Harry Potter e a Maratona Incantatem
Capítulo Vinte e Sete - A Conversa
A discussão entre Harry e os outros de sua panelinha foi tão longa que merece um capítulo só pra ela.
Harry chamou Mione e os dois se encontraram com Rony na frente da Mulher Gorda. Ele entregou a Capa a Harry, surpreso, quando este lhe pediu.
-Por quê?
-Eu fico aqui pra esperar os outros.-desculpou-se Harry.-Vão subindo vocês dois, aposto como ninguém vai ver o Rony indo pra lá.
Sem opção melhor, Rony e Hermione, mantendo-se bem distantes um do outro, entraram na sala comunal e se esgueiraram pelos corredores dos dormitórios femininos.
Rony não estava nem um pouco feliz com aquela nova gracinha de Harry; sabia muito bem que estava a sós com Hermione naquele dormitório deserto de propósito, para fazer as pazes com ela. Quando Mione fechou a porta com muito cuidado, ele não agüentou mais aquela farsa e deu um murro com tudo na parede.
-Que eu saiba todos vamos apenas conversar.-falou ela, sem se virar.-Não derrubar o castelo de Hogwarts.
-Eu já me cansei disso!-explodiu Rony.-Harry nos mandou pra cá de propósito, como se apenas nos fechar numa sala pudesse...
A frase ficou solta no ar.
-Não é culpa deles.-murmurou Mione, se virando.-Eles estão cheios de brigas e depois da Julliane ter nos deixado... Talvez só estejam atrás de uma boa notícia.
Rony não conseguia desgrudar os olhos dela. Hermione parecia ainda muito abalada com a morte de Jully, e ele não pôde deixar de ignorar toda a sua vontade de abraçá-la. Estava apaixonado por Mione, mas ao mesmo tempo era tão difícil dar o braço a torcer! Da última já fora ele, no Expresso de Hogwarts, e não estava disposto a fazer isso de novo.
-Por isso.-prosseguiu Mione.-Tenho certeza de que o melhor que podemos fazer é voltar a ser amigos.
Rony, que olhava para o chão, ergueu a vista e encarou Hermione. Ela estava mesmo propondo uma trégua?
-De minha parte não há problema.-falou ele, depois de uma pausa.-Já que o motivo da nossa última briga não impeça uma amizade. Afinal, amigos você pode ter vários, enquanto no lugar único de namorado só cabe Erin Groundwell.
No instante seguinte, Rony se arrependeu de sua última frase, amargamente. Ele viu o rosto de Mione se contrair de fúria, e ele pensou que fossem brigar de novo, mas, para seu alívio, ela respirou fundo e conteve os gritos.
-Ronald Weasley -disse ela, no tom mais normal que conseguiu improvisar -, seria muito mais fácil se você parasse de me provocar tanto, sem falar no drama que você implica a tudo que diz.
Rony baixou os olhos de novo.
-Me desculpe.-disse ele.-Não pude me segurar.
-Rony, quantas vezes vou precisar dizer que Erin é apenas meu amigo? Inclusive, hoje pretendo contar a todos vocês sobre o que nós dois estávamos falando naquele dia em que brigamos. E então você entenderá.
Ficaram os dois quietos por uns instantes, sabendo que os outros poderiam chegar a qualquer momento. De repente, Hermione explodiu:
-Por que você tem que ser tão cabeça-dura, Rony?? Você sabe perfeitamente que eu sou apaixonada por você. Sabe também que eu nunca te traí. E eu sei que você vive brigando comigo porque também gosta de mim. Senhor Weasley, poderia me dizer se alguma dessas afirmações que fiz é falsa?
Rony olhava para Hermione, espantado.
-Não... OK, Mione tudo isso é verdade.
Os dois olharam-se nos olhos profundamente, e por um bom tempo. Hermione respirava depressa e estava agitada, enquanto Rony parecia uma estátua. Ele mudou tanto desde que o conheci, pensou ela, será que ele estaria muito diferente se... se eu não fosse uma bruxa e nunca viesse para Hogwarts?
Rony deu dois passos muito hesitantes em direção a ela.
-Desculpe ser tão estúpido com você.-disse ele, em voz baixa.
-O que importa -falou Mione, já calma, com um doce sorriso - é que você percebeu que incapaz de te fazer sofrer.
Fazia já muito tempo que os dois não ficavam tão próximos. Rony passou os dedos pela maçã do rosto de Mione. Hesitante. Eles fecharam os olhos e, numa última aproximação, seus lábios se tocaram carinhosamente, num beijo de reconciliação.
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Minutos depois, chegaram Harry, Catherina, Sean e Nádia. Todos viram Rony e Mione ao lado um do outro e sorriram, sem necessidade de nenhuma pergunta.
-Pronto, estamos todos aqui.-disse Nádia.-Por onde começamos?
-Eu quero contar uma coisa pra você, Nádia, sobre a Julliane -disse Catherina.-Algo que ela nos contou em fevereiro quando você ainda estava enfeitiçada.
Todos os seis sentaram-se no chão, em três casais.
-Então, vamos começar falando sobre a Jully.-disse Nádia.-Podem dizer.
-Eu conto pra ela.-adiantou-se Sean.-O caso é que a Jully sempre disse que era sua prima. Mas a verdade é que ela não era. Jully não era filha de Ralph Fletcher, e sim de... Igor Karkaroff.
Nádia olhou para os outros, muito surpresa.
-E nós vivemos a vida toda como primas... Por que ela nunca me contou?
-Ela não queria estragar a sua amizade.-respondeu Sean.-Pelo que ela me contou, ela achava que mudaria alguma coisa, e ela só descobriu ser filha do Karkaroff há dois anos, pouco antes de ele vir pra Hogwarts.
-Curioso -comentou Harry.-Como Karkaroff podia saber que no momento em que pusesse os pés fora de Durmstrang nunca mais veria a filha?
-É verdade.-disse Hermione.-Não havia como ele saber dos planos de Voldemort.
-Pensando bem, havia sim.-murmurou Rony.- A Marca Negra. Snape também tem uma. Eles podiam senti-la mais forte conforme as ações dos Comensais se tornavam mais freqüentes. Lembro de ter ouvido os dois falando sobre a Marca, no quarto ano.
-Faz sentido.-disse Harry.-Eu também me lembro.
-Julliane Karkaroff...-balbuciou Nádia.- Que importa? Fletcher ou Karkaroff, o sangue dela não vai trazê-la de volta.
-Tem razão.-disse Catherina, quieta até então.-E pensar que ela morreu num dia que tinha começado tão feliz...
-E por que você não foi a Hogsmeade naquele dia, Rony?-perguntou Mione.
-Eu ia pra lá.-falou Rony, desviando dos olhares de todos.-Mas eu vi Julliane andando sozinha pelo castelo e quis saber o que ela ia fazer. E pensar que eu podia ter salvado a vida dela!
-Mesmo assim não deixou de salvar alguém.-comentou Nádia.
-Por favor, Ná, se você está se referindo a Severo Seboso Snape desista. A minha intenção era salvar apenas a Jully. Snape não estava nos meus planos, nem de longe. Eu deveria ter deixado que Voldemort o matasse!
-Não, isso você não devia.-cortou Sean.-Prestando ou não, Snape é um ser humano.
Rony respirou fundo, e Harry percebeu que ele estava engolindo uma resposta, que com certeza desencadearia uma nova briga. Harry sentiu orgulho por seu amigo estar finalmente conseguindo se controlar.
-Vamos mudar de assunto.-apressou-se Catherina.-Vamos contar à Nádia e Sean sobre as duas Poções Mortum.
-Poções Mortum?-repetiu Sean, parecendo surpreso.
-Não faço a menor idéia do que seja isso.-admitiu Nádia.
-Você conta ou eu?-perguntou Cathy a Harry.
-Eu.-respondeu ele.
Ele contou tudo, desde a idéia, surgida numa conversa entre ele e Rony, até o momento em que Tiago e Lílian Potter não puderam ser mais vistos. Nádia e Sean escutaram tudo com grande atenção e surpresa.
-Incrível.-murmurou ela.-Vocês falaram com...
-Nossos pais.-completou Harry.-É, foi mesmo o máximo.
Sean estava calado, até conseguir dizer:
-Olha, gente, eu sei que isso vai parecer idéia fixa, mas... E se fizéssemos essa mesma poção com a Julliane?
-A idéia parece boa.-falou Mione.-Mas, Sean, você não vai nem querer saber a mão de obra que isso leva. Eu quase morri de cansaço.
-Falando em cansaço -interpelou Rony.- você disse que hoje ia explicar toda aquela história com Erin Groundwell.
-Ahhh, eu não agüento mais ouvir esse nome.-exclamou Harry.
-E você não é o único.-concordou Hermione.-Mas é verdade, tenho uma história comprida pra contar.
'Como vocês sabem, Erin é monitor da Lufa-Lufa. Eu fiquei amiga dele na saída de uma das reuniões. Ele não tem o nome que tem por mero acaso, mas sim por causa de um tio dele, irmão da sua mãe, que é divorciada. Por isso ele tem o primeiro nome do tio e o segundo da mãe.
-Mas por que ela homenagearia o irmão no filho?-perguntou Rony.
-Os dois irmãos Groundwell freqüentaram Hogwarts na época em que a Câmara Secreta foi aberta pela primeira vez. Erin, o daquele tempo, foi um dos alunos petrificados, e morreu... Quero dizer, desapareceu logo depois de terminar os estudos, antes mesmo de chegar em casa.
-Groundwell estudou junto com... Riddle, Victoria e Samantha?-supôs Harry.
-Isso mesmo.-disse Hermione.-No dia em que... No dia em que Rony e eu brigamos, eu estava encorajando Erin a contar toda a história a vocês.
Rony pensou que os olhares fossem cair sobre ele naquele momento, mas ninguém se mexeu.
-Vocês por acaso mencionaram...Victoria?-perguntou Sean devagar, depois de alguns instantes.
Os outros se entreolharam.
-Antes que você diga, Sean -falou Harry.-, é sobre a sua mãe que falamos, Victoria Dark-Angel.
-Temos muito o que conversar sobre isso.-assentiu Sean.- Quando eu falei meu sobrenome a vocês...
-Nós tomamos um tremendo susto.-completou Catherina.-Porque isso significa que você teria de ser filho de Voldemort.
-Descobrimos muitas coisas sobre sua mãe nestas férias, Sean. -falou Harry.- E está na hora de te contarmos sobre todas elas.
Mais ou menos meia hora depois, eles terminaram a narrativa. Sean estava estático, sem a menor reação.
-Mas a minha mãe não é... não pode ser...
-É a única explicação.-murmurou Rony.
-Vocês não me entenderam direito.-disse Sean.-Se minha mãe fosse uma Comensal da Morte, simplesmente não haveria motivo para termos passado tanto tempo fugindo, há dois anos. Foi por isso que eu perdi um ano em Durmstrang e estou no mesmo ano que vocês.
-Fugindo?-estranhou Harry.-Como assim?
-Eu passei toda a minha infância sem casa fixa, a minha mãe me levava de um lugar pra outro sem mais nem menos... Até que, quando eu terminei o quarto anos, ela resolveu fugir de vez, eu não fui fazer o quinto ano, e quando eu soube que Você-Sabe-Quem tinha ressurgido, eu achei que a minha mãe tinha acesso á algum tipo de informação que a tivesse avisado, e fosse dele que nós fugíamos todos esse tempo.
-Entendi.-falou Hermione.-Se ela fosse uma Comensal da Morte, teria ido se reunir a ele.
-Do mesmo jeito -disse Rony.- Ainda acho que ela nos deve umas boas explicações.
-Ahhh!-Harry exclamou de repente.- Vamos falar sobre isso antes que eu me esqueça: quando você perdeu o duelo na Maratona Incantatem para a Gina, Nádia, o que você viu no alto que te fez perder a concentração?
-Eu nem quero me lembrar disso...-respondeu Nádia, a expressão enevoada pela lembrança.-Eu vi uma... que horror... uma manticora...
-UMA MANTICORA??-exclamaram todos os outros, muito assustados.
-Mas não poderia haver uma manticora em Hogwarts!-gritou Mione, a voz aguda. - Seria um verdadeiro caos!
-Sim, eu sei disso muito bem.-retrucou Nádia.-Mas foi exatamente o que eu vi... É a coisa que eu mais tenho medo no mundo...
-Pelo menos a distração está explicada.-falou Catherina, devagar, quando Harry interrompeu-a.
-Esperem. Você disse que uma manticora é a coisa que você mais tem medo do mundo, Nádia?
-Sim...-balbuciou ela, confusa.
-Já entendi onde você quer chegar.-disse Mione.-Poderia ser um bicho papão.
-Posto ali para eliminar alguns duelistas.-completou Sean.
-Mas por quê?-inquiriu Rony.
-Se eu bem conheço Dumbledore -disse Harry.- ele bem seria capaz de querer que enfrentássemos nossos medos e duelássemos ao mesmo tempo.
