Harry Potter e a Maratona Incantatem
Capítulo Trinta - Vivos, Mas Sem Rumo
Harry teve a sensação de ter passado anos desacordado, quando finalmente abriu os olhos. A primeira pessoa que viu foi Rony, sentado ao lado de sua cama. Ele estava na ala hospitalar, de novo.
Os olhos de Rony se iluminaram quando viram Harry acordar.
-Harry! Como você está?
-Ainda vivo, eu acho.-Harry disse, esfregando os olhos.-Mas eu não faço a menor idéia do que me manteve assim.
-O nome do encantamento é Luz da Alma.-disse Dumbledore, parado à porta.-Era a única coisa que poderia te tirar dali com vida. Esse feitiço não pode ser ensinado, só pode ser descoberto por si mesmo, quando é a única solução para algo.
Harry sentou-se na cama.
-Voldemort morreu?
-Eu sinto dizer que não, Harry -respondeu o diretor.- Ele sofreu um ferimento gravíssimo com o seu encantamento. Talvez tenha quase morrido de fato, mas ainda conseguiu sair pelo vão que descobriu ano passado. Nós conseguimos manter Hogwarts, e fizemos o impossível, de qualquer modo.
-Mas professor... A Victoria...
O olhar de Dumbledore se tornou mais triste.
-Não houve o que fazer quanto a isso, infelizmente. Sean perdeu a mãe. Vamos ter que arrumar um lugar pra ele, agora, mas eu já tenho uma casa em mente.
-Temos que escondê-lo, diretor, Voldemort com certeza vai querer reivindicar o filho dele.-disse Harry.
-Sim, sei disso. Mas não quer saber onde Sean vai morar?
Rony olhou curioso para o diretor.
-Ele vai morar na casa de Sirius, junto com Catherina e você, mas claro, só se você quiser se mudar pra lá.
Harry encarou os olhos cintilantes de Dumbledore, sem acreditar.
-Está falando sério?
-Sem dúvida.-sorriu o diretor.-Sirius conseguiu capturar Rabicho, que era a única prova necessária para provar sua inocência.
O rosto de Harry se iluminou.
-Sirius aceitou de bom grado cuidar de Sean, Catherina e você nestas férias.
Harry mal conseguia digerir a notícia quando Nádia, Mione e Catherina chegaram à ala hospitalar. Depois dos primeiros instantes de "como você está?", ele quis saber:
-Quem me tirou de lá da Câmara?
-Ah... Fomos eu e o Neville...-disse Nádia.
-Neville?
-É -confirmou Nádia.-Ele me disse que nos viu na sala comunal, falando sobre Voldemort e depois Sirius e Melissa chegando. Todos na escola sabem o que aconteceu, mas na hora só Neville foi quem decidiu nos ajudar. Na verdade, ele não me achou, e sim eu a ele, porque escutei passos no corredor e fui ver quem era. Aí nós escutamos do banheiro um barulho enorme, e decidimos ir atrás de você, Harry. A gente te encontrou desmaiado e sozinho, então o trouxemos de volta. Sirius estava lá, quase desceu e atropelou a gente, e depois nos ajudou a te trazer pra cá.
Na ala hospitalar, Dumbledore assistiu o quinteto trocar informações sobre o que tinham descoberto por algum tempo, até que chegou Madame Pomfrey e liberou Harry.
Eles desceram para o almoço, e quando chegaram no Salão Principal, Harry viu algo absurdamente impossível, mas que era real: todos os alunos de Hogwarts, todos, inclusive os fantasmas, os professores e até mesmo Filch bateram palmas para ele, de pé. Até mesmo Rony, Mione, Cathy e Nádia o aplaudiram.
A sensação de ter mil pessoas o aplaudindo era irreal, Harry mal conseguia reagir. Sorriu abobalhado e quando passou entre as mesas da Grifinória e Lufa-Lufa, várias pessoas o cercaram, parabenizando-o.
Alguns minutos depois, quando todos já estavam mais calmos, o olhar de Harry recaiu sobre Sean, na mesa da Sonserina. Ele tinha a cabeça baixa e revirava a comida com o garfo, cabisbaixo. Harry viu Sally Wonder aproximar-se dele com cara de compaixão. Nádia, a seu lado, derrubou o copo de suco.
-Você e o Sean já oficializaram?-Harry perguntou, sem muito ânimo.
-Eu ainda não falei com ele desde a noite em que nos dividimos pra defender a escola.-ela respondeu, enchendo novamente o copo.-Mas acho melhor deixar quieto. Agora temos os exames finais, ele perdeu a mãe e a melhor amiga em pouco mais de um mês. Nas férias eu penso nisso.
-Está certa.-disse Hermione.-Eu compreendo. Nem dá pra pensar em namoro com tudo que aconteceu.
-Isso é alguma espécie de indireta?-ironizou Rony.
-Ah, olhem só a cara do Malfoy.-indicou Catherina.-Virou um herói pra todas as Casas, menos pra dele.
Harry olhou: Crabbe e Goyle estavam muito longe dele, assim como a maioria dos outros sonserinos. Sean estava sentado ao lado dele, mas calado.
-Eu ouvi falar que uma mulher apareceu a cavalo no meio da batalha dos Comensais da Morte.-comentou Rony.
-Melissa me contou sobre ela.-disse Catherina, parando de comer.- É uma amazona, o nome dela é Faye Fairy.
-Uma amazona? Na Inglaterra?-Harry perguntou.-Mas o que deu nela de nos ajudar?
-Até onde eu sei, ela é amiga do Malfoy.-respondeu Cathy.
Hermione ergueu uma sobrancelha.
-Amiga?
-E onde Malfoy teria conhecido uma amazona?-questionou Nádia.-Elas não vivem em florestas, ou coisas do tipo?
Uma lembrança do início do ano letivo de repente fez sentido na cabeça de Harry.
-Acho que eu sei dizer...
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Draco acabou de almoçar. Com a morte de Victoria Dark-Angel, as aulas de Defesa Contra as Artes das Trevas haviam sido suspensas. O teste seria entregue por Dumbledore, em alguns dias. Draco aproveitou a tarde livre para ir ver Faye. No caminho, lembrou-se de seu último encontro com ela.
Faye havia insistido tanto para que Draco falasse o porquê de ter precisado usar a Poção do Amor em Nádia, que ele acabou contando a ela que servira a Voldemort.
-Este ano eu não seria acionado para não despertar suspeitas.-ele mentiu.-Mas meu pai queria que o Lord já me colocasse a Marca Negra, só que eu não gostei nem um pouco da idéia de ter uma marca daquelas no meu braço, como se eu fosse um mero escravo.
-E como você serviu Você-Sabe-Quem, a menina não quis mais saber de você.
-É... Isso aí.
-Mas você sabe da gravidade do que você fez?
-Gravidade?
-Eu estou perguntando se você se arrependeu, Draco.
-Ah, mais ou menos... Eu fiz o que o meu pai queria.
-Mas você acha certo?
-Certo? Está louca? Desde quando eu me preocupo em fazer o certo?
Faye se levantou.
-É por isso que a garota não quis mais te olhar na cara!
-Ei, qual é o seu problema? Você nunca se importou antes!
-Com licença, mas você nunca me disse que era um Comensal da Morte!
-Eu não sou! Eu só... Uma vez...
-Francamente, Draco, você não entende? Você quer ser igual ao seu pai? Ele é tão patético, não consigo acreditar que queira seguir o exemplo dele!
Draco também se levantou; ela era da mesma altura que ele, de modo que se encararam de igual pra igual.
-Você nunca se importou com o que eu poderia ser!
-Por sua culpa, Você-Sabe-Quem poderia ter tomado Hogwarts e matado Potter! Você se acha muito esperto, não é? Não pense que Você-Sabe-Quem não usa a Cruciatus em seus seguidores, não se iluda! Eu me importo com você, mas -surpreso, Draco viu Faye desembainhar sua espada e apontá-la pra ele - se você continuar pensando desse modo, pode ir embora, seu estúpido!
Draco olhou para a espada por um momento, entendendo perfeitamente as entrelinhas da cena.
-Não é isso que você quer que eu faça.-disse, maliciosamente.
Faye não falou nada, mas a espada tremeu ligeiramente em sua mão. Draco olhou-a, sorrindo cheio de malícia. De repente, ele empurrou a espada de Faye para o lado sem grande esforço e puxou-a com o outro braço. Quando os lábios de Draco tocaram os dela, Faye deixou cair a espada de sua mão, no susto.
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Era nisso que os pensamentos de Draco estavam quando ele chegou à orla da Floresta Proibida. Faye estava de costas pra ele, encostada numa árvores, afiando sua espada.
Draco caminhou silenciosamente até ela e, abaixando-se, beijou-a no rosto. Faye se assustou, mas tomou o cuidado de manter as mãos bem longe da espada.
-Olha só quem chegou.-disse ela, meramente.
-Gostou do que eu fiz?-Draco perguntou, sentando-se na grama.
-Se está falando da batalha contra os Comensais... Estarei mentindo se disse que não me surpreendeu muito. Achei que fosse lutar do outro lado.
-Há algum tempo, eu também pensava que seria assim.
-E o que te fez mudar de idéia?
-O sonho.-mentiu Draco.-Eu achei que não estava entre os Escolhidos à toa. E por que você nos ajudou? Você não tem nenhum compromisso com Hogwarts ou qualquer um dos alunos ou professores.
-Tenho ódio a Comensais da Morte.
-Isso deu pra notar na nossa última conversa.
-E eu também queria defender a escola. Dumbledore é uma boa pessoa.
-Você foi incrível. Por que as maldições não te atingiram?
-Uma amazona de sangue puro só pode ser morta por uma espada, não por magia.
Draco ergueu as sobrancelhas.
-Ah, e eu tenho uma novidade pra você. Ano que vem vou trabalhar na escola. Assistente de Hagrid, em Trato das Criaturas Mágicas!
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-Sean, você está bem?-Harry perguntou a Sean quando ele foi falar com o quinteto.
-Ótimo.-falou o sonserino.-Meu pai é o pior bruxo das trevas de todos os tempos, matou minha mãe, minha melhor amiga, e agora vai me perseguir pra tentar me transformar num seguidor dele. Como eu poderia estar melhor?
-Desculpe.-Harry apressou-se a dizer.
-Não, não foi culpa sua. Eu sei que agora nem você é invulnerável à Avada Kedavra.
-Estamos juntos nisso, afinal.-falou Rony.-Nós perdemos muita gente, mas, por algum motivo, continuamos vivos, sabe, Não é à toa.
-Certo.-falou Catherina.-Emílio fez questão de enfatizar isso de uma forma bem cruel. E Hermione, o que foi feito da Sinistra?
-Como não há mais Azkaban, Dumbledore a fez se transformar em coruja e então lançou o feitiço que impede que ela se transforme de volta. Ela está numa gaiola, na sala dele, até um dia recuperarem Azkaban.-contou Mione.
-Recuperar Azkaban...-murmurou Harry.-Isso só acontecerá se vencermos a guerra.
-Bom, nós já fomos otimistas até agora.-disse Rony.-Mas sabem... Eu achei muito maneiro esse negócio do Harry, a Catherina e o Sean morarem com o Sirius!
-O Sean vai ter que estar lá mesmo.-comentou Hermione sorrindo.-Imaginem só o Harry e a Catherina em casa quando o Sirius sair pras missões da Ordem...
-Sua pervertida.-retrucou Catherina com um sorriso muito envergonhado.
Eles forçaram o riso, numa tentativa de animar Sean. Dali a pouco, as três garotas resolveram ir para a sala comunal dar um última olhada da revisão de História da Magia.
-Sean, você está sendo muito forte.-disse Harry, sinceramente.
-Isso é verdade, cara.-concordou Rony.-Se fosse comigo acho que já teria ido à loucura.
-Não tem sido nada fácil -falou Sean, respirando fundo.-Nestas férias eu vou morar com três pessoas que eu conheci este ano porque meu pai matou minha mãe... Nada contra vocês, mas...
-Não precisa explicar, Sean, eu posso entender o que você está querendo dizer...
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Na hora do jantar, depois de passar a tarde no casebre de Hagrid com Rony, Harry as pessoas comentando algo febrilmente. Ele olhava para os lados, querendo saber o que tinha acontecido, quando Rony puxou o braço dele.
-Dá uma olhada nisso aqui, Harry -disse ele, apontando para o quadro de recados.
Harry olhou. Havia uma mensagem noticiando quem eram os dois finalistas da Maratona Incantatem: Ronald Weasley versus Virgínia Weasley.
