Harry Potter e a Maratona Incantatem

Capítulo Vinte e Seis - Caos em Hogwarts

Quando Harry, Catherina e Hermione adentraram a sala comunal, Rony estava sentado no chão, com a cabeça nos joelhos. Assim que eles o viram, bombardearam-no com perguntas.

-Rony, o que está acontecendo?

-Você sabe por que nos trouxeram de volta?

-Julliane...-murmurou Rony, com a voz abafada.

-Que tem ela?-inquiriu Mione, falando com ele pela primeira vez em dias.- Onde ela está?

Rony arquejava. Finalmente, falou tudo de uma vez:

-Voldemort matou Julliane!

-O... que você disse?-Harry falou, bem devagar.

-Isso aí!-exclamou Rony, exaltado. E em seguida, contou o que tinha ouvido e presenciado, nem se importando que todo o resto da Grifinória ouvisse sua narração. Quando terminou, muitas pessoas na sala comunal estavam chorando.

Logo, o retrato da Mulher Gorda girou para admitir outra pessoa - Nádia.

Ela chorava com muita força. Olhou para os amigos e correu até eles.

-Nádia -falou Catherina, limpando lágrimas de seu rosto.- você já soube?

-McGonagall me contou enquanto eu vinha pra cá... Mas como pode ter acontecido isso com a Jully? Será que o Sean já sabe?

-Acho que não.-falou Rony, tristemente.- A não ser que Snape tenha contado a eles.

Então, Harry notou uma diferença inexplicável no olhar de Nádia. Mione também pareceu perceber:

-Nádia -falou ela, baixando a voz.- alguém te livrou da Poção do Amor?

Por um instante, Harry pensou que ela saísse gritando furiosa com Hermione, mas não.

-O Sean conseguiu. Temos que conversar.

-Temos mesmo.-concordou Harry.

-Onde podemos ir?-perguntou Rony.

-A lugar nenhum, agora.-falou Catherina, olhando para a profª McGonagall, que chegara à sala comunal, naquele instante, e despejou um discurso já conhecido de todos eles, do tipo não saiam da Grifinória, agora serão escoltados de aula a aula por um professor, e em seguida convocou todos os grifinórios para o jantar.

O Salão Principal estava desoladamente silencioso. Mesmo tendo entrado naquele mesmo ano para Hogwarts, Julliane era bem quista por toda a escola, e todos sentiam sua falta. Sean, que chegara de Hogsmeade tão confuso, agora tinha que lidar com a morte de sua melhor amiga...

Vamos voltar um pouco para acompanhar as reações de Sean àquele dia.

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Ele deixou Nádia e Malfoy, todo confuso. Filho do Lord das Trevas? Impossível. Não podia ser verdade. Ele tinha o sangue do homem que encheu todo o mundo mágico de pavor? Sua mente se recusava a aceitar. Tom Riddle era seu pai... Tom Riddle era o nome verdadeiro de Você-Sabe-Quem. Por isso...

Sean se lembrou da cara esquisita que Harry e os outros tinham feito ao ouvir seu sobrenome. Eles sabiam... e não disseram nada a ele! Bom, pensando bem, nem teria como. Imagine a conversa entre Harry e Sean: "Oi, Sean, tudo bom? Então, cara, lembra do nome do teu pai? Pois então, esse é o Lord das Trevas, você é filho do infeliz que matou os meus pais e tenta me matar desde que eu sou um bebê"!

Sean continuava andando sem rumo pelas ruas de Hogsmeade, quando ouviu vozes, mandando que os alunos de Hogwarts voltassem para a escola. McGonagall era quem gritava, parecendo nervosa.

-Alunos de Hogwarts, alunos de Hogwarts!-chamava ela.-Voltem para o castelo imediatamente!

Ainda aturdido, ele tomou seu rumo, de cabeça baixa. Mas ao menos essa volta repentina de Hogsmeade o fizera esquecer de Malfoy, Nádia e o sangue Riddle, para imaginar o que diabos estaria acontecendo em Hogwarts.

Nos portões do castelo, encontrou Harry e Catherina, também preocupados.

-Vocês sabem o que está havendo aqui?-perguntou Sean.

-Não fazemos a menor idéia.-disse Catherina.- Não estão explicando nada a ninguém.

-Acham que pode ser algo sério?

-Provavelmente -respondeu Harry.-Não teriam feito esse caos à toa...

Sean seguiu caminho até a Sonserina. Pensou em perguntar a Julliane quando a visse no Salão Principal, mas, claro, ela não estava lá. Não estava mais em nenhum lugar onde Sean pudesse segui-la.

Mas ele não soube disso logo. Entrou em sua sala comunal e sentou-se num sofá, esperando por notícias. Cerca de quinze minutos depois, quando o lugar estava cheio de alunos ansiosos, Snape entrou, e todos fizeram silêncio. Ele passou os mesmos recados que McGonagall passou aos grifinórios, mas quando Snape virava as costas para ir, ouviu-se alto a voz arrastada de Malfoy:

-Será que ao menos podemos saber o motivo de estarmos presos aqui e terem estragado o nosso fim de semana, professor?

Se fosse um aluno de outra Casa Snape com certeza não teria respondido; mas aquele era seu garoto de ouro - Malfoy.

-Houve outro ataque.-disse ele, depressa.-Outra aluna morreu.

-Quem foi?-esganiçou-se Pansy Parkinson.

Snape fez uma leve pausa antes de dizer o nome:

-Julliane Fletcher. Sean olhou o professor incrédulo; levantou-se.

-Julliane está morta?

-Está.-disse Snape, com um ponto de sentimento indecifrável em sua voz.- Agora acompanhem-me, sonserinos. Tenho que levá-los até o Salão Principal para o jantar.

Se as coisas podiam piorar, Sean duvidava. Durante o caminho até o Salão Principal ele viu os olhares de pena das outras meninas da Sonserina, e as odiou por isso. Sean nunca havia se sentido tão triste e tão só na vida, nem durante aquele ano horrível que passou fugindo com sua mãe sem saber do que ou de quem.

Julliane, morta... Ele se lembrou do dia em que se conheceram, durante uma aula de Artes das Trevas, em Durmstrang. Ele tinha repetido o ano e agora eles estavam na mesma classe. O prof. Stevens dividia os alunos em duplas para um trabalho sobre os Feitiços Ilusórios (como aquele que usara em Hermione, sem querer, na Maratona).

-Summers e Cooper, Winter e Oliver, Riddle e Fletcher...

Desde aquele dia, os dois se tornaram amigos. Primeiro conhecidos, oi e tchau nos corredores, depois algumas reclamações de trabalhos escolares... Começaram a andar sempre juntos, e em Durmstrang todos começaram a achar que eles estavam namorando, mas eles já tinham um acordo para nunca confundir a amizade que nutriam com paixão. E o acordo foi muito bem cumprido dos dois lados.

Quando sua mãe lhe disse que no ano seguinte, ele estudaria em Hogwarts, Sean não ficou muito feliz. Não só por perder sua amiga, mas também porque ela precisava dele. Ela tinha um segredo gravíssimo e ele era a única pessoa que o conhecia. Assim, ficava mais suportável a vida de Jully. Para sua alegria, no último dia do quinto ano ela lhe contou que seu pai a mandaria estudar na Inglaterra, com sua prima Nádia. Eles ficaram muito felizes em saber que não perderiam aquela amizade que era tão importante para os dois.

"Então aquela é a tal Nádia?"

"É."

"Você está certa, ela não tem nada a ver com você, ela é muito bonita."

"Obrigada e volte sempre, mas o que você quis insinuar?"

E agora estava tudo acabado. Jully estava morta. Jully estava morta e Sean sentiu um vazio tão grande, o pensamento de que nunca mais veria sua grande amiga, então ele localizou finalmente o vazio em seu coração e tudo se transformou numa dor física. Doía tanto que ele achou que não ia suportar. Achou que aquele sofrimento invadiria todos os outros órgãos e o consumiria por dentro. Mas Sean Riddle continuava vivo.

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Ele foi quem mais sofreu com a morte de Jully, mas o restituído quinteto grifinório também andava à beira das lágrimas. À beira não, porque Nádia não parava de chorar, contagiando Hermione e reduzindo a resistência de Catherina. A Harry e Rony restava a tristeza muda, pior do que o choro, por não poder ser extravasada.

Tiveram que adiar a conversa para o dia seguinte, domingo. Mesmo assim, não poderiam ir aos jardins para isso, a não ser que, como monitora, Hermione conseguisse uma permissão especial do monitor-chefe. Depois de comer (ou melhor, revirar a comida no prato), os cinco subiram, também acompanhados por McGonagall, até a Torre da Grifinória.

Nádia foi direto para a cama, tentar dormir e esquecer do que fora aquele dia. Rony e Hermione ficaram conversando com Harry e Catherina até tarde. Às onze e meia os dois subiram, deixando o outro casal a sós.

-Acha que já devemos ir dormir?-perguntou Harry. Seu único consolo agora era estar no sofá da sala comunal aconchegando Cathy em seus braços.

-Eu não conseguiria.-falou ela, puxando um braço de Harry para que ele a abraçasse mais forte.-Não acredito no que aconteceu...

-Julliane vai fazer muita falta.-disse Harry, passando a mão pelos cabelos de Catherina.- O que será que deu em Voldemort para vir pessoalmente a Hogwarts?

-Acho que não vamos descobrir isso tão cedo.-disse Cathy, e para surpresa de Harry ele viu seus olhos marejarem.

-Cathy, o que foi?

-Ah, Harry, como você consegue ser tão forte? Cada vez que alguém morre, cada vez que há um ataque... Eu tenho aquelas crises do tipo será-que-tudo-isso-vale-a-pena? É tanto sofrimento, ter que viver sempre em alerta, sabendo que muita gente quer nos ver mortos... Eu passo por isso e fico um caco, mas você sempre ergue a cabeça para a próxima batalha em pouco tempo...

As palavras dela o surpreenderam ainda mais.

-Você acha que eu sou... forte?-disse ele.

-Tenho certeza. E por isso que você é o único, Harry, o único que um dia poderá livrar todo mundo de Voldemort.-disse ela, e uma lágrima escorreu.-Agora, a Jully não está mais aqui, Voldemort venceu sobre nós e levou-no alguém tão importante...

Harry secou a lágrima de Catherina com um dedo e beijou sua testa.

-Não se deixe abater tanto, Cathy, é bem isso que Voldemort quer. Veja o que esse infeliz conseguiu fazer com você. Se pudesse nos ver agora, estaria dando uma gargalhada bem debochada. Ele quer fechar o cerco sobre nós.

Catherina encarou-o, e, delicadamente, passou uma mão pelo rosto de Harry.

-Se você soubesse o quanto eu te admiro -disse ela.- pela sua força. Daqui pra frente as coisas só tendem a piorar, e seu medo de perder a guerra pra Voldemort foi vencido justamente no ano passado. Depois da guerra todos ainda conhecerão o seu nome, mesmo daqui a mil anos... E você merece tudo isso.

Harry corou, mas logo ficou á vontade novamente quando Catherina o beijou, devagar. Quando se soltaram, ele viu nos olhos dela tanta ternura quanto conseguira sonhar nos últimos meses. Harry percebeu que Catherina estava deixando que ele visse uma faceta sua muito íntima - sua fragilidade.

-É tão duro não poder se apegar a nada nesses tempos -disse ela, olhando fundo nos olhos de Harry.- Não é fácil pra mim saber que estou aqui com você agora e amanhã posso estar...

-Não vou deixar que pense nisso.-reagiu Harry.-Você não vai morrer nessa guerra. É forte demais pra isso.

Catherina deu aquele sorriso que Harry já conhecia muito bem, aquele que mostra estou-tentando-ser-otimista.

-Harry, me desculpe.-disse ela, em seguida.

-Não há do que pedir perdão, Cathy. Ninguém pode agüentar tanta pressão sem fraquejar.-Harry respondeu depressa.

-Você agüenta toda a pressão.

-Com a sua ajuda, claro.

-E quando que eu te ajudo?

-Resumidamente... Agora mesmo.

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Dia seguinte, vinte e sete de abril. Harry desceu para tomar café da manhã e encontrou Rony falando sozinho.

-O que aconteceu?-quis saber ele.

-A Maratona Incantatem, Harry.-murmurou Rony, perturbado.- Eu esqueci. Com todo que aconteceu, me distraí e não vi o meu adversário...

-Quem?-perguntou o outro, temendo pelo amigo.

-Draco Malfoy!-retrucou ele, seu tom repentinamente alegre e debochado.-Não é ótimo? Na antepenúltima rodada, Harry!

Harry riu, sentando-se.

-Acho que é um dos nossos poucos motivos pra sorrir.-comentou Nádia, que estava sentada de frente para eles.-Cadê a Cathy?

-Não sei.-falou Harry.- Acho que ela desce daqui a pouco.

-Ouvi cada coisa sobre vocês dois.-disse Nádia.-Sobre você ter traído a Cathy com Cho Chang, imagina?

Harry e Rony se entreolharam.

-É... Todos precisamos ter uma conversa urgente.-falou Rony.

-Oh, meu Deus -disse Nádia, assustada.-Harry, não me diga que você realmente beijou a Cho...

-Nádia, é uma longa história.-disse ele.

Hermione vinha chegando ao Salão Principal. Harry se perguntou se ela deixaria a briga com Rony de lado e sentaria com eles. Mas se enganou. Mione desviou deles, cumprimentando todos, menos Rony, e foi sentar-se com o monitor-chefe da Grifinória.

-Também fiquei sabendo meio de longe da briga que você teve com a Mione, Rony.-Nádia acrescentou.-Sally Wonder é a maior fofoqueira que eu já vi, mas conheço agora todos os fuxicos de Hogwarts.

-E isso é bom?-disse Harry.

-De certa forma é.-respondeu Nádia, com um sorriso maroto.-Mas enche o saco a voz daquela menina...

Catherina chegou e sentou-se com eles.

-Ainda bem que hoje é domingo.-disse ela, num bocejo enorme.-Não preguei o olho a noite toda. Sonhei com pedras, um monte delas, aí quando eu ia ver alguma coisa, eu acordava. Pesadelo horripilante o meu, não?

Os outros riram.

-Estou pensando em chamar o Sean pra fazer parte da nossa conversa.-disse Nádia.-Ontem, o...

-Vamos chamá-lo mesmo.-interrompeu Rony.-Nós descobrimos algo terrível sobre ele, Ná. O sobrenome dele é...

-Riddle, eu sei.-disse Nádia.-É disso que eu ia falar.

-Chega disso.-falou Harry.- Vamos agora mesmo nos reunir... que tal no dormitório abandonado?

-Teríamos que levar Sean pra dentro da Grifinória.-lembrou Rony.

-Nada de errado.-interviu Nádia.- Malfoy me levava o tempo todo pra sala comunal da Sonserina. Não era o lugar mais acolhedor do mundo.

-Dá pra imaginar.-falou Catherina.-Vamos fazer assim: a Ná e eu vamos à mesa da Sonserina chamar o Sean; Harry, você chama a Mione e o Rony vai estar com a Capa do Harry na frente da Mulher Gorda, ok?

Os outros assentiram. Quando Catherina e Nádia estavam indo, Harry ainda recebeu uma mensagem telepática de sua namorada: "Por favor, Harry, dê um jeito de fechar o Rony e Mione nessa sala. Eles precisam fazer as pazes".