Caminhos Selados:
O destino dos anjos de luz
Capitulo I – O Sofrimento dos Escolhidos
Sakura andava na penumbra da noite, tendo o caminho iluminado pela luz artificial dos postes. Aquela cidade barulhenta não a deixava dormir. Andando por entre as criaturas da noite, sentia o cheiro do medo exalar daquelas almas. O cheiro do medo e da perdição.
Sentindo o respingar da garoa, encolheu-se dentro de seu sobretudo preto. À sua frente enxergava somente aquela paisagem pobre e o vapor de sua respiração.
Já fazia quatro anos que ela havia descoberto quem realmente era. Na verdade, achava que sempre soubera. Não fora fácil aceitar suas habilidades, afinal, ela sempre se julgara tão normal... Mas o destino é incerto e o fato dela ser uma Kleo a faria arcar com as conseqüências, pois não eram todos que possuíam na alma a reencarnação de um espírito angelical.
Sim, ela era responsável pela proteção das almas terrenas e devia lutar para salvá-las, até que o dia definitivo chegasse. Mas o problema era que não era fácil cumprir aquele seu dever, pois os Leões de Fogo, mais conhecidos como Oni, eram rápidos e rasteiros.
E para piorar, a humanidade já estava corrompida tornando o acesso daqueles demônios até eles fácil... E o trabalho solitário dos Kleos, que dificilmente se reuniam com outras reencarnações angelicais, não ajudava. Sabia não ser a única salvação deste mundo, mas não queria arriscar mais uma união que resultasse em desastre.
Passando por uma praça deserta, finalmente sente-se mais a vontade. O espírito puro da natureza acalmava seu coração. Era tão triste saber que aquele espírito tão casto morria pouco a pouco, desaparecia cada vez mais e mais...
Aproximou-se de um grande carvalho de folhagem maltratada e tocou-lhe o tronco enrugado e semi-úmido. Ela podia sentir que até o a alma das plantas estava em desespero. Tanta dor!
Concentrando-se, ela sentiu a mão esquentar e uma fraca luz verde lhe escapando da palma para, logo após, se infiltrar na madeira. Sakura entreabriu os olhos e olhou para cima, encarando as grandes folhas que lentamente recuperavam sua cor esverdeada.
"Obrigada...!", ela ouviu em sua mente, não podendo evitar um leve sorriso.
Linda noite, não?
Sakura procurou pelo dono da voz olhando para os lados. Deparou-se com um rapaz sentado em um banco, não muito longe. De aparência debochada e olhos penetrantes, o rapaz de cabelos castanhos a encarava com um sorriso desdenhoso. Olhava-a como se soubesse quem ela era e não aprovasse sua tarefa.
Na verdade esta cidade já esta tão "suja", que nem a noite pode ajudar... – fala irônica.
Oras, mas o que é isto... – se aproxima dela - .Não digas tamanha bobagem! Este lugar pulsa em beleza, luxúria, prazer...! Não concordo com você! – faz cara de simpático, enquanto sorri.
Jamais poderias concordar comigo, criatura devassa... – o encara séria – Tu possuis uma alma demoníaca, Oni do inferno! – disse ela, ao mesmo tempo em que jogava uma adaga em sua direção.
Ele desvia em um salto e se equilibra sobre um único pé sobre o apoio do banco.
Oras, isso lá são modos? Deveria me tratar melhor em nosso primeiro encontro! – debocha da situação – Afinal, não vais querer que eu te leve para casa para que tenhamos uma pequena diversão juntos...?
Nojento! – ela estende a mão e a adaga retorna em sua direção, atingindo o rapaz.
Ele cai no chão e só se vê o sangue lhe escorrer do lado esquerdo do abdômen. O lugar onde a adaga estava cravada borbulhava como se ali houvesse ácido.
Vai levar umas palmadas por isto, menininha... – ri, em meio a gemidos, tentando tirar o objeto de seu corpo. Para seu infortúnio, quando tenta fazê-lo, sente sua mão efervescer. – Mas, o que diabos é isto?
Meu sangue lavou esta lâmina, portanto, se desejares arrancá-la, vá em frente, mas sentirás tanta dor que eu não estranharia se desmaiasse... – olha-o sarcástica.
Maldita...!- Ele põe a mão sobre o objeto e grita sentindo a lâmina feri-lo. Ele arrancava o punhal de seu corpo lentamente, mas parecia perder muito sangue com isto. Finalmente ele consegue e atira a adaga contra o solo.
Sentindo a ardência da enorme ferida, ele a encara raivosamente. Percebendo que ela se concentrava na pequena arma luminosa, ele corre em sua direção.
Percebendo a aproximação dele, Sakura salta para cima da árvore. Em vão, pois ele lhe surge, encarando-a cara a cara, e lhe chuta o estômago. Sakura cai no chão e sente ele lhe atingir novamente no mesmo lugar. Gemendo de dor ela tenta se levantar, quando, de repente, sente seus curtos cabelos lhe serem puxados até encontrar aquela face de pura beleza maligna do jovem.
Meu pequeno anjinho... – lhe acaricia a face, com as mãos cálidas – Sua beleza me enche os olhos de luxúria... – disse ele passando seus dedos pelos lábios trêmulos e machucados de Sakura, ao mesmo tempo em que uma gargalhada sinistra e arrepiante escapava de sua boca. - Mas tua alma repugna meu ser, e por isto, não me deixas outra escolha! – sorri maldosamente.
Ele a empurra contra a árvore, fazendo-a sentir um grande impacto, encostada na madeira. Sakura sentia-se dolorida e sem forças, como se aquele demônio tivesse sugado todas as suas energias. Sentiu aquele corpo rude a pressionar, prendendo-a sem qualquer escapatória. Sentia sua cabeça girar, devido às quedas constantes e seu abdômen contraía-se de dor por causa dos chutes que levara.
O que... O que você pretende fazer?! – pergunta aos gemidos e sentindo sua voz falhar.
Matar-te seria pouco, pois me machucaste com tua lâmina abençoada... – ele inala o odor do pescoço da garota. – Desgraçarei tua pureza, te fazendo pecadora do desejo e assim, implantarei em teu ventre, o fruto demoníaco dos guerreiros de Lucífer...! – ri malicioso, enquanto desliza suas mãos sobre o corpo dela. – Isso seria o fim para você, não é, querida?
Sakura sentia uma estranha ardência lhe cegar os olhos. Eram suas lágrimas que teimavam em escapar.
Não, isto não poderia acontecer! Nunca! Se ele fizesse isto, sua alma se verteria em chamas e ela iria se encontrar perdida no purgatório das almas desgraçadas. Ela sabia que se os seres de sua espécie provassem do desejo, sem qualquer sentimento puro, seus âmagos sagrados perderiam o sentindo de existência e ela se converteria em um ser comum, sem qualquer chance de salvação.
Por favor... – implora em meio a sussurros com a voz chorosa e os lábios trêmulos. – Não faça isso comigo... Por favor...! Não... Te imploro, não faça isso comigo!
O demônio lentamente pára de lhe beijar a base do pescoço, deixando seus lábios famintos pousados e inertes. "Não faças isto! Não ouses continuar!", sentiu sua mente implorar.
Totalmente confuso, ele dá à Sakura a chance de escapar. Notando a figura imóvel do demônio, ela faz surgir de sua palma a lâmina de uma espada, sem que ele notasse.
Sacudindo levemente a cabeça, ele se inclina sobre a boca rosada e lhe deposita um beijo, seguido de um grito de dor. Sakura o sentia gritar de encontro a sua boca, enquanto cravava nas costas do inimigo, sua espada metálica.
Arrancando a espada das costas dele, ela sente os corpos se afastarem e o vê se dissipar em uma rajada de vento.
Eu juro que isto não acaba aqui! – foi a última coisa que disse antes de fugir, desaparecendo na nada.
Sakura cai de joelhos sobre o solo, cansada e ofegante. Sente a lâmina da espada adentrar seu corpo novamente, através de sua mão. Seu rosto sujo de areia e sangue revelava o cansaço que sentia, além de uma terrível ardência devido à boca cortada.
Recostou o corpo cansado, por sobre o tronco do carvalho. Sentiu uma energia quente lhe penetrar o ser e agradeceu mentalmente à bondosa árvore.
Levantou-se com dificuldade e se dirigiu até a adaga estendendo a mão na sua direção. Lentamente a arma se saiu do solo e lhe penetrou a palma ferida, como se retornasse a sua origem. Fitou o local onde a arma penetrara e viu a cicatriz desaparecer vagarosamente.
Nunca sentira tanto medo como neste dia. Por pouco não perdera para aquele Leão de Fogo, que queria fazê-la pecar. Ah, como sentia falta de sua velha Tomoeda. Como ansiava por ter sua antiga vida de volta. Como queria voltar a ser aquela menina feliz e contente que era há alguns anos.
Se bem que, desde que sua mãe falecera, a vida dela, de seu pai e de seu irmão começou a desmoronar. Fora muito difícil para ela, pois perdera sua figura materna aos quatro anos e vira aquela adorada mulher, desfalecer bem na sua frente.
Com lágrimas nos olhos, ela ainda lembrava da dor que sentira. Por um instante, tentou relembrar o ocorrido, mas apenas feixes confusos e cheios de luzes, lhe vinham à mente. Resquícios de sua vida passada... Tudo parecia tão distante! Sakura sentiu sua cabeça doer e o suor frio lhe escorrer pelo rosto.
Mas, que diabos! Que imagens são essas?! – perguntou-se ofegante – Por que não consigo lembrar do dia que minha mãe morreu?! – perguntou-se mais desesperada e confusa.
Rika fitava a cidade de Tókio. À noite ela era incrivelmente bela e misteriosa. Aquela sacada era seu constante ponto de contemplação. Sua camisola de seda azulada deixava o frio da noite de tocar o corpo, sem qualquer outra proteção.
Olhou para dentro do quarto e avistou seu amado. Terada dormia profundamente por debaixo das cobertas. Ela sorri para ele e volta seu olhar solitário para a as luzes de Tókio.
Ser uma Kleo não era uma tarefa fácil, tampouco agradável. Sacrificara tudo que tinha para proteger a humanidade. Na verdade, o destino se encarregara disto. Seus pais haviam falecido devido à velhice, apesar da juventude de Rika. O fato, é que haviam tido filhos tardiamente.
A única família realmente próxima que lhe restara, foram suas duas irmãs, Kerasaki, a mais velha, e Shigumi, a mais nova, cujas quais Rika sempre protegia. Por infelicidade do destino, suas duas queridas irmãs morreram entre as chamas, em um misterioso acidente na Inglaterra, sua terra natal. Por causa disto, ela descobrira ser uma Kleo e veio para Tókio, onde conheceu Terada.
Ele era o único que a entendia. Tinha certeza, dentro de seu coração, que a vida só não o tinha levado para longe de si também, porque ele, assim como ela, era um dos abençoados.
Fitando a ponta de seus dedos, fez surgir uma pequena chama de seu indicador direito. Que ironia! Recebera o Dom de originar chamas... As mesmas que levaram suas irmãs à morte.
Rika, o que está fazendo? – resmunga Terada, encolhido em seus lençóis.
Estou esperando Meiling...- fala calmamente.
Sabes que ela voltará bem. Hoje a ronda é por conta dela, aproveite e durma, pois nem sempre temos este prazer.
Não sei como podes ficar tão calmo. Ela só tem quatorze anos. Diferente de mim que tem vinte e você que tem vinte e sete. Ela é só uma criança.
Não, ela é uma Kleo, assim como eu e você. Ela tem habilidades e é forte o bastante para se proteger. – ele se levanta da cama e caminha na direção da bela morena.
Eu sei. Tento entender que ela sabe se defender, mas por algum motivo, vejo nela a imagem de Shigumi... – olha tristonha para a paisagem à sua frente.
Rika, meu amor... – ele lhe abraça pelas costas, apoiando seu queixo na cabeça da amada. – Eu sei que você amava muito Shigumi e Kerasaki, mas o destino as levou e não podemos fazer nada. – ele lhe deposita um beijo na nuca. – Eu também perdi pessoas queridas para mim. Você sabe que eu amava a minha esposa Sora e a minha doce filha Meguni.
Rika se vira de frente para ele e o fita longamente. Pobre Terada. Fora uma vitima do destino também. Nascera órfão e, com muito custo, se tornara um grande repórter e montara uma família, apesar da pouca idade, talvez fruto da solidão e tristeza de nunca ter tido uma.
Sua esposa, Sora, era jovem assim como ele e ambos tinham vinte e dois anos quando se casaram. Mal havia se passado um ano e tiveram uma filha.
Ele lhe mostrara uma foto dela certa vez... Rika havia se encantado com a beleza da criança. Era uma menininha tão linda. Seus cabelos eram de um tom amendoado claro e tinha longas madeixas cacheadas nas pontas. Seu rostinho pequeno e redondo ostentava um olhar infantil e cativante. Sua beleza era meiga e tranqüila, assim como a de Sora, que posava juntamente com a filha na fotografia.
Lembrava-se claramente dele ter lhe contado que ambas morreram em uma explosão, onde as duas se desintegraram e só restaram os restos de sua esposa.
Rika agarrou-se ao corpo de Terada e lhe abraçou forte.
Sinto muito por estar sendo tão egoísta e não ter pensado no seu sofrimento... - lamentou chorosa.
Não se desculpe, eu te entendo, minha querida... – ele a pega em seus braços, novamente, lhe afagando os cabelos – Não vou lhe exigir completa compreensão, pois você nunca teve de crescer na solidão...
Perdoe-me por não te entender! – fita o rosto levemente moreno.
Eu te amo, e vou sempre estar do seu lado, Rika...
Obrigada...
Seus rostos se aproximaram lentamente, como se fosse impossível desviar um do outro. O beijo foi inevitável... Compartilhavam seu amor naquele doce afago... Assim como suas dores. Aprofundavam o beijo, enquanto Rika deixava uma lágrima solitária lhe escapar dos olhos. Terada era seu único apoio e conforto, e ela o amava com todas as forças.
Eles se separam e ela o olhou ofegante.
Agora... - ele sussurra. – Qual o meu nome?
Eu te amo, Yoshyuki Terada...
Neste instante, os dois se beijam novamente, sentindo-se mais seguros para o amanhã... Inacreditável o que o amor podia fazer...
Meiling andava sem rumo pela cidade. Gostava de sair à noite, apesar das preocupações de Rika. Olhava para aquelas pessoas, com seus olhos curiosos e se perguntava o porque de toda aquela frieza. Tentava vasculhar suas mentes e só encontrava dor e confusão,... Tantas almas perturbadas!
Suas habilidades de Kleo permitiam que ela adentrasse as mentes de seus inimigos e as almas, âmagos das pessoas; e assim os controlasse. Além disso, tinha a poder de ver espíritos e utilizar suas energias, tirando algumas outras coisas que podia fazer. Resumindo, seus poderes eram psíquicos.
Apesar de nova, viajara sozinha para Tókio, após o misterioso assassinato de seus pais e irmãos. Lembrava-se que havida sido encontrada em Hong Kong, por Rika e Terada, durante o velório de sua família. Fazia já seis anos que isso ocorrera.
Apesar da enorme perda, ela aprendeu a conviver com estes fantasmas em seu destino e veio morar com outros semelhantes.
Era a única coisa que poderia fazer, afinal, a vida sempre segue continua, e não se pode dar ao trabalho de esperar a boa vontade de cada um...
Andava por um beco isolado, quando ouviu ser chamada.
Ei, menina!
Como? – ela olha para um charmoso homem de terno e gravata.
O misterioso senhor, que aparentava ter por volta de trinta anos, a observava com os olhos cheios de malícia e examinado o jovem corpo, que ainda moldava-se com o tempo. Olhava para aquela menina de vestido mangas três quartos, rodado e preto; e longos cabelos negros e soltos, enquanto imaginava mil e umas perversões.
Apesar do estilo gótico infantil, pois usava coturnos cheios de fivelas, um pequeno crucifixo prateado no pescoço e grandes luvas negras, aquela criança não deixava de atiçar o desejo do infame pecador.
Quer conhecer um lugar bastante divertido?
Você deveria me oferecer dinheiro! – fala indignada. – Sabia que nada é de graça, hoje em dia?!
Você quer dinheiro?! – pergunta confuso.
NÂO! Eu lá tenho cara de prostituta por acaso?! – fala irritada.
Você é muito esquisita, garota! Eu não tenho tempo pra ficar perdendo e nem dinheiro para gastar, então você vai vir comigo agora! – ela avança contra a garota que se assusta com a atitude violenta do homem.
Meiling salta sobre a cabeça do inimigo, fazendo-o olhar para cima e receber um chute na face. Perdendo o equilíbrio, o homem pende para frente e cai, enquanto Meiling pousa com facilidade do seu lado.
Nojento, eu não sou este tipo de garota, seu animal pervertido! – esbraveja, desferindo um chute nas costas dele.
Meiling começou a se mover e sentiu seu pé ser agarrado.
Sua cadela, eu juro que vou lhe estuprar aqui mesmo!!!
O quê?! – ela sente ser puxada para o chão e encara a face do homem que se colocava sobre ela.
Meiling sentiu o sangue gelar, ao olhar para os lhos de seu inimigo. Sua íris estava avermelhada e seus olhos emitiam uma luz, um brilho aterrorizante. Ela tinha certeza de que aquela alma havia sido tomada por um dos Leões de Fogo.
Desesperou-se ao sentir aquelas mãos grotescas lhe tocarem as pernas, por de cima da fina meia de náilon preta, enquanto rasgava-a e tentava abrir suas pernas.
NÃO!!!!- gritou enquanto tocava a testa de seu agressor e fitava seus olhos demoníacos.
No mesmo instante, os olhos da menina emitiram uma luz prateada e ela adentrou o coração daquele homem. Fazendo ambos ficarem estáticos, Meiling afundava no mar de angústias e escuridão daquela pessoa.
Ela se viu, de repente, no centro de um grande lago, com uma linda floresta ao seu redor. Caminhando por sobre a água, ela avista um pequeno garotinho, chorando em baixo de uma árvore. Chegando à margem, ela vê suas roupas mudarem e um lindo e longo vestido branco surgirem no lugar.
Olá, você mora aqui?- pergunta de uma forma gentil.
Ele se encolhe, evitando que ela o toque.
Não tenha medo, não vou lhe machucar... – sorri.
Você não é igual àquele monstro? – pergunta assustado.
Que monstro?
Aquele... – aponta para o centro do lago, onde se encontra um estranho e enorme animal, parecido com um inseto monstruoso, que se aproximava dele.
Mas, o quê...?! – sem tempo para mais perguntas, ela pega o pequeno em seu colo e salta, evitando o ataque da criatura.
Reunindo todas as suas forças, Meiling se concentra e grandes assas surgem em suas costas. Estendo sua mão, direita e segurando o menino com seu braço esquerdo, ela lança, na direção do monstro, uma grande luz prateada, que o desintegra no mesmo instante.
Suspira aliviada, ao ver seu inimigo destruído e desce lentamente, até o chão, liberando o pequeno garotinho em seguida.
Pronto, agora não vão mais lhe machucar! – sorri.
Obrigada... – o menino diz lhe sorrindo docemente. Mas, de repente, começa a crescer rapidamente e se transforma em um adolescente, como ela, deixando-a rubra com sua beleza.
De nada... – fala meio confusa – Bom, agora eu preciso ir!
Não,... - ele a abraça – fique mais um pouco... Por favor!
Mas... Eu... – ela gagueja envergonhada.
Fique... – ele começa a descer suas mãos, até chegar nas suas pernas, onde começa a levantar o vestido.
O que está fazendo?! – ela tenta se desvencilhar dele, que a aperta mais forte.
Eu sei que você quer isso!!! Maldita, Kleo!!! Achou que conseguiria libertar essa alma corrompida do meu poder? Você realmente pensou que poderia?
NÃO!!! Pare!!! largue, demônio! Volte para as trevas que é o seu lugar...! – ela tenta se libertar, mas percebe ser inútil – Já chega! Liberte-se! Mostre-me as dores da sua alma!!! – seu corpo começa a emanar uma luz prata, fazendo imagens aparecerem na sua cabeça.
Não, pare, não entre no meu coração!!! – grita o garoto, com as mãos na cabeça, enquanto crescia e retomava a aparência adulta.
Ambos vêem imagens da perda do filho dele, da morte da primeira esposa e da mãe. Havia tanta escuridão e dor naquela pobre alma...! O homem se encolheu aos prantos e Meiling, com os olhos repletos de lágrimas, começa a retornar a realidade.
Meiling acorda no chão. Olha para o canto do beco e encontra aquele homem encolhido, pálido e desesperado.
Por quê? Por que vocês me deixaram? Por quê?... – sussurrava incansavelmente enquanto lágrimas saíam de seus olhos. O homem olhava para cima, como se buscasse respostas, e tinha as duas mãos apoiadas na cabeça.
Meiling o fitou séria.
- Será que não entende? Não pode deixar de viver a sua vida porque problemas o cercam! Levante a cabeça e lute! Você não vive... Apenas sobrevive, pois não sabe fazer outra coisa além de ter pena de si mesmo! A vida não pára... O tempo não pára! Acorde para a realidade! Deixe essas pobres almas, que há muito abandonaram o mundo terrestre, descansarem em paz...! Não vê que as prende aqui, fazendo-as vagar como fantasmas?
Os olhos do homem ficaram novamente rubros, ardendo em fúria, enquanto encaravam Meiling.
- O que você sabe, garota? Como ousa dizer isso para mim? Você não me conhece... É só uma vagabunda que eu encontrei por acaso na rua! Eles me deixaram aqui, sozinho... Abandonado... Eles transformaram a minha vida em um inferno... Então por que não posso ter o direito de fazer o mesmo com a vida dos outros?
Um sorriso sinistro formou-se na face do homem, enquanto ele partia para cima de Meiling, tentando agarrar a sua garganta.
- Sim! Vocês merecem sentir o mesmo sofrimento que eu! Vocês merecem saber o quanto sofro! Merecem a morte! – o homem dizia alucinado enquanto apertava o pescoço da garota, asfixiando-a.
-Deixe... A alma desse... Homem... Oni, mal-... Maldito! – Meiling dizia com a respiração fraca. –Pare de sentir pe-... na de você, mesmo... Pa-... re... Pare... Pare! – novamente aquela luz prateada apareceu, dessa vez saindo de todo o corpo da garota e jogando o homem para longe, desacordado.
Ela se levantou, devagar, ainda um pouco tonta e com a respiração entrecortada. Massageou levemente a sua garganta dolorida e olhou para o homem deitado no chão, desmaiado.
Depois de fitá-lo longamente, encaminhou-se silenciosa para fora daquele lugar. Sentia as lágrimas lhe escorrerem dos olhos, manchando seu rosto. Por que seu Dom era tão sofrido? Sempre que adentrava as dores e as angústias humanas, ela também sofria. Talvez, seus poderes não fossem realmente um Dom, e sim uma maldição.
Olhou para trás e imaginou como aquele homem estaria.
- De nada adiantou eu ter eliminado um dos monstros de seu coração. Você já sofreu tanto e tornou-se tão vulnerável, que seu destino é pecar sem salvação... Na verdade, isso só aconteceu porque não teve forças suficientes para se reerguer... Sua base era tão fraca que desmoronou... – sussurrou tristemente, pois não conseguira salvá-lo.
-Demônio maldito! Aproveita-se da fraqueza das pessoas... Não consegui libertar essa alma de seu poder... Mas... A vida continua... – disse a garota fechando os olhos, o peito dolorido. Sim, ela sempre continuava... Havia aprendido isso...
Sentiu a chuva se iniciar e começou a correr. Por que os humanos têm tão pouca fé? Se não fosse por isso... Estava na hora de voltar para casa e descansar.
Correndo por entre as ruas encharcadas, ela decidiu pegar um atalho pelo parque. Correndo sem parar, de repente, ela avista uma mulher caída. Aproxima-se cuidadosamente e fita a criatura de curtos cabelos arruivados e de face machucada. Seu sobretudo preto estava todo molhado e Meiling se abaixou para vê-la melhor.
Tocou o rosto delicado e manchado. Por um instante, Meiling pôde sentir uma estranha energia emanar daquele ser. Uma sensação boa a invadiu...
Não se preocupe... – ela lhe acaricia os cabelos - vou levá-la para casa, junto comigo...
Continua...
É isso ai gente! To com fic nova aqui no site e espero agradar com essa nova experiência!!! .
To tendo muito apoio da minha revisora M-chan e espero saber a opinião de vcs!!!!
M-chan, amei os trechos que vc complementou e por isso to mandandu um super bjão pra vc!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Mandem reviews, fico mt agradecida!
Bjussssssssssssssss
Caroll
