I

Mais um Verão com os Dursleys

Harry olhou com desconsolo para o calendário. Não podia querer que ainda faltava um mês para voltar à Escola de Magia e Feitiçaria de Hogwarts. Tinha-lhe custado muito a passar o tempo, naquele verão incrivelmente longo com os Dursleys. Como não podia fazer magia, por ser menor, não tinha nada interessante para fazer.

Não sabia quanto mais tempo poderia ainda aguentar as ordens do tio Vernon, as críticas da tia Petúnia e as constante sessões de espancamento com o Dudley, o filho dos Dursleys com cara de porco e com maneiras semelhantes, que eram os seus únicos parentes vivos com quem vivia. Harry sabia que tinha uma existência miserável naquela casa, mas também tinha consciência de que as coisas tinham melhorado um bocadinho desde que os Dursleys sabiam que ele estudava feitiçaria em Hogwarts. Tinham-lhe medo.

Harry era um feiticeiro, tal como os seus pais James e Lily Potter tinham sido, e tinha muito orgulho disso. Tal como tinha orgulho na pequena cicatriz em forma de raio que tinha na testa. Tinha sido Lord Voldemort, o senhor do mal, que lhe tinha feito após ter morto os seus pais quando ele era ainda bebé. Apesar da sua cicatriz também lhe trazer memórias tristes, ela era motivo da sua força pois representava apenas uma coisa: que ele sobrevivera ao senhor do mal e fizera-o reduzir-se quase a uma sombra viva. Era ela também que fazia com que ele fosse conhecido por todo o mundo mágico.

Para os Dursleys, que eram os Muggles mais Muggles do mundo, Harry era quase como uma aberração da natureza, pois eles consideravam-se normais e gabavam-se, para quem os quisesse ouvir, que mais normais do que eles era impossível encontrar. No entanto, em toda a rua de Privet Drive, ninguém sabia o segredo de Harry Potter.

Durante todo o mês, Harry tinha feito a contagem decrescente para o seu aniversário. Faltavam apenas dois dias para fazer 14 anos. Mal podia esperar para receber as corujas de Ron Weasley, Hermione Granger e Rubeus Hagrid, como era habitual. Desde que entrara para Hogwarts e que conhecera os seus dois melhores amigos, que o seu aniversário era um dos seus melhores dias, pois antes disso, quase nem se lembrava que fazia anos, tal era grande a indiferença dos Dursleys.

Tal como todos os outros dias do seu verão, Harry acordou ao som dos estridentes grito da tia Petúnia.

- Acorda! Vamos! Acorda! JÁ!! – gritava ela batendo na porta.

Harry acordara estremunhado e completamente enrolado nos lençóis. Pegou nos óculos que estavam na mesinha de cabeceira. Piscou os olhos com força. Já conseguia ver com alguma clareza.

- Então? Vais ficar aí toda a vida? – era mais uma vez a tia Petúnia. – Anda já para a cozinha!

Ele arfou, tirando algumas madeixas de cabelo negro da frente dos olhos. Os olhos verdes e brilhantes iluminaram-se ao sol da manhã, quando Harry abriu a janela. Olhou para a gaiola vazia que estava em cima da mesa. Hedwig, a sua Coruja-das-Neves branca, ainda não tinha voltado. Tinha-a soltado, para ela poder exercitar as asas, mas já há dois dias que ela não voltava. Harry não estava preocupado. Hedwig costumava fazer aquilo muitas vezes.

Antes que a tia Petúnia voltasse a gritar, Harry vestiu as suas roupas largas e usadas, que já tinham pertencido a Dudley. Depois de dar uma penteadela rápida ao cabelo negro, que continuou despenteado, Harry desceu as escadas em direcção à cozinha.

O tio Vernon já lá estava, sentado à mesa, enterrado por detrás do jornal. Quando Harry entrou, não lhe disse bom dia. Disse apenas, com um ar aborrecido:

- Faz-me o bacon e não o queimes desta vez.

Harry não respondeu e aproximou-se do fogão, pegando numa frigideira. A tia Petúnia estava ao pé da janela, a olhar para os vizinhos do lado. O seu pescoço de girafa, longo e delgado, mostrava-se muito útil em situações como aquela.

- Os vizinhos compraram um carro novo. – dizia ela com um ar afectado.

- Está bem Petúnia, e depois? – o tio Vernon voltou a folha do jornal.

- Não achas que está na altura de comprarmos um novo também? – olhou para a porta quando Dudley entrou, fazendo de propósito para "tropeçar" em Harry enquanto ele servia o tio Vernon. – O nosso pobre Dudleysinho quase que não tem espaço para se sentar naquela lata velha. Ele está a crescer...

- Ele está é a tornar-se numa pequena baleia. – pensava Harry pondo bacon e ovos no prato do primo.

- Mais tarde falamos disso. – o tio Vernon dobrou o jornal, pousando-o ao lado do prato. – Agora não podemos comprar um carro novo, porque estou a tentar expandir o negócio de família.

- Um negócio de brocas? – perguntou Harry. – Isso pode expandir-se?

Inconscientemente, Harry tinha posto o tio Vernon furioso. Viu-o a ficar vermelho e a enterrar a cabeça nos ombros, fazendo-o parecer que não tinha pescoço.

- E O QUE SABES TU DE NEG"CIOS?! – gritou. – ALGUÉM TE PERGUNTOU ALGUMA COISA?

Harry retraiu-se um pouco. Não era a sua intenção aborrecer o tio Vernon àquela hora da manhã. Ele pareceu acalmar-se com pouco, cofiando o bigode, mas aquele súbito silêncio iria durar pouco tempo. Dudley começou a gritar, dizendo que o bacon do pai era maior que o seu e que os seus ovos estavam mal passados. Com o tio Vernon a gritar de novo por causa de Harry, com o Dudley a gritar por causa do tio Vernon e a tia Petúnia a gritar para acalmar Dudley, Harry comeu o seu pequeno-almoço com a ideia de sair daquela cozinha o mais rapidamente possível.

Já se tinha levantado quando o tio Vernon lhe agarrou a gola da t-shirt. Ainda estava vermelho e tinha um olhar ameaçador. Já tinha pregado um cachaço a Dudley que choramingava agora nos braços da mãe, mas que já tinha no prato, o tão ambicionado bacon.

- Onde pensas que vais? Vai já lá para fora cortar a relva! TODA a relva e as sebes e não sais de lá enquanto não acabares! – rosnou empurrando Harry para a porta. – E ai de ti, se quando eu voltar, não estiver tudo bem aparado!

O tio Vernon abriu a porta e empurrou Harry para o exterior, saindo com o seu casaco e a sua mala de negócios, em direcção à sua fábrica de brocas. Harry ficou aliviado de o ver partir e ficou por momentos a olhar para as casinhas todas iguais, com os jardins todos iguais, com os carros à porta das garagens. Era assim a Privet Drive e a casa n.º 4 do tio Vernon não era excepção. Harry foi buscar o cortador de relva e começou o seu trabalho.

Por volta do meio-dia, Harry já tinha aparado toda a relva e as duas grandes sebes. Limpou o suor da testa. Estava espantado consigo próprio. Tinha demorado menos tempo do que o previsto. Tinha acabado mesmo a tempo de almoçar. Depois de guardar o cortador de relva, Harry abriu a porta e entrou, para apenas ser recebido pelos gritos horrorizados da tia Petúnia.

- Onde pensas que vais, assim todo sujo? Se queres comer, trata de te lavar, JÁ!

Harry não a queria contrariar e antes que ela o deixasse sem almoço, subiu as escadas rapidamente em direcção à casa de banho. Lavou as mãos e a cara, sentindo-se fresco. Depois desceu.

A tia Petúnia olhou para ele com desprezo, como se Harry fosse um insecto indesejável. Harry pegou nos pratos e talheres, pondo a mesa, depois, e muito silenciosamente, sentou-se. Dudley, observou tudo em silêncio, sem nunca tirar os olhos de Harry, sorrindo-lhe de forma suspeita. Os olhos pequenos e azuis de Dudley quase desapareciam no meio das suas bochechas gordas. Harry tinha pressentido o olhar do primo e não estava a gostar nada. Algo lhe dizia que iriam haver sarilhos muito em breve... e que ele iria estar metido neles.

Depois do almoço, a tia Petúnia fizera Harry lavar a loiça, gritando-lhe.

- E quando acabares vai lá para fora. Não te quero dentro de casa! Tu sujas tudo. Tu e aquela maldita coruja!

Mais uma vez, Harry fez o seu serviço em tempo recorde, saindo para o exterior da casa. Estava uma tarde quente e o sol brilhava num céu azul e sem nuvens. Estava mesmo bom para um passeio. Talvez fosse dar uma volta pela rua de Privet Drive ou talvez se deitasse na relva, à sombra de uma árvore, a sonhar sobre Hogwarts...

Lá, com Ron, Hermione e Hagrid, sempre se sentia mais em casa do que em Privet Drive com os Dursleys. Tinha saudades do seus amigos. Ron, tinha ido com os pais visitar o seu irmão Charlie à Roménia e Hermione tinha ido a Itália. Ambos lhe tinham escrito à pouco mais de uma semana.

Desinteressadamente e tentando decidir o que fazer, (já que não podia nem sequer estudar porque todo o seu material de Hogwarts estava trancado na dispensa debaixo das escadas), olhou em volta e o que viu deixou-o sem pinga de sangue. Dudley e os seus quatro amigos, Piers, Gordon, Malcolm e Dennis, dirigiam-se para ele com sorrisos estranhos nos rostos. Antes que conseguisse fugir, Harry já tinha sido cercados pelos cinco.

- Olá caixa-de-óculos! – disse Piers sarcasticamente. – Onde é que pensas que vais?

- Não vou a lado nenhum. – Harry respondeu recuando, mas bateu contra o corpo gordo de Dudley.

- Então, já que não vais a lado nenhum, vens connosco. – disse Dennis.

- Eu não vou a lado nenhum! – disse Harry aborrecido. – Deixem-me em paz!

Antes que Harry se tivesse apercebido do que lhe estava a acontecer, os cinco rapazes apertaram o cerco e empurravam-no uns para os outros. Harry já começava a ficar tonto. Desejava ter a sua varinha à mão para os transformar em sapos, mesmo que isso lhe valesse uma advertência do Ministério da Magia. Piers e Malcolm agarraram-no pelos braços e arrastaram-no com eles.

- Para onde é que vocês me levam? – gritou Harry contorcendo-se para se libertar.

- Espera e já vais ver. – disse Dudley maldosamente.

Harry não teve outra hipótese senão deixar-se arrastar pelos cinco rapazes. Não lhe valia de nada fazer-lhes frente, pois todos eles eram mais fortes do que ele, para além de serem cinco. Estava indefeso.

Depois de saírem de Privet Drive, Dudley e os amigos pararam junto a um muro velho e coberto de uma hera de aspecto duvidoso. Com a ajuda de uma caixa, treparam o muro o suficiente para podarem espreitar lá para dentro. Harry também espreitou.

Do outro lado do muro estava uma casa feita de madeira com um ar decrépito, com um jardim e uma horta cheios de ervas daninhas e de ferro-velho, que teriam deixado a tia Petúnia de cabelos em pé. Tudo tinha um ar abandonado excepto um cantinho daquela horta, onde havia um grande canteiro de morangos grandes e vermelhos. Dudley nem reparou na baba que lhe descia pela cara gorda.

- Vamos buscar alguns! – disse Malcolm desejoso.

- Sim! – Dudley concordou. – Parece que a bruxa velha não está aqui.

- A bruxa? – Harry repetiu.

- Sim, cara de cicatriz. – resmungou Gordon. – Dizem que vive uma bruxa nesta casa.

- Vamos entrar! – exclamou Piers colocando uma perna por cima do muro.

- Eu não vou. – disse Harry com coragem.

Dudley agarrou-o pelos colarinhos e ergueu o seu pulso rechonchudo.

- Ou vens ou levas! – ameaçou. – Nós precisamos que alguém distraia o cão enquanto entramos.

- Pode ser que ele te confunda com um osso e te coma logo de uma vez. – gozou Gordon.

Os cinco rapazes começaram a rir e treparam o muro. Harry quase que foi arrastado. Depois de ultrapassarem o muro e tendo as pernas arranhadas pela hera, o seis olharam em volta, com os sapatos enterrados numa poça de lama. Aquele lugar parecia deserto. Embora assustados, os seis começaram a andar em direcção aos canteiro dos morangos quando um ronco monstruoso os fez parar gelados. Junto à casa apareceu um cão negro e enorme. Harry começou a tremer.

- O melhor é irmos para trás... – murmurou Piers ao ver os dentes enormes do cão.

Quando o cão começou a correr na direcção deles, as vozes dos seis saíram em uníssono, num grito horrorizado.

AAAAAHHHHHHHHH!!!!!!

Depois começam a correr sem olhar para trás, com os roncos do enorme animal a ressoar-lhes nos ouvidos. O cão era grande o suficiente para os matar a todos. Dudley foi o primeiro a chegar ao muro, batendo e empurrando os outros para ser ele o primeiro a sair de lá.

Apesar de assustado, Harry abrandou para olhar para trás. O cão não os perseguia. Estava preso. Tentava libertar-se, mas estava bem preso por uma grossa corrente. Harry respirou de alívio, mas ainda sentia os joelhos fracos. Voltou a observar o cão, enquanto ouvia Dudley e os outros a descerem o muro novamente. O cão era enorme, com pelagem negra e olhos amarelos. Tinha um tamanho demasiado grande para um cão normal, no entanto, não era isso que o preocupava. O que achava estranho, é que aquele animal lhe parecia familiar. Dava-lhe a sensação que já o tinha visto antes. Era parecido com...

- Nah... – pensou Harry. – Não pode ser. É apenas uma coincidência.

No momento seguinte sentiu a mão pesada de Dudley no seu ombro.

- Ele está preso! Dá para acreditar na nossa sorte? Por que é que não nos disseste que ele estava preso, ó pulga?

- Como é que eu ia saber que...

- Tu devias saber! – gritou Dudley agarrando-o pelos colarinhos, aproximando-se perigosamente do seu rosto.

- Deixa-o Dudley! – disse Piers. – Mais tarde damos cabo dele. Agora vamos lá buscar os morangos!

- Fica a vigiar, anormal. – resmungou Gordon para Harry enquanto seguia com os outros.

Harry ficou no mesmo lugar onde estava, olhando para os outros e para o cão. Queria ir-se embora dali, mas sabia que se fugisse que Dudley e os outros iriam apanhá-lo e dariam cabo dele, por isso, ficou à espera deles com uma sensação de desconforto e medo a apoderarem-se dele. Entretanto, Dudley enchia os bolsos com aqueles morangos do tamanho da sua mão.

Harry olhou para a porta desengonçada da casa quando o cão parou de rosnar. Tinha um pressentimento esquisito. Tinha uma vontade louca de fugir, mas era como se os seus pés estivessem pregados ao chão.

- Aaaa... Dudley? – murmurou.

- O que é que queres? – perguntou Dudley com a boca cheia e a cara coberta por morangos esmagados.

- Acho... acho que vêm aí alguém...

- Só se for o Pai Natal! – gozou Dennis.

- Acho que é mais a dona da casa! – gritou Harry quando viu a porta a abrir-se e uma velha atarracada e de aspecto sujo a sair para o alpendre.

Os rapazes começaram a correr, gritando e deixando cair os morangos, esmagando os canteiros. Harry olhou para trás enquanto corria. Viu a mulher a tirar algo do bolso. Parecia um pau.

Harry correu ainda mais depressa.

Viu a mulher a erguer esse pau e a gritar uma palavra que ele já conhecia.

IMPEDIMENTA!

No momento seguinte, foi como se alguém tivesse parado o tempo. Harry parou de correr e deixou-se ficar na posição em que estava, sem ser capaz de se mover. Os outros também pareciam congelados.

- Ei, o que é que se passa? – gritou Piers.

- Não consigo mexer-me! – disse Gordon a ficar vermelho pelo esforço.

- Eu quero a minha mmmmmããããããeeeeeee!!!! – gritava Dudley em plenos pulmões, com lágrimas gordas a caírem-lhe pelo rosto.

Harry observou, pelo canto dos olhos, a mulher a aproximar-se. Viu o que ela trazia na mão. Uma varinha. Ela era uma bruxa. Ouviu-a falar.

- Ora, ora, ora! Vejam só o que eu apanhei...

A velha andou à volta dos seis rapazes paralisados, apenas apoiados numa perna por estarem a correr. Dudley continuava a gritar e isso parecia estar a divertir a mulher. Era velha, com longos cabelos cinzentos e mal tratados a cobrirem-lhe os ombros e com roupas velhas e sujas. Tinha uma face enrugada, mas tinha uns olhos pretos e penetrantes, com um nariz pontiagudo. Ela deteve-se junto a Harry. Quando ele sentiu que ela lhe tocou no cabelo com aquela mão ossuda, pensou que iria desmaiar. Ela ficou a olhar para o centro da testa de Harry, para a cicatriz.

- Harry Potter. – disse ela com voz fria e maldosa. – Quem diria que um dia ias ser apanhado a roubar? Se Severus Snape te pudesse ver agora...

Harry perdeu o medo que sentia por momentos. A que propósito é que nome de Snape vinha à baila? A velha continuou a rir e entrou para dentro de casa, deixando-os congelados no meio da horta.

O que se seguiu tinha sido incrivelmente rápido. Após a mulher ter entrado para dentro da casa, eles tinham permanecido congelados no meio da horta durante meia hora. Depois e de repente, já se conseguiam mexer, para apenas serem apanhados pelos agentes da polícia Muggles que a mulher tinha chamado, dizendo que os tinha apanhado a roubá-la. Os polícias meteram-nos os carros e seguiram para a esquadra, com Dudley a gritar que queria ver a mãe e que tudo aquilo era a culpa de Harry, ele é que tinha dado a ideia, ele é que os tinha obrigado a roubar.

Agora, estavam os seis sentados numa sala vazia, enquanto ouviam um grande tumulto no exterior. Harry depressa reconheceu a voz irada do tio Vernon.

- EU QUERO O MEU FILHO DAQUI PARA FORA! – gritava. – NÃO TÊM O DIREITO DE O MANTER AQUI!!!

- Eu quero o meu Dudleysinho... isto não é lugar para uma criança, no meio destes... destes... destes marginais! – dizia a tia Petúnia a chorar.

- Eu sei, eu sei minha senhora. Queira acalmar-se. – dizia o agente da polícia. – Mas ele foi apanhado a roubar. Vai poder levar o seu filho embora assim que pagar a fiança.

Mais uma vez os gritos se elevaram no ar, juntamente com outras vozes que Harry não conhecia, mas que deviam ser os pais de Piers, Dennis, Gordon e Malcolm. Harry estava silencioso, olhando fixamente para a parede que estava à sua frente. Tentava imaginar o castigo que iria ter quando chegasse a casa. Pensando melhor, nem queria pensar nisso.

O barulho pareceu abrandar e alguém abriu a porta com um estrondo. Harry ficou branco como a cal. Vermelho, com o bigode a apontar em todas as direcções e com os olhos quase a saltar das orbitas, o tio Vernon entrou e agarrou Dudley e Harry pelos cabelos, gritando com voz abafada.

- VOCÊS... OS DOIS... JÁ... LÁ FORA... CASTIGO.... ATÉ AO... FIM DAS.... VOSSAS VIDAS!

Levou os dois pelos cabelos para fora da sala, com Dudley a gritar como um desalmado. Harry apenas gemia. Quando Dudley viu a mãe, conseguiu desembaraçar-se do tio Vernon e correu para ela chorando.

- Foi o Harry! Foi o Harry que teve a ideia! Foi o Harry que nos obrigou!

- Eu sei meu querido, eu sei... – disse a tia Petúnia abraçando Dudley, enquanto lançava olhares letais a Harry.

O tio Vernon, ainda furioso, arrastou Harry pela camisola para fora da esquadra da polícia, sempre a gritar com Harry, que se mantinha silencioso.

- Meu grande delinquente anormal! – gritava enquanto conduzia para casa. – Vá viste o que fizeste? Obrigaste-me a passar uma vergonha e a pagar uma fiança para te tirar de lá! Devia era ter-te deixado lá ficar! Eu devia pôr-te fora de casa! Tu não és meu filho! Não tenho que te aturar! Espera só até eu chegar a casa! Espera e que tu vais ver! A desviar o meu filho! A fazê-lo roubar!

- Não fui eu! – Harry retorquiu. – O Dudley e os outros é que me arrastaram para lá!

- TU CALA-TE! – gritou o tio Vernon espalhando perdigotos por todo o pára-brisas. – ESPERA ATÉ CHEGARES A CASA!

Durante todo o caminho o tio Vernon e a Tia Petúnia foram a gritar, discutindo qual o melhor castigo para Harry. Dudley, é que tinha um sorriso vitorioso de cada vez que olhava para o primo.

Quando chegou a casa, o tio Dudley certificou-se que ninguém estava na rua, antes de tirar Harry do carro por um braço, quase o deitando ao chão. Agarrando-o ao ponto de o fazer gemer de dor, o tio Vernon levou Harry para o seu quarto, arrastando-o pelas escadas. Abriu a porta e atirou-o para o chão com violência, indo trancar a janela. Já era noite e antes da luz desaparecer, Harry viu que Hedwig ainda não tinha voltado. O tio Vernon gritou.

- HOJE NÃO JANTAS E NÃO SAIS DAQUI ENQUANTO EU DISSER!!! VAIS FICAR DE CASTIGO ATÉ AO FIM DA TUA VIDA!!! – então ele fez a ameaça final, que deixou Harry lívido. – E NUNCA MAIS VAIS PARA AQUELA MALDITA ESCOLA!!!

Depois saiu, deixando Harry na mais completa escuridão, trancando a porta.