Aos trancos e barrancos, fevereiro chegou. A neve já estava começando a derreter e o castelo estava cada vez mais aquecido. E as aulas tinhas recomeçado pra valer, o fato de estarem no sexto ano de Hogwarts pesava cada vez mais sobre os alunos.
Harry, Rony, Hermione e Catherina, acompanhados de Julliane e Sean, foram para a biblioteca, logo no primeiro sábado em que se viram livres. Sob o olhar de Madame Pince, baixaram todos os livros de Poções que puderam, e cada vez que alguém achava uma página intitulada "A Poção do Amor" os seis vibravam de esperança, torcendo para que ali estivesse o bendito antídoto.
Mas nada encontraram. Em mais de dez livros descobriram a Poção do Amor, seus efeitos colaterais, seus resultados, seus ingredientes, o modo de preparo... Até acharam no livro Curiosidades Malucas Sobre Malucos Curiosos algumas histórias de pessoas que tinham ousado tentar se aproveitar de uma poção potente como aquela... Em nenhum dos casos o enfeitiçado voltava ao normal.
-Gente, - falou Julliane, exausta depois de duas horas frenéticas de procura.- Estou ficando com medo. E se não tiver um antídoto?
-Nem diga isso -disse Sean.- Imagine só, a Nádia eternamente apaixonada pelo Malfoy...
-Mas isso não é possível!-exclamou Mione, jogando-se numa cadeira.-Não tem nada! Como pode, numa biblioteca desse tamanho, não ter UM antídoto??
-O Snape bateu tanto na tecla de antídotos, no quarto ano!-choramingou Rony.- Se tivéssemos prestado atenção nas aulas...
-Eu prestei atenção nas aulas.-disse Hermione.- E ele nem de longe tocou no assunto.
-Pôxa, mas que droga de poção é essa que dura pra sempre?-exclamou Harry.
-Uma poção bem chata, com certeza.-disse Sean.- Não há pelo menos como inverter os ingredientes?
-No mínimo sairia uma Poção do Ódio, e nós apenas queremos normalizar a Nádia.-falou Catherina.
-Bom, a Nádia odiava o Malfoy.-tentou Rony.
-Com ou sem Poção do Ódio, esse cansaço de biblioteca não adiantou em nada.-suspirou Julliane.-É melhor irmos embora desse poeirão todo antes que a gente tenha um ataque de bronquite. A Madame Pince bem que podia limpar esse lugar de vez em quando, não acham?
Harry, Rony, Mione e Cathy foram embora pouco depois. Sean e Jully ficaram mais um tempo falando a besteira nossa de cada dia, quando ela notou que parecia haver alguém espiando os dois.
-Besteira -disse Sean- Por que alguém ia perder tempo nos espionando? Não estamos fazendo nada se interessante.
-Não sei.-falou Jully.- Do jeito que Hogwarts anda sinistra ultimamente...
-Hogwarts sempre tem algum problema desde que o Harry entrou.-comentou Sean.- Ele é um tremendo pé frio, você não acha? Até ele chegar dizem que a escola era um mar de rosas. Foi só ele entrar que apareceu Pedra Filosofal, Câmara Secreta...
-Sean, o nível do seu besteirômetro vai estourar!!-riu Jully.-Mas você até está certo, não deve ter ninguém nos espionando.
-Julliane, sabe no que eu andei pensando?-perguntou Sean, baixando a voz.
-Em criar cérebro?
-Pára, sua palhaça, agora é sério.-interpelou ele.- Andei pensando em como esses quatro da Grifinória são confiáveis. Por que você não conta pra eles quem você é?
-Ficou louco? Eles são confiáveis, mas pra eles eu ainda não sou. Vivem tendo uma porção de conversinhas secretas e mudam de assunto quando eu chego perto.
-O que eles podem saber e nós não?
-Um monte de coisas, Sean. Ano passado, descobriram tudo que envolvia o assassinato de Jake Warbeck, não foi? Você mesmo disse, desde que o Harry chegou a Hogwarts ele só entrou em encrenca, e tudo por causa do Lord das Trevas. Nós já sabemos que ele não descansa um minuto, está sempre tentando matar o bebê que quase aniquilou com ele.
-Então você acha que eles sabem algo sobre as mortes de Ashley Chang e Olga Moore?
-Você não entendeu direito, Sean.- Do culpado com certeza eles não sabem, mas alguma pista eles têm, disto eu tenho quase certeza. O Rony e a Mione ajudam o Harry a sobreviver nessa escola de doidos desde o primeiro ano, e a Catherina foi transferida ano passado.
-A Nádia também andava com eles, lembra-se?
-Foi, e ela me contou toda arrepiada que o Lord das Trevas praticamente se encarregou pessoalmente de impedir que ela caísse na mesma Casa que os outros. Disso eu soube nas férias.
-Quando ela ainda não tinha sido contaminada pelo vírus Malfoy.
-Pois é.
-Escuta, Jully, mas você acha que eles vão tacar pedras em você se você contar...?
-Não tenho idéia, Sean. Vamos deixar passar mais um tempo.
Já que o papo é sobre confiança, vamos ver a quantas estava o quarteto de ouro, conversando praticamente sobre o mesmo assunto.
-Então nós vamos contar tudo para a Julliane?-perguntou Ron.
-Já está mais do que na hora.-falou Catherina.- O que ela poderia estar fazendo de errado?
-Só tem um detalhe -disse Hermione.- Se vamos confiar a história da Victoria e companhia à Jully vamos ter também que confiar no Sean, pois ela vai contar tudo a ele.
-Eu ainda sou a favor.-disse Harry.- O Sean é o único sonserino decente que eu já vi em toda a minha vida.
-Falando e sonserino decente -disse Rony.- Nós sempre passamos batido por essa questão: por que o Sean é da Sonserina se ele não tem a personalidade de um sonserino?
-Ah, gente, não sei quanto a vocês, mas eu não agüento mais perguntas - exasperou-se Catherina.- Minha cabeça está prestes a rachar em mil pedacinhos.
-Só vamos terminar o assunto.-disse Mione.- Quando pudermos, falaremos então com Julliane e ponto.
Voltando a Jully e Sean, que ainda estavam na biblioteca...
-Chega desse papo baixo-astral -disse Sean.-É melhor irmos embora daqui, não achamos nada contra a Poção do Amor.
-Pois é...-dizia Julliane, se levantando.
Ela ia dizer alguma outra coisa, quando os dois escutaram um ruído vindo das prateleiras.
-Você escutou dessa vez?-perguntou ela.
-É claro.-disse ele. Mas por que alguém estaria nos espionando?
-Não tenho a menor idéia. É melhor irmos cada um pra sua sala comunal antes que o 007 das estantes leve algum tropeção ridículo.
-Deve ser um menininho do segundo ano te espionando.-riu Sean.
-Ha, há, há. No mínimo pode ser o seu fã-clube de tietes apaixonadas.-zombou Jully.
Despediram-se e cada um tomou o caminho para sua sala comunal. Julliane estava com a quase concreta sensação de que estava sendo seguida, e a todo momento ela olhava pra trás, na tentativa de surpreender alguém.
Até que, finalmente, surpreendeu seu perseguidor. Olhando pra trás pela zilhionésina vez, surpreendeu Snape. Ele se viu ali, pego no pulo, e mal se moveu sob o olhar acusador de Julliane.
-O que está fazendo atrás de mim?
Ele ainda tentou manter a moral:
-Como assim, atrás de você? Tenho mais o que fazer a ficar seguindo você.
-Não parece. Arranja tempo até pra ir ao meu dormitório!
As mãos dele fecharam-se em punhos:
-Quer parar de falar nisso?
Julliane se aproximou do professor e falou, num tom mais moderado:
-Olha aqui, Severo, quero te perguntar uma coisa e quero sinceridade na resposta. Por fez aquilo na noite do Baile de Natal?
Antes de contar o que aconteceu depois, eu quero dizer uma coisa: Snape e eu temos algo em comum: não conseguimos expressar nossos sentimentos com facilidade. E foi nessa rua sem saída que Julliane o encurralou. Resolveu dar um jeito de ganhar tempo.
-Não posso conversar com você nem aqui nem agora.
-Quando então?
-Na sala ao lado da biblioteca, amanhã.
-Que horas?
-Não sei, quando você pode?
-Acho que depois do jantar.
-Que seja.
Aquele fim de semana seria, para nossa atual personagem-centro Julliane, o mais difícil e ao mesmo tempo mais feliz de toda a sua vida.
De repente, tudo parecia ter se voltado para ela, e Jully não era o tipo da pessoa que gostava de ter todas as atenções. Não, ela não fazia parte do grupo dos tímidos, que ficam vermelhos e subitamente gagos quando recebem muita atenção. Ela apenas se sentia desconfortável. Por isso, ultimamente andava muito nervosa, também ocupada em resolver se contaria ou não sobre seu "passado" ao quarteto grifinório.
O que eles diriam? Harry, principalmente, ia ficar sempre com um pé atrás com ela. E Rony, que era o mais desconfiado, qual seria a sua reação? Jully tinha medo de contar apenas com a amizade de Sean outra vez.
Deitada em sua cama, à noite, ela começou a pensar com um sentimento próximo ao pânico no encontro que tinha marcado com Snape. O que alguém como ele tinha a dizer para ela? Droga, ela pensou, eu tinha prometido a mim mesma não ficar a sós com ele de jeito nenhum... Com certeza estou tendo uma regressão, tipo aquelas criancinhas do primário que se apaixonam pelo professor. Isso nunca vai dar certo.
Mas numa fan fic tudo é possível!!
O domingo para Jully foi ainda pior que o sábado. Logo no almoço, o quarteto grifinório foi até ela.
-Jully, será que nós podemos conversar com você depois do almoço?-pediu Hermione.
-Sobre o quê?-perguntou Jully, derrubando um garfo.
-Ah... É o tipo de coisa sobre a qual não podemos falar aqui.-disse Harry.
Sem ter alternativa melhor, depois da refeição, o agora quinteto se trancou no dormitório onde dormiam Cathy, Mione e Nádia.
-Então... Podem dizer.-falou ela.
Preparem-se, meus amigos: essa conversa vai ser realmente longa.
-É o seguinte.-disse Hermione.-Você deve saber que, todo ano, Voldemort tenta chegar ao Harry de algum modo.
Como esperado, Jully teve um leve tremor ao ouvir o nome de Voldemort.
-Vocês falam o nome dele?
-Nós estivemos de cara com ele ano passado.-disse Rony.- A Nádia te contou, não foi?
-Ahã.
-Pois é.-continuou Mione.- E este ano ele está usando lembranças que invadem o espaço de uma sala e nós as vemos quando entramos nelas.
-Lembranças?
-É, são imagens de Hogwarts há cinqüenta anos atrás.-contou Harry.- Sempre aparece nelas uma tal de Victoria, da Corvinal, que foi namorada do... Você-Sabe-Quem, nos tempos de escola.
-Ele teve uma namorada?
-A gente também pensava que isso fosse impossível.-disse Catherina.- Mas parece que é um fato. E como se não bastasse, ainda havia uma tal Samantha, que também era apaixonada por ele. Pelo que vimos em todas as lembranças, o Lord das Trevas se apaixonou justamente por uma garota que nasceu trouxa. Ela era do bem, quis denunciá-lo quando ela descobriu que era ele o herdeiro de Slytherin que tinha aberto a Câmara Secreta. Mas ele conseguiu impedi-la.
-Como?
-A gente não sabe, mas ele conseguiu.-continuou Rony.-Ela chegou a engravidar dele, mas perdeu. Depois que eles terminaram Hogwarts, achamos que ele conseguiu convencê-la a se unir a ele e ela se tornou uma Comensal da Morte. É isso, não é?
Harry, Catherina e Mione confirmaram.
-Mas... então as mortes de Olga Moore e Ashley Chang não têm nada a ver com Você-Sabe-Quem?
-Achamos que têm.-disse Harry.- Olga Moore nós não sabemos como morreu, mas ela chegou a me contar que tinha sido atacada por alguém encapuzado e que tinha uma voz monstruosa. Alguns dias depois ela morreu.
-E Ashley Chang?
-Eu e o Harry saímos de uma das lembranças e a encontramos morta.-disse Catherina.- A profª Sinistra também foi atacada, mas ela estava só desmaiada, foi o Harry quem a encontrou.
-Nos desculpe, Julliane, nós não te contamos antes porque...-dizia Harry.
-... porque vocês não me conheciam direito e não tinham ainda confiança em mim.-completou Jully, num sorriso.- Eu compreendo, e é bom mesmo que depois de tantos anos sendo perseguidos vocês aprenderam a confiar desconfiando.
-É, mas nós percebemos que se esforçando tanto pra trazer a Nádia ao normal você merecia a nossa confiança há muito tempo.-disse Hermione.
Jully olhou para seus amigos, achando que a coisa mais acertada a fazer seria retribuir tamanho gesto de amizade.
-Bom... eu quero agradecer a vocês.-ela disse.- Mas nós estamos quites, eu também guardei de vocês um segredo, muito mais pesado do que a descoberta da namorada de Você-Sabe-Quem.
Os outros se entreolharam, estranhando.
-E, por isso eu queria pedir... eu não tenho culpa do que vou contar.
-Pode falar.-disse Rony.
Eu devia revelar isso mais pra frente, mas acho que estou chegando nas curvas finais da fic e você tem direito de saber alguma coisa desde já. Julliane estava nervosa, mas ela conteve-se e soltou a revelação:
-Na verdade, eu... não sou prima da Nádia, não sou filha de Ralph Fletcher.
-Como assim?-deixou escapar Harry.
-O meu pai na realidade é o ... Karkaroff.
Surpresa total entre os grifinórios; Rony tomou um susto tão grande que caiu da poltrona.
-Como é?? Explique isso!!
-Há dois anos, quando eu estava no quarto ano em Durmstrang, Karkaroff selecionou os alunos que viriam para Hogwarts, participar do Torneio Tribruxo. No último dia que ele passou em Durmstrang , ele me chamou na sala dele. Eu me lembro tão bem... Ele respirou fundo e disse que ele era o meu pai.
'Ele explicou: não sei se a Ná contou a vocês que a minha mãe, Marguerite Fletcher, morreu no meu parto, que foi alguns meses depois do casamento dela com Ralph. Todo mundo sabe que Karkaroff foi um Comensal da Morte, tem a Marca Negra no braço e tudo o mais. Pois bem, minha mãe também era uma Comensal da Morte, e uma das mais cruéis.
'O Ralph, junto de Moody, pegou o meu pai e a minha mãe, quando ela já estava grávida de mim. Mas Ralph teve que levá-la ao tribunal, zelar por ela e tudo o mais... Eu sei que a minha mãe não prestava, ela seduziu Ralph Fletcher e ele se apaixonou por ela, para que assim ele testemunhasse a favor dela e ela fosse absolvida. Ele estava tão cego que por influência dela, que acabou sendo o responsável pela absolvição de Karkaroff também. Ouvi dizer que ele tinha sido solto por ter denunciado outros Comensais, mas isso não era a verdade. Um tempo depois, a minha mãe casou com Ralph Fletcher, deu à luz a mim e morreu. Quando Karkaroff me contou que na verdade eu era filha dele e não do homem que eu mais admirava no mundo, o Ralph, eu o odiei. Ele podia ser um tremendo egoísta, trapaceiro e amante de Artes das Trevas, mas eu percebi que ele gostava mesmo de mim por eu ser filha dele, porque ele ficou visivelmente sentido quando eu o disse que o odiava. Eu sei que é uma coisa dizer que eu odeio os meus pais, mas eu nunca consegui ver nada de bom neles. Quando eu perguntava sobre a minha mãe a Ralph, ele inventava mentiras apenas para que eu achasse que ela tinha sido uma boa pessoa. Eu não o culpei por ter mentido pra mim; ele não queria que eu sofresse desde pequena sabendo da minha verdadeira árvore genealógica.
'Aquele diz em Durmstrang foi a última vez em que vi o meu pai, porque no dia seguinte ele veio pra Hogwarts, passou o ano passado fugindo do Lord das Trevas e morreu no começo desse ano.
-Filha do Karkaroff...-murmurou Mione.-E pensar que nós achamos que ele tinha colocado o nome do Harry no Cálice de Fogo.
-Não, ele nunca teria conseguido.-disse Jully.- Eu acompanhei as notícias do Tribruxo de Durmstrang, também caí pra trás quando li que o famoso Harry Potter era o quarto campeão... E quando saiu a notícia de que o Harry e o Krum estavam apaixonados pela Hermione, então? Uma menina que adorava o Harry, minha colega, colocou pus de bubotúberas e mandou pra você, Mione!
-Então foi ela!!-exclamou Hermione.- Mais tarde você me dá o nome dela que eu quero retribuir a gentileza.
-Mas isso ainda não é tudo.-continuou Julliane, segurando a manga do uniforme como num instinto.-Eu sou filha de dois Comensais da Morte que tinham a Marca Negra, então eu infelizmente tenho uma sombra...
Ela puxou a manga da blusa, e num espasmo de horror Harry viu no braço dela uma sombra muito pálida da caveira com língua de cobra.
-Por favor, gente, não pensem que eu sou uma Comensal... É terrível ter esse sinal, e ainda por cima em Durmstrang eu tinha que praticar Artes das Trevas... a cada feitiço a marca ficava mais forte, eu tive medo de que o meu sangue um dia me fizesse ir para o lado de Você-Sabe-Quem. Eu me senti até abençoada quando caí na Grifinória, pensei que eu tinha tudo para ser da Sonserina.
-Mas você caiu na Grifinória.-disse Catherina.- E isso significa que você superou o seu sangue.
-É -disse Hermione.-Nós não vamos perder a confiança em você porque o seu pai é Karkaroff, de jeito nenhum.
-Ao contrário -acrescentou Harry.- Você contou pra gente e por isso provou que é mesmo nossa amiga.
-Obrigada mesmo, gente.-agradeceu Julliane, sentindo-se agora muito mais leve, como se o peso do seu segredo tivesse sido tirado de suas costas e dividido entre Harry, Rony, Hermione e Catherina.
Mas aquele não era seu último segredo.
Bom, o dia ainda não tinha terminado. Depois dessa seção de rompantes de amizade, Julliane ainda tinha que encarar o tenebroso encontro que ela tinha marcado com Snape, depois do jantar.
Já durante a refeição ela estava uma pilha de nervos, imaginando o que poderia acontecer, e ela mesma se surpreendia com as hipóteses malucas que passavam pela cabeça dela. Quando acabou de comer, disse a seus amigos que ia conversar com Sean, prometendo ainda não revelar nada a ele sobre Victoria.
Felizmente, nenhum deles ligou muito para o fato de Jully ter ido a um normalíssimo jantar de domingo ligeiramente maquiada. Ela se levantou e quando seus amigos sumiram na direção da Torre da Grifinória, chispou para a saleta ao lado da biblioteca.
Assim que ela abriu a porta, tocando a maçaneta com sua mão trêmula, dois archotes se acenderam com a rapidez de um feitiço. Era uma sala pequena, tinha algumas estantes cheias de livros empoeirados na parede de fundo, uma mesa rústica de madeira com duas cadeiras; uma vazia, e na outra, de costas para Jully, um homem adulto sentado. Snape, é claro.
-Pensei que você não vinha.-disse ele, sem se virar.
-Eu tenho uma característica: -retrucou Julliane.- sou muito curiosa.
-Imagino que queria mesmo saber a resposta para aquela pergunta.-ele ponderou, virando-se e pondo os cotovelos na mesa.
-Caso contrário eu não estaria aqui.-disse ela.- Muito bem, pode falar.
Ela se sentou de frente para ele e Snape começou a falar.
-Pois bem. Você me perguntou por que eu... fiz aquilo com você no Baile de Natal.-ele perdeu totalmente sua pose indiferente ao continuar.- Eu percebi que você devia ser filha do Karkaroff, você é muito parecida com ele quando mais jovem. Eu não prestei atenção em você por querer, eu... acho que você possui algo como um ímã, em algum lugar aí dentro.
-Você está me dizendo que me segurou e me beijou porque tem a impressão de que eu tenho um ímã em mim?
-Sim, digo, não. Quero dizer, posso resumir o motivo em quatro palavras?
-Creio que pode.-respondeu Julliane, engolindo em seco.
Snape falou as quatro palavras sem olhar pra ela:
-Estou apaixonado por você.
Julliane esperara por isso, sonhara com isso, mas quando ouviu, quando seus seis sentidos (ela é sensitiva, tem seis) captaram que agora aquilo era real, ela foi tomada de tamanho espanto, que não conseguiu mexer um músculo por alguns segundos, apenas olhou sem reação para o rosto de Snape, que tinha uma expressão quase irreconhecível, de apaixonado sem esperanças.
-Por isso marquei esse encontro.-disse ele, parecendo até outra pessoa.-Porque não podemos mais ficar tão perto quanto estamos agora. Prometo que nunca mais farei aquilo de novo.
-Não... fará?-murmurou Julliane, voltando a si.
Snape ergueu os olhos, mas disfarçou:
-Seja clara.
-Está bem. Eu também gosto de você, Severo.
Acho que foi a primeira vez na vida que ele escutou essa frase, porque ele demonstrou que era a última coisa que ele esperava ouvir (OBS: vocês não sabem como está sendo difícil pra mim escrever essa cena!! Estou toda vermelha...). Ele se levantou, derrubando a cadeira, e Jully também. Eles ficaram muito próximos outra vez, e ele disse:
-Isso é... sério?
-Não me faça repetir...
Nenhum dos dois pensou duas vezes para se beijarem outra vez, de modo tão intenso quanto da primeira vez, mas agora era um beijo sem dúvidas, mais tranqüilo mas não menos ardente, é até fácil imaginar a cena: ele, segurando a nuca dela por baixo dos longos cabelos ondulados, ela com as mãos nos ombros dele. Uma ceninha de novela. Mas acho que em novela nenhuma até hoje um professor de Poções se apaixonou por uma aluna filha de dois assassinos, e ainda por cima, ela retribuiu!
Eu adoro descrever os beijos da Jully com o Snape. Eles são diferentes, sabe, não é aquele beijo carinhoso do Rony com a Mione, nem o enfeitiçado da Nádia com o Malfoy, e muito menos o eternamente mal resolvido do Harry com a Catherina, é algo diferente... Menos tedioso, eu acho.
