Esse capítulo ficou incompleto durante meses. Eu não tenho, definitivamente, a mesma inspiração que tinha quando comecei a fic. Nem o mesmo propósito. Na verdade, quase tudo mudou.
E, de fato, a fic perdeu o rumo.
O que antes era claro em minha mente agora é só uma vaga idéia do que escrever no próximo parágrafo. E nada mais. Mas eu não desistirei dessa fic, independente do tempo que demore para "parir" cada nova atualização. Tolkien levou 10 anos escrevendo O Senhor dos Anéis, e não chegou a efetivamente publicar o Silmarillion em vida. Não tenho a pretensão de levar tanto tempo, nem de escrever algo tão marcante, mas vou terminar essa fic de uma maneira aceitável.
É imperdoável que vocês tenham que aguardar meses por cada atualização, mas as linhas não fluem mais como no princípio. Portanto, para satisfação mútua, eu tentarei escrever mais, mas gostaria que vocês dessem idéias, expressassem anseios, e, enfim, contribuissem para o andamento da fic.
E eu espero apresentar-lhes uma grande surpresa e inovação no próximo capítulo.
Até breve (espero)
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Era a noite anterior a partida da Comitiva, e mesmo o tempo parecia fluir de forma triste. Todos estavam descansando em seus quartos ou em qualquer outro lugar, e nessa noite as belas canções élficas eram poucas e mais pareciam sussuros de tristeza vindos das paredes. Legolas procurava por sua companheira de quarto, e estranhava ela não ter se recolhido ainda, ao menos para conversar com ele como fazia sempre. Ao final cansou-se de esperar e tomou a direção da biblioteca, onde ela deveria estar.
Chegando lá, notou com estranheza que aquela parte da Casa de Elrond era ainda mais silenciosa e calma do que o resto, mal se ouvia qualquer barulho exterior. Ele caminhou entre as prateleiras, olhando para os cantos e esperando escontrar uma menina inerte dormindo em algum deles, com um grande livro na mão. "Inerte não." corrigiu-se em pensamento "Porque ela controla o sono como bem quer. Mas eu estava certo de que a encontraria aqui.." e seus pensamentos o impediram de perceber uma outra pessoa, até que fosse tarde demais.
-Legolas Thranduillion.- a voz belíssima soou ao ouvidos de Legolas com o desagrado usual. -O que faz numa biblioteca essas horas?E logo você, que nem deu o ar de sua graça nesse aposento no tempo que foi hóspede aqui?- e o Lorde apontou a cadeira a sua frente para o príncipe.
E Legolas voltou-se para encontrar Glorfindel sentado calmamente, com algumas anotações estranhas, tinta e papéis dobrados na mesa a sua frente. Relutantemente sentou-se, sua educação impedindo-o de ser descortês. -Eu procurava por Miyoru, e creio que você já sabia disso.- o desconforto dele parecia preencher o amplo aposento. O elfo a frente dele, como de costume, ignorava confortavelmente o fato.
-Sim, ela estava aqui a pouco.- o sorriso dele parecia inexpugnável -Estava ministrando uma última lição sobre sua escrita antes de partir. Creio que posso surpreendê-la quando estiverem de volta.-
-Estranho o fato, Lorde, de você se interessar por uma escrita que não tem qualquer fundamento em nosso tempo.
-O fato de você não se interessar não significa que a mesma disposição se estenda a todos os outros.- Ele passou a mão pelos cabelos loiros, erguendo até os olhos o ideograma que acabara de fazer com uma expressão de triunfo -E de qualquer forma, até onde eu sei, alguns de nossos inimigos compartilham o mesmo conjunto de sinais.- e virou a folha, para Legolas -Isso significa "Coragem".-
Legolas suspirou, e observou o que o 'amigo' lhe mostrava. Parecia-lhe uns estranho emaranhado de linhas que se uniam em algum momento. Tentou brevemente entender a graça que Miyoru e o elfo a sua frente viam em se dedicar a ideogramas como esse.
-Pensei que você comprenderia, Alteza. Uma vez que tanto esse ideograma quanto sua floresta parecem confusos e absurdos para quem os vê, embora aqueles que os chamam de 'seus' possam adorá-los.- e depois de forçar um confronto entre ambos os olhos azuis, tão diferentes quando o céu e o gelo, colocou a folha de lado e pegou um pincel, começando lentamente a desenhar outra coisa. O par de olhos sensíveis, belos como um céu de verão, procurava discernir se o outro estava judiando dele ou tentando fazê-lo ver algo.
-Você pode esperar aqui, se quiser. Ela deve voltar para me ver logo.- Retomou a palavra Glorfindel. Agora nem mesmo desviava os seus olhos da ponta do pincel, concentrado. -coisas novas são sempre interessantes.
"Por Iluvatar..." Legolas fechou os olhos um instante "Ele só pode estar fazendo-o com o intuito de me incomodar. O que eu faço para sempre me tornar alvo das chacotas de GLorfindel"
-E até quando vai se interessar, quando deixarem de ser novas?Até quando um livro interessa?- questionou Legolas, deixando transparecer muito da sua angustia e de seus temores dos ultimos dias.
-Mais do que você, já que não parece se interessar por nada além de olhar para ela e ouví-la cantar.Um livro é muito mais fascinante que um bibelô, ou um pássaro canoro.- Ele falava com despreocupação, ainda dedicando-se aos caracteres -No pouco tempo que ela esteve aqui me mostrou mais do que a você em um ano.
-Isso não quer dizer que eu não me importe!- O príncipe aproximou-se da mesa, fazendo Glorfindel levantar os olhos -Mas ela tem dores em seu passado que eu não quero despertar. Se ela não quer me contar, eu tampouco vou ficar inquirindo. Não quero vê-la triste de modo algum.
-Todos temos passados dolorosos em algum momento, Thranduillion.- um lembrete pouco sutil, bem ao modo de seu autor -EO que não significa que o passado todo seja um amontoado de más recordações. Todas as pessoas que valem a pena superam isso, e mostram o que há de melhor em si.Não desistem da batalha, mesmo achando-se indignos.-
-Mas isso requer muito esforço e dor.- Legolas tentava argumentar, apesar de presentir quem sairia vitorioso da discussão -E não é isso que eu quero que ela sinta ao meu lado.
-É esforço que permite ás pessoas crescer e melhorar. Você está agindo como seu pai.-
O príncipe encarou-o novamente, desta vez parecendo curioso. Glorfindel riu e explicou -Está julgando as pessoas menos do que realmente são. E está tentando envolvê-la numa gaiola de delicadezas.Erros que aquele elfo tolo cometeu toda sua vida. Aquela criança que você vê com tanto cuidado, com medo até de olhar demais, é mais firme do que você foi durante muito tempo.- ele sentenciou com seu jeito provocador habitual. Legolas sentiu-se atordoado, mas antes que elaborasse qualquer coisa para poder se afastar das verdades entrelaçadas em chacotas que o Lorde a sua frente atirava, Miyoru voltou. Vinha correndo, trazendo alguns papéis coloridos em seus braços, deixando cair um pelo caminho.
-Legolas!- ela sorriu, e pareceu encantada com a surpresa, enquanto despejava seus achados sobre um canto vazio da mesa e se sentava ao lado do lorde louro -Finalmente veio se divertir conosco?
Glorfindel chegou a abrir os lábios para dizer algo, mas repensou e decidiu continuar conversando com seu pincel.
-Vim vê-la porque você deveria descansar, criança. Amanhã partiremos.- ele conseguiu soltar, ainda machucado com as frases terríveis do elfo mais velho. Agora sentia-se negligente e ignorante quanto aquela menina á sua frente, embora guardasse em sua mente cada respiração dela.
-Perdoe-me pela preocupação, meu amigo, e como pedido de desculpas...- Miyoru deixou escapar de seus lábios um sorriso misterioso, e pegou uma folha de papel colorida, mechendo com ela.Não permitiu que ele visse o que fazia.
Ao fim de poucos instantes, debruçou-se sobre a mesa e estendeu para Legolas uma mão fechada, e ao abrí-la revelou um pequeno pássaro, feito das dobraduras do papel. Legolas pegou-o com delicadeza e o observou com cuidado, era muito pequeno e singularmente perfeito. Olhou-o de todos os ângulos enquanto a voz doce que lhe encantava os ouvidos dizia:
-Chama-se tsuru. Em minha terra acreditamos que se você fizer mil desses, e o mesmo pedido a cada um deles, pode fazer qualquer desejo se tornar real.-
Parecera que eles compartilhavam um segredo, algo sutil e que lhes alegrava os corações. Ambos sorriram verdadeiramente, olhando para aquela pequena demonstração de afeto. A harmonia do lugar foi quebrada quando Glorfindel finalmente exclamou -Terminei.- e estendeu sua folha para ela, que voltou a se sentar e corrigiu o que tinha em mãos.
-Seu traço é bom...você deve ser bom com espadas, meu amigo. Mas cometeu um erro aqui.- e apontou alguma coisa no desenho -Dá pra duvidar se você quis dizer "mal" ou "coração".- e devolveu-lhe a folha. Este a colocou de lado e disse -Enfim, não deixemos nosso belo Legolas aqui esperando, aborrecido, enquanto nos afundamos em nossos ensinamentos.- ele deu um olhar para o elfo de quem falava, e um sorriso jocoso -Vá com ele, vá. Se ele veio até aqui te buscar é porque cansou-se de esperar, e haverá tempo par anós quando voltarem. Eu vou ficar e brincar com seus kanjis um pouco mais.- Miyoru suspirou, fingindo-se de exausta, e foi com Legolas entremeando as prateleiras cobertas de livros. Quando voltou-se, quase no final -Você vem se despedir de nós amanhã?- perguntou alto, e a resposta reverberou até eles -Claro. Eu não perderia a chance-
Então ela pareceu satisfeita, e sorriu para Legolas, ambos indo para o quarto.
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Miyoru acabara de sair do banho, pronta para se deitar e com o que levaria na viagem preparado para a partida, mas não via Legolas. Foi até a sacada então, e ele estava sentado no parapeito, olhando para o origami com curiosidade ainda.
-Se quiser, eu posso ensiná-lo como fazer.- Ela o surpreendeu levemente, e o elfo pareceu estranhamente feliz e confuso -Não seria a mesma coisa.- respondeu -Nunca tive grande habilidades manuais, como Elrohir ou Glorfindel.
-Então eu posso fazer-lhe sempre que quiser algo novo. Existem muitas formas de origami, que é como chamamos essas dobraduras de papel.- ela sentou-se ao lado dele, e observou o céu acima deles, enquanto o som do Bruinen cantava distante.
-Isso me parece melhor, mas este sempre será especial.- ele sussurou, antes de desviar seus olhos do seu novo presente e tomar coragem para falar com ela -Eu nunca te perguntei muita coisa, e talvez por educação você nunca tenha me contado nada. Mas não quer remediar isso agora?Conte-me algo sobre seu povo, minha criança, sobre sua terra.- a voz dele pareceu muito bonita e suave, como uma brisa que vem do mar e Miyoru sentiu-se muito bem.
-Então...eu contarei a lenda de Tanabata.- ela olhou para ele, corou, e pareceu-lhe uma verdadeira contadora de histórias, ali, sob a luz das estrelas, ela começou a contar-lhe:
-"Era uma vez, uma única vez na história, no tempo da formação do Universo. O soberano Celestial, (Tem no Ô) ainda estava atarefado em confeccionar estrelas e dependurá-las no firmamento, para brilhar durante a noite. Também as nuvens ainda estavam sendo tecidas e, esta tarefa cabia a bela filha do Soberano Celestial, a princesa Tanabata Tsume. Ela sabia como ninguém, fazer as mais tênues tramas de tecido e justamente por isso, era conhecida como Orihime, a Princesa Tecelã.
Dia após dia, ela trabalhava sem parar em seu tear. Dele saiam tecidos tão leves e diáfanos, tão finos, macios e maleáveis, que seu pai os pendurava no céu entre as estrelas, por vezes deixando-os cair em pregas até quase tocarem a Terra. Hoje damos a estes tecidos o nome de nuvem, névoa e cortina de nevoeiro, conforme a densidade.
Inteiramente absorvido pela tarefa de formar o céu, o Soberano Celestial orgulhava-se muito da habilidade da filha e a ajuda de Orihime era muito valiosa. Porém um dia, ele percebeu que a Princesa Tecelã estava pálida. E disse:
- Filha, tens trabalhado tanto que bem mereces um pouco de descanso. Hoje está dispensada de tecer, e pode folgar o dia inteiro. Aproveite para visitar o Amanogawa. Mas não se esqueça de voltar ao trabalho amanhã, pois ainda necessito de delicadas cortinas de nevoeiro para as manhãs de primavera, e porções de nuvens brancas para o verão.
Orihime sentiu-se muito feliz. Há muito tempo desejava caminhar descalça em Amanogawa – o rio Celeste, conhecido no sul da margem oposta (Brasil) como Via Láctea, e divertiu sem preocupar. Até então não sobrava tempo para tamanha descontração.
A Princesa Tecelã, vestiu seu mais belo kimono e correu dançando por entre as estrelas do Rio Celeste. No meio da Via Láctea avistou, no meio da correnteza estelar, um belo jovem com chapéu de caipira, banhando um boi.
-Quem é você ó bela donzela? Perguntou o jovem vaqueiro.
-Sou a estrela Shokujosei no Tanabata Tsume, filha de Ten no Ô, o Soberano Celestial, mas me chamam de Orihime, a Princesa Tecelã, respondeu ela. Também sou conhecida no Hemisfério Sul da Via Láctea com o nome de estrela Vegas.
-Meu nome estrelar é Altair, o vaqueiro, mas no Extremo Oriente da Via Láctea me chamam de Kengyu no Hikoboshi – se apresentou o pastor de gado.
Daquele encontro casual começou a brotar um sentimento de felicidade, nunca antes sentido por Orihime. Os jovens se divertiram muito, brincando de pega-pega, rindo e correndo no rio Celeste. Depois a convite do Vaqueiro, Orihime concordou em visitar a casa dele.
Hirokoboshi ajudou a princesa montar no boi, e conduziu-a através da Via Láctea em direção ao Hemisfério Sul, seu lar. Lá chegando, se divertiram muito dançando juntos no prato celeste. Tamanha era a felicidade da princesa que esqueceu completamente as recomendações do pai, e os dias se passaram.
Preocupado com a demora da filha, o Soberano Celestial ficou desesperado. Chamou uma garça e mandou fazer uma busca, encarregando-a de dizer a princesa que voltasse o mais depressa possível ao Palácio Celeste. A garça avistou a princesa dançando na margem oposta da Via Láctea, e deu-lhe o recado. Porém, Orihime, estava tão feliz e divertindo-se como nunca que não deu ouvidos ao pássaro mensageiro.
Cansado de esperar e muito zangado com a desobediência da filha, o Soberano Celeste foi buscá-la pessoalmente:
-Não destes ouvidos a minhas palavras! – disse o deus do Espaço Celeste – olha o céu! Ainda falta muito trabalho a ser feito, e ficas aí com namoricos, quando precisamos de nuvens, névoa e cortinas de nevoeiro. Portanto não poderei mais dispensá-la do trabalho. Tens que voltar ao palácio e continuar a tecer.
E o Soberano Celestial despejou grande volume de água estelar no Rio Celeste. Então a Via Láctea que era largo porém raso que se podia atravessar a pé, foi transformado em rio caudaloso, tantas eram as águas de estrelas que a divindade celeste havia despejado.
Como a princesa Tanabata (Orihime) e o vaqueiro Altair moravam em margens opostas do Rio Celeste, ou seja, em hemisférios opostos da Via Láctea, não havia meio de se encontrarem mesmo as escondidas. Portanto a princesa voltou melancolicamente junto ao tear no Palácio Celeste.
Porém sentia-se tão solitária, e com tanta saudade de Altair, que não conseguia mais tecer. Ficava apenas sentada e chorando incessantemente. Ela havia descoberto que era mais feliz no pobre casebre rural do caipira vaqueiro do que no suntuoso palácio de seu divino pai.
No Hemisfério Sul, a estrela do vaqueiro Altair, também morria de saudades e passava o dia todo tocando sua sanfona e cantando.
O vento levava a canção até o Palácio Celeste, que aumentava a saudade da princesa. De tanto chorar as nuvens que restavam no céu, desmancharam em forma de lágrimas e despencaram na Terra em forma de chuva.
O Soberano Celeste ficou desesperado porque com o volume de chuva caindo a Terra, iniciaram-se as inundações na Terra enquanto que no céu as nuvens foram desaparecendo. Então ele procurou a filha e disse:
-Por favor, minha princesinha, pare de chorar. Necessitamos tanto de nuvens, névoas e cortinas de nevoeiro para manter o equilíbrio da natureza. Por outro lado, se você continuar chorando, vai causado um dilúvio universal, que não restará um só vivente na Terra para contar a história. Vamos fazer um acordo e acabar com essa greve. Você volta a tecer com diligência e eu te concedo um dia livre por ano para ver o vaqueiro celeste.
Tais palavras devolveram a alegria à princesa, e ela retornou com entusiasmo o trabalho. E desde então nunca mais parou de tecer.
Mesmo sabendo que no futuro a princesa poderia requerer mais dias de folga, o Soberano Celeste cumpriu fielmente sua promessa. Uma vez por ano, na semana dos imigrantes japoneses, ele envia mil garças (senba tsuru) para o Rio Celeste, que com suas asas, eles formam uma ponte sobre as águas estelares profundas.
Trajando um lindo kimono, Orihime atravessa a ponte das Mil Garças e corre alegremente para a margem oposta ao encontro do seu amor. Altair, o fiel pastor de gado, que a aguarda ansiosamente.
Ambos se sentem radiantes por poderem ficar juntos durante um dia e uma noite. Dizem que um dia estelar equivale a uma eternidade terrestre. Por isso o amor dos dois é infinito."
Depois que ela concluiu a narrativa, ambos passaram alguns minutos em silêncio, olhando as estrelas e pensandoNa lenda de maneira muito pessoal. Legolas achou que deveria fazer um comentário, e disse finalmente
-Quisera eu ter um amor tão grande... Mas nunca tão triste.-
-Mas o amor dos elfos não é imortal?- Miyoru fitou-o, sorrindo -Eu li que os elfos amam apenas uma vez e por toda a vida.
-E esse não é o natural?- Ele retribuiu o sorriso, estranhando a direção que a conversa tomava.
-Ai de mim!Uma vida de muitos amores parece muito mais rica e interessante do que um único amor.- ela riu, jogando a cabeça pra trás, mas logo colocou as pernas sobre o parapeito e apoiou o queixo em seus joelhos, olhando-o com carinho e de modo curioso para o elfo -Mas um amor também deve ser bom. Encontrar uma outra parte de si, alguém...
-...alguém que te complete.- ele emendou, antes que ela pudesse terminar a frase, e ficaram os dois se encarando por um momento, antes de Legolas completar -É desejo de todos os corações, não só dos elfos. Mesmo um pequeno coração humano como o seu...- ele empurrou a testa dela suavemente com o dedo - Deve esperar encontrar alguém que possa acompanhar um dia, estar com você sempre.- e ambos se encararam, e seus olhos sorriram.
-Deveríamos ir dormir, pois o dia de amanhã será longo.- O elfo disse relutantemente, e ela assentiu com um meneio de cabeça
-Os ocidentais do meu mundo dizem: Somos anjos de uma só asa, somente abraçados podemos voar.- ela disse em tom confidencial, enquanto ambos desciam do parapeito entravam no quarto. Deitaram-se juntos e Legolas murmurou -É uma metáfora interessante...porque quando estamos com a pessoa que amamos nos sentimos entre as nuvens.
-Uhum...- Miyoru concordou, já com os olhos fechados e adormecendo. O louro a admirou mais alguns instantes, até que ele também deixou-se cair no sono.
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-Sabe, por muito tempo observei esse hábito nessas terras de partir em viagens sem comemorações ou alegria.- Soltou Miyoru, insatisfeita com a sua partida de Valfenda, há três dias.
-É também a sua terra agora, criança amada. Mas não vejo nada de errado com a tristeza nas despedidas, é natural.- Aragorn, emparelhou seu cavalo com o de Miyoru e Legolas, apreciando qualquer conversa para quebras o silêncio que reinou desde que deixaram a Casa de Elrond.
-Fazem as pessoas sentirem-se ainda pior.-
-O que é inevitável, não?Tristezas implicam em saudades, e sentimentos que esfriam o espírito.-
-Não, digo, sim é inevitável. Mas não deveria ser assim. Somos...nós somos honrados e dignos companheiros na Demanda do Anel. QUando nós partimos deveria haver festas assim como quando chegamos, e músicas e alegria. Assim nós partíriamos pra nossa jornada estusiasmados e renovados. Não esse bando de carcaças que parecemos agora.
-Chame de carcaça a sua mãe.- grunhiu Hotaru, mal-humorada e antes que ambas começassem uma discussão acirrada, Gandalf interrompeu -É um pensamento interessante, Miyoru. Deveras original.-
-Eu tenho uma mente original.- a menina sorriu, orgulhosa -Devemos ter orgulho da batalha como temos da vitória.
-Mas guerras são ruins.- Interveio Legolas, que jamais se acostumaria ao contato íntimo que tinha com Miyoru. De fato, começava a pensar que jamais se acostumaria á ela no total. Sempre seria especial, relevante. -Principalmente quando perduram, como esta. É duro para os guerreiros se orgulharem de algo que fere tanto.- Sua voz tornara-se baixa, notavelmente angustiada. Uma voz que entendia de guerras. Miyoru normalmente afastava suas idéias de Mirkwood e das batalhas de seu povo, seu lar. Entrelaçá-los, mesmo que em pensamentos, parecia algo insensato e chamariz de prolemas.
-Eu também lutei a vida toda.- Hotaru disse, ainda com vontade de discutir. Era algo que ela gostava de fazer, e argumentações inflamadas sempre lhe falavam ao espírito -E assim fez Ai. E assim farão nossos filhos depois de nós. Lutaremos com coragem e disposição, elevando a vitória e o nosso ideal acima de tudo mais. Porque tal é o desejo de nossa alma, de nosso coração.-
-E qual seria este ideal?- Gimli interessou-se pela conversa. Afinal, ele também preferia uma boa discussão ao silêncio introspectivo das despedidas.
-Honra, igualdade, paz. Lutamos pelo que achamos certo.-
-De fato, o "ideal" nunca é o mesmo se você perguntar para dois guerreiros.- Miyoru declarou, arrancando um ramo com ameixas e flores quando passaram por baixo deste -Porque mesmo que eles digam as mesmas palavras, a compreensão destas diferem. Lutamos porque é o que fazemos, o que nos disseram para fazer.- ela sorriu para Hotaru, oferecendo uma das ameixas para ela -Poucos de nós realmente conhecem o desejo de seu coração. Sendo assim, é mais fácil simplesmente adotar um ideal, um lema, uma batalha, algo pelo que se lutar que pareça bom o suficiente, ao invés de buscar o que você verdadeiramente deseja.-
-Ela fala.- arremedou Hotaru, antes que todos pudessem enxergar em seus íntimos o peso do que Miyoru dizia -Mas sabe que luta por algo que não é seu verdadeiro desejo, e que terá que sucumbir á esses "ideais" em nome daqueles que julgam sua líder natural. E, no final, o que você chama "desejo do seu coração" terá que ser delegado ás lembranças de infância. O dever com seu destino e seu povo a ordenam que esqueça isso.-
O riso debochado e tranquilo foi a resposta que recebeu. -Minha cara amiga!Estamos numa outra terra, onde há tantas pessoas, lugares e maravilhas para ver!Aqui, meu único dever é para com meu Senhor, Aragorn Elessar, e para com meu coração. Ignoro e desprezo as regras e leis do lugar que você evoca. Ficou para trás!E depois de aprendermos o que pudermos com o passado, devemos esquecê-lo.
-Esquecer?Pois sim!Todas as belezas e as alegrias residem no passado. Nosso futuro é deprimente, e nosso presente uma batalha já decidida.- ela murmurou, com amargor - Pois assistimos aqueles que amamos morrerem, e as flores murcharem. Atrás de nós a primavera do mundo. Em frente, a escuridão. Este lugar mesmo, esta "terra" é passado. Pense em nosso tempo, ao futuro desta era, e reflita!
-Você ama o passado. Para você, chorar as estrelas que desapareceram é mais importante do que sentir o calor e o brilho do sol. Chore por seu precioso tempo ido, se é isso que te satisfaz. Tudo ocorre da melhor maneira possível sempre, Hotaru-chan, e o tempo flui como uma brincadeira ao nosso redor. Todos os prazeres e respostas estão soprando com o vento- ela sorriu, soltando as flores de ameixeira na suave brisa do sul que os envolvia, e encarou a imensidão azul acima de si. E Gandalf e Aragorn sorriram um para o outro, enquanto os Hobbits aproveitavam a beleza do dia como Miyoru. Mas Legolas a observava apenas, e nisso residia seu prazer e sua alegria.
A discussão se estendeu por grande parte da viagem daquele dia, e os outros acabaram se envolvendo e expondo seus próprios pensamentos. Apenas duas pessoas não falaram ao grupo; Gandalf e Legolas. Gandalf preferiu não fazê-lo pois sabia que embora sua compreensão da teoria dos homens e hobbits fosse vasta, e ele tivesse vivido como um por algum tempo, sempre o surpreendiam e demonstravam o quanto eram belos e inusitados. Legolas não falava porque uma tristeza insidiosamente invadira seus pensamentos a respeito. Uma espécie de nostalgia do futuro, daquilo que os elfos não veriam. Bem sabia, como sabiam todos os elfos daquela época, que a Era dos Homens tinha alvorado, e que sua partida para Aman era questão de tempo - pouco tempo. E ao ouvir Miyoru falar, na insegurança de seu afeto, pareceu-lhe que ela dizia que os elfos, tal como o passado, eram desprezíveis e indignos de atenção. E então Gandalf, observando a mudança de humor de Legolas, passou a observar com interesse seus pensamentos sobre o casal.
Ele se lembrava que todas as uniões entre os Primogênitos e os Sucessores foram relevantes para a história de Arda. Mas - questionava-se curiosamente - se a menina já teria percebido a tênue sinfonia que se desenvolvia ao redor de ambos. Será que Legolas esperaria ela crescer para revelar seus sentimentos? Ou o medo de que alguém o fizesse antes se sobreporia ao bom-senso?O jovem príncipe nunca tivera muita segurança no campo afetivo. De fato, ele parecia especialmente propenso a atitudes impulsivas quando confrontando seus próprios sentimentos. Ora, eles eram diametralmente opostos. Legolas lembrava o dia, a luz, a bondade da alma, a esperança que repousa sobre a inocência dentro de cada um. Seus atos eram gentis e repletos de algo que fala ao íntimo - "Ainda há bondade no mundo.". Ao conhecê-lo, a impressão era que o verão jamais acabaria. A pequena princesa, por sua vez, parecia a noite tanto fisicamente quando em espírito. Ela não expressava a paz e a serenidade da bondade, mas o vigor da ação, a energia, a vitalidade. Não uma estação em particular, mas sim o eterno ciclo, a mudança em si. Como a lua e suas fases. Ele franziu a testa, murmurando para si mesmo mais algum tempo. Quando Aragorn decidiu montar acampamento, a discussão sobre as facetas temporais se extinguiu, mas não os devaneios de Gandalf acerca de do elfo e da humana.
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-Ei!Eu reconheço essa estrada!É Bri!Estamos em Bri!- exclamou Pippin, alegremente. O resultado foi que Ana subitamente ergueu a cabeça, já que normalmente andava olhando para o chão, e sorrindo saiu correndo a frente de todos. Hotaru foi a primeira a acompanhá-la, seguida por Frodo , Pippin, Merry e Sam. Quando Miyoru questionou se não iriam atrás deles, mas Aragorn sorriu, e declarou que não era necessário. Eles se cansariam logo, e logo iram alcançá-los.
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A noite chegara mais uma vez, para deleite dos exaustos viajantes. Mas não estava sendo de forma alguma um deleite para Frodo. Ele se sentia profundamente encomodado com o fato de Ana ter decidido ir para casa. Desde Imladris eles vinham conversando mais, e haviam se tornado amigos próximos, pois ela tinha uma brandura que não existia de modo algum em seus outros companheiros, e que era para ele como ir a um jardim depois de uma longa enfermidade. Ela o confortava, e mesmo quando estava no auge do seu animo jovial, era delicada com ele. Compreendia sua dor, sua tristeza. Seu cansaço.
De fato, antes do aparecimento dela, ele pensava todo e a cada dia em explicar, pedir, impor ou implorar sua saída do grupo de andarilhos. Não tinha mais a mesma força, mesmo que fosse ainda tão jovem quanto os outros. Exaurira-se no primeiro percurso, e temia que não pudesse resistir a um outro. Porém, dia após dia, algo o impedia de dizê-lo a Gandalf. E ele não se encomodava em adiar a triste decisão. Quando a hobbit ruiva se juntara ao grupo, esse fardo pareceu suavizar-se, e podia até mesmo encontrar prazer nas duras viagens.
E agora ela iria apartar-se deles, e o que ele faria?Voltaria a encarar cada dia como se fossem seus últimos na Montanha da Perdição?E quando se aproximassem da maldita Terra de Sauron, como poderia prosseguir?
Enquanto seus anseios se aprofundavam insidiosamente em sua alma, ele aguardava, respirando oa r fresco da noite perto da casa de Ana. Queria falar-lhe, embora ainda não soubesse plenamente o que.Então, aguardava.
-Vai pegar um resfriado aí no sereno.- Ela chegou, depois de mais alguns minutos de espera, e estendeu a mão para ajudá-lo a descer do muro em que estava sentado.
-Não sou assim tão delicado.- Frodo sorriu, tentando em vao ocultar seu cansaço -Queria te falar, te pedir que não abandonasse a jornada.-
A maneira repentina como ele falara a fez arregalar os olhos, mas acabou sorrindo levemente -Devo. Mas também eu queria falar contigo. Creio que não deveria continuar a jornada, ou se quiser, poderia pedir a eles que ficassem um pouco, até você se recuperar.
-Não me recuperei nem mesmo em Valfenda, e duvido que possa algum dia voltar a ter a mesma disposição que Pippin e Merry usufruem.- murmurou, baixando os olhos, deixando-a pegar suas mãos. Ficaram assim alguns momentos.
-Fique comigo então.- Ana disse enfim, tentando falar suavemente, pois seus instintos lhe diziam o quão mal estava o hobbit a sua frente.
-Eu..tenho uma proposta melhor...- respondeu, rompendo o silêncio -Venha comigo para o Condado. Podemos passar algum tempo lá.
-Fiquei muito tempo longe de casa.- ela retrucou, com calma -Fique aqui, e prometo que irei acompanhá-lo até o Condado.
Outro suspiro, esse parecendo mais revigorado que o anterior. Frodo ergueu os olhos claros,perguntando enfim, com um sorriso tranquilo. Ambos miraram-se por algum tempo, e enfim riram. Ela o acompanhou até o Pônei Saltitante novamente conversando de forma animada, mas se despediram sem qualquer palavra.
E quando ele voltou para a algaravia da taverna e ela percorreu as ruas com a brisa em seus cabelos, nenhum deles fez conjecturas, ou pensou qualquer coisa de especial. Pois eles sabiam, de uma forma mais profunda do que palavras ou pensamentos poderiam explicar, ou entender. Eles tranquilamente sabiam.
