Harry Potter e a Maratona Incantatem
Capítulo Dez – A Revolução dos Gigantes-Como assim, Alvo?-perguntou a profª McGonagall.
-Hagrid acabou de me explicar, Minerva.-disse Dumbledore.-Os gigantes da Grã-Bretanha foram persuadidos pelos Comensais da Morte, meus caros amigos. Isso significa: nós falhamos. As aldeias que, a muito custo de Madame Maxime e Hagrid, nos apoiavam, foram ameaçadas pelos outros gigantes. Estes disseram que incendiariam suas casas se eles assumissem uma posição favorável a nós. Neste momento, os gigantes de toda a Ilha da Grã-Bretanha estão vindo para Londres, onde se reunirão aos Comensais da Morte. Eles irão recomeçar a tarefa que interromperam há quinze anos, irão matar os tachados de sangues-ruins e todos os trouxas que os Comensais puserem em suas mãos.
-Então, prof. Dumbledore -disse Snape.- O que falta para isto se tornar uma guerra?
-Na minha opinião, Severo, tudo o que falta é a declaração de guerra do Ministério da Magia. Quero agora perguntar aos presentes: quem aqui não acha que já está na hora de começar de fato a guerra contra Voldemort?
Nenhuma mão se ergueu, mas a profª Sprout pediu a palavra:
-É isto que quero saber, senhor diretor: declararemos guerra a quem? O Lord das Trevas ainda está oficialmente desaparecido.
-Este não é o nosso maior problema.-respondeu Dumbledore.-Os Comensais estão falando pra quem quiser ouvir que eles sabem onde Voldemort está. Na verdade, Voldemort não está mais oficialmente desaparecido, e sim escondido.
-E o que fazemos, então?-perguntou Sirius.
-Irei mandar imediatamente uma carta ao Ministério da Magia sugerindo a declaração de guerra a Voldemort. Hagrid, quero que vá com Sirius para Londres, pra tentar sabotar de algum modo a reunião de gigantes e comensais. Melissa, devo pedir que se esforce no seu dom, precisamos saber de algo positivo para alimentar as nossas esperanças... Quanto aos outros professores e vocês -acrescentou o diretor, dirigindo-se a Harry, Cathy, Ná, Ron e Mione.-, quero que não contem a nenhum aluno sobre a Revolução dos Gigantes, por enquanto. O Dia das Bruxas está próximo, além da segunda rodada da Maratona Incantatem, não queremos os alunos mais exaltados do que já estão. Bem, acho que é só isso.
Harry não teve tempo para se despedir do padrinho e de Hagrid; a sineta para a aula tocou atrasada em meia hora naquele dia.
-Meu pai ficou falando sobre ganhar o apoio dos gigantes as férias inteiras.-disse Rony, enquanto voavam baixo em direção à aula.- Agora estamos perdidos, os únicos deles do nosso lado são Hagrid e Maxime, e eles ainda são apenas mestiços.
-Mas será mesmo que vai começar uma guerra?-indagou Hermione, aflita.- Quero dizer, uma guerra tão ruim quanto as de trouxas? Com... Bombas?
-Fale baixo, Mione.-disse Nádia.- Não dê a idéia. Se sem bombas a guerra já será horrível, imagine se Voldemort inventar de usá-las. Mas gente, o que vamos dizer pra Jully quando ela nos perguntar o que o Snape queria?
-Isso é o de menos.-disse Catherina.- Nádia, a sua prima não tem se sentido solitária em Hogwarts, não? Ela percebeu que nós estamos escondendo alguma coisa dela.
-Ela é muito amiga do Sean, fique tranqüila.-respondeu Nádia.- Mas ela só não sabe de tudo porque vocês não querem.
-Ela ainda não provou que merece a nossa confiança.-afirmou Rony.-Vamos deixar passar mais tempo.
-Nossa, Rony, quanta desconfiança!-exclamou Catherina.
-Eu aprendi a lição.-retorquiu o ruivo.- Não vou me deixar convencer tão fácil outra vez.
Harry achou, na manhã seguinte, que por mais que Dumbledore quisesse ocultar dos alunos por enquanto a Revolução dos Gigantes, o Profeta Diário traria todas as informações que estavam sendo escondidas. Ao invés disso, os assinantes do jornal de bruxos -como Hermione- receberam apenas uma carta do jornal, pedindo desculpas e informando que naquele dia o Profeta não chegaria.
Mesmo agora preocupando-se com a Revolução dos Gigantes, Harry e Catherina estavam aproveitando ao máximo o namoro: saíam para passeios românticos, mas a coisa que menos faziam durante estes era conversar. Conforme Harry confidenciava para Rony mais tarde, "suas bocas estavam ocupadas demais". Ela chegava a ficar constrangida com as atitudes do namorado que, depois de tanto tempo conseguira perder o ar tímido com garotas. Daqui pra frente não posso seguir narrando o namoro dos dois se eu quiser parecer um pouquinho moralista, mas o que quero dizer é que Harry estava muito feliz e não se sentia tão solto há muito tempo.
A Maratona Incantatem não era a preocupação dele, embora isso definitivamente não estivesse acontecendo com Rony; ele era o que mais queria vencer entre os amigos.
Na última quarta-feira de outubro, muito perto da segunda rodada, eles entregaram a Snape a redação sobre Poções Mutativas; Nádia estava muito preocupada porque não via Julliane desde o café da manhã, ela não havia aparecido na aula. E Snape afirmara com veemência que depois da aula não aceitaria mais nenhuma redação. Faltando cinco minutos para o fim da aula, a porta da masmorra se abriu. Julliane estava ali, respirando depressa com um pergaminho nas mãos e um curativo na dobra do braço esquerdo. Ela sabia que aquela era a última aula a que devia ter faltado.
-Fletcher, posso saber o porquê de ter se atrasado em uma hora e meia para chegar à minha aula?
-Desculpe, professor.-Julliane falou depressa, encarando o professor.- Aconteceu um... Um acidente, e eu estava na ala hospitalar. Madame Pomfrey me deixou vir trazer a minha redação.
-Menos quarenta e cinco pontos para a Grifinória e levará detenção por seu descuido, Fletcher.-tornou Snape, tentando manter sua voz inflexível para aquela aluna.- Agora sente-se e ao menos assista ao resto da aula.
Todos os grifinórios sentiram uma raiva de Snape que não ousaram demonstrar - se fosse um sonserino que tivesse acabado de chegar, ele teria tirando cinco pontos só pra dizer que tirou.
Depois da aula, Julliane recebeu a sentença da detenção de olhos baixos, cansada da visão de Snape. Teria que limpar a sala dele na noite de Dia das Bruxas, ou seja, perderia o banquete. Ela não reclamou, pois sabia que se o fizesse só iria piorar as coisas para a Grifinória e para ela mesma.
Sem tanto desespero quanto o que Harry carregara à primeira rodada, ele foi tomar café no sábado, ouvindo a profª McGonagall declamar o texto que antevinha os duelos.
Categoria: 5º ano. Macro-chave: Lufa-Lufa versus Sonserina.
Era notório que desta vez ninguém estava tão nervoso quanto antes da primeira rodada. Quando seguiu-se a macro-chave Corvinal x Grifinória, Gina saiu-se muito bem outra vez, ganhando sem dificuldades de Adam Valey.
-Categoria: 6º ano.-anunciou McGonagall.- Para abrir a macro-chave Lufa-Lufa versus Sonserina, são chamados agora ao palco Justin Finch-Fletchley e Sean Dark-Angel.
Àquela altura do campeonato, Sean tentava não mais se incomodar com os erros em seu nome. Ele e Justin subiram no palco, forçando por cima do nervosismo recém-chegado um simpático sorriso.
-Agora!-sinalizou Dumbledore.
-Imobille Mallus!-ordenou Sean à sua varinha.
Nem Justin nem ninguém no Salão Principal sabia como se defender de um feitiço daquele. Resultado: Justin foi pego e ficou com a mão que segurava a varinha dura como rocha. Aparvalhado, Justin puxou a varinha da mão petrificada, ergueu-a a ordenou:
-Estupefaça!
Mas a varinha não estava em sua mão boa, o que era extremamente perigoso, então o feitiço passou longe de Sean, indo ricochetear no teto encantado. O sonserino ergueu a varinha:
-Rictusempra!
-Défesum! Pernae Bambea!
-Reflexum!
A Azaração Reflexiva de Sean pegou Justin, que além de estar rindo loucamente, agora andava feito um bêbado, Sean ergueu a varinha para dar o golpe de misericórdia, mas antes que pudesse dizer qualquer palavra, Justin ordenou à sua varinha:
-Estupefaça!
Só que ele parecia não ter entendido que não ia conseguir fazer feitiços dessa estirpe com a mão esquerda. O raio do feitiço parou, deu uma pirueta no ar, indeciso, e deu meia-volta, para estuporar o próprio bruxo que o lançara.
-Isso é que é feitiço virado contra o feiticeiro!-Sean ouvia da platéia.
-Vitória e dez pontos para Sean Dark-Angel!
Uns duelos depois...
-Alfred Walters versus Draco Malfoy!
Ao contrário da panelinha de Harry, Malfoy dedicara muito tempo a treinar para a Maratona Incantatem, já que agora a poção para Nádia já estava a caminho. Walters e ele subiram no palco:
-Já!
-Imobillus Eternus!-gritou Malfoy.
-Défesum!-gritou Walters, tolamente.
Bobo fora Walters, de acreditar que um feitiço de imobilização como aquele poderia ser bloqueado com um singelo Feitiço Escudo. Ao invés de ricochetear em algo na sua frente, o raio verde saído da varinha de Malfoy pegou-o em cheio, petrificando-o até o último fio de cabelo.
Agora, Malfoy tinha uma vitória por contagem de pontos e uma por "nocaute". Ou seja, agora ele contava dezoito pontos no total.
Pansy Parkinson perdeu seu duelo, bem como Sally e suas outras duas colegas, Crabbe e Goyle também não tiveram nenhum sucesso. Logo, a macro-chave Lufa-Lufa x Sonserina foi fechada, para abrir de uma vez Corvinal x Grifinória.
-Derek Hopkins versus Julliane Fletcher!
Sim, Julliane teria que admitir que Derek Hopkins (olhos castanhos, alto e idolatrado pelas garotas em geral da Corvinal) era muito bonito, mas o que tinha de beleza lhe faltava em habilidade em duelos. Não precisaram trocar três feitiços para que ela conseguisse estuporá-lo. E, é claro, fez isso morrendo de dó.
-Nádia Fletcher e Briane Soley!
A garota da Corvinal, Nádia ficou sabendo mais tarde, tomara o cuidado de trancar todas as suas coisas de valor no dormitório, para que não passasse pelo mesmo vexame que Ana Abbot. Nádia explicou dias depois da primeira rodada que soubera por acaso que Ana Abbot mantinha um diário, e partiu da premissa que o diário é uma das coisas mais importantes para uma garota. Mas mesmo com todas as suas precauções, Nádia venceu Briane Soley com outro Accio - mas este destinado à varinha de Briane: dez pontos e vitória para Nádia Fletcher.
-Cilla Addlley e Hermione Granger!
Cilla Addlley era uma menininha franzina, que mais parecia estar no segundo ano do que no sexto, enquanto Hermione condizia com sua idade. Cilla parecia bastante amedrontada por ter que enfrentar Mione, que há tempos carregava o estigma de ser a melhor aluna de Hogwarts. O duelo ocorreu de igual pra igual, e toda a Sonserina caiu em risadas quando Hermione foi estuporada -estuporada por uma quase desconhecida, por Cilla Addlley!
-Edward Michaels versus Catherina McFisher!
Para pavor de Harry e intensa felicidade dos sonserinos em geral (menos Sean, é claro, que gostava dos grifinórios), Catherina também perdeu seu duelo, e o que foi pior, ela foi derrotada por um reles Petrificus Totalus!
-Mas o que está acontecendo?-perguntou Nádia.-Tem alguma coisa errada aqui!
E o pior dos piores ainda estava por vir - Harry começou seu duelo com Emma Richards.
-Estupefaça!
-Défesum!-defendeu-se Richards.
-Furnunculus!
-Energium finite!
Ah, meu Deus, pensou Harry desesperado, como se o tempo tivesse parado, por que não perguntei à Catherina como se bloqueia isso?
É isso mesmo, gente. Outra surpresa pra vocês: o famoso Harry Potter perdeu o segundo duelo! 99 dos sonserinos explodiram em risadas altas e debochadas, e Harry sentiu-se o último dos garotos quando foi acordado pela professora McGonagall.
O que acontecera ali? Tudo bem que Harry não queria vencer a Maratona Incantatem, mas ele também não estava pretendendo ser derrotado tão cedo! A única coisa que o consolou foi que Rony ganhou seu duelo contra a irmã de Cho, Ashley Chang - mas por contagem de pontos.
Malfoy não cabia em si de felicidade; a categoria 6º ano tinha acabado de ser fechada quando ele viu Nádia correndo ao seu encontro:
-Draco!
-Que foi?-ele inquiriu, disfarçando a voz interessada que ele de repente percebeu-se usando.
-Eu preciso muito falar com você...
-Malfoy! Ei, Malfoy!
Draco abriu os olhos. Sean estava do outro lado do dormitório, se trocando.
-Que é que foi, Dark-Angel?-perguntou, a voz mole de sono.
-O café da manhã, ora. Mas se quiser se atrasar pra aula, fique à vontade, já estou saindo.
A felicidade que Malfoy estava sentindo sumiu com o balde de água que tomara - a volta à realidade.
É isso aí; na realidade, Hermione, Catherina e Harry não tinham perdido seus duelos, e sim vencido-os com louvor. E Rony não ganhara por pontos - ele havia tido outra vitória rápida e brilhante, como a anterior. A segunda rodada da Maratona Incantatem fora dois dias atrás; hoje, era véspera do dia das bruxas -o dia em que a poção para Nádia ficaria pronta.
Neste mesmo dia, quando Harry e os outros chegaram para o almoço, pela terceira vez encontraram muita gente aglomerada na frente do mural de recados -os novos adversários para a terceira rodada da Maratona:
CATEGORIA: 6º ANO
Grifinória
Sonserina
Julliane Fletcher
Gregório Goyle
Nádia Fletcher
Pansy Parkinson
Hermione Granger
Emília Bulstrode
Catherina McFisher
Sally Wonder
Harry Potter
Draco Malfoy
Ronald Weasley
Vincent Crabbe
-Rodada interessante essa.-falou Rony, sorrindo.- Caí com o Crabbe! Esse duelo vai ser uma piada.
-Pior vai ser a Mione contra a Bulstrode.-sorriu Nádia.-Ah, claro. Quem mais poderia ter caído com o Malfoy senão o Harry?
-Cadê o nome do Sean?-perguntou Julliane, olhando atentamente a lista.- Ei, vejam isso: o Sean vai duelar contra o Neville!
-Ora, vejam só!-disse aquela conhecida voz arrastada atrás de Harry.-Nos veremos outra vez no palco, Potter!
Harry e os outros se viraram.
-É isso aí, Malfoy.-respondeu Harry.- E dessa vez você não poderá me jogar uma cobra sem ser desclassificado, não é o máximo?
-Veremos quem será o desclassificado, Potter.-respondeu Malfoy, virando as costas.
Estava na hora de executar seu plano; Draco foi até a mesa da Sonserina e se sentou para comer propositalmente ao lado de Sean.
-Ei Malfoy, por acaso você sabe com quem eu vou duelar?-perguntou Sean.
-Não.-mentiu Draco.-Por que não chama suas amiguinhas Fletcher pra perguntar?
Sean olhou para Malfoy, desconfiado, mas acabou gostando da idéia, e chamou ali Julliane e Nádia. Draco aproveitou a distração de Sean e despejou o conteúdo de um vidrinho que estava guardado nas suas vestes no copo de suco de Sean. Tanta coisa poderia dar errado naquele plano... Mas Malfoy tinha mais poção guardada se aquela tentativa desse errado. Depois do que passou uma eternidade, Julliane e Nádia chegaram na mesa da Sonserina.
-Por acaso vocês sabem com quem eu caí pra duelar?-perguntou Sean.
-Foi com Neville Longbottom.-respondeu Julliane.-Imagina que eu caí com o Goyle?
Malfoy parara estrategicamente de andar com Crabbe e Goyle havia algum tempo, por isso os dois estavam almoçando um pouco longe dali. Sean estendeu a mão para o copo de suco e Malfoy gelou inteirinho por dentro.
-Vocês querem suco?-ofereceu Sean, por puro cavalheirismo e para pura sorte de Malfoy.
-Ah, eu quero.-falou Nádia, enquanto Malfoy não cabia em si de ansiedade.
Ela estendeu a mão para o copo e já o levava à boca quando chegou o correio coruja. Uma das aves foi até Julliane, que abriu o envelope e disse:
-É do meu pai! Eu vou ler.
-Jully, depois você me deixa ler também? Quero ter notícias do seu pai, ele é muito legal.-falou Sean.
Nádia, inocente e finalmente, levou o copo à boca e bebeu uns três goles. Malfoy observou, eufórico, ela sentir um arrepio até os cabelos, para em seguida olhar pra ele do modo que ele vinha sonhando há muito tempo - mas o momento não durou quase nada, pois ela disfarçou bem depressinha, despediu-se de Sean e se afastou. Caramba, pensou Malfoy, imensamente feliz, ninguém me disse que a poção tinha efeito instantâneo.
Pelo resto do dia, ele executou a parte mais fácil do plano; onde quer que visse Nádia, olhava-a de modo tão ardente como se ela estivesse prestes a desmanchar. É claro que ela passou o dia muito vermelha, Hermione chegou a perguntar se ela estava com febre.
O que está acontecendo comigo?, perguntava-se Nádia, pensei que Draco tinha finalmente me deixado em paz, mas ele começou de novo a me olhar daquele jeito... E o que é pior: eu voltei a chamá-lo pelo primeiro nome. Não, isso deve ser só uma fase, por mais lindo que ele seja (e como ele é lindo!), não posso deixar que ele me toque de novo... Puxa, mas qual é o meu problema? Por que estou pensando nessas coisas outra vez? Simplesmente não posso estar gostando dele de novo, não posso chegar perto dele de novo... O que meus amigos diriam? O que Sean diria? Ah, tomara que o Draco, ou melhor, que o Malfoy fique só nos olhares, porque se ele chegar perto de mim outra vez não sei o que será de mim... Eu e o Sean estávamos ficando tão amigos, por que a sombra daquele menino voltou a me atormentar? Nossa, como estou ficando melosa, tenho é que parar com isso...
Para piorar a situação de Nádia, a todo momento ela estava vendo beijos à sua volta: quando não eram de Rony e Hermione, eram de Harry e Catherina. E isso, por mais que fosse contra a sua vontade, acabava dando-lhe vontade de ter um namorado também. Ela não tinha culpa por sentir isso, era contrário ao que ela queria. De noite, véspera do Dia das Bruxas, ela pensou em ir dar uma volta pelo castelo para mudar seus pensamentos de algum modo, então avisou seus amigos e pegou sua Capa da Invisibilidade, saindo pelos corredores. Entre sua turma de grifinórios, quebrar o regulamento já era tão normal quanto respeitá-lo.
Enquanto andava, a voz da pessoa que não saía de sua mente ecoou em sua cabeça: "Nádia? Onde você está?", num tom surpreendentemente doce que a deixou todinha arrepiada. Espera aí, pensou ela, ano passado o Malfoy não sabia Telepatia! "Eu aprendi Telepatia com meu pai nas férias, Nádia", continuou ele, adivinhando seus pensamentos quase tão bem quanto Catherina. "Já estava na hora, não acha? Por que não aparece na biblioteca agora? Estou indo pra lá, preciso falar com você".
Neste ponto ele já estava atuando, pois definitivamente o que ele queria com a Nádia não era conversar, e sim algo muito mais picante. Em condições normais, ela teria respondido uma série de palavrões e não teria ido, mas ela fez exatamente o contrário: não respondeu e foi silenciosamente até a biblioteca, quase esbarrando em Filch pelo caminho. Por fim, abriu a porta já destrancada (quem será que destrancou, hein? Adivinhem) e depois fechou-a com um feitiço, tirando em seguida a Capa.
Malfoy estava sentado numa mesa muito próxima.
-Olá.-disse ele, sedutoramente.-Senti saudades.
-Você me vê todo dia.-falou ela, apreensiva.
-Você sabe do que eu estou falando.-disse ele devagar, se levantando.- Hoje você me olhou diferente de antes.
-Eu não devia estar aqui.-balbuciou Nádia, olhando nervosa para os lados.-Você é um Comensal da Morte, isso deve ser só um plano...
-Este ano meu único plano é você.-disse Malfoy, quase com cara de injustiçado.-Confie em mim, desta vez não sou culpado de nada, nem conseguiria realizar qualquer plano.
Sempre que Malfoy a encurralava em algum lugar para se declarar, Nádia sentia medo. Mas naquele momento era diferente. Ah, meu Deus, se ele der mais um passo não sei se...
-Qual é o seu segredo, Nádia? Por que não posso parar de pensar em você?
Aí ele já estava falando o que vinha à cabeça, sem se preocupar se estava exagerando ou não.
-Draco, o que aconteceu com você?-ela se esforçou para perguntar.
-O que eu quero que aconteça ainda não aconteceu.-respondeu ele.- Não vou mais correr atrás de você, Nádia.-mentiu.- Esta é minha última tentativa. Se você disser não outra vez, eu desisto. Mas eu preciso saber: você quer ficar comigo?
Por essa ela não esperava; aquele não era o Draco Malfoy que ela esperava encontrar na biblioteca. Bem, mas ela também estava se sentindo muito diferente. Ela fez um esforço para erguer a cabeça e olhar nos olhos dele. Olharam-se por um longo tempo, até que ele desviou o olhar e disse, mirando o chão:
-Eu sabia, não precisa nem responder, você e o Dark-Angel já devem...
-Draco, espera.-Nádia ouviu-se dizendo.- Eu... Estou tentando te dar a boa notícia, eu tive um dia complicado, você não entenderia... Há um dia atrás eu te odiava, mas não sei porquê, de uma hora para a outra você mudou, e eu também...
Draco ergueu os olhos, esperançoso.
-Com isso você quer dizer que...
-É, acho que é isso mesmo...
Malfoy aproximou-se bem devagar, nessas horas Nádia sempre perdia o juízo, ela não reagiu nem falou nada, e logo Draco já estava diante dela - e tão devagar quanto se aproximara, tocou os lábios dela com os seus muito suavemente, e tão carinhosamente que ela nem podia reconhecer o menino que estava beijando.
Mais tarde, nenhum dos dois saberia dizer quanto tempo ficaram lá, mas se beijaram muito e de muitos modos, até que ele começou a se soltar, começando a tentar vencer o tecido da camiseta dela. Só aí ela fez um esforço parar dominar seus gestos e se afastou de Malfoy.
-Calma lá, eu não sou assim.
-Me desculpe, não farei isso de novo.
-Puxa, já é muito tarde. Vou voltar para a Grifinória.
-Posso te considerar minha namorada, né?
Nádia se limitou a sorrir, murmurando em seguida um fraco "claro".
Enquanto voltava para a Torre da Grifinória, de Capa outra vez, ela foi começando a medir as conseqüências: ela era a namorada de Draco Malfoy, justo ela! Mas o fato era que ele estava muito diferente, o que afinal não era total atuação por parte dele. Draco trabalhara duro para ter momentos como aquele, e mudara mesmo, de verdade. Nunca fora tão feliz.
Pois é, enquanto isso ela estava muito preocupada em como iria contar aos seus amigos grifinórios o que se passara. Ela não queria ficar escondendo, mas parece que pelo menos por enquanto não havia alternativa.
E Malfoy conseguira, enfim. Nádia era vítima da Poção do Amor.
Com tantos casais se assumindo por toda a escola, o Dia das Bruxas chegou, dia esse que prometia ser muito aborrecido para Julliane, que teria de cumprir detenção na sala de Snape. Quem aproveitou o dia foram os casais de namorados, inclusive os clandestinos, que passeavam ou simplesmente encontravam um lugar reservado para o tipo de coisas que queriam fazer. Julliane acabou passando o dia com Gina, Parvati e Simas, jogando Snap Explosivo e conversando.
Uns minutos antes do banquete, Julliane se despediu e foi como uma condenada no corredor da morte para as masmorras. Ela não tinha mais medo de Snape, se ele soubesse de alguma coisa já a teria colocado contra a parede. Entrou na masmorra de Snape, ele estava sentado à sua escrivaninha.
-O que está olhando?-disse ele, rude.- Ali estão os materiais de limpeza. Pode começar.
Julliane murchou por dentro.
-Professor, o senhor não vai para o banquete?-perguntou, mais desanimada do que antes.
-Não é da sua conta, mas a resposta é não.-vociferou ele de volta.- Achou que ninguém iria supervisionar a sua limpeza, é?
Muito incomodada e aborrecida, Julliane começou a limpar a sala, começando por umas prateleiras bem longe de Snape. Enquanto ela limpava, ele pegou as redações e começou a corrigi-las. Jully ficou naquele silêncio desconfortável por mais de uma hora, imaginando como deveria estar gostoso o banquete no Salão Principal. Limpou o chão, os armários de ingredientes, até só sobrar a escrivaninha onde Snape trabalhava.
-Professor, vai querer que eu limpe a sua escrivaninha também?-perguntou, mirando o chão.
-Claro.-respondeu ele, secamente.-Comece por aquele lado.
Julliane a esta altura já estava morrendo de sono e de fome, e enquanto ia torcer o pano com que limparia a mesa, ouviu um grito contido do professor.
-Snape?-perguntou, sem sair de onde estava.-Snape? Professor, o que houve?
-Nada, Fletcher!-ouviu-se a voz de Snape.-Continue seu trabalho!
O que esse professor tem de arrogante tem de mau ator, pensou Julliane, enquanto pegava o pano torcido e voltava para onde Snape estava. Ele estava de frente para um armário, com o braço esquerdo embrulhado nas vestes.
-O que aconteceu?-Julliane perguntou.
-Não é do seu interesse, Fletcher. Ande, continue a detenção.
-Ah, qual é professor, quem o senhor pensa que está enganando...
Ela puxou a porta do armário e viu o braço de Snape envolto em sangue, mas ele se esforçava por manter o rosto impassível.
-O senhor derrubou Poção Brotante aí!-exclamou Julliane, horrorizada.-Hum, isso deve estar doendo à beça, vou na enfermaria para o senhor...
-Que pensa que está fazendo, Fletcher?-inquiriu Snape.-Eu sei me cuidar, continue seu trabalho!
-Sabe tanto que ainda não achou a Poção Restabelecedora, que está logo ali.-replicou Jully, pegando vidro.
-Não me enfrente, srta. Fletcher!-bradou Snape, meio que perdendo seu auto-controle.
-Uma vez na vida, professor, deixe de ser durão.-falou Jully.-Vamos, onde o senhor guarda o algodão?
Muito a contragosto, Snape indicou um pote numa prateleira próxima, Jully foi até lá, pegou um tufo de algodão e embebeu na Poção Restabelecedora. Com uma habilidade incrível, fez o professor sentar-se enquanto ela limpava seu braço. Ela sabia que devia estar doendo muito, mas teria ficado muito admirada se Snape tivesse soltado um só gemido.
-Pronto.-falou ela, quando o sangue parou de brotar do braço dele.
-Pode ir embora agora.-disse ele, mirando o chão.-Odeio ter que fazer isso, mas credito 10 pontos para a Grifinória.
Julliane deu um sorriso satisfeito e foi guardar o pano que iria usar. Na volta, já estava pensando se sua prima lhe teria guardado alguma coisa do banquete, quando esbarrou em Snape, outra vez de pé. Foi erguer a cabeça para falar que ele devia ficar sentado por um tempo, quando percebeu que estava próxima demais dele - a distância entre as faces era de pouco menos de dois centímetros. Ambos sentiram alguma coisa muito gelada afundar no estômago, e se Julliane não estivesse com tanta fome talvez aquele climinha tivesse resultado em algo mais - só que ela resolveu disfarçar, falando um cômico "Epa", antes de dar dois passos pra trás.
Quando ela saiu pela porta da masmorra, Snape ouviu-se murmurando:
-Mais quinhentos pontos para a Grifinória...
Pernas de gelatina - agora Julliane sabia o verdadeiro significado da expressão. Passou pelo Salão Principal, seu queixo veio abaixo: ela viu Malfoy e Nádia chegando do jardim, abraçados e com aquela cara de felicidade. Por um momento, Julliane não conseguiu se mexer nem falar nada; mas no instante seguinte, o olhar de Nádia encontrou o dela. Sua prima podia ver claramente, mesmo da distância a que estava, ela gelar por inteiro, assumindo uma expressão bastante preocupada. O banquete havia acabado havia muito tempo, e somente eles estavam ali.
-Nádia? O que você está fazendo aqui? Ou melhor, o que está fazendo com ele?
Malfoy desviou o olhar, entretendo-se no teto. Nádia tentou responder.
-Ah, oi Jully... Ah, droga, não tenho como explicar, você entendeu melhor do que eu queria.-virou-se para Malfoy.- Draco, a gente se vê, agora preciso conversar com ela.
Draco deu um beijo no rosto da namorada e desejou um cínico "boa-noite" para Julliane, saindo de cena.
-O que significa isso?-inquiriu Julliane, incrédula.
-Puxa, Jully, isso é uma longa história... No ano passado e eu começamos a nos gostar, mas no fim do ano nós descobrimos que ele era o culpado pelas coisas que aconteceram por aqui, e eu não quis saber dele. Desde antes de chegarmos em Hogwarts, ele me perseguia, e, é claro, eu não sentia mais nada por ele. Mas ontem... Ontem eu não sei o que aconteceu, ele passou a me olhar diferente, e eu acabei olhando pra ele também... Nós nos encontramos na biblioteca ontem à noite, ele me pediu em namoro, não consegui negar... Mas ele está muito diferente, está mudado mesmo, nem eu estou acreditando que tudo está indo tão bem...
-Enquanto você ficar escondida, estará tudo bem mesmo.-retrucou Julliane.- Mas imagine quando o Sean e os outros da Grifinória souberem. Quando o seu pai souber...
-Julliane, pelo amor de Deus, prometa-me de que vai guardar segredo.
-Eu vou guardar segredo, mas até quando você pensa que conseguirá esconder do Harry e dos outros?
-Não sei, Jully, mas eles vão arrancar o meu pescoço de descobrirem. Quero esconder ao máximo, até agora o Draco me entendeu...
-Mas Nádia, se o Draco quase matou você e os outros no ano passado, como você pôde...
-Jully, quando o assunto é o Draco, só consigo ter certeza de uma coisa... Que eu gosto demais dele. Não sei o que deu em mim, ele ficou tão carinhoso comigo...
Só descobrir que sua prima estava namorando Draco Malfoy poderia fazer Julliane esquecer do que acabara de acontecer nas masmorras...
