Capitulo 5 – A espera da Lua Cheia
"Os guerreiros da luz mantêm o brilho nos olhos. Muitas vezes são covardes,
e nem sempre agem da melhor maneira. Sofrem por algumas besteiras e às
vezes se julgam incapazes de crescer e amadurecer. Em muitas ocasiões, se
acreditam totalmente indignos de benção ou milagre. Eles nem sempre tem
certeza do que estão fazendo aqui. Muitas vezes passam noites em claro,
achando suas vidas completamente sem sentido. É por isso que são
guerreiros. São guerreiros porque erram. Porque se perguntam. Porque
procuram uma razão e vão achar."
Paulo Coelho-Maktub
No café da manhã daquele dia, eu recebi uma coruja.
"É hoje a noite. Madame Pomfrey estará lhe esperando na enfermaria as 7:00.
Não se atrase"
Minerva McGonagall
Eu suspirei. Como se fosse possível alguém se esquecer de algo assim. Pedro
pareceu notar a minha preocupação.
-Algum problema Remo?-ele perguntou.
Eu olhei para os três. Eles me fitavam com curiosidade, guardei a carta
dentro das vestes e disse:
-Vamos, quero falar com vocês.
A primeira aula do dia seria feitiços, o que era ideal para uma conversa em
particular, uma vez que todos estavam demasiados preocupados com o
resultado de seus feitiços para prestar atenção em algo mais. Nos dirigimos
para a sala de aula e escolhemos as carteiras do fundo.
-O que houve?-perguntou Tiago.
Eu suspirei.
-Meus pais querem que eu vá para casa hoje-eu expliquei
-Por que?- perguntou Sirius atordoado
-Minha avó- eu comecei, estava pronto para qualquer pergunta que eles
pudessem fazer- ela está doente e meus pais querem que eu vá vê-la. Vou
hoje mesmo.
-Hoje?!- se espantou Pedro- eles não podem esperar até o fim de semana?
-Não. Eles já falaram com Dumbledore. Vou hoje depois das aulas.
-E quando você volta?- perguntou Tiago
-Daqui a dois dias.
Sirius e Tiago se entreolharam e eu me perguntei se tinha sido convincente.
Sirius abriu a boca para falar algo mais o professor entrou e ele resolveu
se calar. As aulas prosseguiram normalmente naquele dia. O que me
preocupava era o fato de que Tiago e Sirius não haviam tramado nada contra
ninguém até a hora do almoço e já fazia dois dias que eles não aprontavam
nada. Me preocupei ainda mais ao saber o motivo.
-Bem, íamos explorar a floresta hoje a noite, mas não vai ter graça sem
você- disse Sirius
-Então vamos fazer algo mais leve- completou Tiago
-Como o que?- perguntei, sem mim ali para controla-los eu duvidava que a
travessura seria algo "leve"
-Explorar o colégio a procura de passagens secretas- explicou Pedro.
Eu poderia ter começado um sermão ali mesmo, mas seria algo inútil, uma vez
que até Pedro estava envolvido na travessura, em vez disso falei apenas
para que eles tomassem cuidado
-Não se preocupe Remo, estaremos com minha capa da invisibilidade- tentou,
em vão, tranqüilizar Tiago.
-Vocês ainda nem cumpriram a detenção que ganharam semana passada e já vão
arranjar outra- eu comentei
-Iremos satisfazer o desejo de Filch- disse Sirius marotamente.
Eu me lembrei que Filch andava falando, para quem quisesse ouvir, que
abriria um arquivo exclusivo de detenções para Sirius e Tiago, com
detenções feitas especialmente para os dois.
-Alias-começou Pedro- quando é a detenção de vocês?
-Amanhã à noite. Vamos limpar a sala dos Troféus. Sem magia- disse Tiago.
-Coisa que nós não vamos fazer, obviamente- disse Sirius.
-Como não?-perguntou Pedro curioso
-As vezes é bom ser a ovelha negra da família-disse Sirius- você aprende a
burlar os castigos com mais facilidade...
-Vamos usar mágica- esclareceu Tiago- já temos tudo programado. Sirius
conhece alguns feitiços bem úteis.
Eu nem me dei ao trabalho de perguntar como eles iam usar mágica com o
Filch supervisionando a detenção, mas essa era uma das vantagens de se
conviver com os dois: você passava a acreditar em tudo que diziam ser
impossível e passava a torna-las possível. Pedro também não perguntou nada
de modo que seguimos para as ultimas aulas do dia.
***
-Eu já vou- eu disse quando faltavam alguns minutos para as 7:00.
Estávamos no salão principal jantando. Tiago e Sirius que acertavam os
últimos detalhes da aventura daquela noite pararam para se despedir de mim.
-Tchau- disseram os três em coro
-Mande melhoras a sua avó- disse Sirius
Eu engoli em seco. Não sabia se Sirius estava sendo irônico e suspeitava de
que eu não estava falando a verdade ou se estava apenas sendo educado.
-Claro. Eu mandarei- respondi
Dei as costas e me dirigi a enfermaria. Encontrei Madame Pomfrey me
esperando na porta.
-Está pronto?Podemos ir?-ela me perguntou
Eu acenei com a cabeça em concordância. Caminhamos em silencio pelos
jardins até o Salgueiro Lutador. O Salgueiro Lutador fora plantado naquele
ano e escondia uma passagem secreta que levava direto para o que
futuramente ficaria conhecido como Casa dos Gritos. Mas é claro que o
Salgueiro não tinha esse nome a toa. Uma enorme árvore que se erguia no
meio da propriedade o Salgueiro costumava bater em tudo que se aproximasse
o suficiente. De fato o passatempo dos alunos era apostar quem chegava mais
próximo da árvore sem ganhar uma "galhada". O atual detentor do recorde era
Pedro.
"As vezes é bom ser pequeno" ele dissera quando conseguira bater o recorde
de Frank.
Madame Pomfrey pegou um galho no chão e apertou um nó no tronco do
salgueiro, imediatamente este se imobilizou. Descemos pela passagem até a
Casa dos Gritos.
-Volto amanhã para saber como você está.
Eu concordei com a cabeça. Madame Pomfrey saiu e eu olhei o aposento a
minha volta, era uma sala ampla e sombria. Mesmo na escuridão pude divisar
uma escada que levava ao andar superior. Subi por elas e entrei em um
quarto de aparência fantasmagórica. Guardei minha varinha em um armário e
me joguei na cama a espera da Lua Cheia. Pela Janela aberta entrava uma
brisa leve que enunciava uma noite perfeita para as travessuras dos
Marotos. Eu suspirei me perguntando o que aqueles três estariam fazendo.
Será que já tinham achado alguma passagem secreta? Eu rezei para que eles
não resolvessem procurar nenhuma fora das paredes do castelo. Uma que
ficava debaixo de uma árvore.
Um facho de luz prateada passou pela janela e atingiu meu rosto. No mesmo
instante me imobilizei, pude sentir minhas unhas crescerem e tomarem a
forma de garras, pelos cresceram pelas minhas costas e pelo resto do meu
corpo, meus dentes afiaram e viraram presas mortais e meu rosto se alongou
na forma de um focinho. Era uma dor excruciante, algo que eu não podia
agüentar. Tentei gritar mas tudo o que saiu foi um uivo. Um uivo longo e
alto que pode ser ouvido em toda a parte do vilarejo a volta. Mais tarde as
pessoas daquele vilarejo passariam a chamar aquela casa de Casa dos Gritos
e diriam que é mal assombrada, quando na verdade tudo o que eles ouviam
eram meus uivos e o barulho dos móveis sendo quebrados.
***
Tiago, Pedro e Sirius andavam pelos corredores desertos de Hogwarts sob a
capa da invisibilidade.
-AI! Esse era o meu pé Pedro- reclamou Sirius
-Desculpe.
-Pare de me empurrar!-reclamou novamente Sirius.
-Desculpe.
-Ande direito, você não sabe andar?
-Mas aqui não tem muito espaço- tentou se justificar Pedro
-Claro que tem. Você que está ficando gordo. Isso que dá comer muito.
-Calem a boca-disse Tiago- essa capa é da invisibilidade e não do silencio.
Se vocês dois continuarem a discutir assim Filch vai nos achar. Se isso
acontecer não poderemos mais explorar a escola essa noite e a culpa vai ser
de vocês!
-Sim chefe!- disse um irônico Sirius batendo continência.
Continuaram a andar, dessa vez em silencio, por mais alguns instantes.
-Como vamos achar as passagens?- perguntou Pedro
-Não sei-admitiu Tiago- estava pensando em vasculhar os arquivos do Filch,
ele conhece...- mas foi interrompido, um barulho alto veio de alguma sala
pela qual eles tinham passado há alguns instantes. Eles puderam ouvir a voz
de Filch e seus passos apressados na direção do barulho.
-Corre-sussurrou Tiago
Os três saíram em disparada pelo corredor à frente e Tiago retirou a capa
de cima deles para que pudessem correr melhor. Correram sem um rumo certo
por quase dez minutos, até acharem que já estavam longe o suficiente e
Filch não poderia mais pegá-los. Pedro encostou-se em uma parede para
descansar, os outros dois seguiram seu exemplo.
-Quem vocês acham que fez aquela barulhada?- Perguntou Sirius
-Quem mais? Só há duas coisas em Hogwarts que fazem barulho a essa hora da
noite: Pirraça e nós.
-E só há uma coisa que faria o Filch sair desabalado atrás do barulho-
disse Pedro
-Pirraça- respondeu Sirius apoiando a cabeça na parede.
No exato momento em que ele fez isso a parede atrás dele se abriu revelando
uma passagem larga e mal iluminada.
-Uau! Sirius você é um gênio!-exclamou Pedro.
Os três se entreolharam.
-Vamos?-perguntou Tiago.
Concordaram com entre si e entraram. Tiago na frente, seguido imediatamente
por Sirius e um pouco mais atrás por Pedro. A passagem era longa e cheia de
curvas, mas pelo menos, como dissera Sirius quando Pedro reclamou, era
plana.
Quando chegaram no final da passagem foi a vez de Tiago soltar uma
admiração de surpresa e com razão. A passagem terminava num jardim, mas não
era um jardim qualquer. Havia um riacho de águas cristalinas e algumas
pedras em volta de suas margens, a grama era algo cuja definição era
parecida com um "tapete de veludo", embaixo de uma árvore havia uma mesa de
cristal e quatro cadeiras também de cristal. A lua cheia iluminava tudo a
sua volta. Havia uma bacia de pedra que ao lado da entrada. As paredes
encantadas davam a impressão de se estar em um vale.
-O que é isto?-perguntou Pedro se dirigindo a bacia de pedra
Tiago e Sirius se aproximaram também. A bacia estava cheia d'água e
refletia...
-Hogwarts...-sussurou Sirius.
De fato na água podia ser vista Hogwarts, toda ela, a mesma visão que os
primeiranistas tinham quando chegavam. Pedro e Sirius ainda olhavam
abismados para a bacia. Tiago examinava a mesa de cristal.
-Ei! Vocês dois venham ver isso aqui!- chamou ele
Os dois correram para onde o terceiro maroto estava. Nas cadeiras que Tiago
examinava estavam gravadas as letras "GG, SL, RR, HH".
-O que isso significa?- perguntou Pedro
Os outros dois apenas deram de ombro.
-Não faz diferença-disse Tiago- esse jardim poderá ser a nossa "sala de
reuniões". O que vocês acham?
-Não sei-disse Sirius- será que Filch conhece?
-Acho que não-disse Pedro- tomara que não?
-A Sala dos Marotos.-disse Sirius sorrindo
Pedro e Tiago também sorriram. Aquela sala seria o Quartel General dos
Marotos.
***
Dois dias depois da minha transformação eu estava me dirigindo ao salão
comunal da Grifinória para me encontrar com meus três amigos. Já era tarde
e eu supunha que não houvesse mais ninguém lá além deles, provavelmente
tramando alguma. Disse a senha a mulher gorda e entrei.
-REMO!!!!!!!-gritaram os três e correram em minha direção.
-Cara, -começou Sirius- você não sabe o que você perdeu! Sua avó já está
bem? Achamos uma sala ótima! Você tem que ver!
-É perfeita para as nossas futuras reuniões!-disse Tiago
-Futuras reuniões?-eu perguntei
-Para tramarmos a aventura seguinte- explicou Pedro
-É fantástica! Isolada! Aposto que nem o Filch conhece!-continuou Sirius,
ele era só elogios para a tal sala- e dá para ver Hogwarts! Remo, nós vamos
te levar lá amanhã!
Eu sorri. Com aqueles três por perto eu até esquecia da Lua Cheia.
"Os guerreiros da luz mantêm o brilho nos olhos. Muitas vezes são covardes,
e nem sempre agem da melhor maneira. Sofrem por algumas besteiras e às
vezes se julgam incapazes de crescer e amadurecer. Em muitas ocasiões, se
acreditam totalmente indignos de benção ou milagre. Eles nem sempre tem
certeza do que estão fazendo aqui. Muitas vezes passam noites em claro,
achando suas vidas completamente sem sentido. É por isso que são
guerreiros. São guerreiros porque erram. Porque se perguntam. Porque
procuram uma razão e vão achar."
Paulo Coelho-Maktub
No café da manhã daquele dia, eu recebi uma coruja.
"É hoje a noite. Madame Pomfrey estará lhe esperando na enfermaria as 7:00.
Não se atrase"
Minerva McGonagall
Eu suspirei. Como se fosse possível alguém se esquecer de algo assim. Pedro
pareceu notar a minha preocupação.
-Algum problema Remo?-ele perguntou.
Eu olhei para os três. Eles me fitavam com curiosidade, guardei a carta
dentro das vestes e disse:
-Vamos, quero falar com vocês.
A primeira aula do dia seria feitiços, o que era ideal para uma conversa em
particular, uma vez que todos estavam demasiados preocupados com o
resultado de seus feitiços para prestar atenção em algo mais. Nos dirigimos
para a sala de aula e escolhemos as carteiras do fundo.
-O que houve?-perguntou Tiago.
Eu suspirei.
-Meus pais querem que eu vá para casa hoje-eu expliquei
-Por que?- perguntou Sirius atordoado
-Minha avó- eu comecei, estava pronto para qualquer pergunta que eles
pudessem fazer- ela está doente e meus pais querem que eu vá vê-la. Vou
hoje mesmo.
-Hoje?!- se espantou Pedro- eles não podem esperar até o fim de semana?
-Não. Eles já falaram com Dumbledore. Vou hoje depois das aulas.
-E quando você volta?- perguntou Tiago
-Daqui a dois dias.
Sirius e Tiago se entreolharam e eu me perguntei se tinha sido convincente.
Sirius abriu a boca para falar algo mais o professor entrou e ele resolveu
se calar. As aulas prosseguiram normalmente naquele dia. O que me
preocupava era o fato de que Tiago e Sirius não haviam tramado nada contra
ninguém até a hora do almoço e já fazia dois dias que eles não aprontavam
nada. Me preocupei ainda mais ao saber o motivo.
-Bem, íamos explorar a floresta hoje a noite, mas não vai ter graça sem
você- disse Sirius
-Então vamos fazer algo mais leve- completou Tiago
-Como o que?- perguntei, sem mim ali para controla-los eu duvidava que a
travessura seria algo "leve"
-Explorar o colégio a procura de passagens secretas- explicou Pedro.
Eu poderia ter começado um sermão ali mesmo, mas seria algo inútil, uma vez
que até Pedro estava envolvido na travessura, em vez disso falei apenas
para que eles tomassem cuidado
-Não se preocupe Remo, estaremos com minha capa da invisibilidade- tentou,
em vão, tranqüilizar Tiago.
-Vocês ainda nem cumpriram a detenção que ganharam semana passada e já vão
arranjar outra- eu comentei
-Iremos satisfazer o desejo de Filch- disse Sirius marotamente.
Eu me lembrei que Filch andava falando, para quem quisesse ouvir, que
abriria um arquivo exclusivo de detenções para Sirius e Tiago, com
detenções feitas especialmente para os dois.
-Alias-começou Pedro- quando é a detenção de vocês?
-Amanhã à noite. Vamos limpar a sala dos Troféus. Sem magia- disse Tiago.
-Coisa que nós não vamos fazer, obviamente- disse Sirius.
-Como não?-perguntou Pedro curioso
-As vezes é bom ser a ovelha negra da família-disse Sirius- você aprende a
burlar os castigos com mais facilidade...
-Vamos usar mágica- esclareceu Tiago- já temos tudo programado. Sirius
conhece alguns feitiços bem úteis.
Eu nem me dei ao trabalho de perguntar como eles iam usar mágica com o
Filch supervisionando a detenção, mas essa era uma das vantagens de se
conviver com os dois: você passava a acreditar em tudo que diziam ser
impossível e passava a torna-las possível. Pedro também não perguntou nada
de modo que seguimos para as ultimas aulas do dia.
***
-Eu já vou- eu disse quando faltavam alguns minutos para as 7:00.
Estávamos no salão principal jantando. Tiago e Sirius que acertavam os
últimos detalhes da aventura daquela noite pararam para se despedir de mim.
-Tchau- disseram os três em coro
-Mande melhoras a sua avó- disse Sirius
Eu engoli em seco. Não sabia se Sirius estava sendo irônico e suspeitava de
que eu não estava falando a verdade ou se estava apenas sendo educado.
-Claro. Eu mandarei- respondi
Dei as costas e me dirigi a enfermaria. Encontrei Madame Pomfrey me
esperando na porta.
-Está pronto?Podemos ir?-ela me perguntou
Eu acenei com a cabeça em concordância. Caminhamos em silencio pelos
jardins até o Salgueiro Lutador. O Salgueiro Lutador fora plantado naquele
ano e escondia uma passagem secreta que levava direto para o que
futuramente ficaria conhecido como Casa dos Gritos. Mas é claro que o
Salgueiro não tinha esse nome a toa. Uma enorme árvore que se erguia no
meio da propriedade o Salgueiro costumava bater em tudo que se aproximasse
o suficiente. De fato o passatempo dos alunos era apostar quem chegava mais
próximo da árvore sem ganhar uma "galhada". O atual detentor do recorde era
Pedro.
"As vezes é bom ser pequeno" ele dissera quando conseguira bater o recorde
de Frank.
Madame Pomfrey pegou um galho no chão e apertou um nó no tronco do
salgueiro, imediatamente este se imobilizou. Descemos pela passagem até a
Casa dos Gritos.
-Volto amanhã para saber como você está.
Eu concordei com a cabeça. Madame Pomfrey saiu e eu olhei o aposento a
minha volta, era uma sala ampla e sombria. Mesmo na escuridão pude divisar
uma escada que levava ao andar superior. Subi por elas e entrei em um
quarto de aparência fantasmagórica. Guardei minha varinha em um armário e
me joguei na cama a espera da Lua Cheia. Pela Janela aberta entrava uma
brisa leve que enunciava uma noite perfeita para as travessuras dos
Marotos. Eu suspirei me perguntando o que aqueles três estariam fazendo.
Será que já tinham achado alguma passagem secreta? Eu rezei para que eles
não resolvessem procurar nenhuma fora das paredes do castelo. Uma que
ficava debaixo de uma árvore.
Um facho de luz prateada passou pela janela e atingiu meu rosto. No mesmo
instante me imobilizei, pude sentir minhas unhas crescerem e tomarem a
forma de garras, pelos cresceram pelas minhas costas e pelo resto do meu
corpo, meus dentes afiaram e viraram presas mortais e meu rosto se alongou
na forma de um focinho. Era uma dor excruciante, algo que eu não podia
agüentar. Tentei gritar mas tudo o que saiu foi um uivo. Um uivo longo e
alto que pode ser ouvido em toda a parte do vilarejo a volta. Mais tarde as
pessoas daquele vilarejo passariam a chamar aquela casa de Casa dos Gritos
e diriam que é mal assombrada, quando na verdade tudo o que eles ouviam
eram meus uivos e o barulho dos móveis sendo quebrados.
***
Tiago, Pedro e Sirius andavam pelos corredores desertos de Hogwarts sob a
capa da invisibilidade.
-AI! Esse era o meu pé Pedro- reclamou Sirius
-Desculpe.
-Pare de me empurrar!-reclamou novamente Sirius.
-Desculpe.
-Ande direito, você não sabe andar?
-Mas aqui não tem muito espaço- tentou se justificar Pedro
-Claro que tem. Você que está ficando gordo. Isso que dá comer muito.
-Calem a boca-disse Tiago- essa capa é da invisibilidade e não do silencio.
Se vocês dois continuarem a discutir assim Filch vai nos achar. Se isso
acontecer não poderemos mais explorar a escola essa noite e a culpa vai ser
de vocês!
-Sim chefe!- disse um irônico Sirius batendo continência.
Continuaram a andar, dessa vez em silencio, por mais alguns instantes.
-Como vamos achar as passagens?- perguntou Pedro
-Não sei-admitiu Tiago- estava pensando em vasculhar os arquivos do Filch,
ele conhece...- mas foi interrompido, um barulho alto veio de alguma sala
pela qual eles tinham passado há alguns instantes. Eles puderam ouvir a voz
de Filch e seus passos apressados na direção do barulho.
-Corre-sussurrou Tiago
Os três saíram em disparada pelo corredor à frente e Tiago retirou a capa
de cima deles para que pudessem correr melhor. Correram sem um rumo certo
por quase dez minutos, até acharem que já estavam longe o suficiente e
Filch não poderia mais pegá-los. Pedro encostou-se em uma parede para
descansar, os outros dois seguiram seu exemplo.
-Quem vocês acham que fez aquela barulhada?- Perguntou Sirius
-Quem mais? Só há duas coisas em Hogwarts que fazem barulho a essa hora da
noite: Pirraça e nós.
-E só há uma coisa que faria o Filch sair desabalado atrás do barulho-
disse Pedro
-Pirraça- respondeu Sirius apoiando a cabeça na parede.
No exato momento em que ele fez isso a parede atrás dele se abriu revelando
uma passagem larga e mal iluminada.
-Uau! Sirius você é um gênio!-exclamou Pedro.
Os três se entreolharam.
-Vamos?-perguntou Tiago.
Concordaram com entre si e entraram. Tiago na frente, seguido imediatamente
por Sirius e um pouco mais atrás por Pedro. A passagem era longa e cheia de
curvas, mas pelo menos, como dissera Sirius quando Pedro reclamou, era
plana.
Quando chegaram no final da passagem foi a vez de Tiago soltar uma
admiração de surpresa e com razão. A passagem terminava num jardim, mas não
era um jardim qualquer. Havia um riacho de águas cristalinas e algumas
pedras em volta de suas margens, a grama era algo cuja definição era
parecida com um "tapete de veludo", embaixo de uma árvore havia uma mesa de
cristal e quatro cadeiras também de cristal. A lua cheia iluminava tudo a
sua volta. Havia uma bacia de pedra que ao lado da entrada. As paredes
encantadas davam a impressão de se estar em um vale.
-O que é isto?-perguntou Pedro se dirigindo a bacia de pedra
Tiago e Sirius se aproximaram também. A bacia estava cheia d'água e
refletia...
-Hogwarts...-sussurou Sirius.
De fato na água podia ser vista Hogwarts, toda ela, a mesma visão que os
primeiranistas tinham quando chegavam. Pedro e Sirius ainda olhavam
abismados para a bacia. Tiago examinava a mesa de cristal.
-Ei! Vocês dois venham ver isso aqui!- chamou ele
Os dois correram para onde o terceiro maroto estava. Nas cadeiras que Tiago
examinava estavam gravadas as letras "GG, SL, RR, HH".
-O que isso significa?- perguntou Pedro
Os outros dois apenas deram de ombro.
-Não faz diferença-disse Tiago- esse jardim poderá ser a nossa "sala de
reuniões". O que vocês acham?
-Não sei-disse Sirius- será que Filch conhece?
-Acho que não-disse Pedro- tomara que não?
-A Sala dos Marotos.-disse Sirius sorrindo
Pedro e Tiago também sorriram. Aquela sala seria o Quartel General dos
Marotos.
***
Dois dias depois da minha transformação eu estava me dirigindo ao salão
comunal da Grifinória para me encontrar com meus três amigos. Já era tarde
e eu supunha que não houvesse mais ninguém lá além deles, provavelmente
tramando alguma. Disse a senha a mulher gorda e entrei.
-REMO!!!!!!!-gritaram os três e correram em minha direção.
-Cara, -começou Sirius- você não sabe o que você perdeu! Sua avó já está
bem? Achamos uma sala ótima! Você tem que ver!
-É perfeita para as nossas futuras reuniões!-disse Tiago
-Futuras reuniões?-eu perguntei
-Para tramarmos a aventura seguinte- explicou Pedro
-É fantástica! Isolada! Aposto que nem o Filch conhece!-continuou Sirius,
ele era só elogios para a tal sala- e dá para ver Hogwarts! Remo, nós vamos
te levar lá amanhã!
Eu sorri. Com aqueles três por perto eu até esquecia da Lua Cheia.
