Morticia: O Draco e o Remus estão se descobrindo aos poucos. Um dia eu prometo que rola um beijinho. Pelo menos beijinho.

Bárbara: Obrigado pelo incentivo. Tem certeza que sabe?

Baby: Eu reparo em orelhas.... Influenciei mal o Loiro!

Paula: Cuidado na hora de ler, estamos ficando preocupados com sua saúde. Cama de armar é horrível né? Minha mãe diz que eu sou bonzinho.

E eu dei seu recado pro Draco.

Caldeirão de ouro! Depois dessa eu fiquei impossível.

Viviane: Os traumas do Draco são tabu para ele e para o Remus. Eles vão ter de conduzir essa situação com extrema delicadeza.

Natália: Atendendo a pedidos, continuei.

Fabi: Severus está um pouco ocupado, é final de ano letivo. Mas ele volta daqui a pouco, surpreendendo. Como só o melhor mestre de poções sabe fazer. Obrigado pelo review em Tão Fácil, Tão Complicado. Vou tentar manter um ritmo mais rápido de atualização, mas sabe como é, a vida fora da net também requer atenção.

Hikary Kathryn: Eu também acho que eles têm de beijar logo. Que povo complicado!

Momoni: Ele conseguiu aguentar a dor, agora vai precisar enfrentá-la para ser feliz. Eu detesto cama de armar. Já caí de uma.

PtyxE o capítulo 12 chegou. Brigado pela betagem.

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Parte III – Primavera

Época de Renascer

Capítulo XII – Construindo Abrigos

País de Gales – 18/06/1999

Harry Potter:

Remus e Malfoy vieram me ver no Ministério há dois dias, com a idéia mais louca que já ouvi na minha vida. Fotografar, em uma única noite, cinco lobisomens. Mas a causa é justa, o que eles planejam fazer é incrível e prometi ajudar. Avisei que não diria nada a Severus, e Malfoy pareceu aliviado.

Sinto-me empolgado, como nas primeiras escapadas noturnas em Hogwarts. É como se eu fosse novamente despachar um bebê dragão clandestino pela torre mais alta da escola. O estranho é que, dessa vez, em vez de Ron e Mione, vou estar com Draco Malfoy. Espero que dê certo.

Remus pensou em tudo. Desenhou estruturas sem porta, com uma janela mágica que permitirá que Malfoy fotografe do lado de fora sem afetar a imagem, mas que não permitirá nem que os lobisomens saiam, nem que Malfoy ou eu entremos. Ele escolheu material suficientemente forte para resistir a um ataque de uma manada de trolls e, pelo mapa que me mostrou, já escolheu os pontos onde vai construir os abrigos. Eles já têm tudo planejado.

Hoje Remus começou a construção dos abrigos. Prometi passar lá depois da Academia. Normalmente nas sextas-feiras eu vou cedo para casa para ficar com Severus, mas ele avisou que vai chegar bem tarde - está enlouquecido com o final do ano letivo. E eu que jurava que eram os alunos que sofriam mais.

Quando chego no chalé, Malfoy me recebe na sala e me leva até onde Remus está. Ambos fazendo um esforço enorme para termos uma convivência civilizada.

-Onde Remus está, Malfoy?

-Ele disse que ia começar pelo abrigo mais distante, e me deixou cuidando dos feitiços dos vidros e das Chaves de Portal para entrar nos abrigos.

-Não são todos bruxos? Por que não aparatam?

-Você nunca viu como eles ficam depois da Lua Cheia, não é?

-Só vi Remus uma vez, mas foi uma vez em que ele não tinha tomado a Poção. Eu sei que ela aumenta o abatimento deles. É tão ruim assim?

-Pior. Ficar preso também os afeta. Dessa vez que você viu Remus, ele tinha se transformado solto e sem a Poção. Eles vão estar bem mais fracos do que isso.

Malfoy sabe um bocado sobre lobisomens, e me dá uma verdadeira aula até chegarmos ao abrigo. Ele está realmente envolvido no projeto de Remus.

O primeiro abrigo está quase pronto. Foi erguido em grande parte usando magia, mas o calor forte fez Remus tirar a parte de cima das vestes e amarrá-la na cintura, usando os braços da roupa como cinto para segurar a parte de baixo.

Quando o achamos, ele está de costas, com as duas mãos cruzadas atrás da cabeça, avaliando o trabalho. Nada mal! Nem Remus, nem o trabalho. Muito pelo contrário, todos dois muito bons.

Draco parece nem ver o abrigo; perdeu o fôlego olhando para Remus. Ora essa, se isso não é muito interessante.

-Muito bom, Remus!

-Ah? Olá, Harry! Gostou do abrigo?

Dou a ele uma olhada apreciativa antes de responder.

-Também.

É engraçado ver Remus corar quando eu brinco com ele assim. Mais engraçado é ver a expressão furiosa de Malfoy para mim. Por dentro estou às gargalhadas. Será que todos os sonserinos são tão ciumentos?

-Eu quero aproveitar o resto do sol para terminar isso aqui. Vamos trabalhar, senhores?

Eu aceito, e resolvo provocar Malfoy mais um pouco. Aproveitando que estou usando roupas trouxas hoje, arranco a camisa e subo rápido para o telhado para ajudar Remus a controlar a levitação das telhas.

-Precisa tirar a roupa, Potter?

-Eu não quero sujar a camisa, Malfoy. Qual o problema?

Ele está dividido entre me azarar e sair dali furioso. No lugar dele eu escolheria a primeira opção. Nunca deixaria sozinho com Severus alguém que eu suponho estar se insinuando. Remus nos olha sem entender nada.

Caramba, ele é tão inteligente e ainda não notou que Malfoy está louco por ele! Que pena! Acho que é exatamente de uma peste que nem o Malfoy que o Remus precisa.

Remus chama a dita peste para ajudá-lo a erguer as telhas e conseguimos terminar o abrigo ao pôr do sol.

Durante o jantar improvisado, fazemos uma lista de tarefas para amanhã, e eu aproveito para observar os dois mais um pouco.

Remus oculta bem seus sentimentos, mas eu tenho um treino diário com Severus para ver além das aparências: ele está apaixonado pelo Malfoy. Gosto estranho! Casal estranho. Mas quem sou eu para dizer.

Remus, mais que a grande maioria das pessoas, merece ser feliz, mas eu o conheço. O instinto protetor dele o fará tentar proteger Malfoy de sua licantropia, afastando-se. O que é uma burrice, uma vez que o outro parece não se importar nem um pouco. Malfoy me surpreendeu muito nesses últimos tempos.

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Severus Snape:

Avisei Harry que viria mais tarde hoje; ainda assim, acabei chegando antes dele em casa.

Casa. Conceito ainda um pouco estranho para mim, mas já consigo me sentir à vontade com ele.

Desde os onze anos, à exceção da Primeira Guerra contra o Lord das Trevas, Hogwarts era o que eu tinha de mais parecido com um lar. Harry também.

Por isso ele teve tanta pressa em comprar uma casa e, por mais que eu relutasse no início, essa é também a minha casa. Meu abrigo seguro.

Sento-me no escritório para corrigir as redações do quarto ano. Já terminei a Sonserina, a Corvinal e faltam poucas da Lufa-Lufa quando Harry, enfim, chega.

Ele vem direto para o escritório e, tirando a redação e a caneta da minha mão, senta-se no meu colo.

-Estou trabalhando, sabia? – Tento simular uma contrariedade que está longe de existir.

-Eu sei. - Mesmo assim ele me beija, e depois se aninha no meu colo, como quem não pretende sair dele tão cedo. - Aqui está muito bom, Severus. – Ele fecha os olhos, enquanto esconde o rosto no meu peito.

Harry e suas múltiplas facetas!

-O que foi?

-O que foi, o quê, Severus?

-O que foi, Harry? – Insisto um pouco mais enfaticamente.

Ele ri e me olha. Ele adora me provocar.

-Estive lembrando de quando a gente começou a ficar junto. Era tão solitário sem você. Gosto mais da minha vida agora.

-Eu também. – Aperto-o com força.

Mudando de posição, ele me olha nos olhos e, beijando-me de leve, se ergue. Coloca-se atrás da cadeira onde estou sentado e massageia meus ombros.

-Você está cansado, Severus. Ainda falta muito?

-Duas da Lufa-Lufa e a Grifinória inteira.

-Sabe o que eu vou fazer? Vou preparar um banho de banheira, com algumas poções relaxantes, e vou ficar lá esperando você. Tenho de lhe contar umas idéias que andei tendo.

-Que idéias?

-São.... indecentes demais para serem ditas em voz alta. São para seus ouvidos.

Eu sinto um arrepio ao ouvi-lo dizer isso baixinho.

-Eu tenho de corrigir isso tudo, Harry.

-Deixa a Grifinória para amanhã. - Ele me dá um beijo no alto da cabeça e sai da sala. – Devo levar o tempo de você terminar a Lufa-Lufa para ajeitar o banho do jeito que eu quero.

Eu o acompanho com os olhos e, quando termino a última redação da Casa dos Texugos, me dirijo ao banheiro.

Harry me espera na banheira. Velas aromáticas flutuam pelo ambiente. Ele ainda está de óculos, apesar de já estar com os olhos levemente cerrados.

Meu menino me observa enquanto me dispo. A primeira vez que isso aconteceu, eu me senti embaraçado. Hoje não. Acostumei-me com o olhar de desejo dele. Quando entro na banheira, ele abre as pernas para que eu me acomode entre elas. Aceito o convite e recosto-me no peito dele. Os óleos e poções que ele pôs na água têm efeito relaxante sobre meu corpo; as pernas e braços dele em volta de mim têm o dom de me deixar feliz.

Meu lar é entre os braços dele.

-Você me prometeu uma história indecente – cobro, depois de alguns minutos em que ele se entretém deslizando a mão pelo meu corpo em silêncio.

Harry interrompe as carícias no meu peito e, tirando os óculos, ajeita-se para que sua boca fique exatamente na minha orelha. E, voltando a deslizar a mão pelo meu peito, começa a expor suas idéias.

A voz dele é baixa, e preguiçosa, as idéias... impublicáveis. Acabamos na cama, entre risadas, gemidos e um orgasmo inesquecível.

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País de Gales – 19/06/1999

Draco Malfoy:

Acordo cedo, mas fico enrolando na cama até ouvir Remus descer. Tive uma noite infernal. Que merda é aquela do Potter tirando a roupa na frente do Remus? Se o Snape vê uma coisa dessas, ele mata o Quatro-Olhos, e ia ser muito bem feito.

Levei horas para conseguir dormir, o calor começou cedo esse ano. A lembrança do Remus sem a parte de cima das vestes também não ajudou em nada. Droga!

Eu já tinha visto Remus sem camisa mais de uma vez; ele já me abraçou, em minhas crises, com menos roupa do que usava ontem. Então por que estou desse jeito? Ele estava tão lindo parado ali, os ombros largos onde já me abriguei tantas vezes, as cicatrizes que quero tanto tocar.

Fecho os olhos e me imagino seguindo o traçado das marcas no corpo de Remus com as pontas dos dedos... Meu corpo começa a reagir à imagem enquanto tento adivinhar o gosto da boca dele. Visualizo as mãos dele percorrendo minhas costas nuas... estou ficando excitado. Quando minha mão busca meu pênis, ouço ecoar na minha mente a risada nojenta que me persegue há três anos.

A fantasia se esvai mais rápido do que veio. Levo algum tempo para me recompor, e consigo, com esforço, evitar uma crise de pânico. Não poderia chamar Remus agora. Não depois do que eu estava fantasiando. Ele não merece ser tragado para esse meu inferno.

Visto uma roupa trouxa e desço para a cozinha. Remus também não está com cara de quem dormiu direito. Mesmo assim ele sorri e me deseja bom dia. Não dá para não sorrir de volta. Está vestido como um trouxa também, e a expressão um pouco cansada lhe dá um ar desamparo que me faz ter vontade de protegê-lo. Definitivamente, eu embabaquei de vez.

-Você está bem, Draco?

-Ótimo.

Sem querer sou rude, e Remus se cala.

-E você, Remus? – tento retomar a conversa.

-Eu?

-Sim. Você está bem?

-Estou. Claro que estou.

Dois minutos de silêncio tenso enquanto eu e Remus tomamos nosso desjejum, então Potter chega escandalosamente pela lareira. É a primeira vez na vida que fico feliz de ver o Cicatriz.

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Harry Potter:

O que houve com esses dois? As caras são de quem não dormiu quase nada, e pelos motivos errados! Vai ser um dia difícil.

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Remus Lupin:

Abençoadamente Harry está aqui. Depois do sonho com Draco que me acordou no meio da madrugada, não consegui voltar a dormir. É ridículo. Estou me comportando como um adolescente apaixonado.

Em meus sonhos, Draco me ama também. Em meus sonhos ele precisa do meu amor, tanto quanto eu preciso do dele. Em meus sonhos, ele me deseja. Em meus sonhos, só em meus sonhos, ele é meu.

Sonhar com o corpo dele junto ao meu, com beijos que nunca vou ter, com gemidos que nunca vou ouvir, está me enlouquecendo. Quando acordo, eu ainda o desejo, mais até que nos sonhos, no entanto ele é totalmente proibido para mim.

Em minha mente, peço perdão a Draco por traí-lo desejando-o tanto. Está cada dia mais difícil.

A proximidade da Lua Cheia aguça meus sentidos e, por causa disso, posso sentir o cheiro de Draco mesmo a essa distância. Daqui posso ver o suor escorrendo no rosto dele, e ouvir o que ele diz para Harry. Oh, Hécate! Isso está piorando.

Desconcentro-me e deixo uma viga acertar minha canela.

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Harry Potter:

Remus pragueja?! Estou surpreso!

Morgana!

Ele xinga coisas que eu nunca ouvi, e Draco corre para acudir. Isso é muito divertido!

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Draco Malfoy:

O acidente com Remus não foi sério. Serviu apenas para ele aliviar a tensão, fosse lá o que fosse que o incomodava.

Na hora que paramos para almoçar, já temos um segundo abrigo pronto, e eu já me acostumei com a visão de Remus sem camisa. Não totalmente. Ainda me desconcentra um pouco. Muito.

Eu e Potter ficamos sentados na mesa do jardim, esperando Remus atender a um chamado da lareira. Algo sobre as camas de armar que ele encomendou. Potter fecha os olhos e parece quase adormecido.

Estou entediado.

-Não dormiu de noite, Potter?

Ele sorri um pouco e, sem abrir os olhos, retruca:

-Não muito. Mas minha falta de sono tem motivos melhores do que a sua.

O que esse idiota quer dizer com isso?

Remus volta, e nós começamos o terceiro abrigo. Trabalhamos algum tempo em silêncio até Remus perguntar:

-Harry, você disse que não vai falar do nosso projeto para Severus. Ele não estranhou sua vinda para cá hoje?

-Ele vai querer saber o que tanto fiz aqui ontem e hoje. Eu dou um jeito de enrolá-lo. Se não der, eu conto. Mas eu quero evitar.

-Por quê, Harry?

-Remus, se Severus souber desse projeto, ele vai ficar louco de preocupação e tentar impedir.

-E você vai fazer o que ele mandar, Potter?

-Não é a mim que ele vai tentar impedir. – Potter se volta para mim, surpreso pelo meu comentário. – É a você, Malfoy. Você ainda não percebeu que Severus se preocupa com você?

-Ele é meu tutor...

-É mais do que isso, Malfoy. Muito mais. Não é uma obrigação de tutor, ele realmente se preocupa!

-Por quê? – Eu desafio Potter com uma pergunta.

Remus pára o trabalho para acompanhar a conversa entre mim e Potter.

O cicatriz respira fundo e balança a cabeça, como se lamentasse algo.

-Você não sabe, Malfoy? Severus realmente gosta de você. Tem poucas pessoas com quem se importa, e ele tende a ser superprotetor com todas elas. Você, eu e Dumbledore estamos entre esse grupo privilegiado. Mas você é um caso à parte.

-Porque ele me acha um idiota que não consegue cuidar de si mesmo.

Merda, até o Snape me acha um incapaz.

-De onde você tirou uma estupidez dessa? – Potter está indignado. – Ele se culpa pelo que aconteceu a você há três anos.

Eu me sento lentamente na pilha de madeira magicamente reforçada mais próxima. Remus assume uma postura defensiva, ao meu lado. Estou chocado, e não sei se pela culpa idiota que Snape sente, por Potter falar nisso, por Potter falar de quando eu fui vendido ou pela minha calma na situação.

Potter senta-se ao meu lado. Os olhos dele não são, nesse momento, os olhos de alguém da minha idade. São mais velhos que os de Dumbledore. O que há com ele, afinal?

-Draco, não sei exatamente o que fizeram a você. O que eu sei é que Severus acha que devia ter previsto tudo e tirado você das mãos de Lucius muito antes disso acontecer. Ele sempre se preocupou com você. Ele é meio protetor com os alunos da Casa dele, mas com você sempre foi mais.

-Merlin! – É tudo que eu consigo dizer, e me volto para Remus.

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Remus Lupin:

-Merlin! – ele diz baixinho, e olha para mim.

Draco nunca confiou que alguém se preocupasse de verdade com ele. O que Harry lhe diz o deixa perplexo.

Eu olho nos seus olhos e espero. Draco precisa digerir isso sozinho. Ele leva um tempo e volta-se para Harry:

-Ele não tem culpa de nada, Potter.

-Eu sei.

-Eu preciso falar com ele, fazê-lo entender.... – Draco se agita. Por anos ele se achou sozinho, e agora percebe que não estava.

-Vá lá em casa e fale. A casa sempre esteve aberta para você.

-Por que ele me mandou.... por que ele me mandou ficar com Remus? – Ele olha pra mim, se desculpando pela pergunta. – Não que eu me importe, muito pelo contrário. Eu sou feliz aqui.

Draco está perturbado para deixar escapar uma confissão dessas, mas meu coração agradece.

-Draco – Harry fala devagar, parecendo sentir a importância que essa pergunta tem. -, Severus e eu víamos você se destruir dia a dia, tínhamos medo de que você se ferisse de uma forma irreversível. Você não o deixa se aproximar, eu muito menos. Nós não nos livramos de você, nós o confiamos à única pessoa que acreditávamos ter força suficiente para ajudar você a passar por aquela tempestade.

-De quem foi a idéia?

-Minha. Severus ainda hesitou um pouco em aceitá-la. Draco, eu não o estava expulsando fosse por ciúmes ou qualquer outra coisa, eu realmente estava preocupado.

-Santo Potter.

A ofensa infantil vem sem raiva ou ironia. Draco sorri quando a diz, transformando o antigo motivo de discussão entre eles em uma brincadeira. Harry sorri de volta, sem rancor. Anos de rixa morrem ali, na minha frente.

-Tem mais, Draco. – Harry me olha e respira fundo. – Remus precisava de você.

-Como? – Draco está completamente surpreso com essa. Eu não. Percebi essa verdade faz tempo.

-Remus precisava se preocupar com alguém. Eu tinha medo que, sozinho aqui, ele .... sei lá....

-Enlouquecesse – completo para ele.

-Algo assim. O que nem eu nem Severus prevíamos é que desse tão certo. Vocês são ótimos juntos.

-Remus fez muito por mim. – Draco está emocionado, e mantém os olhos no horizonte.

-Não mais do que você por mim. – Eu olho para ele, que me fita pelo canto dos olhos.

Então ele tosse e se ergue, disfarçando a emoção.

-Vocês dois cuidem disso aqui. Vou me trocar e falar com Snape. – Ele se afasta um pouco, mas se volta e encara Harry. – Obrigado, Harry.

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Severus Snape:

O elfo anuncia Draco no meio da tarde. Merlin! O que será que aconteceu?

Ele entra, sério, em meu escritório.

-Professor, preciso falar com o senhor.

-Algum problema, Draco? Lupin fez alguma coisa com você?

-Não! – Ele se indigna com a minha pergunta. – Eu estou ótimo. Remus nunca faria nada de mal contra mim!

-Então...

-Eu só queria dizer que o senhor não tem culpa de eu ter sido vendido, violentado e espancado.

-Como disse, Draco?

-É sério. Eu não gosto desse assunto. Portanto, sem rodeios, para ir mais rápido. O senhor não tinha como prever o que Lucius seria capaz de fazer. Ninguém tinha. Portanto não tem culpa disso.

Entrelaço as mãos e apóio o cotovelo na mesa. Admirável: Draco tornou-se um homem. Enfim.

-E de onde você tirou a idéia de que me culpo por isso?

-Seu namorado tem a boca grande. Mas a intenção dele era a melhor.

Draco está defendendo Harry?

-Ele queria me dar um choque de realidade, e conseguiu. Me fez bem. Acho que queria defender o senhor também. Salvar a todos. Ele vai ser sempre o irritante herói da Grifinória.

-É, eu sei.

-Eu já vou, professor. Remus está me esperando.

-Sente-se, Draco. - Chamo o elfo e peço chá para dois. – Já que me interrompeu, tome o chá comigo.

Draco e eu temos nossa primeira conversa amena. Ele está muito melhor do que eu supunha. Méritos de Lupin, sou obrigado a admitir. Mas algo me preocupa: a cada frase de Draco, o nome de Lupin aparece. Preciso conversar com Harry para ver o que ele viu na casa dos dois.

Acompanho Draco até a lareira. Perdi mais de uma hora de correção de provas, mas valeu a pena. Restabeleci laços importantes com ele, e entendi que ele não me culpa pela imprevidência de tê-lo deixado com o psicótico que o gerou. Ele não, eu sim.

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Harry Potter:

Draco volta só no fim da tarde, mas ainda disposto a ajudar a terminar o terceiro abrigo. Nunca o vi tão sereno.

-Acho que Snape não gostou de você ter me falado tudo o que você me falou. Espero que não briguem por minha causa, Harry – ele me fala quando me leva até a lareira.

-Draco, se cada vez que eu e Severus discutíssemos nascesse um hipogrifo, não haveria mais como escondê-los dos trouxas. Divergências de opinião fazem parte. Nós nos entendemos, não se preocupe. – Olho na direção da cozinha, onde Remus prepara o jantar. – Vocês dois se viram sem mim amanhã?

-Claro.

Eu me despeço de Draco como um amigo. O mundo é cheio de surpresas.

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Severus Snape:

Ouço Harry chegar e conversar com os elfos no andar de baixo. Instantes depois, ele abre a porta do escritório e só enfia a cabeça. Tem um ar alegre, que me lembra demais a expressão dele quando ia aprontar alguma coisa na escola, antes da guerra, antes da época em que suas quebras de regras fossem tão ligadas a questões de vida ou de morte.

-Oi – ele fala da porta. – Jantar em vinte minutos. Vou tomar um banho antes. Depois do jantar a gente fala sobre o Malfoy.

-E será uma longa conversa.

Ele ri, e fecha a porta

Depois do jantar, sentamo-nos na sala de estar, escutando o silêncio. Eu abraço Harry, e deixo que a paz nos envolva mais um pouco. Ele tem os olhos meio fechados, e sua voz sai lenta quando começa a falar:

-É tão bom aqui. Tão certo.

-Você tinha razão. A casa é perfeita para nós.

-A casa é ótima, mas eu não estou falando disso. Estou falando de estar assim, nos seus braços. No meu ninho.

Eu o acomodo melhor.

-Eu tenho de lhe contar umas coisas, Sev, mas assim eu fico com preguiça.

Anos de solidão fazem com que por um segundo eu me preocupe, temendo que Harry vá me deixar, levando minha paz e toda a luz do mundo com ele.

A confiança no que temos vence sua primeira batalha, e eu consigo relaxar. Confio que não é nada disso que ele tem para me dizer. Espero sem medo, sem pressa.

-Severus, você se aborreceu por eu ter dito o que disse para Draco?

-Não. Só não sei porque você o fez.

-Draco precisava. Sabe, passei parte da tarde e o início da noite de ontem com ele e Remus, e notei algumas coisas.

-Você notou que ele está apaixonado por Lupin.

-Notei. E notei também que ele se sente inseguro. Achei que se ele soubesse que você se importa com ele, ele se sentira mais seguro.... Sabe, ele estaria melhor para andar, porque teria para onde voltar.

-Faz sentido. Acredito que tenha tido um efeito muito mais profundo do que isso. – Eu encosto os lábios no alto da cabeça dele e aspiro o cheiro tão típico do meu menino. – Você parece aprovar um possível relacionamento entre Draco e Lupin.

-Inteiramente. Remus é .... não sei ... introspectivo demais. Draco o faz ficar mais solto, e Remus dá estabilidade para o Draco. Eu os acho perfeitos juntos.

-Talvez você esteja certo, mas eu não sei se concordo com isso.

-Qual o problema que você vê, Severus? Vai me dizer que acha Remus velho para Draco? – Harry ri das minhas preocupações. – Ou é porque eles são dois caras?

Nem me digno a comentar esse tipo de tolice.

-Você não consegue ver nenhum problema nessa situação, Harry?

-Não. Mas sei o que incomoda você. Licantropia. – Meu jovem e romântico amante está aborrecido comigo agora.

-Isso é um problema, mesmo que você queira fazer de conta que não. Mas não é isso que me preocupa. Atribuo a Lupin e Draco bom senso suficiente para lidar com esse problema, ou não teria deixado Draco aos seus cuidados por tanto tempo.

-O que é, então?

-Eu disse a você que Lucius era responsável por graves ferimentos que Draco sofreu antes de vocês começarem o sexto ano. O que eu não disse é que Lucius vendeu o filho para um estuprador.

-Oh, Merlin!

-Quando eu e Dumbledore tentamos entrar na mente dele, para ver o que realmente havia acontecido, já que ele era totalmente incapaz de falar disso, os bloqueios dele eram tão fortes, tão dolorosos e desesperados que nós tivemos que parar, com medo de afetar o cérebro dele. A curandeira consertou o corpo totalmente, mas as marcas emocionais ... ninguém sabe a extensão.

-Por isso os exames de espelhamento.

-Exato.

-Remus sabe?

-Só se Draco contou, o que eu duvido.

-Eles confiam muito um no outro, Severus. Devia vê-los juntos.

-E verei. Chame-os para jantar aqui no próximo final de semana.

-Não dá, Severus. É lua cheia.

-Claro, tinha esquecido. Devo começar a Poção na quarta. Vou remarcar o exame de Draco para dia cinco, e eles vêm aqui no sábado anterior. Eu vou acompanhá-lo no exame, e dia primeiro é muito em cima do final das aulas.

-É bom, porque Draco vai estar cansado depois de toda a atividade na lua cheia.

-Harry Potter, o que diabos vocês três estão tramando para esse final de semana?

Ele sorri, novamente com aquele ar que ele tinha nos primeiros anos de escola.

-Você não ia gostar de saber.

Meu impulso é proibir que Draco e Harry façam qualquer coisa. Seja a tolice que for que eles e o sem juízo do Lupin estão tramando. Harry provavelmente faria um cavalo de batalha por causa disso, teríamos uma briga, uma semana ruim, ele faria o que quer, e levaríamos mais uma semana para voltarmos a ficarmos bem. Perda de tempo.

-Não tente impedir Draco, Severus.

Desde quando sou tão transparente?

–Confie nele - insiste Harry. - Remus tornou tudo muito seguro.

-As medidas de segurança são realmente boas?

-São. E, além delas, Remus criou planos de contingência. Confie em mim, Severus.

Golpe baixo!

-Que seja, então.

Ele sorri, e senta-se no meu colo, me enlaçando o pescoço.

-Ontem à noite ficou faltando uma das minhas idéias.... – ele insinua.

-Estava pensando nisso.

Os olhos dele brilham e, antes de beijá-lo, constato:

-Você está com cara de safado, Harry.

-Culpa de quem?