ESTIO NEGRO
CAP. 03ESPELHO NEGRO
O PARAISO
Subi a escada de papelão
Imaginada
Invocação
Não leva nada
Não leva não
E' só uma escada de papelão
Há outra entrada no Paraíso
Mais apertada
Mais sim senhor
Foi inventada
Por um anão
E está guardada
Por um dragão
Eu só conheço
Esse caminho
Do Paraíso
madredeus
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Lá era escuro. Naquela torre.
As cortinas tapavam as janelas, os corredores cheiravam a coisa guardada. Harry chapinhava por elas, procurando o quarto indicado. Não contara aos amigos. Enquanto almoçava ou durante as aulas não comentara nada sobre o misterioso encontro. Havia dois fortes motivos para fazê-lo, embora um deles fosse parte de um mundo além. Primeiro possuía sinceras dúvidas de Malfoy ter dito a verdade sobre Lorde Voldemort. Ele podia muito bem ter inventado apenas para atrair Harry em alguma brincadeira de mau gosto, seria típico do caráter de Draco.
O outro motivo?
Bem, Draco não precisava saber, nem Harry pensava nisso em palavras. Mas algo secreto rodopiava Malfoy como um perfume. Uma presença oculta, nem vista, nem comentada, mas inequivocamente lá, sentida somente no patamar da sensibilidade. O assunto fosse o que fosse, era particular entre eles. E, enquanto não pensava sobre isso, Harry procurava a porta que parecia não estar lá.
Um vento frio, vindo abaixo das cortinas, soprou seus pés, e ele descobriu, camuflada, uma porta. Empurrou-a. Era pesada essa porta, mas Harry conseguiu abri-la. E se antes reinava escuridão, a nova claridade deixou-o cego, luz amarela e clara. Entrou num quarto pequeno, bastante aconchegante. Aqui o cheiro não era de coisa guardada, embora todas as paredes do minúsculo cômodo estivessem cobertas pelas mesmas e idênticas cortinas vermelhas quase vinho. A culpa por toda transparência era uma solitária janela que distribuía os raios do veraneio sobre o local. Era muito alta e estreita, e lá em cima, quase já no teto, algumas vidraças estavam quebradas, deixando o vento entrar e sair. Harry não pôde imaginar como elas foram despedaçadas.
Coçou os olhos e viu Malfoy do outro lado do quarto, na verdade, muito perto. O velho sorriso de desprezo nos lábios. Parecia acostumado aos contrastes e sordidez do local. Seus olhos seguiam a temperatura do piso, frios, vencedores. Embora o ar logo acima fosse quente e inseguro.
Ainda piscando Harry virou-se para Draco.
"Então Malfoy que tipo de truque barato você pretende fazer?", passou os dedos pela velha cicatriz, lembrou-se de seus amigos, um riso surgiu nos lábios, eles gostariam de ouvir isso, "Algum feitiço para ver se me vence no Quadribol?"
"Muito engraçado Potter! Posso rir agora?", Malfoy estreitou os olhos, "Ou prefere que eu faça isso quando você estiver no chão?"
Harry cruzou os braços, ameaçador. A sua eterna paciência se esvaia como éter perto de Malfoy. Queria a resposta, e logo. Não gostava de estar perto daquela arrogância ambulante, nem durante as aulas. Pior agora, que estavam sós. Mas não se encontravam realmente sozinhos desde o seu aniversário no Beco Diagonal... Merlin, faz tanto tempo assim?
Mas Draco nem se moveu, parecia torna-se, aos poucos, parte do quarto. Parado, encostado nas cortinas, seus gelados olhos encaravam Harry e além dele.
"Se for mais uma brincadeira estúpida Malfoy..."
Sem resposta.
"...foi a mais idiota"
Nada.
Apenas as cortinas num delicado esvoaçar a quebrar o silêncio, e rogar-lhes imperiosas, 'Vá embora, vá embora!'.
Malfoy fora congelado? Aquilo era uma armadilha! Viera preparado para isso também, mas... Era melhor escutar a voz da razão e sair dali.
Então, repentinamente, num suave e instável piscar de olhos desabrochou Malfoy. Foi um instante, mas longo o suficiente para impelir Harry. O garoto deu três passos e agarrou o outro bruxo pelo colarinho.
"Chega de brincadeira Malfoy", suas mãos tremiam de nervosismo, algo assustador estava prestes a sair do ovo, e Harry não estava certo se desejava estar ali no momento que aquilo nascesse. "Termine logo com esse seu jogo besta!"
Sentiu dedos como garras de dragão agarrar as suas mãos. Empurrando-as e prendendo-o.
"Não toque em mim...", Draco sibilou entre os dentes, "...tenho nojo de amigo de trouxas como você.", seus olhos tornaram-se duas linhas, "Além do que, você se atrasou."
Tolerância!, Conhecia Draco, não podia perde-se ou se tornaria presa frágil. Malfoy estava confiante demais, atrevido de uma maneira nova. Conseguiria lançar uma maldição nele agora?
"Calma Potter! Sabe, hoje é um dia auspicioso. Um velho e querido amigo seu, pediu-me um favor, e eu cedi."
"Não algo sobre Quadribol?"
"Quanta bondade. Nem parece você Malfoy.", tentava puxar as mãos, nunca imaginara tanta força física em Draco, "Qual é o recado?"
O menino riu, aumentando a raiva de Harry.
"Recado? Você me ofende.", dentes brancos num sorriso sem cor, "Não sou coruja, Potter."
"Tem certeza? Pra quem já foi uma doninha, ser coruja é apenas mais um passo..."
Num ímpeto Draco soltou Harry, que se afastou quase movido pela instantânea curiosidade. Sentiu-se, de repente, parte de uma peça de Teatro Decadente para onde um diretor sem sonhos fugira. 'A tragédia vai começar!', gritava um bobo canastrão num canto esquecido do cenário. Cada integrante da companhia tecendo sua parte.
Malfoy recompôs-se, recolocando sua aristocracia de volta no bolso.
"Sabe, não me agrada este tipo de serviço. Mas prefiro fanáticos Comensais da Morte a reles bruxos de sangue-ruim e mente fraca..."
Os cabelos da nuca de Harry se eriçaram.
"Você é tão... tão tolo, Draco Malfoy! Tão mimado!, algum dia vou assistir de platéia sua queda! Seu pai já foi..."
"É, talvez. Mas, aí, eu já estaria morto antes mesmo de cair. E mortos não voltam para reclamar seus fracassos", Draco distanciou-se um pouco, "Ah! Mas disso você já sabe, não é Potter?"
PAFT!
A mão de Harry atingiu Draco com o peso de todos os seus mortos. Malfoy segurou o rosto machucado, não podia perdê-lo. Harry viu seus pais e Sirius no vermelhão das faces pálidas, e viu os de Draco no vermelhão dos olhos.
"Miserável!", agora não tinha volta, se é que, entre os dois, algo que fosse importante voltar, já houvesse existido algum dia, "Vai pagar por isso!"
Draco soltou o orgulho machucado, e violento, puxou uma das cortinas. Brusco, surgiu entre elas um espelho escuro, liso, limpo, mau e velho.
Malfoy, virou-se em frente a ele e com uma mão erguida proferiu palavras inaudíveis e desconexas num sussurro sabático. Então das profundezas daquele abismo, daquele mar negro, surgiu Lord Voldemort.
Assustado Harry segurou a respiração, teso como linha de anzol.
"Ele vai atravessar o espelho. Isso é outro maldito portal.", Segurou firme a varinha. O ódio de Draco chegara a tal ponto? È claro! Que pergunta estúpida!
Nunca aceitou a morte com facilidade, devia viver pelo sacrifício de sua mãe, mas... Iria morrer? Será que demorariam a encontrá-lo? E se, algum dia o achassem, ali naquele quarto esquecido por Deus... Esperava que unissem o fato a Malfoy, que o culpassem, e um Dementador o beijasse. Ai! Mas isso não, seria muita tristeza para uma escola só. Maldita Prof. Sibila!
"Pare de auto-piedade Potter!", gritou para si.
Mas Lord Voldemort permanecia estático. Apenas o fitava e sorria. O próprio reflexo de Harry não existindo mais.
"Calma, menino, calma! Não posso transpassar estes vidros. Hogwarts é uma fortaleza das mais herméticas. Estou preso deste lado e você do outro.", o bruxo transparecia em cada gesto o élan que sempre possuiu, "Possivelmente você não vai morrer, talvez apenas queira morrer..."
Sentia raiva e medo de Lord Voldemort. Mas ele era, enfim, parte sua. Sem ele, seria outro Harry, talvez mais feliz...talvez um pequeno imperador mimado como Duda. Quem sabe? Gostaria apenas que ele deixasse de existir. Nem morto, nem vivo, apenas não existisse. Que nunca houvesse sequer conhecido o sabor da existência. Porém seus sentimentos por Malfoy eram diferentes. O menino rico repugnava-o, lembrava-lhe o pior de sua infância. Desejava-o, senão morto, pior.
"Chegou?"
"O que?", Harry pulou. A pergunta foi proferida num tom tão simplório que pareceu a Harry que todos estavam em casa assistindo TV e comendo pipocas...
"Claro! Mas, o que tem aqui dentro?"
Voldemort respondeu.
"Ah! Paciência, meu jovem Malfoy. Em breve sua curiosidade será saciada."
A consciência de estar encurralado entre Malfoy e Voldemort qual um livro numa estante, ou um peão num xadrez, surpreendeu Harry. Agora Draco estava por trás dele, como um bispo a proteger o rei, sentia sua respiração e cheiro. Virou-se rápido. Antes dar as costas para Lord Voldemort do que para o aluno da Sonserina. Não!, pior era Voldemort. Que pensamento desconexo.. Malfoy o estudava, silencioso e divertido. Seguro, nas mãos, caixote lacrado com cera.
De onde surgira tão denso objeto? Escondido dentre as cortinas?
Harry congelou, realmente era uma armadilha, e o pior, entrara na gaiola por vontade. A curiosidade mataria e devoraria o gato? Encostou-se na parede, hora vigiava Voldemort, hora Malfoy. Talvez houvesse uma brecha onde pudesse atacar...
"Os Comensais da Morte enviaram este presente, sabe Potter?", Draco sorria gentil, "O que isto irá fazer com ele, meu Lorde?", o menino franziu o cenho observando a caixa, "Quer dizer, o que há aqui dentro?"
Harry sentiu o momento de atacar Draco era agora, mas antes mesmo de se mover Lorde Voldemort chamou a atenção e Malfoy armou-se novamente, varinha na mão em sua direção.
"Uma doce surpresa.", foi a resposta de Voldemort, " Você terá sua vingança, garoto Malfoy, apenas abra a caixa."
Os raios de sol eram amarelos e translúcidos no quarto farto de luz. Sombras dançavam sobre os veludos onde traças cresciam.
O bruxo sorriu.
continua...
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Agora sim esta ficando bom...O que será que tem na caixa? Um sanduíche? Pense bem, Você-sabe-quem pode ter se confundido com as entregas. He!he! Aguardem!
