Paula: Eu também ando me referindo a eles como se fossem reais. Loucura, e contagiosa. Eu imagino um Harry muito mais maduro do que o normal nessa idade, mas com a honestidade típica dessa idade. Uma combinação poderosa.
Lidar com a dor do Remus é lidar com a própria impotência, um aprendizado muito difícil em qualquer realidade. E a ficha do Draco caiu enfim. Meio bruscamente.
Ptyx: Eu aprendi observando, e em grande parte observando você.
Mortícia: Saber é uma coisa, agir é outra! rs que bom que você gostou.
Bárbara: Como assim ver um beijo? O Snape e o Harry vivem se pegando! Brincadeira, eu sei que beijo você anda querendo ver.
Viviane: Nossa se o Lupin tivesse mordido o Draco ele pirava de tão culpado que ia se sentir. Não sou tão mau assim como Lobo. O Harry tem mais fé na vida, o Severus está recuperando a dele.
Persephone: Sempre que alguém diz que se emocionou com alguma coisa que eu escrevi eu me emociono. Obrigado. Minhas fics não estão em nenhum outro lugar.
Konphyzck: Que bom que gostou. Preocupa com o Draco não, foi só uma unhada de lobisomem. Ele sara.
Lilibeth: Todo mundo tem um lugar onde se permite ser frágil, para o "meu" Snape esse lugar é o ombro do Harry. Mas você faz poesia em prosa sim, "Lucidez" é poesia pura.
Momoni: Pois é, foi hora de Harry e Sev. A grande pergunta na mente do Remus e do Draco é exatamente essa: O que fazer?
Sophie Sasdelle: Remus e Draco vão ter de ir com calma, mas espero que eles se acertem. Obrigado pelos elogios.
Mais uma vez, obrigado pelos reviews de vocês, desculpe a demora, foi uma travada básica. Vamos se eu consigo não demorar tanto agora.
p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p
Parte III – Primavera
Época de Renascer
Capítulo XI – Jogo de Esconde-Esconde
País de Gales – 03/06/1999
Draco Malfoy:
Remus ficou dois dias de cama depois do eclipse.
Dois dias do mais absoluto silêncio, só quebrado por educados agradecimentos quando eu lhe levava alimento, ou por educadas recusas quando eu perguntava se ele precisava de algo. Se eu tentava lhe fazer companhia, ele educadamente fechava os olhos, virava-se para o lado e fingia dormir. Eu aturei isso durante dois dias.
Por dois dias eu só fiz tentar entender meus sentimentos por esse lobisomem cretino e aturar seu educado isolamento.
Na hora do almoço do terceiro dia, quando ele me agradeceu, mais uma vez, com sua voz educada, por eu ter trazido o almoço, minha infinita paciência chegou abruptamente ao fim:
-Que o inferno congele, Remus, se eu aturar isso mais um minuto que seja!
E a cruza de asno e lobo por quem eu me apaixonei ainda teve a cara de pau de me olhar surpreso!
-Isso mesmo. Chega, Remus. Despeja logo qual seu problema.
-Pára de gritar, Draco.
A voz dele já está menos educadinha. Obrigado, Merlin!
-Não estou gritando. Você é que está agindo como um imbecil. Portanto desembucha. Qual o motivo disso tudo?
Ele se ergue da cama com uma velocidade espantosa para quem estava tão abatido momentos antes, e me segura pelos ombros. Por um instante eu penso que ele vai gritar comigo, vai me sacudir, vai fazer qualquer coisa, mas ele se afasta até o outro lado do quarto.
-Você não ia entender.
-Claro que não. Agora eu sou burro. – Respiro fundo buscando algum controle. – Deite-se, Remus. Você ainda não está bem.
-Eu estou bem.
-Não. Não está. Foi só a irritação, que age no seu organismo de forma ainda mais intensa, que fez você conseguir se levantar. Viu? Eu consegui entender um pouco do que você andou me explicando esses meses.
Ele continua obstinadamente apoiado no console da lareira.
-Merda, Remus. DEITE-SE AGORA!!
-NÃO!!!
Ele se volta, os olhos dele brilham intensos demais. Tem algo errado.
-Vá embora, Draco. Me deixe sozinho.
Saio do quarto batendo a porta atrás de mim.
p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p
Remus Lupin:
A batida da porta ecoa na minha alma. Eu me atiro na cama e, encolhido, espero que a respiração volte ao normal. Em algum lugar da minha mente a voz de Sirius me acusa:
"Orgulhoso, imbecil, cretino." Almofadinhas sempre foi tão gentil na hora de externar sua opinião. "Aluado, você é um idiota."
-Eu sei, Sirius. Eu sei. Sei também que magoei Draco. Não precisa me dizer.
Quando percebo que estou falando com Sirius em voz alta, começo a rir. Até aos meus próprios ouvidos meu riso soa histérico.
Draco, minha criança teimosa, por que você veio até mim durante o eclipse? Você não entende? E se eu tivesse mordido você? Não consigo nem pensar nisso.
Você escondeu as marcas de garras nos seus braços, mas eu vi. Marcas das MINHAS garras. Eu feri você, Draco. E, ainda assim, é com alívio que vejo que o feri com as garras e não o mordi. Mas poderia ter mordido.
Deixo-me ficar largado na cama durante a tarde toda. Nunca em minha vida me senti tão dividido. Anseio pela presença de Draco de forma dolorosamente física, mas não quero vê-lo. Quero-o longe de mim. Não posso mais encarar os olhos dele.
Ele me viu do pior jeito possível. Nem lobo, nem homem. Uma coisa. Um monstro. Uma aberração.
A culpa é dele. Ele havia prometido... Oh, Hécate! Por quê?
À medida que o dia termina, minha consciência me incomoda. Draco merece uma explicação.
Eu me recomponho e desço, para encontrar uma casa escura, vazia e silenciosa.
Assombro a casa, passando do choque de ver pela primeira vez o chalé sem Draco à mais insana ansiedade, à medida que as horas escoam. Até que, bem próximo da meia-noite, eu o ouço abrir a porta da cozinha:
-Onde você estava? Está tentando me matar de preocupação, criança?
Ele me olha surpreso, como se eu tivesse enlouquecido. Ele tem a vassoura em uma das mãos. Os cabelos despenteados indicam que voou por muito tempo.
-Eu não sou criança, Remus.
Com a frase simples, ele passa por mim ajeitando os fios quase brancos, que eu quero tanto tocar, e vai até a sala. Ele tem razão. Não é mais uma criança. E merece uma explicação e um pedido de desculpas. Agora.
Engulo meu orgulho e minha covardia, que me mandam insistentemente ir dormir, e vou atrás dele.
Ele está sentado no sofá, abraçado às próprias pernas e fitando o nada. Eu me sento ao seu lado e o encaro.
p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p
Draco Malfoy:
Remus senta-se ao meu lado e me olha. Merda. Não quero que ele veja que eu chorei. Eu saí puto do quarto dele e fui voar. Só quando notei que eu não enxergava nada é que percebi que estava chorando.
Me senti rejeitado, humilhado, escorraçado.
Que merda. Não quero que ninguém tenha tanto poder assim sobre mim.
Eu não vou gostar mais dele. Vou detestar Remus daqui para frente.
-Draco – ele me chama, a voz levemente rouca –, olha para mim.
Quando eu obedeço, ele toma minha mão.
-Me desculpa. Eu não queria falar com você daquele jeito hoje. Você não merecia. Eu estava me sentindo horrível e descontei em você.
Droga, Remus. Assim eu não consigo detestar você.
-Tudo bem. – Eu ainda tento ser durão, mas meu coração já dá sinais de alegria novamente, batendo forte no meu peito. Só Remus tem esse dom.
-Não está nada bem – ele me contradiz. – Você me pediu uma explicação, que você merecia, e eu o agredi.
Dou de ombros. Não vou pedir de novo que ele me diga o problema.
Ele sorri para mim, como se tivesse lido minha mente. Merda.
Ele olha para a mão dele, que ainda segura a minha, antes de dizer, com voz cansada:
-Eu não queria que você me visse do jeito que você me viu. Não queria que você presenciasse minhas transformações. Não suporto a idéia de que você me olhe com nojo por eu ser o que eu sou.
-O quê?!
Esse cretino ficou louco de vez!
-De onde você tirou essa insanidade, Remus? – Estou de pé e gritando com ele novamente.
-De tudo o que eu já vivi, Draco. De tudo o que eu já perdi. Eu não quero perder você.
Ele se levanta agitado, enquanto meu cérebro lentamente absorve o conceito de que sou realmente importante na vida de Remus. Legal!
-Vai à merda, Remus. Vai à merda se você me subestima tanto assim.
-Eu não subestimo você. Eu podia ter mordido você!
Ele senta-se. Tem um ar tão frágil e tão cansado que eu não consigo mais discutir. Sento-me ao lado dele.
p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p
Remus Lupin:
Draco senta-se ao meu lado e, inclinando-se no encosto do sofá, passa a encarar o teto da sala.
Eu não quero brigar, não quero afastá-lo. Tudo o que eu mais quero é trazê-lo para bem perto de mim, e tocar esse rosto lindo, e pedir que me entenda.
-Eu não subestimo você. Eu não ficaria com raiva se você me visse com nojo, ou medo, depois de tudo o que você viu. Ninguém poderia culpar você por isso. É assustador. – Eu o olho pelo canto dos olhos. – Assustou você, eu sei.
-Assustou. – Ele admite, sem tirar os olhos do teto. – Mas eu faria de novo. Por você, eu faria de novo.
-Eu sei. Mas, Draco, eu feri você. Foi com as garras, isso não o tornará um lobisomem. Mas e se eu tivesse mordido você?
-Você não me morderia.
-Eu não pretendia machucar você, e aconteceu. E se por acidente eu tivesse ferido você com as presas, e não com as garras?
-Eu não tenho medo. – A voz dele é séria e triste. – Você não entende, Remus.
-O que eu não entendo?
-Que eu não sou criança. Tenho minhas fragilidades, mas sou um homem.
-Eu sei. A maior parte do tempo você é um homem, independente e muito forte. Às vezes, como todos nós, você é uma criança, sozinho, no escuro e precisando que alguém cuide de você. No fundo somos todos assim.
-Eu não preciso que você cuide de mim todo o tempo.
-Não precisa. Mas gosto de cuidar de você.
-Então por que me nega o direito de retribuição? O heróico lobisomem grifinório não pode receber ajuda?
O nada heróico lobisomem dos grifinórios tem medo que essa ajuda afaste a pessoa por quem ele se apaixonou. O nada heróico lobisomem dos grifinórios não consegue dizer isso ao jovem homem a quem ele começou a amar.
-Foi.... foi tão perigoso o que você fez. – Covardemente eu me retraio. – Mas foi maravilhoso. Ninguém nunca fez tanto por mim. Obrigado, Draco.
Ele sorri. E meu coração dói. Foi maravilhoso acordar mais uma vez em seus braços. Foi maravilhoso me sentir protegido pela primeira vez na vida. Eu poderia me acostumar com ele e, se eu me acostumar, vou deixá-lo ver o quanto eu o quero. Meu amor está longe de ser platônico, e Draco não precisa de mais essa traição na vida.
Contrariando tudo o que desejo, eu não o abraço, limito-me a encará-lo por algum tempo antes de perguntar:
-Você me perdoou?
p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p
Draco Malfoy:
-Você me perdoou?
Balanço a cabeça afirmativamente, e o ouço respirar aliviado.
Talvez se eu fosse um pouco mais dócil tivesse encerrado essa conversa complicada de vez. Mas nunca serei assim.
-Eu ainda não entendo você, Remus.
Ele não diz nada. Espero por alguns segundos e ele não fala. Então o cérebro brilhante que deu tantas glórias à Sonserina me dá a solução:
-Quem rejeitou você depois de vê-lo passar por um eclipse?
Remus empalidece. Enfiei o dedo na ferida dele. Ele anda até a janela e fecha os punhos, escondendo-os sob os braços, em uma posição muito semelhante à que ele adotava durante as crises de dor.
Céus! É tão obvio! É claro que o problema não é a transformação em si. Black, o rato traidor, o Potter Pai, e todo o Trio de Ouro já viram isso. O problema está na crise do eclipse. Naquela dolorosa transformação que nem se completa e nem o abandona.
Eu me aproximo de Remus, e contenho meu impulso de me aninhar no peito dele. Quando toco o ombro dele, Remus estremece.
-Meus pais me amavam muito, Draco. Nunca duvidei disso. Me amavam antes de eu ser mordido, e continuaram a me amar depois. – Ele hesita, e olha a noite por um longo tempo. – No mês anterior à minha entrada em Hogwarts, na penúltima noite de Lua Cheia, houve um eclipse. Eles foram atraídos pelos meus gritos, gritos humanos. Meu pai aparatou no quarto onde eu estava. Minha mãe era trouxa, e não podia entrar sem que destrancassem a porta.
Ele se volta para mim. Tem os olhos vermelhos de lágrimas contidas. Toca meu rosto e prossegue:
-Você viu como eu fico. Garras, dor, presas... – Ele fecha os olhos sem conseguir continuar.
-Seu pai não agüentou.
-Ele vomitou.
-Oh, merda!
-Mesmo me amando muito, ele teve nojo de mim. Entende agora?
-Merda. Merda. Merda. – Eu o abraço apertado, e puxo a cabeça dele para meu ombro. – Merda. Merda. Merda. Que grande merda.
Com a boca esmagada no meu ombro, Remus comenta:
-Você tem um jeito muito estranho de confortar as pessoas, Draco.
Mas eu não o solto. Não conseguiria mesmo que tentasse.
Ele também me abraça com força.
p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p
País de Gales – 10/06/1999
Remus Lupin:
De alguma forma Draco fez a dor passar. Mas as coisas não voltam ao que eram antes. Foi uma semana estranha.
Eu havia me habituado a sublimar meus sentimentos por Draco com uma atitude paternal, mas ele agora exige ser tratado como adulto. Pequenos gestos que eu me permitia, como acariciá-lo nos cabelos de vez em quando, me são proibidos agora. E me fazem falta. Muita.
É estranho ver Draco agindo assim. Ele está tão sério. Ainda caminhamos juntos todos os dias, mas ele está diferente, mais calado. Algumas vezes ele se aproxima, como se tivesse algo de importante para me dizer, mas lhe faltam palavras. Outras vezes ele decola na vassoura e se isola nos céus. Confusamente, eu o sinto mais ligado a mim do que antes.
O cheiro da primavera já se aproximando do verão me perturba. Tudo o que eu quero é encostar Draco no salgueiro o beijá-lo por horas. Não. Quero mais do que isso. Quero o que só tenho em meus sonhos. Sonhos que me fazem acordar, no meio da noite, excitado como um adolescente.
Em vinte dias ele irá fazer o Exame de Espelhamento com a Curandeira que cuidou dele. Em vinte dias eu vou ser internado por insanidade originada pela repressão dos meus próprios sentimentos.
Apóio minha cabeça sobre os braços esticados sobre a mesa rústica que construí nos fundos da casa.
Esfalfei-me fazendo a mesa e os bancos, para evitar pensar em Draco. Na minha mente, ecoa a risada sarcástica de Sirus: "Aluado, você é uma besta!"
Não vou responder. Não mesmo.
Devo ter cochilado. Acordei com Draco passando a mão pelos meus cabelos.
-Remus, entra. Está escurecendo.
A voz dele é tão suave que eu não me atrevo a abrir os olhos, ou me mover. Quando ele afasta as mechas que cobrem minha orelha, eu sinto meus braços se arrepiarem. Ele se inclina e sussurra no meu ouvido:
-Acorda, Remus.
Um gemido escapa dos meus lábios. Imediatamente, ele se afasta, e eu acordo de vez.
p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p
Draco Malfoy:
Enlouqueci!
O que eu pretendia fazer? Beijá-lo?
Não. Na realidade, estive a um passo de morder a orelha dele.
Quando o vi adormecido ali, tão indefeso, tão entregue, tão ... eu pirei.
Só isso justifica o fato de ficar alisando a cabeça dele e murmurando no ouvido de Remus. Ele tem um cheiro gostoso. Uma orelha tão sexy!
Acorda, Draco! Você acha tudo nele sensual. Aquele gemido que ele soltou deixou você arrepiado.
Depois que Remus acordou, eu me refugiei no laboratório de fotos. Desde que me descobri apaixonado por ele, é assim: ou eu fico em volta dele sem saber o dizer, ou me escondo e fico com vontade de ir vê-lo.
Tem horas que me encho de coragem. Decido mostrar a Remus como me sinto. Mas então eu me lembro. O que eu tenho para oferecer a ele? Nada.
Eu não poderia me entregar sexualmente. Mesmo com Remus, eu não poderia. A idéia me assusta. Me faz perder toda a coragem de me aproximar dele. O engraçado é que ele me excita. Morro de vontade de tocá-lo. De beijar aquela boca feita para mim. Mas não consigo me imaginar indo além disso.
De qualquer forma, Remus nunca vai querer nada comigo. Não depois que eu fui usado da forma que fui. Marcado como um lixo humano. Ele merece algo melhor.
A memória me deixa agitado, não posso misturar Remus com essa sujeira toda que trago na alma.
Estou apoiado na mesa, tentando voltar a respirar normalmente, quando ele entra na sala sem bater.
-Draco!
Ele se aproxima, preocupado.
-Memórias, Remus. Só memórias.
A mão dele no meu ombro me acalma. E eu fico quieto.
Quero que ele me veja como alguém tão forte quanto ele, alguém que pode se cuidar sozinho. Alguém que pode cuidar dele, se for necessário.
Que se dane se ele me vir como um bebê chorão, eu preciso novamente do porto seguro dos braços dele!
p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p
Remus Lupin:
Draco se atira nos meus braços. Conheço essas crises dele, sei que já vai passar. Limito-me a apertá-lo contra o peito, esperando sua agitação acalmar-se. Ele supera essas crises cada vez mais rápido.
Quando se recupera o suficiente, ele ergue o rosto para mim.
-Desmontei como um bebê novamente.
-Às ordens. – Hesito em soltá-lo, e ele não parece ter pressa em me largar. – Isso não o faz fraco, Draco.
-E precisar de mim, fez você fraco?
-Não. Na realidade foi bom ter você ao meu lado. – Eu o solto a contragosto; não tenho mais motivos para retê-lo, mas não me afasto. Não consigo. – Sou um velho orgulhoso, pouco acostumado a ser cuidado. Só isso.
Ele ri e, segurando meu rosto entre as mãos, encosta a testa na minha.
-Você não é velho. Mas teimoso e orgulhoso.
Draco não imagina o quão tentador ele está, assim tão próximo.
Então, num movimento brusco ele se afasta e ajeita os frascos na bancada.
-Mas você não me disse a que devo a honra da visita, Remus.
-Ah sim, claro. – Minha mente abençoa a mudança de assunto e a distância que ele pôs entre nós. Meu coração e meu corpo protestam contra tudo isso. – Vim ver as fotos. Tem mais de um mês que você está enrolando para me mostrar as fotos da minha forma lupina. Se vamos mesmo usá-las, quero ver antes.
-Não sei se devemos usar essas fotos, Remus. Sei lá. Sem fotografar outros lobisomens, seria expor você demais.
-Pode ser. Mas já lhe falei: mesmo com a poção Mata Cão nenhum outro Lobo confiaria em deixar você se aproximar. Eu só consegui porque já confiava em você.
-Eu poderia tentar. Se você me der o endereço de algum conhecido seu, eu poderia tentar conversar com ele antes...
-E me fazer ter a pior transformação da minha vida, totalmente insano de preocupação? – eu interrompo.
Eu sei que é chantagem. Ele também sabe. Mas é verdade.
-Remus, você é difícil!
-Difícil é ver essas fotos. São tão horríveis assim?
-Não é nada disso.
Hesitante, ele me estende três fotografias.
À primeira vista pareço estar olhando para um enorme lobo cinza. Depois os inconfundíveis sinais que diferenciam minha gente dos Canis Lupus tornam-se mais evidentes para mim.
Estranho. Esse animal orgulhoso, que fita a Lua como se ela fosse sua posse, sou eu. Lentamente, essa percepção me atinge.
Alguma coisa dentro de mim começa a crescer. Pela primeira vez na vida eu tenho orgulho de ser um lobisomem. Esse animal tão forte é parte de mim. Na foto, ele se vira e nossos olhos se encontram. O prazer da Lua me invade, sinto meu coração acelerado, uma alegria primal me toca:
-Draco! – Minha voz sai trêmula.
-Remus, o que foi?
Ele está pálido de preocupação com minha reação tão emocional. Eu estou corado de excitação.
-Eu nunca tinha me visto. É fantástico!
Ele sorri, como se entendesse com eu me sinto. Talvez, em todo o mundo, só ele entenda.
p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p
País de Gales – 13/06/1999
Draco Malfoy:
Está calor hoje, e isso me deixa com preguiça.
As coisas entre mim e Remus estão voltando a uma aparente normalidade.
Ainda me sinto estranho, dividido. Ele anda calado, fica trancado no escritório desenhando umas coisas em pergaminhos e queimando-os logo em seguida. Claro que não me mostra. Ele é sempre assim. Nem liga se eu fico curioso.
Se eu entro de repente no escritório, ele esconde tudo, descaradamente. E ainda por cima fica olhando para mim, me desafiando com os olhos a perguntar alguma coisa. Black fica dando risada na foto. Se ele soubesse como ando com vontade de jogar o retrato dele no fogo! Será que Remus ainda o ama?
-Draco!!
Remus quase me mata do coração berrando igual um doido dentro de casa. Acho que vou esperar ele me achar.... Não. Sou bonzinho.
-Aqui fora, Remus.
Essa mesa que ele fez é um ótimo lugar para se deitar.
-Eu tive uma idéia, e já sei como executá-la.
Merlin! Eu não estava preparado para isso. Remus está usando uma calça trouxa e uma camisa larga. Ele está lindo. Os olhos estão brilhando e ele tem aquele ar de crianção que eu adoro. Se alguém nos vir agora vai ficar na dúvida sobre quem tem quarenta e quem tem vinte.
-O que foi, Draco?
Eu estava encarando Remus com cara de idiota.
-Nada. Sua idéia é virar trouxa de vez?
-Não. Jeans são práticos para trabalhar, e nós temos muito trabalho pela frente até dia 26.
-Ótimo, você trabalha e eu assisto.
Ele me olha com um sorriso malvado.
-Você quer fotografar cinco lobisomens na próxima Lua Cheia ou não?
Certo. Agora ele tem minha total atenção.
-Fala. Mas é bom que esse trabalho não envolva esforço físico nesse calor.
-Envolve, sim.
Eu o encaro com ar superior, e ele ri de mim.
-Vamos construir cinco estruturas no terreno do chalé. Sem porta, nem nada. Só uma janela de onde você poderá fotografar o que quiser. Menos, é claro, a fase de transformação. Isso é muito íntimo. – Ele toma um fôlego breve. - Eu entrei em contato com quatro amigos meus. Eles chegam dia vinte e cinco para irem se acomodando. Mas eu só vou levar isso adiante se você aceitar que eu chame o Harry para ajudar você na noite de Lua Cheia. Harry e os elfos dele, porque é muita gente para cuidar no dia seguinte.
Nunca vi Remus falar tanto, nem tão rápido. Eu o interrompo:
-Não eram cinco lobisomens? E poção para esse povo todo? – Estou tão entusiasmado quanto ele.
-O quinto sou eu, Draco. É melhor que as fotos tenham o mesmo padrão. – Ele hesita um pouco. – Quanto as Poções... você não conhece o esquema do Harry e do Severus?
-Não.
p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p/p
Remus Lupin:
Draco parece entusiasmado com minha idéia.
-O esquema das poções é o seguinte: não dá para fazer só um pouquinho de Mata Cão; pelo que Severus diz, leva uma quantidade enorme de ingredientes, então sobrava muita coisa. Quando Harry soube disso, ele me pediu os nomes de outros lobisomens que não tinham acesso à poção, e a envia para eles também. Pelo que sei, atualmente Severus prepara dois caldeirões. Portanto, não precisamos nos preocupar com isso.
-Certo, então. A parte das poções está OK, e as transformações vão ser nas estruturas, mas e a recuperação depois? E na noite anterior à Lua Cheia? Aonde vamos pôr todo mundo?
-Eu cedo meu quarto para Diane...
-Diane?! – Ele quase grita.
-Sim, um dos amigos que chamei.
-Uma mulher! Você vai pôr uma mulher no seu quarto? Vai dormir lá também?
-Claro que não, Draco. Diane é a única mulher do grupo, portanto ela fica com meu quarto e eu me acomodo com os outros na sala.
Ele me olha como se eu fosse um néscio.
-Cavalheirismo, Draco.
-E você acha que eu vou deixar você largado na sala depois de tudo que você passa para se transformar? Pirou de vez, Remus? Põe a mulher no meu quarto e você fica na sua cama. A gente monta uma enfermaria para os outros no Quarto do Lobo.
-Quarto do Lobo?
-O lugar onde você se transforma toda noite de Lua Cheia, Remus.
-Gostei do nome. Acho que do seu jeito funciona melhor, mas falta um detalhe.
-O quê?
-Onde você vai dormir?
-Com você, é claro.
Eu perco momentaneamente a fala, e Draco fica vermelho e se apressa em corrigir:
-No seu quarto, em uma cama de armar. Não assim, com você, na sua cama... Ah! Você entendeu.
-Sim, entendi.
Oh Merlin!
