-Remus... hummmm. – Ele se espreguiça languidamente e sorri. – Bom dia.

-Bom dia. – Eu deveria censurá-lo, mas não tenho coragem. Seria mentira. – Você é louco, Draco.

Até aos meus ouvidos minha voz soa trêmula e emocionada.

Ele sorri. Olha-me nos olhos por um longo tempo antes de dizer:

-Obrigado.

-Pelo que você agradece, Draco?

-Por você ter me deixado ficar. Por ter se aproximado. Por ter confiado em mim. – Ele também está emocionado. – Foi uma coisa única, Remus.

-Eu sei. Foi incrível ter você comigo durante a Lua Cheia. Obrigado.

Ele sorri, me fazendo sorrir de volta. Nós nos entendemos.

Ele me lembra:

-Você precisa descansar.

-Você também.

-Estou com preguiça de me mover.

Mesmo assim, ele se move. Aninha-se no meu peito e mal resmunga "bons sonhos" antes de voltar a dormir.

Eu levo mais tempo. Dividido entre o prazer de tê-lo em meus braços e o susto de me sentir assim, tão vulnerável.

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País de Gales – 05/04/1999

Draco Malfoy:

Nem acredito que dormi abraçado com ele na primeira noite. Pareceu tão natural.

Remus me deixou voltar nas noites seguintes, com uma condição: eu não veria a transformação dele em lobo, nem a volta dele à forma humana. Ele diz que se sente embaraçado.

Acho que, no fundo, ele só quer me poupar, mas respeito o que ele pede.

Só na terceira noite tive coragem de fotografá-lo. Agora que as fotos estão prontas, penso se vou deixar mais alguém vê-las. Não tem nem a metade da beleza de Remus, mas mesmo assim....

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Remus Lupin:

Ele voltou nas noites seguintes, mas não dormiu em meus braços novamente. Não importa. Tenho a memória do cheiro dele impregnada na minha alma por toda a eternidade.

Agora que conseguiu as fotos, ele hesita em usá-las. E insiste em fotografar outros lobisomens. Talvez haja um jeito. É primavera, e tudo parece possível novamente.

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Hogsmead – 11/04/1999

Harry Potter:

Adoro os domingos.

Nos sábados eu ou Severus costumamos ter algum compromisso, mas nos domingos, não.

Normalmente ele se levanta antes de mim, mas volta para a cama e fica lendo. Quando acordo, eu o abraço, ou passo as pernas em volta dele. Ele finge me ignorar, e eu me deito sobre ele. Como em um jogo, eu o perturbo até que ele derrube o livro e me dê atenção. Só então eu levanto.

Nunca imaginei que algum dia eu levantaria nu de propósito. Gosto de sentir o olhar de Severus me seguindo até o banheiro que ele mandou instalar em nosso quarto.

Ele espera.

Só quando ouve o som do chuveiro é que me segue.

Eu o espero sob a água.

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Severus Snape:

Quando entro no banheiro sou presenteado com a visão de Harry sob a ducha forte.

Ele está me esperando, e me dá o mais sedutor dos olhares. Deixo o roupão cair e entro sob a ducha junto com ele. Quando o beijo, ainda sinto o gosto da pasta mentolada que ele usa. Depois perco a noção da realidade.

Vamos fazer amor sem pressa e, depois de uma refeição tardia, vamos passar a tarde juntos em algum lugar.

Se resolvermos sair, as pessoas vão ficar olhando para nós dois disfarçadamente enquanto conversamos sobre tolices ou assuntos sérios. Talvez a gente se deixe ficar no silêncio confortável que às vezes se instala. Vamos estar os dois totalmente esquecidos do resto do mundo.

Nunca antes conheci esse tipo de paz.

Adoro os domingos.

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Draco Malfoy:

Em que momento eu estava tão distraído a ponto de deixar Remus me convencer a me vestir como um trouxa e vir visitar a bendita vila? Ele deve ter trapaceado comigo de alguma forma, e eu ainda não notei. Mas já me arrependi.

Ele não me deixa aparatar nem vir de vassoura, por motivos de segurança. Ou seja, escalamos a colina, depois a descemos toda, e ainda caminhamos um bom trecho até chegar à vila trouxa.

É domingo. Algumas crianças estão jogando algo com uma bola. Elas a chutam e tentam marcar gols em dois grandes quadrados nas extremidades do campo, que, claro, é todo no chão. Remus diz que o jogo chama-se futebol, e que os trouxas gostam dele tanto quanto a gente gosta de quadribol. Interessante.

Remus parece estar certo no que diz, porque o número de pessoas assistindo em pé em volta do campo é grande. Eu fotografo alguns lances meio sem atenção. Acabo conseguindo enquadrar em uma foto o gol que um dos garotos faz.

A torcida vai à loucura, e um sujeito atarracado que está do meu lado me sacode como se tivesse ganho a Copa Mundial de Quadribol. O cretino do Remus está rindo. Claro!

Por causa do sujeito, não consigo fotografar a comemoração dos garotos. Saco!

No segundo gol eu escapo do maluco ao meu lado e fotografo os garotos pulando uns sobre os outros na alegria de marcar o ponto. Divertido.

Quando o jogo acaba, aquele monte de meninos vem atrás de mim pedindo, com o jeitinho chato que toda criança, bruxa ou trouxa, tem, para eu fotografá-los de novo. Eles querem saber quando vão ver as fotos. É. Pelo visto esse filme vai ter de ser revelado no modo trouxa.

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Remus Lupin:

Totalmente surreal. Essa é a única descrição para a visão de Draco Malfoy fotografando crianças trouxas. E se divertindo muito com isso.

Claro que, quando percebe que estou olhando, ele fecha a cara e finge um tédio que está longe de sentir.

Almoçamos no único pub da vila, e Draco ainda gasta uns dois rolos de filme com pessoas e lugares antes de resolvermos voltar para casa.

Eu o provoco até fazê-lo admitir que gostou, e ele diz que realmente pretende voltar domingo que vem para mostrar as fotos aos garotos.

Sinto a chuva chegando e não aviso Draco. Hoje o dia dele vai ser repleto de experiências novas.

Estamos quase terminando de subir a colina que separa nossa casa da vila quando um trovão forte o assusta:

-Remus, vai chover!

-Eu sei. – Tento inutilmente manter uma expressão séria. – A caixa da máquina tem feitiço à prova d'água?

-Tem, Remus, mas eu não!

Ele está quase em pânico. É muito engraçado.

-E você derrete com uma chuvinha boba? Vamos lá, Draco, chuva é bom.

Ele resmunga alguma coisa sobre minha sanidade no instante em que os primeiros pingos começam a cair.

No topo da colina, eu abro os braços e ergo o rosto para receber a chuva:

-Apenas se deixe molhar, Draco. Aproveite.

-Você é louco, sabia?

Ele está encolhido, tentando se proteger da chuva. Bobagem, vai molhar do mesmo jeito.

Eu pego a caixa da mão dele e a coloco no chão. Seguro as duas mãos dele, fazendo com que abra os braços.

-Relaxe, Draco. A chuva é renovadora da vida.

Ele acaba sorrindo e fechando os olhos para sentir melhor a chuva. Ah, Hécate, ele é tão lindo!