... até que não agüento mais, porque quando todo mundo começa a me chatear, fico irritada, e depois triste, a parte má do lado de fora e a boa do lado de dentro, e tento achar um modo de me transformar no que gostaria de ser e no que poderia ser se... se não houvesse mais ninguém no mundo.
- ultimas palavra de O Diário de Anne Frank
"Quanto tempo ainda vai durar?"
Foi o pensamento que ocorreu a Lílian enquanto observava Tiago vestir a capa de viagem para sair. O sol lá fora se erguia quente sobre o jardim, mas para ela o mundo estava sempre frio, sempre vazio, como se vivesse um dia após o outro arrastada por um corpo que ainda não tinha consciência de seus dias contados.
Harry havia tido uma noite ruim e agora dormia tranqüilamente em seu quarto após excluir qualquer possibilidade de um sono reparador aos pais. Só ela e Tiago estavam no quarto, ela esparramada numa poltrona, se sentindo frágil e pequena diante de seus próprios pensamento, e Tiago se vestindo para sair.
- Eu pensei que íamos ter uma festa hoje... - murmurou a jovem.
Tiago lhe lançou um olhar curioso, e então se virou para procurar a varinha entre as roupas que acabara de trocar.
- Talvez tenhamos, mais tarde - respondeu, voltando a mirar a esposa. E se deu conta do quanto ela parecia fraca, os olhos verdes, sempre tão brilhantes, agora estavam apagados e a cabeça pendia para trás no encosto da poltrona azul-turquesa. - Tudo bem? - perguntou com a voz rouca.
Era 31 de outubro, dia das Bruxas. Dia de todos se esforçarem para sorrir e se divertir um pouco nas festas. Há três dias atrás, o velho Aberforth aparecera na porta da casa dos Potter com uma pilha de caixas contendo dezenas de garrafas de cerveja amanteigada.
- Você tem certeza que podemos ficar com tudo isso? - Lílian olhou para o velho entrevado parado junto à porta. Ele tinha um ar rabugento, com uma espessa cabeleira e barbas grisalhas. - Você sabe, Aberforth, a herança de Tiago está retida no banco, nós não podemos pagar por.
O bruxo meramente sacudiu as mãos e respondeu:
- Tenho sim. Quero apenas que se divirtam. É reconfortante pra velhos como eu que os jovens ainda consigam pensar em festas. Nós precisamos de uma agora mais do que nunca... - e, olhando para o jardim vazio, completou: - Além do mais, eu prefiro dar minhas coisas a esperar que comensais venham levá-las.
Dessa forma, Lílian e Tiago estavam planejando reunir um pequeno grupo de amigos em casa, mas sabiam que a comemoração estaria mais ligada à melancolia do que à alegria da data. Eles mesmos tinham a nítida sensação de que estavam sendo ridículos, comemorando apenas por comemorar, mas não havia muito mais que pudessem fazer.
- Aonde você vai? - a voz dela soou ainda mais fraca.
- Dumbledore pediu pra eu ir falar com ele.
Lílian levantou o rosto e olhou para o marido, suplicante. "Eu quero ficar com você...", era como se ele pudesse ler o pedido mudo nos olhos verdes da esposa. Ultimamente era só assim que os dois conversavam - com os olhos -, porque Lílian já quase não falava mais. Era como se tivesse medo de proferir palavras.
Mas, à medida que Tiago, pacientemente, ouvia suas palavras inaudíveis, passou a entendê-la de uma maneira que nunca tinha entendido antes. A cada segundo do dia, ele podia ver a tristeza de Lílian aumentar, mesmo quando ela não derramava lágrimas. Ele era capaz de ouvir sobre o fim da esperança na recuperação daquele mundo miserável da voz silenciosa dela. E sobre tantas tragédias que não poderiam ter sido previstas por ninguém. Mas, acima de tudo, ele a via viver, por mais que se sentisse esmagada pela fatalidade, Lílian continuava a viver e era só isso que lhe dava forças para sair de casa dia após dia sem saber se ia voltar.
E ele via o quanto ela queria que ele ficasse, mas não podia simplesmente deixar Dumbledore esperando quando sabia que seu velho professor jamais o incitaria a sair de casa sem um motivo bastante forte.
Tiago abotoou o último botão da capa e saiu sem olhar para Lílian, uma culpa enorme o seguindo como uma nuvem cinzenta.
Assim que a capa esvoaçante do marido desapareceu pela porta do quarto, Lílian fechou os olhos contra as lágrimas e pôde senti-las escorrendo sob suas pálpebras, traçando linhas quentes em sua face.
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- Você é minha, Lílian Evans, e eu nunca a abandonarei! É uma promessa - um Tiago Potter de dezessete anos estava ajoelhado à sua frente em meio ao alvoroço da comemoração da vitória grinfinória na taça quadribol. - Não importa o que aconteça, eu sei que serei feliz se puder te olhar assim para o resto dos meus dias...
Lílian sentiu o rosto esquentar rapidamente e murmurou um "sim" inaudível, de modo que os estudantes ao redor tiveram que deduzir a resposta ao pedido de casamento que Tiago fizera minutos antes - o que não foi difícil, porque o Maroto se levantou num salto e ergueu a ruiva no ar, girando loucamente como se não houvesse ninguém por perto.
- Você me libertou, Tiago - ela sussurrou junto ao ouvido dele.
- Não... não fui eu que te libertei - ele a afastou para poder mirar seu rosto. - Apenas te amei como você precisava.
Lílian lhe lançou um olhar reprovador, como sempre fazia quando ele vinha com sua mania de auto-congratulação.
- Eu não precisava - respondeu ela, desdenhosamente.
Os braços de Tiago se afrouxam em torno de sua cintura e ela quase pôde rir por dentro ao constatar que não tinha perdido a capacidade de ser cruel com ele quando era preciso.
Mas não era esse o caso agora. Então a garota envolveu o rosto fino de Tiago entre as mãos pequenas e deu-lhe um beijo estalado.
- Eu não precisava de você, eu preciso de você!
Ele levantou o rosto, e os olhos dos dois se encontram.
- Você sabe que nós somos dois loucos, não sabe? - perguntou Lílian, mas sua voz foi abafada por uma série de estouros e, em seguida, centenas de faíscas coloridas se espalharam pela sala comunal, ricochetando nas paredes e cascateando sobre as cabeças dos grinfinórios.
Ele deu uma risada sonora e a puxou para um novo rodopio.
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"Você está arrependido de ter casado comigo, Tiago?"
- Esqueci minha capa da invibili... - Tiago interrompeu a frase no meio ao se deparar com a esposa encolhida na poltrona, grossas lágrimas vertendo pelo seu rosto, uma aura de desconsolo tão sólida que quase se podia tocar.
Ele avançou pela salo quarto e a envolveu nos braços, como faria com uma criança.
- Eu sinto muito - sussurrou ela, entre os soluços. - Sinto muito por você ter que ficar perto de uma pessoa covarde como eu.
- Você não é covarde - falou ele. - Você é muito forte, Lílian, você sabe que é.
- Eu morreria... eu prefiro morrer a perder você ou Harry.
- Não fale desse jeito.
- Eu falo porque não poderia viver sem vocês dois. Vocês são a minha vida.
- Você não vai ter que viver sem a gente, vamos estar pra sempre juntos, lembra? - Tiago passava os dedos pelas bochechas de Lílian, secando as lágrimas.
- Desculpe... - sussurrou ela, entrelaçando os dedos dele aos dele.
- Não precisa pedir desculpas.
- Preciso sim... eu fui tão dura com você, você não... você nunca mereceu.
- Até que eu merecia sim - ele forçou um sorriso consolador. - Se não fosse você pra murchar a minha bola, seria aquele idiota convencido até hoje.
- Eu sempre gostei de você, mesmo quando era um idiota convencido... - ela sorriu tristemente, mais lágrimas vertendo em seu rosto pálido. - Eu só achava que, se sempre estivesse sozinha, ia acabar me acostumando e não teria medo me machucar. Quando percebi o que realmente sentia por você... eu... eu tive medo de tudo mudar e perder você se me aproximasse.
- Nada vai mudar. Estaremos sempre juntos - falou Tiago, afagando os cabelos da esposa.
- Tenho que te dizer uma coisa - ela empurrou Tiago e ficou ereta na poltrona, mirando o fundo dos olhos castanhos do madido. - Eu sinto muito por ter cedido e voltado atrás, mesmo quando no fundo sabia exatamente como ia acabar e quanto sofrimento isso nos traria.
Tiago maneou com a cabeça, parecendo não saber do que ela falava. Até que a confusão de Gweena Tirésias lhe veio a memória e ele entendeu. E não soube o que dizer. Lílian estava dizendo que tomara a decisão errada ao voltar pra ele há meses atrás e Tiago de repente sentia como se algo enorme o estivesse esmagando.
Ela tocou seu rosto com as pontas dos dedos finos e completou:
- Mas eu também sabia que seria extremamente feliz todo o tempo que passasse ao seu lado, e nunca me decepcionei. Eu fui egoísta, eu admito, mas eu te amo tanto... - ela afundou o rosto no peito de Tiago, abafando os soluços. - Eu quis acreditar com todas as minhas forças que o amor sozinho poderia nos salvar, mas sei que não vai.
- Você não pode saber.
- Eu posso - Lílian o mirou com os olhos brilhantes de lágrimas. - É por isso que eu queria deixar você. Antes que tudo chegasse ao fim, eu queria que você se afastasse de mim. Pelo menos assim o meu poder poderia trazer alguma coisa boa. Mas você me fez lutar e desejar continuar vivendo. Você me fez querer amar até o final. Então, por favor, fique comigo até o final.
Ela abraçou Tiago com força e deixou as lágrimas rolarem livremente.
- Eu nunca te contei, - ela falou, após algum tempo - mas tive uma visão da nossa família no sexto ano. Foi assim que a idéia de ser mãe começou a tomar forma na minha cabeça. Mas na época eu achava que ia morrer de vergonha se você soubesse, você sabe, nós ainda nem estávamos juntos e eu nunca tinha... - ao dizer isso, Lílian ficou vermelha e abaixou os olhos. - Depois... veio a guerra, e eu não quis nem mais cogitar a idéia. Mas Harry resolveu vir de surpresa, e eu tive muito medo por ele, ainda tenho... Por que está sorrindo? Eu estou falando aqui de uma coisa séria e.
- Quero ter outro filho com você - antes que ela dissesse qualquer outra coisa, Tiago a puxou para junto de si e escorregaram da poltrona, caindo abraçados no tapete.
Nenhum deles queria saber nada sobre o futuro. Quase todos os seus amigos já tinham ido. Por que eles tinham sido poupados? O que tinham de tão especial pra continuar vivendo enquanto tantos caíam?
Não sabiam. Mas, naquele dia, sem trocarem uma única palavra, os dois decidiram esquecer - esquecer o mundo fora da casa em Godric's Hollow, o passar das horas, as pessoas esperando, a ameaça de Voldemort e a guerra que se desenrolava.
Naquela manhã de 31 de outubro de 1981, Lílian e Tiago dividiram um amor que, pela primeira vez, não estava preso a qualquer sentimento terreno, fosse ele desejo, prazer, alegria ou sobrevivência. Por isso ela chorou e, pela primeira vez, ele entendeu suas lágrimas. Era como se a felicidade que sentissem fosse um crime.
Mesmo assim, não lhes restavam muitas opções além de se prenderem um ao outro como se fossem realmente, mais que inseparáveis, indivisíveis, e ignorar a aproximação do fim, o fim de tudo e o fim de seu amor, com a esperança de que o tempo que passassem juntos pudesse durar para sempre.
Foi a primeira vez que Tiago faltou com um compromisso com Dumbledore. E ele não pôde deixar de se perguntar por que isso o deixava tão feliz.
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- Eu já disse, Mestre, ele é inútil. Se o senhor permitir, eu o mato agora mesmo - falou Bellatrix, mirando Rabicho encolhido no chão como um rato acuado.
Voldermot não disse nada. Matinha-se quieto na poltrona, com o queixo apoiado na mão ossuda.
- Eu... - guinchou Rabicho. - Eu sei onde eles estão, eu sei! Já estive lá, eu juro.
- E do que isso ia me adiantar? - sibilou a voz aguda de Voldermot. - Sabemos que eles estão protegidos pelo Fedelius, mesmo se você nos contasse, não conseguiríamos encontrá-los.
- O que devemos fazer então, Mestre? - perguntou Malfoy, num tom untoso.
- É óbvio que Sírius Black é o fiel do segredo dos Potter. Capturem-no e terão alguma chance - interveio Bellatrix, sorrindo largamente e com os olhos brilhando de expectativa. A varinha girava vagarosamente em seus dedos finos, ansiosos por poder dar um fim em Pedro. Mas toda a alegria foi varrida de seu rosto pelo novo apelo de Pedigrew:
- Sírius? Vocês caíram mesmo nesse truque? Acham que eles fariam algo assim tão óbvio? - e forçou um riso esganiçado.
Belatrix perdeu a paciência e seus olhos se acenderam em fúria enquanto ela avançava para o bruxo com a varinha erguida:
- Ah, é, senhor Pedigrew? - sibilou ela, com o rosto perigosamente perto do dele - Então suponho que você saiba quem é o fiel do segredo dos Potter.
- Suponho que sim - confirmou, com a voz trêmula.
- Então diga. Quem é o fiel do segredo?
- Eu mesmo.
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- Lílian, escute - Tiago segurou Lílian pelos ombros. Ela olhava ao redor alucinada, o céu lá fora tinha escurecido subitamente, em pleno meio de tarde.Sabiam o que estava acontecendo, haviam sido traídos e Voldermot se aproximava. Nem se dava ao trabalho de se esconder, caminhava calmamente pela calçada em frente à casa, emanando sua energia sombria negra em todas as direções.
- Eu sabia, eu disse... - gaguejou ela.
- Eu sei! - ele tampou a boca dela com a mão. - Agora escute: não importa o que me aconteça, você tem que sobreviver. Eu jamais conseguiria me perdoar se algo de mal acontecesse com você e com Harry.
Lílian sacudiu a cabeça com ar de desolamento e afastou as mãos de Tiago.
- O que você quer que eu faça? - perguntou, escondendo o rosto nas mãos.
- Eu não vou desistir. Vou ganhar tempo, você sobe e pega o Harry.
- Você prometeu... - Lílian engoliu os soluços e olhou revoltada para o marido. - Nós prometemos ficar juntos até o fim!
- Lílian, é preciso!
- Isso não é justo! Como eu vou continuar vivendo sem você?
- Harry - falou Tiago, num fio de voz.
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N/A:
Nhai, agradeço a todos os que comentaram e a todos que leem a fic n.n
BabI BlacK: É, pensando por esse lado, num tinha atentado pra isso o.o Que bom, eu sempre escrevo essas cenas tristes pensando "só eu q sou molenga vou gostar disso" u.u É um grande alivio saber q mais alguem gosta n.n
Vanessa: contrastes são tudo em historias que pretendem ser tristes na minha opinião. Se tudo for depressivo sempre, quem lê acaba nem sentindo... mas se vc ficar fazendo esses contrastes, dá pra realmente sentir o quão dramática é uma passagem n.n
Lilli-Evans: (envergonhada...) Eu tento né, faço o meu melhor, que bom que vc gosta n.n
Não pude fazer isso, se não a fic ia virar uma embromação sem fim u.u Se eu adiasse uma vez pode ter certeza que nunca mais ia ter coragem de aceitar essa parte da história.
Eu tbm tnho essa contradição em relação a Bella, eu odeio ela aqui e adoro ela em outra fic n.n" E o Pedro merece totalmente cada um desses adjetivos (e outros muito piores...) Tbm qro ele morto, ou melhor, vivo e sofrendo bastante o.o E não se preocupe com o tamanho da review, eu acho que eu já esrevi isso, mas repito: eu adoro quando me deixam uma review gigante n.n
Ana Bya Potter: obrigada n.n O Remo não se conforma, eu não me conformo tbm! Como eu disse, o Harry tinha que ser feliz pelo menos enquanto é bebê né? Embora essa fase tenha acabado aqui u.u É, péssima ideia a do Sirius... mas ele não tinha como saber... Foi confiar no rato em vez de confiar no Remo i.i
Adriana Black: Obrigada n.n Inteligente ele é, um inteligente aproveitador, isso ninguem pode negar o.o Mas uma inteligencia que só funciona em proveito próprio, fala sério, aquele ali nunca teve amigos não u.u Finalzinho de capítulo triste pra combinar com final de fic triste. Lembram do que eu já escrevi aqui? É uma guerra, e numa guerra nada pode estar bem. Vc acha que o ambiente familar dos Potter era feliz? Não acredito nisso. Nem os Potter, nem o Remo, nem o Sirius, ninguém está menos que aflito e perturbado... O Remo tinha esse incremento de saber que desconfiavam dele e estava paralizado de depressão. Não se pode dizer que alguém estava mais errado aí. Sirius e Remo estavam igualmente errados, nenhum deles teve culpa.
Quanto ao Harry, pra mim ele nunca saiu dessa noite de dia das bruxas, sabe? Ele pensa no Voldemort e logo lembra da morte dos pais e sofre como se estivesse vendo acontecer. Ele faz as coisas sem pensar muito que aquela noite é passado e que o presente pode vitimar mais pessoas que ele gosta. Acho que essa ficha só cai pra ele no fim do 5o. livro. Criatividade ta garantida pra essa fic, tbm tá praticamente terminada...
Lily Dragon: Pra dizer a verdade, eu entendo essas minhas crises de escrever coisas depressivas como jogar pra fora as coisas tristes que estão dentro de mim (é meio piegas, mas é mais ou menos isso). Nhai eu só faço sofrer os personagens que eu mais gosto (Remo, Sirius, Lily...), o que é meio estranho... Eu não consigo ir além de pensamentosa mediocres qd penso no Pedro, q eu odeio. Nem mesmo consigo pensar em escrever sobre um arrependimentozinho dele.
Bjokas de doce de figo pra todos vcs n.n
Até mais e deixem reviews o/
BelWeasley.
