Esperança no Sétimo Abismo

Capítulo Três – Caça ao Herdeiro

Harry adorou ter se mudado para a antiga casa dos tios de Sirius, o Largo Grimmauld, nº 12, abandonada há muitos anos atrás com a morte deles. A mansão velha havia se transformado na sede da Ordem da Fênix. As reuniões mensais haviam sido deixadas de lado há muito tempo e só aconteciam quando necessário, num cômodo adaptado exclusivamente para elas.

Ele não gostou nem um pouco de ter sido proibido, juntamente com Catherina, Hermione, Rony e Nádia, de participar delas, quase no fim de julho. Achava que os outros estavam planejando algo de importante que, por algum motivo estranho, eles não poderiam saber.

De todo modo, ele não tinha mais que viver com os Dursley, e isso já era motivo para manter m largo sorriso em seu rosto o tempo todo. Além do mais, via Sirius e Catherina todos os dias, e Lupin estava sempre por lá, sem falar que Harry fora apresentado a uma infinidade de aurores que entravam e saíam da casa. Entre eles estava Ninphadora Tonks, ou apenas Tonks, uma metamorfomaga muito divertida. E acima de tudo, Harry percebeu que Lupin também a achava muito simpática. Muitas vezes, Dumbledore vinha também, para presidir as reuniões.

Certo dia, Harry jogava uma partida de Snap Explosivo com Sean no quarto que os dois dividiam, quando Catherina entrou, sentou-se no chão como eles e contou:

-Snape está lá embaixo.

-Snape?-repetiu Sean.-Pensei que ele odiasse Sirius e nunca fosse pisar na casa da família dele.

-É verdade.-concordou Harry.- Mesmo sendo um membro da Ordem da Fênix, é estranho que apareça por aqui.

-E o mais surpreendente -continuou Catherina a contar- é que ele chegou com uma mulher... Eu nunca tinha visto Snape acompanhado antes.

Harry não achou a idéia de Snape aparecer com uma mulher tão bizarra quanto teria achado há um ano atrás, antes de descobrir que Voldemort teve uma namorada. Mas nunca se atreveria a dizer isso na frente de Sean, filho dos dois.

O sonserino, por sua vez, ficou muito surpreso.

-Snape? Com uma mulher? Por essa eu realmente não esperava!

-Hum.- concordou Harry, tomando muito cuidado na sua vez de jogar.

-Vamos ver como ela é?-perguntou Sean a ele, nem parecendo ter dezoito anos.

Ele não viu nenhum problema na idéia, então foram. Catherina levou-os pelas escadarias até um lance de onde podiam ver claramente as pessoas que estavam no hall de entrada. Harry viu ali Tonks falando animadamente com uma mulher loira de olhos amendoados, alta e de face amistosa. Do lado dela, olhando para o chão e parecendo aborrecido, Snape.

-Eu já vi essa mulher.-Harry disse.

-Já?-repetiu Catherina.- E onde?

-Em Hogwarts.-contou ele.- No dia da final da Maratona Incantatem...

E contou a aparição da mulher na lareira de Dumbledore, e depois quando a viu de relance, no Salão Principal.

-E se não me engano -terminou ele.-, o nome dela é Íris.

-Então a única pergunta que resta -falou Sean.- É o que ela estava fazendo em Hogwarts aquele dia.

-Tenho uma suspeita.-murmurou Cathy.- Mas... Deixa pra lá.

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O aniversário de dezessete ano de Harry foi o único de que ele se lembrava de ter comemorado, ao menos até então. Ele acordou por volta das nove e meia da manhã, com Sirius, Catherina e Sean cantando "Feliz Aniversário", cada um com um embrulho de presente.

Ele acordou sorrindo, abraçou Sirius e Sean (ou melhor, foi abraçado), enquanto Cathy lhe deu um beijo rápido, e os três se sentaram à volta dele. Sorrindo contente, ele recebeu os presentes e Harry começou a abri-los.

-Este é o meu, Harry -falou Sirius apontando para um embrulho, do tamanho de um porta anel, que ele acabara de pegar.

Harry abriu e viu uma caixinha preta, simples, que de fato de parecia com um porta anel, a não ser pela trava dourada que tinha e pelas runas também em dourado que eram visíveis do lado de dentro. Ele olhou para o padrinho interrogativamente.

-É um Vanilador de Varinha -Sirius explicou, sacando a própria varinha.-Serve para disfarçar uma se você estiver usando uma daquelas roupas grudadas dos trouxas, por exemplo. É sempre útil também se você quiser fingir que está desarmado para ter o elemento surpresa. Vou mostrar como funciona.

Sirius puxou a trava, abriu-o como Harry fizera e depositou a ponta de sua varinha ali. Imediatamente, as runas brilharam e a caixinha começou a tremer, com a varinha de Sirius, que já havia soltado um leve estalido, e, no momento seguinte, a caixa estava fechada e a varinha não estava à vista.

Ele pegou-a e jogou a caixinha pra cima, como se fosse um brinquedo.

-Assim fica fácil caregar uma varinha, até mesmo no bolso de uma daquelas camisetas dos trouxas.-disse ele.- E se precisar dela depressa, é só tocar aqui na trava...

Sirius levou o dedo à trava e logo a varinha estava em sua mão. Já a caixa, Harry a pegou em pleno ar.

-Puxa, Sirius -disse ele, pensando em pedir para Hermione que traduzisse aquelas runas.-Obrigado.

O padrinho sorriu, enquanto Harry pegava o embrulho de Catherina, que adivinhou ser dela, por causa do papel de embrulho, todo cheio de estrelinhas.

Era um espelho redondo.

-Isso é... Um Espelho de Inimigos?

-Não.-sorriu ela.- É um Espelho de Megain. Fique um tempo olhando para o seu reflexo e vai ver para que serve.

Harry fez o que Catherina disse e, tão logo encarou sua imagem nos olhos, teve que erguer a cabeça, pois no lugar do espelho surgiu outro Harry, uma cópia idêntica, parado ali diante dele. O verdadeiro Harry se levantou e ficou frente a frente com que poderia ter sido seu irmão gêmeo.

-Wow.-murmurou Sean, impressionado.

-E pra fazê-lo voltar a ser um espelho é só apertar o pulso dele.-explicou Catherina, mostrando como se fazia, e recebendo os agradecimentos de Harry depois.

-Estou até com vergonha do meu presente.-falou Sean, entregando a Harry o que pareceu um pedaço de palha revestida de metal.- É um alarme anti-roubo para vassouras. Achei que seria uma grande burrice tentar embrulhar. Tudo que precisa fazer é colocar na cauda da sua vassoura.

Harry agradecendo muito e sem conseguir parar mais de sorrir, correu para pegar sua Firebolt no armário.

-Ah, sim -disse Sirius.-Pensei em irmos ao Beco Diagonal hoje.

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De tarde, depois do almoço, eles viajaram pelo Pó de Flu até o Beco Diagonal, e felizmente desta vez Harry não gaguejou em nenhum momento. A pedido de Sirius, ficaram os quatro ali perto das lareiras.

-É que estamos esperando algumas pessoas.-disse, enigmático.

Esperaram por alguns minutos, Harry com a cabeça nos Weasley e em Hermione e Nádia, mas quando chegou aquela mesma mulher loira, Íris, pelo Pó de Flu, ele não pôde evitar que ficasse decepcionado.

Íris parecia zonza e desconfortável; saiu depressa da lareira e veio cumprimentar Sirius.

-Ah, olá -disse ela, pondo uma mão na parede.-Incrível como eu nunca consigo me acostumar com o Flu. E esses são os garotos de que você falou, Sirius?

-São -respondeu Sirius.-Mas onde está a...?

-Está chegando.-disse Íris.- Ela me disse que se lembra como se usa o Flu.

De fato, assim que ela disse isso Harry viu uma garota da idade dele, que inconfundivelmente, era filha de Íris. Os mesmos cabelos loiros, embora curtos, o mesmo nariz e até o mesmo tipo físico. Tinha também um certo ar indiferente de que a mãe não compartilhava, e redondos olhos negros.

A garota olhou em volta até reconhecer a mãe, então pôs as mãos nos bolsos e caminhou folgadamente até ela.

-Ah, aí está ela.-continuou Íris.- Nenhum problema de percurso, espero?

A garota gesticulou negativamente. Harry, Sean e Catherina se entreolharam.

-Bom... Acho que é hora das apresentações.-disse Sirius, dirigindo-se em seguida à garota loira.- Sou Sirius Black, e este é meu afilhado, Harry Potter, minha sobrinha, Catherina, e meu ilustre hóspede, Sean Riddle.

Harry já estava tão acostumado que olhassem para ele com surpresa, sem falar do assombro sobre sua cicatriz que daquela vez, quando aconteceu o contrário, ele não pôde deixar de perceber; a garota ouviu seu nome sem surpresa, sem olhares e sem o menor sinal de reconhecimento. Ela apenas assentiu perante os nomes.

-E nós -disse Íris, parecendo muito satisfeita com uma oportunidade para se apresentar. - somos Íris e Fiona Snape. Fiona estava em Beauxbattons até o ano passado, mas a transferimos para Hogwarts... Acredito que vá estar na mesma classe de vocês três... Já nos vimos antes, não foi, Harry? Na sala do prof. Dumbledore?

Harry meramente assentiu. Estava muito ocupado tentando não olhar para Catherina e Sean, para verificar as reações deles ao sobrenome das duas. Íris continuava falando.

-...e acho que falta alguém, não falta?

Ele percebeu que Fiona também parecia exasperada com a tagarelice da mãe.

-Sim, falta chegarem os... Ah, veja, já estão aí.

Numa outra lareira, chegou a sra. Weasley, que tratou de sair bem depressa para dar lugar a Gina, que chegou logo depois. Após ela, Harry reviu com alívio Rony, em seguida Hermione e depois... Ele limpos os óculos, para ter certeza do que via.

Um Draco Malfoy parecendo MUITO aborrecido chegou pelo Pó de Flu.

Rony olhava de Malfoy para Harry, tentando contar o que acontecera através apenas do olhar.

-E esses -Sirius estendeu as apresentações, para Íris e Fiona.- São Rony e Gina Weasley, Draco Malfoy e Hermione Granger.

Íris deteve seu olhar em Malfoy por um instante a mais do que o necessário, como que reconhecendo o nome dele, quando na verdade, ela conhecera somente o sobrenome. Sirius então apresentou Íris e Fiona novamente aos quatro recém-chegados.

-Agora sim, Íris, estou certo de que estão todos aqui.-falou Sirius.- Vai ser a primeira vez que posso andar no Beco Diagonal na forma humana em tantos anos...-acrescentou.

Quando começaram a caminhar pelo grande calçadão do Beco, Harry percebeu os olhares de concentrarem no seu padrinho, alguns com muito medo, outros com admiração e alguns que nem muito se importavam.

-Você soube da Nádia?-Hermione perguntou a Harry enquanto caminhavam.

-Não, como assim, Mione?

Rony e Mione se entreolharam, surpresos diante da resposta de Harry. Catherina e Sean chegaram mais perto, tentando ouvir o que diziam.

-Então... Sirius não contou pra vocês?-Rony disse, cautelosamente.

-Contou o quê?-Harry insistiu.

-Agora vocês vão ter que dizer.-disse Sean.- O que aconteceu com a Nádia?

-Ela... sumiu.-Hermione disse, com dificuldade.

-Sumiu?-repetiram Sean, Catherina e Harry ao mesmo tempo.

Rony olhou-os com cara de enterro.

-É, cara, por isso que vocês não viram nem sombra dela as férias inteiras na sede da Ordem... Minha mãe disse que ela deveria ter chegado na sua casa há quase uma semana, e como ela não apareceu, primeiro Sirius mandou uma coruja perguntando o que tinha acontecido...

-E como ela não respondeu -continuou Hermione pelo namorado.- Dumbledore decidiu ir pessoalmente até a casa dela e... Tudo estava deserto lá. Não tinha sombra nem dela nem do pai.

Sean estava branco como papel. Catherina parecia em choque, nem conseguia esboçar uma reação. Já Harry não conseguia acreditar.

-Mas ela não pode estar...

-Se fosse pra terem matado a garota, teriam feito isso e largado o corpo lá, seria muito mais inteligente.-a voz de Fiona atrás deles fez todos se sobressaltarem.

Não era para alguém ter dito em voz alta que Nádia podia estar morta. Hermione e Catherina mal se controlaram perante à verbalização clara da idéia. Sean não falou nada, apenas olhou para o chão.

Já Rony se virou para Fiona, nem um pouco satisfeito.

-E você é a tal Fiona Snape, né? Que diabos você é, sobrinha do Seboso?

Fiona meramente fitou-o com uma expressão interrogativa.

-Ah, você sabe de quem eu estou falando, o Snape, que dá aula de Poções...?

-Agora eu sei de quem você está falando.- ela disse. -Ele é meu pai.

-Seu o quê?-Harry disse.-Como nós nunca soubemos que Snape tinha uma filha?

-Eu estudei em Beauxbattons, você não ouviu minha mãe dizer?

-Então aquela É mesmo mulher do Snape...-Rony murmurou.

-Claro que é, você é lerdo, por acaso? Se meu pai é Severo Snape, eu sou Fiona Snape e ela é Íris Snape, ela tem que ser minha mãe, não?

-Falando em pessoas inesperadas -disse Hermione, baixando a voz.- Esse Malfoy morando na casa dos Weasley foi mesmo algo muito engraçado de se ver.

Harry olhou de relance para Malfoy; ele caminhava ao lado de Gina, ainda de cara fechada e, eventualmente, resmungando alguma coisa.

-Malfoy?-repetiu, voltando-se para Rony.- Morando com você?

-Pois é, cara, você não sabe como tem sido horrível.-Rony retrucou.- Ele foi pra casa porque depois de lutar contra o exército de Comensais no ano passado ele não podia voltar pra casa dele, todo mundo sabe que o Lúcio Malfoy tentou matá-lo, mesmo sendo o filho dele.

Harry estava tentando absorver as informações; Nádia desaparecida, Fiona filha do prof. Snape, malfoy morando com os Weasley... No fim, apenas percebeu que estavam indo ao Gringotes quando Sirius e Íris já estavam falando com o duende.

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Draco não estava com muita vontade de ir ao Beco Diagonal, até porque já que insistiam tanto que seu pai estava atrás dele para matá-lo, ir a um lugar público não devia ser a coisa mais segura do mundo. Além do mais, a última coisa que queria era ser visto em público com aquele grupo patético de grifinórios.

Ele nem se deu ao trabalho de dar atenção àquelas duas que pareciam ser parentes do prof. Snape, pois estava ocupado demais tentando se afastar o máximo possível de Gina.

Desde aquele dia em que a beijara, nunca mais havia falando com ela em particular. Ela não ficava encabulada quando o via, mas pareceu também ter achado melhor não falarem sobre o assunto.

E que assunto teríamos para falar, perguntou-se Draco mentalmente, se eu só fiz aquilo para saber que Weasley não manda em mim. Nenhum deles. E também, eu não podia ficar as férias inteiras sem beijar ninguém... Draco se lembrou outra vez do beijo de Gina. Então agora eu sei como é um beijo Weasley, ele continuou pensando, grande avanço.

Quando começaram a caminhar pelo Beco, Draco percebeu que Potter e sua panelinha já estavam mergulhados em seus assuntos ultra-secretos, e que até mesmo a tal Fiona Snape estava entrando na conversa. Bom, ele não faria isso. Não o orgulhoso Draco Malfoy.

E então ele olhou para o lado e viu que Gina também estava deslocada. Eram obrigados a andar um ao lado do outro. Black e Íris Snape não pareciam perceber isso; estavam entretidos em sua própria conversa e tinham os rostos muito sérios.

-Então -resmungou ele, não agüentando mais ficar em silêncio.- Por que diabos não está ali falando com eles?

-Não fui chamada para o assunto.-respondeu a ruiva calmamente.-Eu não tenho o hábito de me intrometer no assunto dos outros.

Ela havia dito aquilo num tom de encerrar conversa, mas Draco preferiu continuar falando; se ficasse em silêncio acabaria tentando desvendar os pensamentos de Gina.

-Achei que não precisasse de permissão para falar com os amiguinhos do seu irmão.-provocou ele.

Gina chutou uma pedra, casualmente.

-Eu não quero, Malfoy. E também não quero manter uma conversa com você, se não se importa.

Draco teve vontade de se empertigar e dizer que ela teria que dizer algo mais ofensivo se quisesse fazê-lo se importar, mas mudou de idéia. Fazer isso mostraria aos outros que estava mesmo conversando com ela. Até ali, conseguira disfarçar.

-Como se eu realmente ligasse.-murmurou, abrindo os lábios o mínimo que conseguiu.

Gina não respondeu. Apenas apressou o passo para se distanciar dele.

Draco escutou os amiguinhos de Potter mencionarem o nome de Nádia, e percebeu que pouco se importava, agora. O pensamento o fez sorrir levemente.

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Saindo do Gringotes, o grupo de dividiu de maneira diferente no caminho para a Floreios e Borrões. Fiona havia começado a conversar animadamente com Sirius. Draco, Gina, Harry, Catherina, Rony, Hermione e Sean estavam caminhando logo atrás, e quando Fiona e Sirius já estavam alguns passos à frente, Íris pôs a mão no ombro de Sean, e os garotos se viraram para ela, como se tivessem adivinhado que ela tinha algo a dizer.

-Preciso pedir uma coisa a vocês.-disse a mulher em voz baixa, quase sussurrando. Harry teve a impressão de Sirius ter virado a cabeça para trás num décimo de segundo e logo depois ter apressado o passo para que Fiona o seguisse.

Os sete jovens olharam para Íris interrogativamente.

-Ninguém além de vocês deve saber que Fiona é minha filha. Qualquer pergunta, a mãe de Fiona morreu há muito tempo e Severo a manteve em Beauxbattons todo esse tempo. Em Hogwarts, todos vocês devem me chamar pelo meu nome de solteira, Íris Branden.

-Mas por que...?-Hermione começou a perguntar.

-Isso eu não posso dizer.-interrompeu Íris.-Mas me prometam que ninguém, ninguém além de vocês vai saber o meu verdadeiro sobrenome.

Todos eles assentiram. A seu lado, Harry ouviu Sean engolir em seco.

-Obrigada. Confio em vocês.-acrescentou a mulher.

Em seguida, correu para ir falar com Fiona e Sirius. Harry agora percebia que não ele quem mais chamava à atenção no grupo, e sim seu padrinho. As pessoas olhavam-no inevitavelmente; algumas discretamente, outras cochichavam e algumas até o apontavam, apavoradas. Harry praticamente podia ouvi-las se perguntando se teria sido uma atitude razoável absolver Sirius Black.

-Aí... Alguém entendeu o que essa mulher disse?-disse Rony confuso.-Quero dizer, por que temos que chamá-la pelo nome de solteira e fazer de conta que essa tal Fiona não é filha dela?

-E mais estranho do que isso.-disse Gina, seriamente.-O que ela quis dizer com "em Hogwarts"?

-No mínimo ela é uma professora nova.-sugeriu Harry.

-Pode ser.-disse Hermione.-Mas que é muito esquisito não podermos chamá-la pelo verdadeiro sobrenome, isso é.

-Tudo isso parece ter dedo de Dumbledore.-especulou Catherina.-Talvez alguém na escola não possa saber que Snape é casado.

-Essa mulher do Snape apareceu muito de repente, se querem saber -murmurou Rony, enquanto entravam na Floreios e Borrões.- : em todos esses anos, como pudemos descobrir a família dele só agora?

-E mais esquisito de tudo.-Harry sussurrou confidencialmente para Rony.- Como é que essa mulher conseguiu se apaixonar pelo Snape?

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Foi uma longa tarde. Passaram em várias lojas, inclusive na fundada por Fred e Jorge, que estava abarrotada de gente, para alegria dos gêmeos. Draco preferiu ficar esperando do lado de fora. Já tivera experiência o suficiente com os gêmeos Weasley para uma vida inteira.

Sean já estava entrando quando percebeu que Draco iria ficar do lado de fora e se deteve ali. O loiro lançou-lhe apenas um olhar de esguelha:

-O que foi? Não está curioso para saber quais são as mais recentes aberrações que aqueles dois inventaram?

-Mais curioso -Sean disse, encostando-se na parede ao lado de Draco. - eu fico de imaginar o que você andou passando esses últimos dias.

-Já que se interessa tanto -Draco resmungou, fechando a cara. - estive no inferno, literalmente. Cabeças vermelhas por qualquer lado onde eu olhe, o tempo todo.

Sean deu um sorriso de canto de boca. Ia dizer alguma coisa quando, de repente, ouviu uma voz muito baixa, familiar, que ele não conseguia entender.

Draco percebeu que Sean desistira do que ia dizer:

-Que foi?

-Psiu -disse Sean.- Estou ouvindo alguma coisa...

Mas com o passar das pessoas em todo lugar à sua volta, o silêncio de Draco não ajudou em nada. Ele tentou apurar mais os ouvidos.

Então ele ouviu de novo. Era um sussurro muito fraco, familiar ainda, mas ele conseguiu entender dessa vez... Estava chamando por ele, chamava seu nome...

-Está ouvindo agora?-perguntou à Draco.

O loiro sacudiu a cabeça negativamente, intrigado.

Sean então deu um passo para a direita, e foi vagarosamente até a esquina, Draco logo atrás dele. Então ele reconheceu a voz.

-É a Nádia!- exclamou, mais alto do que pretendera.

-O quê?-perguntou Draco.

-É a voz da Nádia!-repetiu Sean, correndo da direção da voz que, gradativamente, se tornava mais audível. Pegou Draco pelo pulso e puxou-o.

-Espere aí -falou ele, quando Sean já temia estar ouvindo coisas por ter ficado sabendo do sumiço de Nádia aquela mesma tarde.- Eu também estou ouvindo.

-Está?- o outro respirou aliviado.- Então vamos logo.

Draco não sabia que Nádia podia estar nas mãos de Voldemort, mas pela preocupação de Sean em encontrar a garota, supôs que ela deveria estar correndo alguma espécie de perigo.

Os dois viraram mais uma esquina, agora correndo, e ali poucas pessoas passavam. Na verdade, quase nenhuma. Draco não gostou nem um pouco de constatar isso. A voz de Nádia chamando por Sean agora era tão audível quando seus próprios pensamentos.

Foi quando finalmente encontraram Nádia, presa por algum feitiço ao muro do becos em saída. Estava quase irreconhecível. Os cabelos negros estavam jogados em desalinho, sujos e maltratados, suas vestes estavam rasgadas em vários pontos, o rosto tinha uma série de arranhões e pequenos cortes e significativas olheiras, que demonstravam vagamente o sofrimento pelo qual ela deveria ter passado.

Sean olhou ara Nádia por um tempo, parecendo chocado.

-Nádia...

-Cuidado, Sean! É uma cilada!-Nádia berrou, antes que pudessem dizer qualquer coisa a ela.

Draco sacou a varinha quando dois Comensais encapuzados apareceram atrás dos dois. Sean demorou um segundo a mais do que devia e foi enfeitiçado pelas costas por um dos dois Comensais, sendo jogado com toda a força contra o muro, ao lado de Nádia, que respirava depressa.

Sean bateu de frente e quase quebrou o nariz. Draco tentou lançar o Feitiço Estuporante no homem que atingira Sean, mas teve que desistir para defender-se de um igual lançado pelo segundo Comensal, que depois disso deu uma risada fria. Tão fria que Draco ficou arrepiado da cabeça aos pés.

Ele tirou o capuz. Draco reconheceu Lúcio Malfoy, observando-o daquele jeito que fizera da última vez.

Sean já havia sacado a varinha, mas ficou imobilizado ao ver Malfoy. Até Nádia se calou.

-Ora, ora -murmurou a voz sarcástica de Lúcio Malfoy, olhando de Draco para Sean.- Que dia agradável. Viemos para pegar o filho do Lord e quem encontramos? Outro tolo que ousou trair...

-Expelliarmus!-tentou Draco, mas Malfoy desviou o feitiço facilmente.

-Como você prefere morrer, Draco?-perguntou ele, enquanto Sean observava-os, sem saber o que fazer.-Se baixar a varinha agora, tornará tudo mais fácil... Pra nós dois.

Draco sustentou o olhar do pai com uma firmeza que Sean não sabia que ele tinha. Lúcio Malfoy ergueu a varinha e Draco o imitou. Sean, tremendo e com os joelhos bambos, não tinha noção do que fazer, quando Nádia sussurrou ao seu lado:

-Mande-o parar...

-O quê?

-Agora!

Lúcio Malfoy acenou com a varinha.

-PARE!-berrou Sean.

Inacreditavelmente, Malfoy olhou Sean fixamente por um instante e baixou a varinha. O outro Comensal então fez menção de lançar algum feitiço, quando ele repetiu o comando. Sean olhou os dois parados ali, quando Nádia falou de novo:

-Imponha-se... Exiba seu nome...

-Por quê?

Draco virou-se para os dois.

-Que diabos está acontecendo aqui?

Lúcio Malfoy então recuperou-se da espécie de estupor em que caíra quando Sean mandara-o parar.

-Avada Ked...

-NÃO!

Sirius apareceu de repente, e jogou-se em cima de Lúcio Malfoy. Sean viu atrás dele no mínimo dois ou três aurores; Harry e todos os outros, parecendo muito assustados. No momento seguinte, o outro Comensal desaparatou; assim que caiu no chão, Malfoy se livrou de Sirius e fez o mesmo.

Harry, Catherina, Gina, Rony e Hermione correram até Nádia. Draco meramente guardou a varinha nas vestes, quando viu Lupin diante dele.

-Estão todos bem?

-Eu estou, mas acho que o Dark... Riddle enlouqueceu.-respondeu Draco, indicando Sean com a cabeça.

Sirius, Íris, Lupin e Tonks, os dois últimos saídos de não se sabe onde, começaram a vasculhar o lugar, e soltaram Nádia. A garota quase caiu no chão, fraca demais para suportar o próprio peso sobre as pernas, mas Sean apressou-se em segurá-la.

-Você está bem?

-O que importa -respondeu Nádia, respirando depressa. - é que acabou. Não estou bem agora, mas... Vou ficar.