Esperança No Sétimo Abismo

Capítulo Dois – O Deserdado

Draco Malfoy não tinha mais uma casa. Não depois do que dissera a seu pai na última vez que o vira, nunca ousaria voltar para a Mansão Malfoy. Por isso, quando o Expresso de Hogwarts chegou à King's Cross, ele desceu do trem com seu malão e começou a pensar para onde iria, agora que seu próprio pai queria matá-lo.

Draco encostou numa parede; viu Sirius Black com Potter, McFisher e Sean – no final das contas, Sean Riddle se tornara a coisa mais próxima de um amigo que ele tinha. Mesmo Faye Fairy ele não tinha esperança de ver tão cedo, já que ela ficara na Floresta Proibida, em Hogwarts.

De outro lado, ele viu quatro ou cinco cabeças ruivas, que Draco reconheceu imediatamente como os Weasley, aquela família desprezível, se reunindo, e sentiu-se terrivelmente só.

Bom, ele não poderia ficar ali pra sempre. Nem que fosse para a rua, teria que ir para algum lugar. Ainda restavam alguns galeões em seus bolsos, ele poderia ir para o Beco Diagonal e alugar um quarto no Caldeirão Furado.

Quando já estava tomando seu rumo, viu Sean na frente dele.

-Malfoy.- disse ele.- Você ainda não tem pra onde ir?

Draco se empertigou todo com a pergunta.

-Como assim? Claro que tenho pra onde ir.

-Tem mesmo?-insistiu Sean.

-Tenho sim, Dark... Riddle.

Sean olhou-o com um meio sorriso.

-Achei que ia me chamar de Dark-Angel pelo resto da vida.

-Seria crueldade demais, até pra mim.-falou Draco, desviando o olhar.-Não sou nenhum herói trágico, mas não faria isso com você depois do que aconteceu.

-Pode dizer, Malfoy, você não tem onde passar a noite. Se quiser eu converso com Sirius e você poderia ir com a gente...

-Morar com Potter? Você enlouqueceu? Está caçoando de mim, Riddle?

-Sim, é verdade.-falou Sean, rindo, enquanto Draco olhava para Black, Potter e McFisher que pareciam estar esperando por ele.- Seria mesmo um perigo colocar vocês dois sob o mesmo teto. Então... Você poderia ir morar com Rony e a família dele. Aposto que os pais dele não iriam...

-Você se superou agora!-exclamou Draco.-Morar com os Weasley?

-Bom.-falou Sean.-Não consigo pensar em mais ninguém.

-Acredite, eu estarei melhor vagando no Beco Diagonal do que...

-Com certeza. Será o primeiro lugar onde seu pai vai pensar em te procurar. Você não vai durar dois dias hospedado no Caldeirão Furado.

Draco odiava quando Sean estava certo.

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Meia hora depois, ele estava furioso por se deixar levar por Sean Riddle. Estava caminhando no mato, em direção a uma casa que estivera outrora caindo aos pedaços, rodeado de integrantes da família Weasley por todos os lados. Fora um verdadeiro ritual a cena em que o Sr. Weasley anunciou para Rony e Gina, os únicos presentes além da própria sra. Weasley, que Draco Malfoy iria morar com eles durante aquele verão. Rony havia ficado em choque, sem saber exatamente o que dizer, enquanto Gina olhou Draco estupefata, e ele teria dado tudo naquele momento para saber o que se passava na cabeça da caçula Weasley.

Draco na verdade não estava muito preocupado com a reação daqueles dois, e sim com a dos tais gêmeos, que provavelmente dariam um jeito de testar todos os seus experimentos nele, sabe-se lá como.

No fim, nada importava. Tudo o que tinha a fazer era esperar que lhe mostrassem onde iria dormir e então ficar lá trancado o resto de sua vida.

Finalmente Draco percebeu que tinham chegado. Então aquela era a Toca. É claro que nem sempre fora tão bem cuidada e luxuosa, Draco sabia que as mudanças naquela casa não tinham nem um ano. Quando entraram na cozinha, a sra. Weasley disse:

-Rony querido, Draco vai dormir no seu quarto, por favor, vá mostrar a ele onde é que eu...

Rony olhou para a mãe, indignado.

-No meu quarto?-repetiu. Draco também não tinha gostado nem um pouquinho da idéia.- E se o Harry vier pra cá, onde ele...

-Receio que este verão Harry não venha pra cá, Rony.-respondeu a mulher, enquanto Draco via Gina subir as escadas carregando seu malão.-É mais provável que nós acabemos indo para o Largo Grimmauld...

Quanto mais Draco ouvia, mais desesperado ele se sentia. Se passar as férias com os Weasley já seria terrível, quanto mais passá-las com os Weasley E com Potter e os outros. Ele queria dizer algo, ofender Rony ou qualquer outra pessoa, mas não conseguiu pensar em nada muito original. Rony bufou, mas depois deu de ombros.

-Vamos, Malfoy.-disse, sem nem olhá-lo na cara.

Ótimo. Ao menos ele entendia. Menor convivência possível e talvez os dois não estivessem muito quebrados no fim do verão. Draco sentiu falta de estar em sua mansão, com os criados rodeando-o e perguntando se ele desejava alguma coisa. Quando ficaram a sós e começaram a subir as escadas, Draco se sentiu mais confiante para provocá-lo.

-Então, Weasley, essa é a sua casa? Isso prova que nem todo o dinheiro do mundo é capaz de melhorar uma família de caipiras.

-Ao menos a minha família não quer me matar.-retorquiu Rony.

-Ao menos a minha família tem noção do ridículo.-retrucou Draco.

-Cala a boca, Malfoy.-ameaçou Rony, nervoso.-Ou eu quebro seus dentes.

Uma porta se abriu no corredor por onde estavam passando.

-Já começaram a brigar?-perguntou Gina.-Eu estava mesmo pensando quanto tempo iria demorar pra começarem a rolar aos socos por aí. Sabia que não ia durar muito.

-Me desculpe -respondeu Draco,- mas não me lembro de ter falado com você, Weasley.

Gina olhou para Draco por um instante e, no momento seguinte, desatou a rir.

-Acho melhor que desista -disse ela - de nos chamar pelo sobrenome enquanto estiver aqui, Malfoy. Todos nesta casa são Weasley, esqueceu? Ou nos chama pelo primeiro nome, ou...

-... ou não os chamo.-completou Draco.-Muito obrigado, vou ficar com a segunda opção.

-Você é quem sabe.-replicou Gina.- Mas se fosse você, tomaria muito cuidado daqui a pouco, no jantar. Fred e Jorge virão e estão cheios de invenções novas sem testes ainda, e os pedidos da loja deles estão sempre aumentando.

Dizendo isso, Gina fechou a porta.

-Para o seu próprio bem -Rony falou, quando voltaram a ficar sozinhos e recomeçaram a subida.-Leve muito a sério as ameaças da Gina. Ela costuma cumprir.

-Estou morrendo de medo.-caçoou Draco.

-OK. Você é quem sabe, Malfoy.

Rony abriu a porta do quarto, e Draco quase chorou de desespero ao pensar que teria que dormir naquele lugar, que de tão laranja mais parecia um grande letreiro de... como era mesmo aquela expressão trouxa? Néon. No momento seguinte, quase se deu um tapa por estar usando uma expressão trouxa.

Rony se sentou em sua cama e indicou a outra para Draco, que sentou com uma cara quase de nojo.

-Regra de convivência número um -ditou Rony- fique longe da Gina. Número dois...

-Não, não, espere aí.-interrompeu Draco.-O que você quer dizer com "fique longe da Gina"?

-Quero dizer -traduziu o ruivo.- Que se tocar nela, você morre.

-Hum.-bufou Draco.- Como se eu quisesse.

-Número dois -prosseguiu Rony- nunca chame Hermione de sangue ruim enquanto estiver na minha casa. Número três, nunca ouse ofender os meus pais durante esse tempo...

-Ei, ei, ei -interrompeu de novo o loiro.-Está pensando que é quem para ficar me impondo regras?

-EU sou o seu anfitrião.-disse Rony, aproveitando ao máximo sua vingança.- Você está na minha casa. Se você estivesse me hospedando na SUA casa, eu estaria em muito piores lençóis.

Draco estava pronto para responder quando a porta se abriu e a sra. Weasley entrou.

-O jantar está pronto, meninos.

Rony se levantou e Draco não teve alternativa senão imitá-lo. Outro trajeto pelas escadas ele achou que não aturaria. Lamentou ainda não ter completado dezessete anos.

Gina se juntou a eles quando passaram pela porta do quarto da garota, o que foi até um alívio para Draco, pois ela começou a conversar com o irmão e assim os dois o deixaram em paz até que chegassem ao térreo.

Isso porque lá Draco encarou os gêmeos. Com certeza a sra. Weasley já falara a eles sobre o hóspede inesperado, pois eles não demonstraram surpresa em vê-lo, ao contrário; ele percebeu muito bem que os dois deram um sorriso que tentaram imediatamente disfarçar. Draco então tomou o cuidado de se sentar o mais próximo possível da sra. Weasley. Gina sentou-se ao lado dele e Rony à sua frente.

O jantar começou e Draco, claro, examinou muito bem cada grama de comida que punha em seu prato. Logo, os Weasley começaram a conversar.

-Percy não vinha jantar, Arthur?-perguntou a sra. Weasley.

-Acabei de falar com ele pela lareira.-respondeu o sr. Weasley.- Ele me disse que o trabalho no Ministério está enlouquecendo a cabeça dele. Hoje foi a Polônia que resolveu cortar relações com a Inglaterra.

-Mas isso não é uma coisa muito idiota de se fazer?-perguntou Rony.-Cortar relações com um país só porque tem esperança de se livrar de... Você-Sabe-Quem?

Draco sabia que Rony já falava o nome dele, mas percebeu que não preferiu fazer isso naquela situação.

-Sim, Rony, é uma atitude estúpida.-concordou o sr. Weasley.-Mas eles pensam que se fecharem as fronteiras dele para nós, estarão a salvo. Se a Espanha seguir o exemplo deles, só restarão a França e a Bulgária, em toda a Europa.

-Que, supostamente, são os países onde ficam Beauxbattons e Durmstrang.-acrescentou Gina.

Draco estava muito satisfeito que eles não o estivessem incluindo na conversa, mas co mesmo tempo estava achando muito suspeito que os gêmeos estivessem tão quietos. No fim do jantar, estendeu a mão para pegar seu copo de suco, quando um deles pareceu ter deixado escapar um risinho. Draco ergueu uma sobrancelha, mas não olhou para eles. Então disfarçou e largou o copo, comendo por mais alguns minutos.

Quando o sr. Weasley estava mostrando seu relógio novo para a família, Draco aproveitou a distração para trocar seu copo com o de Rony. Então bebeu à vontade.

Dali a pouco tudo voltou ao normal na mesa, ao menos até Rony tomar um belo gole de suco. Primeiro ele engasgou, depois tossiu com força e todos viram que ele tinha algum problema com seu nariz. Ele parecia estar ficando cinzento, com um aspecto um tanto enferrujado, então a ponta foi se alargando lentamente até o nariz de Rony se transformar completamente num gancho velho, com dois pequeno buracos pó onde ele respirava.

A sra. Weasley se levantou assustada; Gina soltou uma exclamação surpresa e o sr. Weasley perguntou o que estava acontecendo, enquanto Fred e Jorge olhavam Rony, surpresos, e lançando olhares de relance a Draco. Este por sua vez, assistiu a tudo, imóvel em sua cadeira.

A sra. Weasley só precisou se recuperar do susto para então olhar para os gêmeos e trovejar:

-MAS O QUE VOCÊS FIZERAM COM O RONY??

Os dois pareciam sem fala; Draco se esforçou para lembrar-se de que eles já tinham quase vinte anos.

-Mas mãe... Na verdade não era...-começou um.

-Não era... o Rony... que queríamos enfeitiçar...-gaguejou o outro.

-Eu sei disso.-disse Draco, se levantando.-Era eu que devia ter tomado aquele suco, não é? Não sei onde eu estava com a cabeça quando pus os pés nesta casa. Vou pegar o meu malão e vou embora daqui neste momento.

-Não, não vai.-o sr. Weasley interrompeu.-Fred e Jorge, vocês fizeram algo horrível. Sabem que Draco fez alo ótimo para todos, que ele ajudou a salvar a vida de vocês dois inclusive, e mesmo assim ficam agindo como crianças!!

Draco AMOU ter ouvido aquilo. Nunca tinha pensado nas coisas por este lado... Verdade, ele tinha salvado uma série de vidas... Hum, não podia se esquecer disso.

A sra. Weasley estava verdadeiramente furiosa. Depois de ter transformado de volta o nariz de Rony, começou a gritar com os gêmeos, que se encolheram como adolescentes, e Draco cansou-se de assistir à cena. Não querendo fazer toda a viagem até o quarto para tentar dormir e fazer tudo passar mais rápido, Draco saiu de fininho e foi sentar-se na grama do jardim, perto de canteiro de flores cheio de gnomos, o mais longe possível da porta da cozinha.

Ficou ali sentado, pensando no que seria dele morando naquela casa que mais parecia um hospício, quando virou-se e viu que não estava sozinho ali.

-Eu não conhecia esse seu lado lobo solitário.-falou Gina, sentando-se do lado dele.

-Você não sabe nada sobre mim, Weasley.-Draco retorquiu.-Acho melhor que se quiser continuar aqui, terá que sentar mais longe. Seu irmãozinho vai acabar pensando que quebrei alguma de suas preciosas regras de convivência.

-Regras...?

-É uma gracinha do seu irmão.-resmungou Draco- A número um é ficar bem longe de você.

-Ah, é?-Gina riu.-Típico do Rony.

-Hum.-fez Draco.

-Até parece que ele esqueceu que eu tenho um namorado.

-Como se eu fosse me sentir atraído por uma Weasley.-Draco acrescentou.-Penso seriamente que o seu irmão tem bosta na cabeça.

-Às vezes eu também penso isso.-riu Gina de novo.

-Então você tem um namorado.-ele falou.-Eu também tenho uma.

-Como ela se chama?

-Você não a conhece. É uma amazona, Faye Fairy.

-Ahhh... Não conheço mesmo. Mas acho que estamos quites, duvido que você conheça Henry Portland.

-Não.-falou Draco.-Mas achei que você fosse sempre ser a namoradinha do Potter.

-E eu sempre pensei que você fosse passar a vida atrás da Nádia, continuamos quites.

Draco ficou quieto. Não esperou realmente que uma Weasley pudesse conversar como um ser humano normal, quero dizer, civilizadamente. Principalmente a caçula, que ele sempre achou ser uma pobrezinha fraca.

-Sabe -disse ela.- Rony me contou sobre o que você fez... no fim do ano passado.

-Ah.-grunhiu Draco.-É, dessa vez ele teve que admitir que eu sou um gênio.

-Na verdade -Gina falou.- ele me disse que você foi o mais covarde de todos, enquanto ele foi atrás da profª Sinistra.

-Covarde?-repetiu Draco, subitamente nervoso.-Ha! Eu enfrentei um exército de Comensais da Morte e o que ele fez? Foi correndo atrás daquela namorada sangue-ruim pra pegar uma velhota professora de Astronomia! Francamente...!

-Calma, eu sei que o Rony nunca vai acreditar que você seja capaz de fazer algo de bom. Se você salvasse a vida dele, provavelmente ele daria um jeito de continuar vendo exclusivamente os seus defeitos.

-Bom, ele também não fez nada que preste, se quer saber.

-Eu esperei que dissesse isso.-Gina começou a rir de novo.

-Mas você nunca pára de dar risada?

-Geralmente há algo que me faz rir perto de mim -respondeu ela.

-Nesse caso, eu.

-Pode ser... Se a carapuça serve...

-Olhe aqui, Weasley, eu não sou nenhum palhaço...

-Ih, mas você insiste no meu sobrenome... Eu já te falei, é mais prático me chamar de Gina.

-Tanto faz.

-OK, já que você acha... Então o Rony te proibiu de chegar perto de mim?

-Ele é um idiota.

-Eu já sei que você acha isso, Malfoy. Não precisa ficar repetindo.

-Ele acha que eu cumpro ordens dele.

-Disso eu também sei.

-Só não desobedeço de propósito porque eu já tenho uma namorada.

-Claro, eu também tenho um.

-Minha vez de dizer: eu já sei.

-Então concluímos dessa conversa que o Rony pe um grande paspalho.

-Sim, é isso. E eu vou provar.

-Vai?

-Vou. Desobedecendo à regra.

Draco se virou depressa e puxou Gina para beijá-la, e um instante depois ela estava em seus braços, com os pensamentos bem longe de Henry Portland e Draco também evitando lembrar-se de Faye Fairy, apenas curtindo ao máximo a sensação que o beijo de Gina provocava nele, abraçando-a impetuosamente sem desgrudar os lábios dela. Na opinião de Draco Malfoy, eram esses beijos ardentes e repentinos que deixavam a vida mais divertida. Outra vez, ele quis por tudo no mundo saber o que se passava na cabeça da garota, pois ela o estava beijando com tanta vontade que ele chegou a duvidar que toda aquela paixão tivesse saído de um mero impulso.

Vinte minutos depois, deitado na cama, Draco se perguntava o porquê de ter feito aquilo.