Oi, gente!
Desculpem a demora, mas foi porque eu decidi escrever os capítulos restantes antes de postar esse. Isso mesmo, a fic já está toda completa, só falta eu editar, então as próximas atualizações não vão mais demorar. :)
Quero dizer também que resolvi excluir os nomes dos capítulos, porque é muito chato ficar pensando em título, então os capítulos não terão mais nomes.
É isso, espero que gostem e comentem.
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Capítulo 19
A primeira coisa que Ron viu ao abrir os olhos, foi Hermione. O cabelo cheio caindo por cima da bochecha dela, a respiração suave e ritmada enquanto ela dormia pacificamente. Para Ron, era uma visão bonita. A mais bonita de todas. E também era surreal.
Não apenas estar ali, no apartamento de Hermione, na cama dela, mas toda a situação em si. Reencontrá-la depois de tanto tempo e mesmo com todas as rachaduras dentro dele, ainda ser capaz de deixar vê-la através dele, ainda que minimamente. Mas no final das contas, era Hermione, ninguém mais do que sua melhor amiga, e a mulher por quem ele estava apaixonado.
Ela abriu os olhos e mesmo através da expressão sonolenta, ela sorriu para ele.
_ Bom dia!
_ Bom dia!_ Ron respondeu de volta e tirou o cabelo do rosto dela.
_ Você dormiu bem?_ Hermione perguntou, mesmo sabendo qual era a resposta.
Ron não havia dormido bem. Ele teve pesadelos como vinha tendo todas as noites desde que recuperara a sua memória. A diferença era que ele só acordou gritando duas vezes.
_ Poderia ter sido melhor_ Ron respondeu e Hermione se aproximou, envolvendo o corpo dele com um dos braços.
_ Quer conversar a respeito?
_ Na verdade, não.
Aquele era o momento em que Hermione poderia se sentir frustrada, porque Ron nunca queria conversar sobre o que o machucava, nunca queria abrir a porta para que ela pudesse realmente consolá-lo, mas ainda assim, a frustração não veio. Ela sabia de todos os traumas de Ron, e quando decidiu ficar com ele, Hermione estava totalmente ciente de tudo que vinha junto: as coisas boas e as ruins também. Estava ciente de que ele não era capaz de vocalizar sua dor de uma forma explícita, não ainda.
_ Hermione_ Ron começou, aproximando seu rosto do dela_ Quando você vai falar com o Elliot sobre nós?
Hermione corou com a pergunta. Ron e ela estavam juntos há quase duas semanas e ele vinha dormindo no apartamento dela quase todas as noites desde então. E sempre que podia, ele fazia a mesma pergunta.
_ Assim que for possível_ ela suspirou.
_ Hermione, é sério. Quando você vai fazer isso?_ Ron levou uma das mãos até as costas dela e a acariciou por cima do pijama.
_ Eu preciso mesmo?_ Hermione fez beicinho.
_ Hermione!
_ Ele foi embora_ ela tentou se justificar, mesmo sabendo que era uma resposta fraca.
_ Eu sei que ele foi embora, mas vocês nunca chegaram a conversar de verdade_ Ron disse meio exasperado_ E se ele achar que vocês estão apenas dando um tempo? E se ele achar que vocês vão voltar a qualquer momento… E você não é assim. Você precisa ser sincera com ele.
_ Eu sei, eu sei_ Hermione cobriu o rosto com as mãos.
_ Então?_ Ron insistiu, puxando as mãos dela, a fazendo o olhar nos olhos_ Quando?
_ Logo.
_ Logo?
_ Hoje.
_ Você está falando isso há dias_ Ron rebateu.
_ Eu sei_ basicamente Hermione vinha dizendo desde que os dois iniciaram sua relação que ela falaria com Elliot, mas a verdade é que ela ainda não havia encontrado coragem. Desde que Elliot havia ido embora, eles nem sequer tinham se falado e as coisas nunca realmente pareceram ter um fim definitivo, embora estivesse totalmente acabado para Hermione.
Enquanto ela tinha uma guerra mental, Ron deslizou a mão em suas costas por dentro do pijama dela, quebrando a tensão anterior, e ela pôde sentir os dedos dele em contato com sua pele. Não era algo novo para os dois, mas eles haviam combinado de nunca cruzar nenhuma linha que poderia fazê-los se sentir culpados até que ela conversasse com Elliot, então o máximo que eles faziam era dar alguns beijos mais intensos e dormir abraçados, o que não era fácil e talvez não parecesse fazer sentido levando em consideração que eles eram jovens nos seus vinte e poucos anos, que antes de ficarem juntos moravam com outras pessoas. Pelo amor de Deus, Hermione até havia sido noiva e dividiu aquele mesmo apartamento com Elliot apenas semanas atrás. Então, eles não eram dois virgens esperando o momento certo, eram apenas duas pessoas tentando não magoar ninguém.
_ Você parece um adolescente_ Hermione resmungou, mas estava aproveitando o toque de Ron.
Ele riu.
_ Não estou fazendo nada_ Ron a puxou para mais perto e a beijou. Quando eles se afastaram, ele ficou um pouco sério_ É claro que eu quero você… Mas não é por isso que quero que você fale logo com ele.
_ É pelo quê, então?_ Hermione ergueu uma sobrancelha para ele.
Ron hesitou por alguns segundos. Ele respirou fundo.
_ Já é difícil o suficiente começar qualquer coisa com você, quando parece que tem um furacão passando dentro de mim… Eu só quero que uma coisa, pelo menos uma, seja pacífica, entende? Já existe muita coisa mal resolvida na minha vida, Hermione, não quero que essa seja uma delas.
_ Oh, Ron_ Hermione o puxou tanto para perto, que seus narizes estavam se encostando. Ela se sentiu mal. Devia ser angustiante para Ron ter que se preocupar com a maneira como eles estavam fazendo aquilo, já tendo tantas outras coisas dentro dele que precisavam de conserto_ Me desculpe…
_ Não, não_ Ron disse rápido_ Não peça desculpa, eu não quero te pressionar… Eu só quero… _ ele tentou encontrar as palavras corretas, algo que não fizesse Hermione se sentir culpada ou colocada contra a parede_ Só quero fazer as coisas do jeito certo… Não quero que isso seja mais alguma coisa com que a gente tenha que se preocupar.
Hermione acenou com a cabeça.
_ Vou falar com ele hoje, eu prometo.
_ Quer que eu vá com você?
_ Não, acho que prefiro fazer isso sozinha.
Eles se encararam e Ron a puxou para que ela deitasse a cabeça em seu peito.
Aquilo era bom. Era bom que Hermione definisse as coisas com Elliot, porque Ron já sentia que muitas coisas estavam erradas na sua vida. Ele não queria que a única coisa realmente boa, fosse manchada porque estava começando de uma maneira errada. E se ele pudesse ter apenas uma coisa boa e certa em sua vida, que fosse Hermione.
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Hermione observou ao redor da pequena sala que Elliot dividia com mais dois curandeiros no Hospital St. Mungus. Não havia mudado nada desde a última vez em que ela esteve lá, meses atrás, quando foi almoçar com Elliot: os mesmos quadros com curandeiros antigos pulando e xeretando ao redor, o mesmo cheiro de mistura de poções, o mesmo porta-retrato com uma foto dela e de Elliot juntos, sobre a pequena mesa dele.
Ela se lembrava com carinho do dia em que tiraram aquela foto. Os dois haviam ido a um festival de música trouxa que Hermione queria mostrar a ele há algum tempo. Quando eles estavam lá, Elliot insistiu que tirassem uma foto juntos para eternizar o momento. E assim fizeram. Hermione deu um pequeno sorriso ao se lembrar. Parecia mentira que ela estava ali exatamente para acabar com o que deveria ser eterno.
_ Hermione.
Ela se virou muito rápido assim que ouviu a voz de Elliot. Ele estava parado na porta, apertando uma prancheta entre as mãos.
_ Oi_ Hermione disse, engolindo em seco_ Desculpe mandar a coruja tão em cima da hora.
_ Sem problema_ Elliot falou, entrando e fechando a porta atrás dele, mas não chegando a se aproximar de Hermione_ Você está esperando há muito tempo? Eu tive que acompanhar a alta de um paciente…
_ Não, não_ Hermione disse apressada_ Eu também cheguei quase agora…
Elliot apenas acenou com a cabeça, e Hermione pensou que era o momento de dizer alguma coisa, de acabar logo com aquilo, de ser honesta. Mas não havia nenhum manual ensinando a romper com alguém sem causar muitos danos, então ela não sabia como começar. Deus, ela realmente ia destruir algo que ela demorou muito para construir. Ela partiria o coração da pessoa que a salvou.
Mas que escolha ela tinha, quando do outro lado quem estava esperando por ela, era Ron? Não, aquilo era mentira. Não era uma escolha. Porque quando você tem que escolher algo, significa que você está em dúvida e Hermione não tinha nenhuma dúvida do que ela queria, não mais. Ela só gostaria de saber como fazer aquilo sem muitos efeitos colaterais.
_ Acho que temos que conversar_ ela disse.
_ Bom, foi pra isso que você veio, certo?
_ Sim_ Hermione respirou fundo. Saber o que tinha que fazer, não tornava nada mais fácil_ Elliot, eu… Eu não sei exatamente por onde começar.
Elliot fechou os olhos e dessa vez, foi ele que respirou fundo. Quando ele os abriu, a encarou diretamente.
_ Apenas seja sincera. Eu acho que é o mínimo.
Hermione acenou e finalmente a culpa a invadiu. Então, abriu a bolsa e tirou de dentro dela, o anel de noivado que Elliot havia lhe dado meses atrás. Ela se aproximou dele, pegou sua mão e colocou o anel ali. Depois deu um passo para trás e o encarou.
_ Eu gostaria de te dizer muitas coisas, de fazer um discurso dizendo o quanto você é importante para mim, mas acho que não é o que você quer ouvir.
Elliot ficou parado, olhando para o anel em sua mão. Provavelmente era coisa da cabeça dele, mas o material parecia queimar sua pele. Ele se lembrou vagamente do dia em que o comprou. Se lembrou de toda a certeza que teve de que Hermione era a pessoa com quem ele gostaria de passar o resto da vida. Bom, essa certeza aparentemente, nuca fora compartilhada.
Finalmente, Elliot ergueu a cabeça e olhou para Hermione. Ele fechou o anel em seu punho.
_ É, não é o que eu quero ouvir_ Elliot finalmente disse_ Mas eu queria a verdade e você me deu isso.
Hermione passou uma das mãos nos olhos e tentou fazer o possível para manter suas emoções presas dentro de si mesma. É claro que isso não a impediu de se sentir a pior pessoa do mundo.
_ Elliot, eu gostaria que as coisas fossem…
_ Diferentes?_ Elliot a interrompeu, e deu um sorriso triste_ Não, não gostaria. Tudo o que você sempre quis era o Ron Weasley de volta, e ele está de volta… Hermione, eu perdi a conta de quantas vezes vi você chorando, enquanto admirava as fotos dele que você mantém guardadas naquela caixa de sapatos velha, que você esconde no fundo do guarda-roupa… Cada aniversário dele, cada aniversário da morte dele, cada natal… Eu via você tentando segurar as pontas, fingir que havia seguido em frente, se forçando a acreditar nisso. Eu vi tudo, mas eu fiz como você, eu fingi que não.
Hermione fungou audivelmente. Ela não tinha ideia de que sua dor era tão visível. Ela se policiou tanto durante todos esses anos, ela treinou seu cérebro para parecer o mais indiferente possível quando se tratava de Ron, mas a verdade é que ela nunca pôde enganar Elliot. E agora ela se dava conta de que mesmo que Ron estivesse realmente morto ou mesmo que Draco Malfoy nunca tivesse cruzado com Ron naquele bar, ela e Elliot nunca teriam funcionado. Porque Ron sempre seria um fantasma, a lembrança dele sempre seria mais forte do que a presença de Elliot. Isso a entristecia de certa forma, porque Elliot não merecia, mas ao mesmo tempo se dar conta disso, a fazia constatar a dimensão de seu amor por Ron. E era assustador saber que estava tão ligada a alguém, de uma forma tão irreversível que nem mesmo algo tão definitivo como a morte, mudaria isso.
_ Me perdoe_ Hermione pediu, ela poderia implorar por isso, se fosse preciso. Porque não havia muito mais a ser dito. Elliot estava certo, afinal. Hermione não queria que as coisas fossem diferentes. Ela não preferia estar com ele a estar com Ron. E talvez reformulando o clichê de "eu queria que as coisas fossem diferentes", o máximo que ela poderia querer de diferente, é que Ron nunca tivesse sumido, para começar_ Por favor, me perdoe.
Elliot a encarou, e o que ele sentia por ela não havia mudado, embora de certa forma, ele a visse de uma maneira diferente agora. Não como alguém pior ou melhor. Mas sim, como a Hermione que ela um dia foi antes de toda a tragédia em sua vida acontecer. Era irônico, porque Elliot sempre se perguntou como seria a Hermione Granger que não havia sido devastada pelo luto. Bom, agora ele sabia. Ela tinha um olhar vivo e esperançoso, e mais cor em seu rosto do que ele jamais havia visto, apesar das lágrimas. Era uma pena que essa Hermione cheia de expectativas, não foi feita para ele.
Ele então pensou em dizer que a perdoava, mas o que saiu de sua boca foi algo totalmente diferente.
_ Vocês estão juntos?_ agora Elliot apertava tanto o anel em sua mão, que começou a machucá-lo.
Hermione piscou algumas vezes, tentando espantar as lágrimas. Aquela pergunta não era uma surpresa, de certa forma, ela sabia que teria que responder aquilo. E Elliot não merecia menos do que a verdade.
_ Sim, nós estamos juntos.
Ela aguardou. Ficou ali parada esperando a reação dele e desejando internamente que ele não a odiasse muito. Mas aquele era Elliot, um homem bom e decente. Hermione sabia que por mais magoado que ele estivesse, Elliot não seria capaz de odiá-la. E provando que ela estava certa, ele acenou com a cabeça.
_ Bom, não é realmente uma surpresa_ Elliot disse, e Hermione podia ver a dor em seus olhos, apesar de sua expressão suave_ Acho que eu sabia que isso aconteceria no momento em que você me disse que ele estava vivo…
_ Parece que te causei alguns bons meses de angústia então_ Hermione disse com tristeza.
_ É, mas agora pelo menos, isso acabou.
Os dois se encararam.
Sim, estava acabado. Elliot não precisaria mais antecipar pelo pior. E Hermione não precisaria mais mentir para si mesma. A única verdade, é que eles estavam livres.
_ E sim, eu te perdoo_ ele finalmente disse. Como Elliott poderia não perdoá-la se ele sabia que tudo que ela fez nos últimos quatro anos foi lutar contra uma dor que ele nem sequer poderia imaginar?
Hermione voltou a limpar as lágrimas.
_ Obrigada_ ela disse, quase sem fôlego_ Elliot, você não tem ideia do que você significa pra mim…
_ Essa é a parte em que você me enche de elogios como uma tentativa de me fazer sentir melhor?_ ele deu um sorriso triste.
_ Não, essa é a parte em que eu continuo sendo honesta_ Hermione disse, tentando se recompor. Ela respirou fundo_ Os últimos quatro anos da minha vida foram… foram confusos, pra dizer o mínimo_ "Confusos" não era a palavra certa, mas Hermione pensou que poderia amenizar aquilo para ele_ E você estava lá… Todas as vezes, você estava lá… E você entendia e não recriminava a minha dor. Eu sempre serei grata por isso.
Elliot entendia o lugar dele na vida de Hermione. Ele foi a corda que manteve ela segura, a cola que grudou os caquinhos dela, foi apenas a solução até que Ron voltasse para fazer Hermione inteira de novo. Doía a beça saber disso, mas ele aceitava.
_ Você não precisa mais de mim agora_ ele disse de repente, olhando na direção do chão. Então depois de uma longa pausa, ele voltou a olhar para ela_ Eu espero que logo, eu também não precise mais de você.
Hermione quis chorar com mais força, mas em vez disso, ela passou as duas mãos pelo rosto. Porque sim, ela também queria aquilo.
_ Não me odeie_ ela pediu.
_ Nunca!_ Elliot respondeu do fundo do coração.
Então era isso. Não havia mais nada a ser dito. Mais nenhuma verdade precisava ser contada. Hermione fez o que tinha que fazer, e Elliot também. Agora ela podia viver aquilo, viver Ron sem nenhuma pendência, sem nenhuma ponta solta.
_ Hermione_ Elliot a chamou de repente, quando Hermione já tinha a mão na maçaneta da porta. Ela se voltou para ele, o rosto ainda vermelho e inchado, apesar dela já ter secado as lágrimas_ Eu sei que você vai se jogar nesse relacionamento de corpo e alma… Você não pode salvar ele… Mas eu sei que você vai tentar… E eu te desejo boa sorte.
Hermione o olhou por alguns segundos. Ela podia dizer mil coisas: que Ron não precisava ser salvo, que ele era forte e que mesmo que não fosse, é claro que ela estaria lá. Mas aquelas coisas não precisavam ser externalizadas para ninguém além dela e de Ron. Então, ela apenas disse a única coisa que podia.
_ Obrigada!
E então ela foi embora, com o coração mais leve e pronta para viver com Ron o que quer que o futuro reservasse para eles.
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_ Então, você e a Granger?_ Malfoy perguntou, enquanto cutucava a terra com uma pequena pá de jardinagem.
Ron estava parado de pé atrás dele, com as mãos dentro do casaco, o observando sentado na terra no meio do jardim da Mansão Malfoy, lidando com uma roseira, das muitas que tinham espalhadas pelo lugar.
Aquela era uma visão que Ron nunca achou que veria: Malfoy praticando jardinagem como se fosse a coisa mais normal do mundo. Quer dizer, era normal, mas não para uma pessoa como Malfoy.
_ Bem, sim.
_ Grande surpresa! Como se ninguém imaginasse que isso aconteceria_ Malfoy debochou. Agora ele abria um buraco na terra com sua mini pá, e enfiava lá algumas sementes_ Na verdade, estou chocado de vocês não terem se atracado assim que se reencontraram.
_ Eu estava sem memória, não lembrava que a amava_ Ron respondeu em tom óbvio_ Cara, você pode acabar logo com isso? Estou tentando conversar aqui. Além do mais está muito frio aqui fora.
Malfoy revirou os olhos e se virou para ele, erguendo a cabeça para olhá-lo.
_ Bom, Weasley, quando você vai à casa de alguém sem avisar, você corre o risco de encontrar essa pessoa ocupada.
_ Eu nem sabia que você gostava de jardinagem_ Ron argumentou. Desde que ele havia recuperado a memória, Malfoy parecia fazer questão de irritá-lo. Já que eles eram semi-amigos talvez o outro rapaz pudesse pegar mais leve com ele. Mas de certa forma, Ron entendia que agir como um idiota de vez em quando, fazia parte da natureza de Malfoy.
_ Tem muitas coisas que você não sabe sobre mim, Weasley_ o loiro disse se levantando e tirando as luvas de jardinagem e as jogando na terra_ Você ficou muito tempo fora.
Ron sabia disso. Ele sabia disso melhor do que ninguém.
_ Mas se você quer tanto conversar, vamos entrar.
Ron não teve escolha a não ser segui-lo, embora estivesse começando a se arrepender de ter ido até lá. Era uma pena que Harry estivesse tão ocupado no trabalho e mal tivesse tempo para sequer responder suas corujas, seria bom conversar com seu melhor amigo, falar sobre Hermione, sobre os seus medos para o futuro dos dois, sobre o imenso pavor que Ron tinha de arruinar a vida dela. Harry, com certeza seria a primeira opção de Ron para falar sobre o que quer que fosse. Mas se Ron não conhecesse Harry o suficiente, diria que o amigo o estava evitando nos últimos dias, mesmo que não fizesse sentido, era o que parecia. E Ron não queria pensar muito nisso, não queria adicionar mais um pensamento neurótico na sua cabeça já muito atordoada. O problema é que sem Harry_ e com Ron não querendo jogar nenhuma carga sobressalente em Hermione, especialmente quando ela era o tema principal da conversa_, sobrava Malfoy.
Quando eles entraram na enorme sala de estar, a lareira já estava acesa e Ron recebeu o quentinho que vinha dela, com gratidão. Mas nada o aqueceria mais do que uma boa bebida e Ron realmente se sentia ansioso por um pouco de álcool, e parecendo perceber isso, Malfoy lhe deu um longo olhar.
_ Não acho que você deva beber.
_ Eu sei, não vou beber_ Ron disse, tenso. Ele esfregou suas mãos uma na outra e olhou na direção do bar da sala de Malfoy.
Desde que ele e Hermione decidiram ficar juntos, ele bebeu algumas vezes. Não com ela, sempre sozinho em algum bar trouxa ou em seu quarto n'A Toca. Ele não queria que ela o visse bebendo e muito menos que ela o visse bêbado. Especialmente, porque agora Hermione sabia que ele tinha problemas com álcool. Foi difícil admitir isso para si mesmo, e o que Ron menos queria, era que Hermione o visse de maneira diferente. É claro que ela sabia que Ron tinha muitos traumas, e que a bebida era um escape, e ela já o havia visto desmoronar durante a noite, enquanto tinha pesadelos, mas o trauma e os pesadelos não eram culpa de Ron. Beber era. E ele não queria que Hermione visse esse lado dele. Não quando ela tinha tanta esperança de que eles superariam tudo juntos.
_ Você está divagando, Weasley_ Malfoy disse, o trazendo de volta de onde quer que sua mente estivesse agora.
Ron piscou algumas vezes, desviando o olhar das bebidas e o encarou.
_ Não vou mais beber_ Ron repetiu tentando parecer firme, mas por dentro todo o seu corpo pedia por apenas um gole. Sua garganta estava repentinamente seca.
Malfoy suspirou e balançou a cabeça. Todos os alcoólatras diziam aquilo.
_ Então, você e a Granger?
_ Você meio que já disse isso…
_ E você meio que não respondeu nada_ Malfoy rebateu, se sentando em seu espaçoso sofá de couro_ Você só chegou, mal me cumprimentou e disse que vocês estão juntos.
_ Estamos juntos_ Ron disse, se sentindo quase constrangido.
Malfoy respirou fundo. Ele precisava reunir muita paciência para lidar com Weasley, às vezes.
_ Ok, Weasley, eu entendi isso… Mas vocês são realmente um casal ou ela está chifrando o projeto de curandeiro com você.
_ Pelo amor de Deus, não_ Ron respondeu indignado, finalmente se sentando na outra ponta do sofá_ Ela falou com ele há alguns dias, eles terminaram oficialmente.
_ Weasley, Weasley, mal voltou dos mortos e já destruiu um lar. Você não tem vergonha?_ Draco zombou. Aquilo era entretenimento para ele. No fundo, ele estava até feliz por Weasley, mas não deixava de ser divertido ver as orelhas do ruivo ficarem vermelhas, como se alguém tivesse dado repetidos tapas nelas.
_ Cala essa boca, as coisas não foram assim_ Ron se defendeu. Se ele ainda tivesse 14 anos, talvez esse seria o momento em que ele avançaria em Malfoy.
Mas então Draco riu.
_ Eu sei, Weasley_ o loiro disse, tentando se controlar_ Você é tão fácil de irritar.
_ Eu sei que tudo é uma piada pra você, mas não estamos mais na escola.
_ Se estivéssemos, agora você estaria com as mãos no meu pescoço, não?
_ Você leu meus pensamentos_ Ron bufou, se levantando.
_ Então, o que mais?_ Draco perguntou, porque de jeito nenhum Weasley tinha ido até sua casa para dizer apenas aquilo.
Ron que tinha caminhado até perto do bar, se virou para Malfoy.
_ Estou com medo_ ele admitiu.
_ De quê?
_ De estragar tudo… Tenho medo que ela dê uma boa olhada em mim e veja que eu provavelmente vou arruinar a vida dela.
_ Pra mim, parece que ela tá mais do que disposta a deixar você arruinar a vida dela, Weasley.
_ Não diga isso_ Ron gemeu, passando as mãos pelo rosto.
Malfoy suspirou.
_ Weasley, ela sabe, ok? Sabe todos os prós e os contras de estar com você. Ela é uma mulher adulta e sabe o que está fazendo… Eu odeio admitir, mas a Granger é provavelmente uma das pessoas mais inteligentes que qualquer um de nós já conheceu… Acredite, ela nunca se entraria na confusão que é a sia vida se ela não tivesse certeza de que pode lidar com isso.
Ron queria acreditar naquilo, queria acreditar que Hermione poderia passar por tudo com ele, sem se ferir. Mas era apenas… improvável. De novo, ele olhou na direção do bar, e ele precisou respirar fundo algumas vezes. Suas mãos suavam como inferno.
Malfoy o olhou bem. Weasley estava quase sempre num estado de nervos de dar dó, mas hoje, particularmente, ele parecia doente.
Draco sabia que, obviamente, ele não seria a primeira escolha de Weasley. Ele sabia qual era seu lugar nessa estranha amizade que eles compartilhavam. Ele não era Harry Potter_ E Deus, ele não queria ser aquele cabeça rachada de jeito nenhum, mas ele era o cara que podia entender uma fatia do que Weasley tinha vivido. Mesmo que fosse uma fatia muito pequena, ele ainda compartilhava um pouco daquela dor. E talvez fosse por isso que Weasley continuava voltando, porque Draco era o mais perto que ele estava de alguém que entendia.
Era estranho, mas Draco sentiu algo dentro dele. Talvez uma onda de afeto por Weasley, que ele não achou que sentiria e que ele não admitiria nem sob tortura. Quer dizer, ele sabia que algo os unia, mas ele achou que era só isso, que eles estavam ligados pelas semanas que passaram juntos naquela caverna, e que em algum momento, Weasley se cansaria dele, o descartaria como todo mundo já fez um dia. Mas Weasley havia recuperado a memória, havia recuperado as lembranças que teve com seus antigos amigos, ele sabia que Draco havia sido cruel com ele na época da escola. E ainda assim… Weasley estava lá. Contra todas as probabilidades.
Talvez… Talvez, eles realmente fossem amigos.
Então, Draco se levantou e foi até ele, sua mão pálida e de dedos finos, tocando o ombro de Ron, o fazendo se virar para ele novamente, desviando sua atenção das bebidas que Draco sabia que Ron tanto queria.
_ Você está uma merda, Weasley. Mas eu sei o que vai te fazer bem.
Ron olhou para ele, parecendo perdido.
_ Eu quero beber_ ele disse, finalmente. Sua voz estava quebrada.
_ Eu sei, mas o que eu tenho em mente vai ser bem melhor do que isso.
_ Promete?_ Ron perguntou, cheio de esperança, como uma criança que só precisava de uma certeza.
Draco hesitou, ele não era bom em cumprir o que prometia. Na verdade, ele odiava fazer promessas, porque prometer algo significava se comprometer, e bom, ele odiava se comprometer. Depois de ter feito a pior coisa de sua vida, que foi virar um Comensal da Morte, e dar sua palavra ao Lorde das Trevas, de que mataria Dumbledore, quando era apenas um garoto, se comprometer com qualquer coisa, era apenas demais para ele. Mas dentro de seu coração, ele sabia que ali estava algo pelo que valia a pena abrir uma exceção: a possibilidade de uma amizade verdadeira.
_ Prometo.
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Ron havia esquecido_ sem trocadilhos_ ele havia esquecido como era sentir o vento batendo em seu rosto enquanto estava em cima de uma vassoura, voando e apenas voando. Havia esquecido da liberdade e da adrenalina. O vento frio contra suas bochechas, corando cada parte exposta de seu rosto, mas ainda assim, aquecendo algo em seu coração.
Agora ele lembrava que em Hogwarts, ele foi goleiro pelo time de Quadribol da Grifinória, ele lembrava que ele amava aquilo, apesar de ele não ter sido um grande jogador. Mas mesmo quando recuperou sua memória e pôde se lembrar de tudo da sua vida antes de ir parar com os Bennett, ele não havia pensado muito, nas sensações, no que o fazia se sentir bem antes. Tudo estava sempre envolto em dor, que as partes boas foram abafadas, ofuscadas. Mas ali estava uma parte boa, que nem sequer passou pela cabeça dele. E agora voando numa vassoura emprestada por Malfoy, apenas sentindo tudo que uma vez, seu eu adolescente sentiu, era de certa forma mágico.
Ele olhou para Malfoy, que voava em outra vassoura ao lado dele, a apenas alguns metros de distância, e sorriu. Talvez o sorriso mais genuíno que Ron tenha dado em muito tempo. E se Harry e Hermione estivessem com ele, seria perfeito. Harry voando ao seu lado e Hermione em sua vassoura com ele, o abraçando por trás e provavelmente reclamando do medo de voar. E se Malfoy quisesse, poderia estar com eles também. Talvez, Ron pudesse fazer isso com seus irmãos qualquer dia, se aproximar, conhecê-los de novo. Fazer isso com todos eles. Apenas voar e não pensar em mais nada, passar um tempo juntos sem se preocupar quando ele teria outra crise. Parecia certo.
Parecia certo, especialmente porque Ron estava cansado de sofrer, cansado de se apegar aos pedaços de um passado que não tinha como ser mudado. Ele poderia chorar pelo resto da vida, poderia se afogar na bebida e na autopiedade, que nada mudaria. O que ele viveu na caverna e os anos sem memória, se sentindo vazio e perdido, sempre existiriam, sempre seriam parte dele. E enquanto, ele olhava as árvores abaixo dele e o vento frio congelava seu rosto de um jeito estranhamente reconfortante, ele entendeu. Entendeu que talvez o seu coração nunca pudesse ser reconstruído, mas que ainda poderia ser reparado. Ele apenas precisava dar uma chance para o Ron que estava ali, voando em cima daquela vassoura. Uma chance de que esse Ron voltasse. Estava nas mãos dele e de mais ninguém. E para isso acontecer, ele não poderia mais se esconder dos seus medos.
Talvez estivesse na hora de pôr para fora o que o machucava. Falar sobre o que aconteceu e permitir que alguém o ouvisse, e quem sabe se sentir tão livre um dia, quanto ele se sentia agora.
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N/A: Obrigada a todo mundo que ainda tem paciência pra acompanhar essa Fic, prometo que tá acabando. ;)
Micky: Que bom que se sentiu aliviada com o capítulo. Eu gosto de escrever momentos mais "felizes", mas "leves", mas admito que ainda prefiro um drama. Kkkkk Bom, as coisas não se complicaram pra Ron e Hermione. Mas não fique muito otimista. Hahaha! Muito obrigada pelo comentário. Bjks!
Espero que gostem. Até o próximo capítulo. Bjks!
