Quem com ferro fere...

(ou "como enlouquecer de vez escrevendo uma história de amor (amor?!)")

Capítulo 07: Sonhando acordado


Em algum lugar além do tempo e do espaço, uma fantasminha observava, através da pérola de seu anel, um rapaz dormindo. Suspirando, ela puxou para si alguns papéis.

- Pois é... Esse era para ser o último capítulo... Mas todo mundo ficou pedindo para eu ir conversar com ele também... - ela conjurou uma borracha, começando a apagar alguma coisa - Então vamos a mais um diálogo surreal. Vejamos...

Ela segurou uma longa pena, coçando o queixo com ela. E logo o papel em branco era preenchido pela letra pequena e quase ilegível da fantasma. Enquanto isso, no dormitório masculino dos grifinórios setimanistas, Tiago Potter dormia a sono solto, todo esparramado em sua cama, sonhando com alguma coisa muito boa, visto que sorria como um bobo.

Com o que ele sonhava? Bem, é isso que vamos descobrir...

Chovia no campo de quadribol. E ele voava rápido em sua vassoura, procurando o pomo. Lá embaixo, a torcida gritava seu nome. Finalmente sua mão se fechou sobre a bolinha dourada e ele pousou. Mas não havia ninguém nas arquibancadas.

Ou melhor, havia alguém. Uma única pessoa. E mesmo que a chuva atrapalhasse seu campo de visão, podia reconhecer aquela pessoa sempre. Ele se aproximou sem se importar com o fato de estar todo molhado, sujando-se com a lama do campo. A ruiva não se moveu sob o imenso guarda-chuva vermelho.

- Lily? Porque está aqui? Você pode se molhar e pegar uma gripe.

Ela sorriu, passando um dos braços pelo pescoço dele, aproximando-se.

- Você acha que eu me importo com isso?

Tiago abriu ainda mais o sorriso e inclinou-se na direção do rosto dela.

- Sonho bom?

O rapaz abriu os olhos de leve, encontrando diante de si a imagem embaçada de uma garota quase transparente. O nariz dela estava encostado ao seu e ele sentiu um arrepio de frio. E, de um pulo, sentou-se na cama.

- Quem é você? - ele perguntou tentando não gritar.

- Vocês podiam ser mais criativos, sabia? É sempre a mesma pergunta... - ela resmungou, flutuando de pernas cruzadas à frente do rapaz, como se estivesse sentada - Bem, você pode me chamar de Silver. E faça o favor de não pedir explicações, eu já tive o suficiente por essa noite.

Silverghost sorriu, observando o restante do dormitório. Tiago dormia na cama mais próxima à parede e, logo depois dele, estava Sirius.

- Porque você está aqui? - o rapaz perguntou depois de ter colocado os óculos e observado a fantasma.

- Dar uma ajudinha pra você... – ela respondeu, flutuando para a cama de Sirius – Embora você esteja mais do que bem servido com pessoas como ele. Quando você se casar com ela, vai ter que chamá-lo para ser o padrinho...

Ela estendeu o braço, tocando a fronte do moreno e sorriu.

- Homem é realmente tudo igual. Muda pouca coisa. Meus amigos só pensam em cachaça, carro, dominó e mulher, não necessariamente nessa ordem. O senhor Black pensa em cerveja amanteigada, vassouras, jogos proibidos por lei e mulher...

Tiago observou ela ir para a cama de Remo.

- De que jogos proibidos por lei você está falando?

A fantasma coçou a cabeça.

- No caso de vocês, são as peças que costumam pregar nas pobres almas que habitam esse castelo. Isso me dá uma idéia... Você já foi a um cassino, senhor Potter? – ela perguntou, tocando Remo na testa.

- O que é um cassino?

- Você vai descobrir. – Silver suspirou – Nem o Lupin escapa. Tudo bem que ele tem outras preocupações e é mais responsável, mas como todas as mulheres estão cansadas de saber; vocês são todos iguais. Bem, já perdi tempo demais; vamos ao que interessa.

Ela voltou para perto de Tiago, sentando-se na cama, de frente para ele.

- E o que é que interessa? – ele perguntou curioso – Não, espere um pouco, deixa eu adivinhar... Você se apaixonou por mim e veio tentar me convencer a morrer para te fazer companhia? Sinto muito, Silver, mas eu já...

- Senhor Potter, se não quiser arrepender-se amargamente de suas palavras, cale a boca. Eu costumo ser muito grossa quando me provocam e, acredite, consigo ser mais pavio curto que sua amada ruivinha. Aliás, é sobre ela que eu vim falar. Não estou interessada em seu estrondoso ego.

- Quem desdenha quer comprar... – uma outra voz feminina ecoou no dormitório.

- Ah, não... De novo não...

Tiago olhou para a fantasma, meio espantado.

- O que foi isso?

- Ishtar... A personalidade mais extravagante do meu corpo vivo. – Silver suspirou – Eu sou apenas uma parte da personalidade de uma mesma pessoa. A parte criativa, que ama livros e adora escrever.

- E eu sou a personalidade mais divertida, a que adora dançar, cantar, falar besteiras... Além disso, sou uma deusa. A deusa do amor e da guerra. Nada mais justo, portanto que eu venha ajudar nessa confusão.

Outra silhueta apareceu ao lado de Silver. Embora Ishtar também fosse um fantasma, ela era mais corpórea que Silverghost e de noite poderia até passar por alguém vivo. Os cabelos curtos eram de um castanho escuro, assim como os olhos, que não se escondiam por trás de óculos.

- Só espero que Heriellen também não decida dar as caras por aqui.

- Heriellen? – Tiago perguntou, cada vez mais espantado.

- A "santa"... – Ishtar respondeu – Se dependesse só dela e da Silver aqui, provavelmente quando viva eu nunca teria saído de casa. Heriellen é uma sacerdotisa. Silver, uma escritora. E eu... Bem, eu sou a parte mais VIVA dessa história.

- Ah, cala a boca, Ishtar.

- Acho que tenho que concordar com a Silver...

Silver escondeu o rosto entre as mãos, resmungando.

- Eu não mereço isso...

Ishtar sorriu.

- Ei, vejam quem decidiu dar as caras...

Tiago viu uma terceira pessoa aparecer na entrada do quarto. Ela quase não diferia de Ishtar, exceto pelo fato de que sua face não tinha o mesmo ar alegre da "deusa"; seu sorriso era calmo, quase que de outro mundo.

Bem, tecnicamente, ele era de outro mundo. Aquelas três definitivamente não pertenciam ao mundo dele. Por mais que Hogwarts fosse cheio de magia, Silverghost, Ishtar e Heriellen eram demais até mesmo para ele...

- Perdão por estar confundindo sua cabeça, senhor Potter. E como conheço bem demais essas duas, acho melhor sairmos desse dormitório para não correr o risco de acordar seus amigos.

- E por que eu iria para qualquer lugar com vocês?

- Porque você precisa dos nossos conselhos. – Heriellen respondeu, sorrindo candidamente.

- E também porque você precisa de nós. Admita, todos necessitam de Ishtar. Ninguém, em sã consciência, negaria alguma coisa a mim.

- Resumindo, encontramos alguém com um ego comparável ao seu, senhor Potter...

Tiago suspirou e vestiu o roupão por cima do pijama, guiando as três para o salão comunal.

- Eu devo estar sonhando acordado... Ou melhor, tendo um pesadelo... – ele resmungava baixinho enquanto descia as escadas.

Finalmente chegaram ao salão, vazio. Ele sentou-se perto da lareira, fazendo o fogo voltar a se avivar e viu as três se espalharem: Silver sentou-se no sofá de frente para ele; Ishtar encostou-se à lareira e Heriellen sentou-se no ar, de pernas cruzadas.

Prestando mais atenção, ele percebeu que as três não eram tão parecidas quanto achara no princípio. Silver parecia uma trouxa, vestida com uma calça preta folgada e um blusão azul; Ishtar usava um vestido negro, decotado; Heriellen estava com roupas folgadas, brancas, que pareciam emitir um brilho suave. A primeira era uma intelectual; a segunda, femme fatalle, e a terceira, completamente "santinha".

- Pelo que entendi, vocês três são personalidades diferentes de uma mesma pessoa. Como conseguiam conviver em um mesmo corpo sendo tão diferentes? – ele perguntou curioso.

- Nós nos revezávamos. Não era sempre que as três estavam em posse do corpo ao mesmo tempo. Geralmente eu surgia de noite, pondo-nos calmamente para escrever ou estudar.

- Eu costumava aparecer nas horas mais melancólicas... A sonhadora do grupo.

- E eu surgia nas horas em que estávamos com nossos amigos. Na verdade, na maior parte do tempo, eu estava no comando. Nunca completamente, já que essa chata sempre ficava como sub-consciência quando era a minha vez de mandar... – Ishtar apontou para Heriellen.

- Sub-consciência?

- Não dá para confiar totalmente em Ishtar. Por isso, uma das duas sempre tinha que ficar de olho. Assim, na maior parte do tempo, Ishtar estava no comando, mas Heriellen ia segurando as rédeas. É meio difícil de explicar... Nessas horas eu me pergunto porque a gente não fez psicologia...

- Porque a gente serviria de cobaia para a sala? – Ishtar perguntou sarcástica.

- Bem, acho que já falamos suficiente sobre nós. – Heriellen sorriu – O dia logo irá amanhecer e teremos que ir embora.

- É verdade... – Silver suspirou – Senhor Potter, estamos aqui para falar de sua relação com a senhorita Evans. Eu também a visitei hoje, por isso decidi falar com o senhor. É preciso que saiba de algumas coisas que talvez possam ajudá-lo a conquistar a ruivinha.

- Primeiro, deixe de ser frouxo e agarre ela de vez.

- Ishtar! Isso é conselho que se dê?!

Ishtar revirou os olhos.

- Heriellen, se dependêssemos de você, provavelmente morreríamos solteiras.

- E qual é o problema disso?

- Agora não, meninas... Da última vez que vocês discutiram, sobrou até para mim. Bem, eu não diria para seguir o conselho da Ishtar por completo, mas em parte.

- Em parte? – Tiago perguntou, começando a se divertir com aquilo.

- Ela te beijou ontem para provar que era sua "namorada". Você pode se aproveitar disso e tentar dar mais realidade ao seu "namoro", se é que me entende.

- Isso não significa que você deva agarrá-la como se estivesse "na seca" – como diziam lá na minha terra – vá com calma!

- Quando amanhecer, espere-a descer e a receba com um selinho. Como disse Heriellen, não vá com muita sede ao pote.

- Silverghost, você tem um certo fetiche por ditados populares, não?

- Cultura popular é extremamente interessante.

Tiago sorriu, meio cansado.

- Ela provavelmente vai me dar um tapa. E acabar com essa palhaçada.

- Aí é que está. – Silver sorriu – Ela não vai acabar com essa palhaçada porque, no fundo, no fundo, está adorando isso. Digamos que ela tenha uma certa vocação para atriz.

- E ela não quer se tornar uma McKinnon. Na verdade, Lílian Potter soa bem melhor.

- Lílian Potter?

- Mas nunca se esqueça de ir com calma. Ou então sim, vai levar um belo chute. E, antes que eu me esqueça... Mande uma coruja para Ray Evans.

- Você quer que eu mande uma coruja para o pai maluco dela? – Tiago coçou a cabeça – Ei, eu gosto muito de estar vivo. Têm certeza que não estão fazendo isso para ficarem comigo no outro mundo?

Ishtar sorriu maliciosamente, Silver revirou os olhos e Heriellen suspirou.

- É bom ir preparando terreno com seu futuro sogro. Diga ao senhor Evans que está pretendendo pedir a filha dele em namoro. E que irá visitá-lo no natal.

- Isso vai fazer a história ter mais capítulos.

- E tudo ficar mais engraçado...

Os quatro continuaram conversando por um bom tempo, incrementando a "operação cupido" de Sirius. Sem que eles percebessem, o sol começou a despontar na linha do horizonte.

- Então, mesmo que eu faça tudo isso, ela não vai deixar de ser minha amiga?

- Não. – Silver respondeu – A propósito, se eu fosse você, correria para o dormitório para tomar um banho. Daqui a pouco, ela vai acordar. Já sabe o que fazer, não?

Ele sorriu, levantando-se.

- Sou um aluno aplicado.

Tiago logo subiu as escadas para seu dormitório. E as três se entreolharam sorrindo antes de desaparecerem. Pouco depois, as pessoas começaram a descer para o café. No dormitório feminino, Lílian acordou tentando esquecer as palavras de seu sonho. A ruiva tomou banho, arrumou-se e acordou Marianne e Hannah antes de descer.

- Eu espero vocês no salão principal. – ela respondeu quando as duas resmungaram, pedindo para dormir um pouco mais.

Ao chegar na porta, Lílian percebeu que outra colega já estava pronta. Juliet. Educadamente ela cumprimentou a outra garota e as duas desceram as escadas sem se olharem. Lá embaixo, Tiago Potter esperava.

- Bom dia. – Juliet sorriu para ele antes de se lembra da noite anterior e virar-se para Lílian.

A ruiva parecia ligeiramente indecisa sobre o que fazer, visto que devia cumprimentar seu suposto namorado. Tiago apenas sorriu, passando direto pela colega e abraçando Lily, roubando um beijo rápido.

- Bom dia, Lily.

Lílian piscou os olhos, ligeiramente confusa.

- Hum... Bom dia.

- Vamos tomar café?

Ela assentiu e ele a puxou pelo braço, tirando a ruiva do salão sob o olhar ciumento de Jigger. Muito longe dali, três pessoas observavam.

- Bem... Acho que dessa vez dá certo. Podemos colocar o ponto final.

Ishtar assentiu, mas Heriellen desenrolou um longo pergaminho, estendendo-o para Silver.

- Não está esquecendo de nada?

- Ops... Bem, vamos aos agradecimentos. Beijos para Marcellinha Madden, Je Black, Lily Dragon, G-Lily P, Giulinha Black, Juliana, Patty Felix, Lilli Evans, Adriana Black, Witches, Lele Potter Black, Lisa Black, BabI BlacK, Sarah Lupin Black, Mimi Granger, Xianya, Anaisa, Marmaduke Scarlet, Isabelle Potter Demonangels, Babbi, Thatah, Helena Black, Nathalie G. Black, Lily Dany Potter, Juliana Montez, Tamy Black e todos que estão acompanhando a fic.

- Você não está esquecendo ninguém, não?

Silver sorriu.

- Não. Bem, eu quero aqui abrir um parêntese especial para homenagear uma grande amiga, grande escritora e grande pessoa. Que agora se tornou pessoa grande. Parabéns, Dynha Black! Feliz Aniversário!!!!!!!! Esse capítulo, ou melhor, essa fic é especialmente dedicada a você.

Até a próxima, pessoal!