Nota: (1) Harry Potter e seus personagens não me pertencem. E sim a J.K. Rowling e a Warner Bros. Entertainment Int. Essa fanfic não tem nenhum fim lucrativo, é pura diversão.

(2) Contém relação Homem x Homem, portanto, se você não gosta ou se sente incomodado com isso, é simples: não leia.

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Draco gritou e se encolheu no banco, esquecendo completamente a missão autoimposta de proteger o ômega ao seu lado. Pansy e Hermione seguraram a mão uma da outra e se encolheram, chorosas. Harry, por sua vez, sentiu a respiração entalar no peito, o frio penetrando mais fundo em sua pele. Então, vindos de muito longe, ouviu gritos terríveis, apavorados, suplicantes. De repente, porém, uma voz conhecida e magnética o chamou no fundo de sua mente:

- Harry...

Os gritos cessaram.

O frio passou.

E os olhos de Harry giraram nas órbitas. Ele não conseguiu ver mais nada. Havia perdido completamente os sentidos, afogando-se naquela voz.

Tom... – pensou, antes de desmaiar.

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Quando Harry abriu os olhos e percebeu onde estava, um gemido descontente escapou de seus lábios. O ano letivo mal havia começado e ele já estava na enfermaria. Ele sequer havia desfrutado do jantar de boas-vindas antes de se ver rodeado novamente pelas paredes brancas e pelo cheiro de poção antisséptica.

- Eu esperava vê-lo aqui somente no final do ano letivo, senhor Potter.

- Acredite, Madame Pomfrey, eu também.

- Aqui, coma um chocolate – ela enfiou um tablete de chocolate em sua boca antes que Harry pudesse responder – Onde já se viu, Dementadores no trem...

Harry engoliu com certa dificuldade, mas se sentiu um pouco melhor logo em seguida.

- Dementadores?

- Aquilo que abordou vocês no trem, senhor Potter – ela suspirou, afastando os cabelos de Harry e sentindo a temperatura na testa dele – Dementadores. Eles são os guardas de Azkaban e, ao que parece, estavam revistando o trem a procura de Sirius Black. Criaturas terríveis, sem dúvida.

Olhando em volta, Harry esperou ver mais estudantes que haviam passado mal, mas somente ele e Madame Pomfrey estavam ali. Ela pareceu notar seu olhar de estranheza vagando pelo local e comentou com rispidez:

- As pessoas reagem de forma diferente aos Dementadores, não pense muito sobre isso.

- Eu não lembro muito bem do que aconteceu – suspirou – só lembro de sentir uma tristeza profunda e ouvir um grito e então...

- Você desmaiou, meu rapaz. Isso acontece com ômegas mais delicados.

- Eu não sou delicado!

- Claro que não é – concordou distraída, agora tomando o seu pulso.

Harry revirou os olhos, mas disfarçou quando ela o encarou com aquele ar severo de sempre:

- Você já pode se levantar e voltar para o seu dormitório agora, vou pedir para um elfo levar o jantar para você porque já passou do toque de recolher.

- Obrigado, Madame Pomfrey.

- E não quero vê-lo por aqui de novo!

- Eu também não – murmurou com desânimo.

Quando Harry cruzou as portas da enfermaria, assustou-se ao dar de cara com suas melhores amigas apoiadas na parede, cada uma delas com um prato de guloseimas nas mãos.

- O que vocês estão fazendo aqui?

- Madame Pomfrey nos expulsou – Pansy revirou os olhos.

- E vocês decidiram esperar por mim após o toque de recolher? Quem é você e o que você fez com a Hermione?

- Muito engraçado – disse a Ravenclaw, empurrando um cupcake de chocolate no rosto do amigo – Nós estávamos morrendo de preocupação, mas madame Pomfrey e o professor Lupin disseram que você ficaria bem.

- Professor Lupin? Aquele ômega no trem é realmente o novo professor?

- Sim – Hermione estufou o peito, orgulhosa – O primeiro professor ômega a lecionar em Hogwarts.

- Você precisava ter visto a cara do Snape!

- Eu posso imaginar – Harry sorriu.

- Foi incrível, após o anúncio de Dumbledore começou um murmurinho no Salão Principal, vários alfas começaram a protestar em voz alta, principalmente os alunos dos últimos anos, falando sobre tradições e costumes e essa palhaçada toda, mas Dumbledore calou a todos com um tom de poucos amigos que eu nunca vi antes.

- Eu não esperava isso dele – Harry murmurou, lembrando-se das palavras de Tom sobre o diretor de Hogwarts.

- Ninguém esperava – disse Pansy – mas estou ansiosa para a nossa primeira aula com o Prof. Lupin.

- Será um novo e interessantíssimo capítulo em Hogwarts, uma história. Espero que eles lancem a edição revisada logo!

Harry e Pansy riram. E assim, comentando sobre os acontecimentos das últimas horas, principalmente, sobre a estadia dos Dementadores em Hogwarts até a captura de Sirius Black, os três caminharam até a Torre Ravenclaw, sempre tomando cuidado para que nenhum professor ou o zelador os pegassem perambulando pelos corredores. Por sorte, ninguém os viu, e, após deixarem Hermione na Torre, Harry e Pansy seguiram para as masmorras.

A primeira coisa que ouviram ao cruzar a tapeçaria foi a voz autossuficiente de Draco:

- A sorte é que eu estava lá para protegê-lo.

Os ômegas trocaram um olhar confuso ao notar o loiro rodeado por seus capangas, Crabbe e Goyle, e por Theodore Nott e Blaze Sabini, todos os alfas rindo de alguma coisa.

- Ômegas são tão patéticos.

- Você diz isso porque ainda não tem um ômega que seja seu – Draco sorriu com malícia – Você vai ver, Nott, quando você tiver o seu próprio ômega, seu instinto natural será protegê-lo.

- Não me vejo com toda essa paciência.

- É instintivo, quando eu vi, já havia me colocado entre Harry e o Dementador para protegê-lo. E, depois, acudindo meu pobre ômega, que desmaiou nos meus braços.

Harry ficou vermelho de vergonha e, por um momento, ele se perguntou se isso havia acontecido mesmo. Ao seu lado, Pansy estreitou os olhos e não se conteve:

- Pelo o que eu me lembro, você ficou encolhido no banco do trem choramingando como um bebezinho enquanto o Prof. Lupin, um ômega, afugentava o Dementador e socorria todos nós.

- Cale a boca, Parkinson! Ninguém te chamou na conversa, sua intrometida.

- Posso ser intrometida, mas não sou uma lunática mentirosa que acha que possui as pessoas e as trata como objetos.

- Como você ousa? – Draco grunhiu, elevando-se sobre a menina enquanto os outros alfas os rodeavam.

- Vai fazer o que, Malfoy? Choramingar pelo papai igual você fez no trem?

Harry se colocou entre os dois quando viu o alfa pegar a varinha:

- Chega! Parem com isso!

- Saia da frente, Harry, eu vou quebrar o nariz desse babaca.

- Pam, por favor – o ômega suspirou, puxando a amiga pelo braço – Não vale a pena. Venha, vamos sair daqui.

Ele conseguiu puxá-la em direção ao dormitório, quando, então, ouviu a risada sarcástica de Theodore Nott:

- Você mantém o seu ômega bem dócil, numa coleira apertada, não é mesmo, Draco? Pelo visto essa maria-alfa precisa achar um alfa que faça isso com ela também.

As risadas foram interrompidas pelo grunhido de dor que Nott deixou escapar quando caiu no chão, segurando o estômago como se tivesse acabado de levar um soco certeiro. Todos olharam surpresos para Pansy, mas a própria menina parecia confusa, quando então notou Harry guardar a varinha. O ômega havia lançado um feitiço não verbal que aprendera com Tom na Sessão Reservada, no ano anterior, e agora se aproximava a passos decididos do alfa caído no chão.

- Você é patético, Nott.

Os murmúrios surpresos logo foram ouvidos à sua volta

- Draco pode contar vantagens sem sentido, às vezes, e pensar que temos uma relação que nós não temos, mas pelo menos ele age com educação e respeito.

O alfa loiro não sabia ao certo se estava sendo elogiado ou criticado, mas, ao notar o olhar gélido do pequeno ômega sempre tão amigável, achou melhor se manter calado.

- Você, por outro lado, age como um troglodita babaca a todo instante – continuou Harry – Eu tenho pena do ômega que um dia for acasalado com você, mas, principalmente, eu tenho pena do ômega que gerou você.

- Harry... – Pansy murmurou, em choque, puxando a manga da túnica do amigo para afastá-lo dali. Harry não sabia que a mãe de Theodore havia tirado a própria vida por causa do pai do garoto, um alfa extremamente abusivo, o que era um segredo conhecido entre as famílias de sangues-puros dali. Suas palavras, porém, acetaram em cheio o jovem alfa caído no chão, cujos olhos enfurecidos se encheram de lágrimas.

- Como você ousa...!

- Theodore, chega! – Draco se colocou entre os dois, impedindo que o alfa içasse a varinha – Vamos acabar com essa discussão aqui.

- Eu vou matar esse ômegazinho desgraçado!

- Você pode tentar – Harry replicou com frieza –, talvez você consiga o que o próprio Lord Voldemort não conseguiu, Nott. Vamos lá, talvez você seja mais poderoso do que ele, tente a sorte.

Harry se arrependeu no instante em que aquelas palavras deixaram seus lábios, principalmente quando notou o olhar assustado de absolutamente todos a sua volta. O próprio Theodore baixou a varinha e deu um passo para trás, olhando para o jovem ômega de uma forma que ele nunca havia olhado antes: com medo.

Em silêncio, Harry deixou Pansy puxá-lo em direção ao dormitório e suspirou quando a menina o colocou sentado na cama e o encarou com as mãos nos quadris.

- Desembucha.

- O que?

- O que foi isso, Harry? Você acabou de usar o nome do Lord das Trevas para ameaçar o babaca do Nott.

- Eu não percebi – murmurou – Eu apenas quis tirar aquela pose arrogante dele.

- Obviamente, funcionou.

- Então, qual o problema? Por que todos pareceram assustados?

Ela suspirou, sentando-se ao lado dele na cama:

- Por mais que muitos sejam filhos de Començais da Morte, o nome do Lord das Trevas é um tabu no nosso mundo, Harry, seja por medo ou respeito. E você falar daquela forma, quero dizer, com tamanho desafio e familiaridade... Foi assustador.

- Eu não percebi, Pam.

- E o que é mais assutador é que ele esteve em Hogwarts por dois anos seguidos, encontrou-se com você, e você ainda está aqui, saudável e respirando. E eles não sabem o que aconteceu exatamente nesses encontros, o que deixam suas palavras com um peso ainda maior.

- Tem razão...

Então, desviando o olhar, Harry murmurou:

- Eu tenho sonhado com ele.

- O que?

- Tom, Lord Vol... Quero dizer, o Lord das Trevas, eu tenho sonhado com a versão dele do diário, quando nos encontramos no ano passado.

- Sonhos muitas vezes funcionam como portais entre almas – ela franziu o cenho – o que ele faz nesses sonhos?

- Nada – Harry corou – Ele apenas me observa e não diz nada.

- Você precisa tomar cuidado, Harry, se for o caso precisaremos pedir uma poção de dormir sem sonhos para Snape.

Harry apenas concordou em silêncio, escondendo da amiga o fato de que seu coração disparava ao pensar em Tom, lembrando-se do seu aroma hipnotizante e do toque suave dos lábios do alfa contra os seus. Além disso, mesmo que não quisesse admitir para si mesmo, Harry ansiava pelas horas de dormir apenas para poder olhar para o rosto bonito do alfa, que o encarava com um brilho incomum – e nada ameaçador.

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Quando Harry e Pansy subiram os degraus em direção ao alçapão que dava acesso à sala de advinhação, não esperavam encontrar a sala de aula mais esquisita que já haviam visto na vida. Era uma sala pequena em formato circular que mais se parecia a um salão de chá antigo. Havia, no mínimo, vinte mesinhas circulares juntas ali, rodeadas por cadeiras forradas de chintz e pequenos pufes estufados. O local era iluminado por uma luz fraca avemalhada e o cheiro forte de incenso e chá velho fez os dois Slytherins trocarem um olhar enjoado.

- Mamãe teria um ataque cardíaco se visse esse lugar.

- Apenas se ela não morresse sufocada com esse cheiro horrível primeiro.

- Credo – com uma cara de nojo, os dois se sentam em uma das mesinhas, que logo iam se enchendo de estudantes igualmente mortificados.

De repente, uma voz saiu das sombras, uma voz suave, meio etérea.

- Sejam bem-vindos. Que bom vê-los no mundo físico, finalmente.

Vendo o olhar chocado da amiga, Harry soube que ela teve a mesma impressão que ele ao olhar para a professora de adivinhação: a impressão de estar vendo um enorme inseto cintilante. A professora Sibila Trelawney usava óculos imensos que aumentavam seus olhos várias vezes e vestia um xale diáfano coberto de lantejoulas. Em volta do pescoço fino, usava inúmeras correntes e colares de contas, e seus braços e mãos estavam cobertos de pulseiras e anéis.

- Sentem-se, crianças, sentem-se.

- Céus – Pansy sussurrou ao seu lado – Essa mulher não sabe o significado de "menos é mais"?

- Com certeza, não.

- Bem-vindos à aula de adivinhação – disse a mulher beta, interrompendo os dois – Parabéns por optarem pela mais difícil das artes mágicas. Devo alertá-los logo de início que se não possuírem clarividência, terei muito pouco a ensiná-los. É um dom concedido a poucos.

De repente, ela parou ao lado de Neville, que quase caiu do pufe:

- Você, menino – disse com a voz grave – Sua avó vai bem?

- Acho que vai – o alfa desajeitado respondeu trêmulo.

- Eu não teria tanta certeza se fosse você, querido – suspirou, dando um breve aperto no ombro dele e continuando a andar pela sala tranquilamente – Vamos cobrir os métodos básicos de adivinhação este ano. Agora quero que vocês formem pares. Apanhem um bule de chá na prateleira e tragam-no aqui para eu encher. Depois se sentem e bebam, bebam até restar somente a borra. Sacudam a xícara três vezes com a mão esquerda, depois virem-na, de borda para baixo, no pires, esperem até cair a última gota de chá e entreguem-na ao seu par para ele a ler. Vocês vão interpretar os desenhos formados, comparando-os com os das páginas cinco e seis de Esclarecendo o futuro. Vou andar pela sala tirando dúvidas de quem tiver dificuldades.

Depois que Harry e Pansy levaram as xícaras para encher, eles voltaram à mesa e tentaram beber rapidamente o chá de jasmim pelando. Sacudiram a borra conforme a professora mandara, depois viraram as xícaras e as trocaram entre si.

- Certo – disse a menina depois de abrir o livro na página cinco e seis – O que você está vendo na minha?

- Um monte de borra marrom – disse Harry. A fumaça intensamente perfumada o estava deixando enjoado e sonolento – E você?

- A mesma coisa – a menina revirou os olhos, arrependendo-se de não ter escolhido Runas Antigas como Hermione.

A professora Sibila se virou quando Harry deixou escapar uma risadinha.

- Deixe-me ver isso, querida – disse ela em tom de censura a Pansy, aproximando-se num ímpeto e tirando a xícara de Harry das mãos da menina. Todos se calaram para observar.

Ela examinou a xícara, e girou-a no sentido anti-horário.

- Flores de cerejeira... Meu querido, você tem um alfa destinado – os murmúrios logo foram ouvidos e Harry revirou os olhos quando ouviu algumas pessoas falarem o nome de Draco, que, por sorte, não fazia aquela aula – mas, que estranho...

Girando a xícara mais uma vez, ela continuou:

- As flores se misturam com um falcão, um inimigo mortal. E... Oh, meu pobre menino!

- O que foi, professora? – perguntou uma Gryffindor ômega chamada Lilá Brown. Todos tinham se levantado e aos poucos se amontoaram em torno da mesa de Harry e Pansy, aproximando-se da professora para dar uma boa olhada na xícara de Harry.

- Meu querido – os olhos da professora se abriram teatralmente –, você tem o Sinistro.

Todos se entreolharam sem entender nada.

- O Sinistro, meu querido, o Sinistro! – exclamou a professora, que parecia chocada com o fato de Harry não ter entendido – O cão gigantesco e espectral que assombra os cemitérios! É um mau agouro, o pior de todos, agouro de morte!

Harry sentiu o estômago afundar. Pansy, no entanto, se levantou e olhou por cima do ombro da professora com o cenho franzido.

- Eu não acho que isso pareça um Sinistro – replicou com desdém.

Simas Finnigan inclinou a cabeça de um lado para o outro.

- Parece um Sinistro se a gente fizer assim – disse com os olhos quase fechados.

- Ou assim – Antony Goldstein murmurou, a cabeça virada de lado – mas parece muito mais um burro.

- Quando vão terminar de resolver se eu vou morrer ou não? – perguntou Harry, surpreendendo até a si mesmo.

- Vamos encerrar a aula por hoje – disse a professora no tom mais etéreo possível – É... por favor, guardem suas coisas...

Em silêncio, a classe devolveu as xícaras à professora, guardou os livros e fechou as mochilas.

- Isso é uma grande bobagem – Pansy resmungava enquanto desciam as escadas em formato de caracol e seguiam para a aula de Transfiguração – Ela é uma charlatã. Não sei como Dumbledore mantém uma pessoa assim como professora, se ela fosse um ômega, com certeza já teria sido mandada embora...

Ao chegarem na aula de McGonagall, o jovem ômega já estava se sentindo um pouco melhor, mas a sensação de desconforto ainda permanecia no fundo de seu estômago. E esta sensação não melhorava ao ser alvo de olhares de esgueira a todo instante.

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No final da semana, os olhares já haviam diminuído e os ânimos de Harry melhorado consideravelmente, principalmente depois de conversar com Hermione, que elencara setenta e oito razões lógicas pelas quais adivinhação não poderia ser considerada uma ciência exata e confiável no ramo da magia, mas puro charlatanismo e especulação de magos e bruxas ávidos para iludir os demais. Agora, no final da tarde de sexta-feira, os estudantes do terceiro ano seguiam rumo à última aula do dia, a tão esperada aula de Defesa Contra as Artes das Trevas com o primeiro professor ômega a lecionar em Hogwarts. Enquanto a maioria dos ômegas estava ansiosa e feliz por aquele momento, certos de que a conquista de um representava a conquista de todos, os alfas e betas – e até mesmo alguns ômegas – reviravam os olhos, cruzavam os braços e murmuravam entre si sobre o absurdo daquela contratação.

- Dumbledore está completamente maluco, meu pai me disse isso – Draco comentou com Blaise, sentando-se no fundo da sala e tirando da mochila livros, penas e pergaminhos a contragosto.

Quando o professor apareceu, os burburinhos diminuíram, mas não sumiram completamente. Lupin então sorriu vagamente e colocou a velha maleta surrada na escrivaninha. Estava malvestido como sempre, mas parecia mais saudável do que no trem, como se tivesse comido algumas refeições reforçadas.

- Boa-tarde a todos – cumprimentou ele – Por favor, guardem os livros de volta nas mochilas. Hoje teremos aula prática.

Alguns alunos se entreolharam, curiosos, enquanto guardavam os livros.

- Agora – disse o professor, chamando a turma para o fundo da sala com um gesto, onde não havia nada exceto um velho armário. Quando ele se postou a um lado, o armário subitamente sacudiu, batendo na parede – Não se preocupem, há apenas um bicho-papão aí dentro.

O burburinho logo aumentou. A maioria dos alunos achando que aquilo era uma coisa com a qual se preocupar.

- Esse ômega está louco – Draco grunhiu, mas o professor continuou com a explicação falando calmamente por cima dos murmúrios descontentes:

- Bichos-papões gostam de lugares escuros e fechados – informou ele – guarda-roupas, vãos embaixo das camas... Este aí se mudou para cá ontem à tarde e perguntei ao diretor se os professores poderiam deixá-lo para eu dar uma aula prática aos meus alunos do terceiro ano. Então, a primeira pergunta que devemos nos fazer é: o que é um bicho-papão?

Hermione levantou a mão.

- É um transformista – respondeu ela – É capaz de assumir a forma do que achar que pode nos assustar mais.

- Eu mesmo não poderia ter dado uma definição melhor – disse o professor, e Hermione se iluminou de orgulho, um sorriso bonito dançando em seu rosto. Ao seu lado, Pansy sorriu com afeto, perdendo-se no rosto da amiga.

- Isto significa – continuou Lupin – que temos uma enorme vantagem sobre o bicho-papão para começar. Você sabe qual é, Harry?

O aludido arregalou os olhos, desconfortável ao ser alvo dos olhares de todos, como sempre. No entanto, respondeu com a voz pequena, porém firme:

- Hum... porque somos muitos, ele não vai saber em que se transformar.

- Precisamente. É sempre melhor estarmos acompanhados quando enfrentarmos um bicho-papão, assim, ele se confunde. O feitiço que repele um bicho-papão é simples, mas exige concentração. Vejam, a coisa que realmente acaba com um bicho-papão é o riso. Então, o que precisam fazer é forçá-lo a assumir uma forma que achem engraçada. Vamos praticar o feitiço com as varinhas primeiro. Repitam comigo, por favor... Riddikulus!

- Riddikulus! – repetiu a turma.

- Essa aula que é ridícula – comentou Draco, revirando os olhos. Ao seu lado, Harry o encarou com o cenho franzido, sabendo que o loiro falava aquilo apenas por conta do seu preconceito absurdo.

- Ótimo! – aprovou o Prof. Lupin – Muito bem. Agora formem uma fila...

Um a um, os estudantes foram enfrentando o bicho-papão que assumiu as mais diversas – e hilárias – formas. Quando Neville tomou a dianteira e recitou o encantamento diante do bicho-papão transformado em Snape, absolutamente todos romperam em risadas quando Snape tropeçou usando um longo vestido, enfeitado de rendas e um imenso chapéu, uma bolsa vermelho-vivo pendurada em seu braço. O bicho-papão parou, confuso, e Lupin gritou:

- Parvati, sua vez!

A jovem ômega se adiantou, assustada, e Snape avançou para ela. Ouviu-se um estalo e onde o bicho-papão estivera havia agora uma múmia com bandagens sujas de sangue.

- Riddikulus! – exclamou Parvati.

Uma bandagem se soltou aos pés da múmia; ela se enredou, caiu de cara no chão e sua cabeça rolou para longe do corpo.

- Simas – bradou o professor.

Até mesmo os alfas e betas que reclamavam no começo da aula estavam se divertindo com o clima animado que se instaurara, todos ansiosos para enfrentar o bicho-papão, ou orgulhosos de como haviam se saído. Quando Harry se adiantou para frente do armário e o boletim com notas vermelhas que Hermione enfrentara há alguns instantes parou aos seus pés, ele ergueu a varinha com um sorriso, pronto para enfrentar o quer que aparecesse à sua frente.

Mas ele não estava preparado para aquilo.

Ele definitivamente não estava preparado para olhar para o rosto bonito de Tom Riddle novamente, encarando-o com um sorriso. Então, o bicho-papão assumindo a forma de Tom se aproximou, andando daquela forma calma e confiante que Harry havia visto na câmara secreta, os olhos brilhando com rajadas vermelhas, a mão levantada como se quisesse tocar em seu rosto.

Todos ficaram em silêncio, olhares curiosos contemplando abertamente aquele rapaz estranho que havia aparecido diante de Harry. No fundo da sala, Draco franziu o cenho, a irritação dominando-o por completo ao se perguntar de onde o seu ômega conhecia aquele homem – definitivamente, um alfa – que usava o uniforme Slytherin, mas que ele nunca havia visto na vida.

Harry, por sua vez, sentiu as pernas tremerem. Ele não conseguia se mover, apenas encarava aqueles olhos magnéticos, com os quais sonhava todas as noites.

Seu maior medo...?

- Aqui! – gritou o professor Lupin de repente, colocando-se à frente de Harry.

O rapaz misterioso sumira. Por um segundo todos olharam assustados para os lados, então viram um globo branco-prateado pendurado no ar diante de Lupin, e ele disse "Riddikulus" quase descansadamente, mandando o que se assemelhava a uma bexiga murchando de volta para o armário, que trancou com um clique alto.

– Excelente! – exclamou o Prof. Lupin enquanto a classe aplaudia com entusiasmo – Excelente, pessoal. Dever de casa: por favor leiam o capítulo sobre os bichos-papões e façam um resumo para me entregar... na segunda-feira. E por hoje é só.

Falando agitados, os alunos deixaram a sala. Harry, porém, ainda estava pálido. Por sorte, Hermione e Pansy o puxaram para um corredor vazio antes que Draco pudesse alcançá-lo.

- Harry James Potter, o que em nome de Morgana Le Fay foi aquilo?

- Eu não sei, Pam.

- Como não sabe? – Hermione o encarou assustada – Quem era aquele alfa? Ele usava o uniforme Slytherin, mas eu nunca o vi por aqui...

- Aquele era Voldemort.

As duas meninas ofegaram e Harry, depressa, corrigiu-se:

- Quero dizer, o Lord das Tevas, ou melhor, Tom Riddle – murmurou, as bochechas corando – No ano passado, quando eu descobri aquele diário, a pessoa com quem eu conversava... Bem, a memória que ele guardou e que acabou atacando Ginny Weasley no final do ano se parecia com aquilo.

Hermione e Pansy trocaram um olhar. Elas nunca haviam pressionado o amigo a dar detalhes daquela noite, ainda que soubessem que o diário e Voldemort estivessem conectados, mas agora tudo fazia sentido.

- É claro – Hermione suspirou, abrançando-o – O seu maior medo é enfrentá-lo novamente, por isso o bicho-papão tomou a forma dele.

- Não se preocupe, esse ano vamos mantê-lo longe de todo e qualquer livro amaldiçoado pelo Lord das Trevas.

- E de todo e qualquer livro ridículo sobre adivinhação – acrescentou a Ravenclaw, arrancando uma pequena risada do amigo.

Enquanto se dirigiam ao Salão Principal para o jantar, Harry pensava nas palavras de Hermione:

O seu maior medo é enfrentá-lo novamente, por isso o bicho-papão tomou a forma dele.

Mas Harry não sentiu medo quando olhou para o bicho-papão transformado em Tom. Ele não sentia medo quando sonhava com as feições bonitas do alfa, sorrindo misteriosamente para ele. Não, ele se sentia estranho, ansioso, até mesmo... animado. E aquilo lhe causava medo.

- Merlin, o que há de errado comigo?

Continua...

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N/A: Olá, meus amores! Consegui postar antes do meu aniversário (dia 18/11 agora), o que considero uma pequena vitória, mas me desculpo sinceramente com vocês por todos esses meses de atraso. A vida no trabalha está intensa, mas estou conseguindo pequenos intervalos para voltar a atualizar minhas histórias.

Tenham em mente apenas uma coisa: nunca vou abandonar vocês ou qualquer história minha (mesmo que eu demore um bom tempo para atualizá-las... hehe).

Espero que gostem do capítulo de hoje e deixem suas reviews!