Escuridão

Por Phillipa Van Persie

N/A 1: Queria agradecer as reviews. Foram poucas, mas deram um grande ânimo para continuar a escrever. Espero não decepcionar ninguém e que gostem tanto de a ler como eu de a escrever. Este capítulo é pequeno e os desenvolvimentos são poucos. Mas é preciso que a história seja assim desenvolvida. Como devem imaginar, esta história não pode ser escrita assim, do pé para a mão. De qualquer forma, espero que gostem!

Disclaimer: A única coisa que me pertence nesta história é o 'argumento'. Todas as personagens envolvidas, salvo raras excepções, são propriedade de J.K.Rowling, a escritora da série Harry Potter. Escrevo esta história apenas por diversão. Se é que se pode chamar de 'diversão' escrever coisas tristes.

CAPÍTULO DOIS

O dia amanhecia claro e solarengo. Branco. Paz. Exactamente o contrário do que se passava no coração de Ginevra Weasley. A mesma jovem que abria agora os olhos, depois de mais uma noite pesarosa. Como sempre, os pesadelos perturbaram-lhe o sono. Negro. Guerras. Mortes. Escuridão. A escuridão.

Demorou a reconhecer onde estava. Os olhos esperavam as paredes azuis. As malfadadas paredes azuis. Aquelas que a encarceraram durante 6 meses. Agora, esse papel cabia às brancas. Às paredes brancas. Paz.

Perdida que estava nos seus pensamentos, negros pensamentos, não deu pela entrada de uma outra jovem no seu quarto. Esta, uma gorducha sorridente, de longos cabelos loiros e olhos de um azul profundo, segurava nos seus braços um tabuleiro.

- "Bom dia, Ginny. Como foi a noite? Trouxe-te um delicioso pequeno-almoço." – A loira, sorrindo novamente, pousou o tabuleiro na mesa-de-cabeceira que onde na noite anterior Ginny poisara o caderno preto.

Contudo, não fez qualquer tipo de gesto. Não respondeu. Continuou como se nada tivesse acontecido. Mergulhada estava nos seus pensamentos. Negros pensamentos. Negro. Guerras. Mortes. Escuridão. A escuridão.

- "Tens razão em não responder, querida, desculpa. É que nem me apresentei. Chamo-me Érica. Acho que vamos ser boas amigas."

Silêncio. Ginny continuou deitada, perdida na sua mente escura. A escuridão. Érica ainda tentou, em vão, estabelecer contacto com a ruiva, mas o esforço não obteve lucros. Decidiu então que o melhor a fazer era dar-lhe espaço. Já a tinham avisado que não seria uma tarefa fácil. Saiu do quarto, fechando a porta delicadamente.

Vírginia permaneceu na cama, ajeitando-se apenas de forma a ficar sentada. As costas apoiadas. Olhou para a mesa-de-cabeceira. Esticou o braço e puxou o caderno preto. Leu, calmamente, todas as palavras escritas. Uma a uma. Desde aquele mal-afortunado dia. Desde o dia em que a escuridão lhe surgira na vida. A escuridão. Fazia 6 meses.

'Querido diário,

Não percebo. As pessoas falam comigo como se fosse uma criança. "Acho que vamos ser boas amigas", diz ela. Que amigas? Não preciso de amigas. Não preciso de nada. Aliás, não percebo o que estou aqui a fazer. Estou cansada. Chegam-se perto de mim, sorriem amigavelmente, mostram toda a sua pena. Não preciso que tenham pena de mim. Não preciso de nada. Só preciso que me deixem em paz.

Será assim tão difícil perceber?


Sinto que o dia, hoje, é especial. Não sei porquê. Não faço ideia de que dia seja. Foi uma opção minha, tu sabes. Escrever sem datas. Mas creio que hoje, hoje, faz alguns meses de que tudo aquilo aconteceu. De que o vi partir. Sem o evitar. A culpa é minha, eu sei que é. Quem merecia ter-se ido era eu. Afinal, que estou a fazer aqui?'

Algumas lágrimas insistiam em pender. Ginny não chorava muito. Quando o fazia, era interiormente. Mente negra. Negro. Guerras. Mortes. Escuridão. A escuridão. Fechou os olhos com força. Decidiu levantar-se. Já há algum tempo que não andava.

Estava fraca. Não comia há dias. Nem ela sabia bem quantos. Não fazia ideia de há quanto tempo não dormia direito. As pernas tremeram-lhe, agarrou-se ao pé da cama mas não o fez a tempo de evitar a queda.

E assim deixou-se ficar. No chão. Chorando. Negro. Guerras. Mortes. Escuridão. A escuridão.


- "Não. Não quis comer nada." – Algo desiludida, Érica informava a directora do manicómio do ocorrido no quarto de Ginny.

- "Tentaste, ao menos. Vamos com calma. Informaram-nos que seria complicado. Afinal, ela não fala, simplesmente. Desde que viu o pai morrer."

- "Tenho tanta pena dela… Coitada. Tão jovem, e a sofrer tanto. Já estava algo deprimida, apenas ela e o pai sobreviveram ao ataque à Toca, à original. E depois… Ver o pai sofrer um ataque de Devoradores da Morte. Não quero nem imaginar!"

- "É realmente triste. Mas, já dizia a minha avó, não vale a pena chorar sobre o leite derramado. Agora o que temos que fazer é tentar que ela se sinta bem connosco. E então, pode ser que a pouco e pouco ela se solte. E quem sabe, volte a falar. Conto contigo para essa missão."

- "Farei o que me for possível. Acha que lá devo ir agora?"

- "Não. Nada disso. Deixa-a estar. Sozinha. Não creio que a melhor solução seja estar 'sempre' em cima dela. Dílhe tempo. E espaço, essencialmente."


Um pontapé na parede. Um urro de dor. Draco Malfoy estava realmente irritado. Sentia a Marca Negra queimar-lhe o braço como nunca antes. O Mestre chamava por ele. Certamente não tinha sido informado da sua captura. E o loiro não sabia como o avisar.

Tinha sido realmente idiota ao andar por Londres na sua aparência normal. Sabia que tinha o Ministério à perna, mas achou que um simples passeio não fosse criar problemas. Estava enganado. Como estava enganado. Afinal, os aurores não eram tão estúpidos como ele pensara. Tinha sido capturado. E bem. Apesar do plano adversário ter sido quase perfeito, Draco estava realmente irritado por se ter deixado enganar. Ele, Draco Malfoy. E não fazia a mínima ideia de como sair daquele local.

Um novo pontapé. Um novo urro de dor. Olhou em volta. Tudo sombrio. Negro. Guerras. Mortes. Escuridão. A escuridão.