Um Aniversário de Castigo
Harry não se podia sentir mais infeliz. Tinha sido castigado por algo que não tinha feito e proibido de voltar a Hogwarts. Para ele, esse era o pior castigo, para além de estar trancado às escuras, a faltar pouco para o seu aniversário. Nos momentos em que ficou em silêncio, ouviu o tio Vernon a arrastar algo pesado para fora de casa enquanto praguejava. Harry queria ver o que se estava a passar, mas o tio Vernon tinha-lhe trancado a janela. Levantou-se, tacteando no escuro, e ligou a luz. Ouviu o tio a resmungar por debaixo da sua janela.
- Maldito miúdo! Ele não é meu filho! Eu não tenho de aturar estas coisas! AI! Maldita vassoura!
Vassoura?! Harry colou-se à janela. O tio Vernon continuou a arrastar algo para a traseira da casa e Harry ouviu-o dizer para a tia Petúnia.
- Já está tudo cá fora? Amanhã deito fogo a estas malditas coisas! Quando aquela coruja voltar, e se ela voltar, ainda a mando empalhar para pôr na sala!
Harry não sabia o que fazer. No dia seguinte, o tio Vernon ia queimar o material de Hogwarts! Assim já não poderia ir para a escola e Harry não podia fazer nada. Estava trancado naquele quarto. Esperava que alguém da escola desse pela sua falta e o mandassem vir buscar, senão, ele nunca mais sairia daquele quarto.
Ao voltar para a cama, Harry viu algo a brilhar junto ao tapete. Aproximou-se e pegou no objecto. Era uma chave. Era a chave da janela que o tio Vernon, com a sua fúria, tinha deixado cair! Harry agarrou nela como sendo o seu único tesouro. Já tinha a chave da janela, o que queria dizer que a poderia abrir. Era tudo o que ele precisava. Mal Hedwig voltasse, ele mandaria uma carta a Hagrid ou a Albus Dumbledore, o director de Hogwarts, explicando que não poderia voltar, mas tinha de ser cuidadoso. O tio Vernon não o podia ver com a janela aberta. Guardou a chave no seu bolso.
As horas que se seguiram, Harry passou-as a olhar para o tecto. Tentava pensar no que fazer a seguir. Não podia fugir pela janela, porque ela tinha barras de ferro. Mesmo após Ron, à dois anos atrás as ter arrancado com o seu carro voador, o tio Vernon tinha-as colocado de novo no seu lugar. Aquele quarto parecia uma prisão e Harry sentia-se aprisionado.
O tio Vernon e a Tia Petúnia passaram do lado de fora da porta, indo para o seu quarto. Minutos depois, o tio Vernon já ressonava.
Harry relembrou o que se tinha passado no ano passado, naqueles curtos momentos de felicidade quando o seu recém-descoberto padrinho, Sirius Black, lhe tinha perguntado se Harry queria viver com ele. Harry pensara que finalmente ia deixar os Dursleys mas... tal não acontecera. Sirius era procurado por ter fugido de Azkaban, a prisão dos feiticeiros. Tinha sido acusado de entregar os seus pais quando na verdade tinha sido Peter Pettigrew que os tinha vendido a Voldemort...
O seu despertador apitou, dizendo-lhe que já era meia-noite. Harry sentiu um peso no coração. Tinha acabado de fazer 14 anos. Nunca tivera um aniversário tão triste como aquele.
- Feliz aniversário, Harry... – murmurou para si próprio com uma imensa e indescritível infelicidade.
Um barulho oco na janela fez Harry quase caísse abaixo da cama. Algo estava a bater incessantemente contra a sua janela. Antes que o tio Vernon acordasse, Harry levantou e usando a pequena chave, abriu a janela. Estavam duas corujas no exterior, sendo uma delas Hedwig. A outra, Harry não a conhecia. Deixou-as entrar fechando rapidamente a janela.
Hedwig voou durante um tempo junto ao tecto e depois pousou-lhe no ombro, bicando o nariz de Harry com afecto. Harry pousou-a em cima da cama, acariciando-lhe as penas.
- Hedwig, que saudades! Por onde andaste? Por favor não pies! – disse Harry agarrando-lhe o bico quando ela o abriu. Hedwig lançou-lhe um olhar furioso. – Desculpa, mas eu estou de castigo e se o tio Vernon te ouve, tu ainda acabas empalhada!
Hedwig não piou. Harry tirou-lhe o envelope que ela trazia, observando a letra que dizia: Para H. Potter. Harry abriu o subscrito com ansiedade, pois já conhecia aquela letra. Leu-o avidamente e constatou que não se tinha enganado. Era mesmo uma carta de Sirius.
Harry,
O que é que se passou? Foste preso por Muggles! Isso foi de uma extrema imprudência e de certeza que os Muggles com quem vives já te deram um castigo. Nem sabes como fiquei quando te vi a entrar naquela horta com aqueles rapazes e nem sequer podia retomar a minha forma humana porque eles poderiam ver e causar-te ainda mais problemas."Quando eu te vi a entrar naquela horta?" Harry estava confuso. Ele não tinha visto o seu padrinho naquela horta, como é que Sirius o tinha visto? Continuou a ler.
Não podias ter caído em piores mãos! Sabes quem era aquela bruxa? Era Marvoleia Snape. O nome é te familiar, não é verdade? Ela é a tia de Severus Snape.
Agora Harry já compreendia por que é que a velha bruxa lhe tinha dito que Snape gostaria de o ter visto naquela figura. Era a tia dele e, com certeza, por aquela altura Snape já devia saber de tudo.
Apesar de tudo eu sei que a culpa não foi tua. Eu sei que aqueles rapazes te ameaçaram para ires. Eu gostava de te ter ajudado, mas tal como te disse, não conseguia retomar a minha forma humana, pois tinha uma coleira mágica que me impedia de fazê-lo.
Coleira? Harry apercebeu-se, abrindo os olhos com perplexidade. Claro! Só podia ser! O cão! O cão que estava naquela casa, era Sirius!
A velha Marvoleia conseguiu apanhar-me, mas não te preocupes. Eu já consegui escapar e é por isso que te mandei esta coruja. Quero que saibas que já estou bem e longe daqui, mas não te esqueço! Feliz Aniversário! Fazes 14 anos! Peço que me desculpes, tal como eu tenho remorsos, por nunca ter assistido a nenhum dos teus aniversários, mas sabes que eu estou sempre presente, não importa o que aconteça. O meu presente vai junto com a Hedwig. Em setembro voltas para Hogwarts, mas Harry, peço-te, mantém-te longe de problemas e faz tudo o que Dumbledore te mandar. Tu sabes que Voldemort não irá perder uma oportunidade para te matar, por isso, mantém-te vigilante! Escreve-me se algo de novo acontecer. Hedwig saberá onde me encontrar. Mais uma vez, feliz aniversárioSirius
Harry sentia-se preocupado apesar de tudo. Esperava que Sirius estivesse bem... Abriu o embrulho colorido que Hedwig trazia junto com a carta. Era grande a expectativa com que rasgava o papel... Por fim tinha nas mãos uma pequena caixa que abriu com cuidado. Teve vontade de gritar. O que a pequena caixa continha era uma Snitch dourada. Harry segurou-a na mão e a pequena bola abriu as suas asas prateadas, elevando-se no ar. Harry ficou a vê-la voar no seu quarto, brilhando à luz do candeeiro. A caixa trazia um pequeno bilhete.
É para fazer conjunto com a Flecha de Fogo. Espero que gostes e que te tornes um grande Seeker! Esta é uma Snitch encantada. De cada vez que disseres "Pousa", ela vai pousar-te na mão. É um encantamento para não a perderes. Diverte-te!
Sirius
Harry tinha vontade de abraçar o padrinho. Tinha sido a melhor prenda que tinha recebido até aquele dia (quer dizer, logo a seguir a sua super-vassoura Flecha de Fogo, é claro). Pegou em papel e numa caneta para escrever.
Caro Sirius,
OBRIGADO pela Snitch! Não tenho palavras para te agradecer o suficiente! Foi o meu melhor presente.
Estou a ver que já sabes o que se passou e espero que estejas bem, porque eu não estou. Os Dursleys puseram-me de castigo e não me deixam sair do quarto, o pior é que ameaçaram que não me deixam voltar para Hogwarts e amanhã vão queimar o meu material da escola. O que é que eu faço? Vou ver se mando a Hedwig a Dumbledore a explicar a situação. Pode ser que ele consiga que eu volte a Hogwarts. Mas, aconteça o que acontecer, não venhas cá. Também, és procurado pelos Muggles. Para já, eu estou bem.
Mais uma vez, obrigado pela Snitch.
HarryTinha consciência de que tinha mentido um bocadinho na sua carta, mas não queria que Sirius corresse riscos desnecessários. Dobrou bem o papel e amarrou-o à pata de Hedwig.
- É para o Sirius. – disse Harry levando-a até à janela. – Agora vai e volta o mais rapidamente possível, vou precisar de ti.
Hedwig desapareceu na noite. Harry voltou então a sua atenção para a outra coruja castanha que esperava pacientemente em cima da mesa. Harry tirou-lhe o enorme embrulho e a carta e a coruja partiu. Pela letra gatafunhada que a carta tinha, só podia pertencer a uma pessoa: Rubeus Hagrid.
Querido Harry,
Feliz Aniversário! Como 'tas rapaz? Esses Muggles tem-t' tratado bem? Espero que sim. Espero ver-t' em breve, qu' isto aqui sem ti não é a mesma coisa! Espero que gostes dos meus presentes! Não digas a ninguém, mas este ano vão haver muitas surpresas para vocês na escola!
Hagrid
Harry abriu o pacote rugoso de Hagrid. Estava cheio de Sapos de Chocolate e Feijões de Todos os Sabores da Bertie Bott, para além dos biscoitos duros que o próprio Hagrid fizera. Harry abriu um sapo de chocolate e comeu-o, vendo o cromo que tinha no interior. Agora já não ficava surpreendido de cada vez que via as pessoas a mexerem-se nas fotografias. Já achava completamente normal. Aquele cromo mostrava uma feiticeira jovem, de cabelos castanhos longos que lhe sorria e acenava. Virou o cromo leu o que dizia.
Cristela Santiago, actual professora na Escola de Magia e Feitiçaria de Castle College, em Portugal, é considerada uma das melhores domadoras de unicórnios deste século e uma eximia jogadora de Quidditch pela selecção do seu pais... ensina a disciplina de Cuidados com as Criaturas Mágicas...
Harry leu tudo muito rapidamente, voltando de novo o cromo para ver a feiticeira, mas ela não estava lá. Pousou o cromo e voltou a deitar-se na cama, após ter escondido os seus presentes debaixo da cama. Esperava receber as corujas de Ron e Hermione em breve... isto é, se a Errol, a velha coruja da família Weasley, não morresse pelo caminho...
Por volta da uma da manhã, Harry abriu a janela com cuidado, para não acordar os Dursleys. Estava preocupado. As corujas dos seus amigos ainda não tinham chegado. Ele podia dar um desconto a Ron por causa da velha Errol, mas Hermione? Não era dela atrasar-se assim tanto. Encolheu os ombros tentando não se preocupar. Afinal de contas, ele fazia anos até à meia-noite do dia seguinte.
Meia hora depois e estando Harry quase a adormecer, ouviu alguém a bater à porta. Ergueu-se para ter a certeza de que não estava a sonhar. As pancadas voltaram a soar. Ouviu o tio Vernon a resmungar e a descer as escadas em direcção à porta. Harry ficou na expectativa. Quem é que estaria a bater à porta àquela hora?
O tio Vernon, com os cabelos em desalinho e com cara de um Bulldog feroz que não dormiu o suficientemente, abriu a porta e deparou-se com um homem e um rapaz do lado de fora, ambos com cabelos ruivos flamejantes.
- Boa noite Mr. Muggle... – o rapaz deu-lhe uma cotovelada e o homem corrigiu-se – Mr. Dursley. O Harry está?
- O Harry?!
- Sim, o Harry Potter. Ele não vive aqui? – perguntou o homem parecendo confuso.
- Não, aqui não vive nenhum Harry Potter. – resmungou o tio Vernon fechando a porta, mas o rapaz meteu o pé, não o deixando fechá-la.
- O Harry vive aqui, que eu sei. – disse o rapaz. – Ele anda comigo na escola. Podemos falar com ele?
O tio Vernon fez a cara de quem acaba de engolir um sapo vivo. Se o rapaz dizia que andava com Harry na escola, isso queria dizer que eles eram... ficou furioso.
- O Harry está a dormir e está de castigo! Vão-se embora! Não quero ter nada haver com gente da vossa laia! Rua!
- Mas o Harry faz anos hoje! – retorquiu o rapaz.
- Vão-se embora e não voltem! – rosnou o tio Vernon fechando a porta da cara do homem e do rapaz, que ficaram a olhar um para o outro.
Harry ouviu o tio a voltar para o quarto a resmungar.
- Malditos malucos! A acordar uma pessoa decente a esta hora... Deviam prendê-los a todos! A todos!
Harry voltou de novo para a cama, tentando adivinhar quem seriam as pessoas a que o tio Vernon se referia. Não tinha ouvido nada. Cobriu-se de novo nos cobertores, pensando como seria a sua situação no dia seguinte.
Fechou os olhos e ouviu um barulho suave, mas não ligou...
Como iria resolver a sua situação? Tinha que esperar que Hedwig voltasse...
- Harry...?
Tinha que esperar que Hedwig voltasse para mandar uma mensagem a Hagrid ou Dumbledore...
- Ei, Harry!
Harry ouvia alguém a chamá-lo suavemente, mas pensava que estava a sonhar... sentia-se tão quentinho...
- Harry! Acorda!
Harry acabou por abrir os olhos, mas não conseguia ver nada devido à escuridão resultante da janela fechada. Ouviu outra vez aquela voz a sussurrar.
- Pai, liga a luz! Nem consigo ver o meu próprio nariz!
- Tem calma! Primeiro tenho de encontrar o interruptor, ou lá como é que os Muggles lhe chamam.
- Despache-se, senão não temos tempo!
Harry sentou-se na cama silenciosamente. Agora tinha a certeza. Não estava sozinho no seu quarto. Estavam lá mais duas pessoas. Quando ouviu o click do interruptor da luz e ela se acendeu, quase gritou. Alguém de cabelo ruivo cor de fogo, com sardas e um nariz grande estava quase espalmado contra o seu rosto. Harry teria gritado de surpresa se não lhe tivessem tapado a boca. Quem lhe tapava a boca era Ron Weasley.
- Olá Harry! – disse ele sorridente.
- Ron? Mr. Weasley? – murmurou Harry pasmado, enquanto Arthur Weasley observava o interruptor da luz com interesse. – Como é que vocês entraram? O que estão aqui a fazer? O que é que...
- Feliz Aniversário! – disse Ron num murmúrio alegre, interrompendo Harry e a sua torrente de perguntas.
- Ob... obrigado! – Harry ainda estava aparvalhado. – Como é que entraram? Estava tudo fechado.
- Eu e o meu pai materializamo-nos! Quer dizer, o meu pai materializou-se, eu apenas vim de boleia. Viemos buscar-te. Era uma surpresa! Foi por isso que não te mandei uma coruja.
- Vieram buscar-me? Para quê?
- Ora, tu não fazes anos hoje? Vamos levar-te para uma festa de aniversário na minha casa! Está lá toda a gente! A Hermione, o Hagrid, a minha família... só lá faltas tu! Foi a minha mãe, a Ginny e a Hermione que tiveram a ideia.
Harry animou-se instantaneamente. Afinal, os seus amigos tinham-se lembrado dele! Depois, deixou-se cair em desanimo. Ron notou isso.
- Ron, eu não posso ir... eu estou de castigo.
- Outra vez?! – Ron exclamou alto. – Tu passas a vida de castigo!
- Ron, fala baixo! – disse Harry entre dentes. – Os Dursleys podem ouvir-te!
- E por que é que estás de castigo?
Harry contou toda a história, que Ron e o Mr. Weasley ouviam com atenção. Quando chegou à parte de não poder voltar a Hogwarts e que eles iam queimar-lhe o material da escola, o Mr. Weasley explodiu.
- Isso é uma ultraje! – gritou. – Eles não podem fazer isso! Eles não podem impedir-te de ires para a escola!
- Sim! É contra a lei do Mágicos! – Ron reforçou.
- Mas não é contra a lei dos Dursleys... – disse Harry com tristeza, encolhendo os ombros.
- Mas tu vais sair daqui e vais para essa festa e para escola, nem que seja última coisa que eu faça! – quase gritou o Mr. Weasley com os óculos a caírem-lhe do nariz, vermelho como um tomate.
- Por favor falem baixo! – Harry quase suplicou. – Os Dursleys...
Mas era demasiado tarde. Harry quase desfalecia quando ouviu a fechadura a ser aberta. Como é que ele iria explicar a presença daquelas duas pessoas no seu quarto? A porta abriu-se e a tia Petúnia, o tio Vernon e Dudley, olharam lá para dentro com um olhar horrorizado. A tia Petúnia parecia que ia desmaiar.
- Mas... mas como... como...
Devido à cólera que começava a sentir, o tio Vernon nem conseguia falar direito. Antes que algo de grave acontecesse, o Mr. Weasley pegou na sua varinha e apontou-a aos espantados Dursleys.
- Obliviate! – gritou. Os Dursleys ficaram estáticos a olhar em frente. Pareciam hipnotizados. – Os senhores... e senhora, vão agora para cama e vão dormir até de manhã. Não se vão do que se passou nesta noite nem de que puseram o Harry de castigo. Entendido?
- Entendido. – responderam os Dursleys em coro e trancando a porta, seguiram para os seus quartos em silêncio.
- Não queria ter feito isto, mas... – disse Mr. Weasley dengosamente, guardando a varinha.
- O que... – Harry estava completamente aparvalhado, na falta de melhor palavra.
- Não faças perguntas! – disse Ron com um sorriso. – Veste-te, vá lá! Está toda a gente à tua espera na festa!
- Mas...
- Não faças tantas perguntas! – exclamou Ron aborrecido. – Já pareces a Hermione!
Harry vestiu-se rapidamente, mas não deixava de estar surpreendido.
- O senhor apagou-lhes a memória? – perguntou a Mr. Weasley.
- Teve que ser, Harry. – disse ele dengosamente. – Como é que tu ias explicar que nós entramos no teu quarto com tudo fechado? E depois, eles estavam a castigar-te por algo que tu não fizeste. Não te preocupes. Só lhes apaguei a memória do dia de hoje. Eles vão ficar bem. – Mr. Weasley sorriu. – Considera isso o meu presente de aniversário para ti.
- E se eles acordam e não me vêem aqui? – Harry perguntou vestindo a camisola.
- Não te preocupes. Nós trazemos-te antes do nascer do sol. – disse Ron. – Agora vamos.
Harry juntou-se a Ron e Mr. Weasley, à espera de instruções.
- Harry, dá a mão ao Ron. – disse Mr. Weasley. – Podes fechar os olhos se quiseres, mas num instante vamos estar em casa. Preparem-se.
Harry, o que mais queria era manter os olhos abertos. Tudo o que acontecesse com os Weasleys era digno de ficar registado na memória. Mr. Weasley murmurou algo e Harry viu-se rodeado por uma luz azul brilhante e sentiu um calor estranho. Piscou os olhos em segundos, mas quando os abriu, já estava no meio de um campo escuro, junto a uma tabuleta que dizia «A Toca». Já tinham chegado. As luzes da casa que estava à frente deles estavam acesas. Dirigiram-se para lá.
Harry lembrava-se bem d' «A Toca». Era uma casa de pedra, alta e de aspecto curvado, com quatro ou cinco chaminés e de aspecto abandonado. Com Ron abriu a porta e entrou, para apenas ser recebido por um grito em uníssono e por uma chuva de estrelas azuis.
- PARABÉNS HARRY!!!
Harry ficou momentaneamente atordoado, levando agora com uma chuva de fitas verdes e borboletas coloridas que saíam dos jogos de fogo-de-artíficio do Dr. Filibuster que George e Fred Weasley estavam a atirar. Estavam lá todos. Hermione, Ginny, a irmã mais nova de Ron, os seus irmãos gémeos, George e Fred, o seu irmão mais velho, Percy, Mrs. Weasley e, por detrás daquela multidão, mas que se distinguia pelo seu tamanho, estava Hagrid, antigo guarda dos campos de Hogwarts e recentemente promovido a professor de Cuidados com as Criaturas Mágicas.
- Estávamos a pensar que não iriam vir e já nos estávamos a preparar para ir à vossa procura. – disse Mrs. Weasley dando dois beijos sonoros o rosto de Harry. – E tu, meu querido? Estás bem? Como correu a viagem?
- Bem. – disse Harry ainda um pouco atordoado. – A viagem correu bem.
- Arthur? – perguntou Mrs. Weasley, como que para ter a certeza.
- Houveram alguns contratempos, Molly, mas correu tudo bem.
- Contratempos? – repetiu Hermione com o sobrolho franzido.
Harry começou a contar a sua história, sendo depois seguido por Ron que contou à família, o feitiço que o pai tinha feito aos Dursleys. Hagrid resmungava furioso: "Malditos Muggles! S' eu soubesse! S' eu soubesse!!"
- Não devias ter feito isso, Arthur. – disse Mrs. Weasley preocupada. – Tu sabes que não podemos interferir com os Muggles usando magia.
- Eu sei, querida, mas eles vão ficar bem, além disso, foi para ajudar o Harry, senão ele não tinha vindo a esta festa e, na melhor das hipóteses, nem voltaria para a escola. – Mr. Weasley sorriu, abraçando a esposa. – Além de que eu não sou um feiticeiro menor.
- Mesmo assim...
- Ficou tudo bem, esqueçam lá isso! – disse Hagrid por cima das cabeças de toda a gente. – 'Tamos aqui pra festejar um aniversário e n' 'tamos a ligar nenhuma ao aniversariante! – todos voltaram a sua atenção de novo para Harry. Hagrid sussurrou na direcção dele. – N' te preocupes! O Dumbledore vai tomar conhecimento desse teu problema co' aqueles Muggles.
Harry sorriu em agradecimento e depressa foi arrastado para a festa, que afinal era sua. Quando se aproximou da mesa, viu um grande bolo de duas camadas, vermelho e dourado que dizia "PARABÉNS HARRY".
- Como eu já te tinha mandado os teus presentes antes dos Weasleys me convidarem pra' esta festa – dizia Hagrid – eu ajudei a senhora Weasley a fazer o bolo. Espero que gostes.
- Está fantástico! – Harry parecia emocionado. Era o seu melhor dia desde que tinha voltado de Hogwarts.
- Toma os nosso presentes! – exclamou Ron atirando um monte de embrulhos para os braços de Harry que quase se desequilibrou. – Abre-os!
Ele pousou-os em cima da mesa, ao lado do bolo e pegou num à sorte. Abriu-o na expectativa. Continha um tabuleiro de xadrez de feiticeiros, com as respectivas peças de jogo e um poster dos Chudley Cannons. Era fácil de se ver que aquele presente era do Ron. Sorriu para o amigo, que ficou corado.
- É para ver se de uma vez por todas me consegues vencer. – disso Ron timidamente. – Pensei que ias gostar...
- É espectacular Ron! Obrigado! – disse Harry observando as peças de Xadrez.
- Abre os outros! – disse Ginny, falando pela primeira vez desde que Harry tinha chegado.
Ninguém sabia por que é que ela ficava tímida sempre que Harry estava por perto, mas existiam algumas suspeitas... Harry pegou noutro embrulho. Este devia ser de Hermione. Era um tinteiro de tinta mágica, que mudava de cor quando se escrevia, e um livro com o nome "As Vassouras Através dos Séculos". Ela sorriu-lhe quando Harry lhe agradeceu.
O seguinte continha uma camisola azul-escuro com um enorme H prateado no meio. Era uma das famosas camisolas Weasley, que a mãe de Ron lhes dava sempre pelo natal. Depois havia uma latinha cheia de bombons de melaço, que Harry adorava. Ainda faltava o embrulho de Fred, George e Percy. Estava cheio de jogos de fogo-de-artíficio do Dr. Filibuster, um baralho de cartas explosivas, montes de doces duvidosos (porque tudo o que vinha do Fred e do George era duvidoso) e um Kit para tratar os óculos, que devia ter sido o presente de Percy.
Por fim, só restava um embrulho cor de rosa, com um lacinho dourado. Quando Harry pegou nele, Ginny quase desapareceu debaixo da mesa, de tão vermelha que estava. Ele abriu-o e viu que continha um pequeno frasquinho com um líquido cor de esmeralda e que dizia "Loção para Tratamento de Varinhas". Harry agradeceu à pequena rapariga de cabelos vermelhos e a emoção para ela foi tão forte que ela caiu abaixo do banco.
Harry ficou mais do que feliz com aqueles presentes, ainda mais por saber que os Weasleys eram uma família que não tinha muitas posses, mas que se tinha dado ao trabalho de lhe fazer uma festa e de lhe dar presentes. Harry já considera a família de Ron mais sua do que os Dursleys, uma vez que os Weasleys gostavam dele.
O resto da noite foi passada em grande animação com jogos, um espectáculo de magia de Fred e George que por pouco não pegaram fogo à casa, a dançar ao som de grupos de músicos bruxos, que Harry nunca tinha ouvido falar e a estourar com os fogos-de-artifício. Harry não se lembrava de alguma vez na sua vida se ter divertido tanto. Até Hermione, que ao princípio estava reticente, se juntou aos jogos, disputando uma renhida partida de cartas explosivas com Fred e George, que acabaram com as caras negras e os cabelos chamuscados após as suas cartas lhes terem rebentado nas mãos. Até o vampiro do sótão vez uma aparição relâmpago na festa.
Por fim era hora de partir. O sol parecia prestes a nascer. Harry ficou com pena de deixar toda aquela animação e de ter de voltar para casa para passar mais um mês com os seus tios. Mrs. Weasley queria que Harry passasse lá o que restava do verão, mas todos sabiam que não era possível. Servia de consolo a Harry saber que já não estava de castigo, uma vez que os seus tios não se iam lembrar de nada, mas também sabia que até ao fim do verão iria estar de castigo de novo.
Harry despediu-se de todos e saiu para fora da casa com Mr. Weasley, Ron, Hermione e Hagrid. No céu rosado, os primeiros raios de sol espreitavam por detrás do vale.
- Está na hora de ir Harry. – disse Mr. Weasley.
- Até Setembro! – disse Ron apertando-lhe a mão. – Quando chegarem as cartas da escola para comprar o material deste ano, nós vamos buscar-te outra vez para irmos todos juntos.
- Vou ficar à espera disso. – disse Harry.
- Depois eu mando-te a Pigwidgeon.
- Não te esqueças de fazer os trabalhos de casa. – era a voz de Hermione que se aproximou. – Não te esqueças de que agora estamos no quarto ano!
- Caramba Hermione! – Ron resmungou. – Ainda temos um mês inteiro de férias! Nós não somos como tu que tens o nariz sempre metido nos liv...
- Não te preocupes. – disse Harry para Hermione, tapando a boca de Ron. – Eu vou estudar.
- Acho bem que o faças! – disse ela num tom duro, depois sorriu. – Bem, tenho que ir. Os meus pais também não sabem que eu estou aqui.
- Quebraste as regras! – disse Harry perplexo, mas acrescentou no gozo – Quem diria! Eu e o Ron estamos a levar-te por maus caminhos e a dar-te maus exemplos! Bem, estava a brincar. Como é que vais embora?
Os três olharam para o lado quando uma moto gigantesca parou ao lado deles. Montado nela, vinha Hagrid.
- O Hagrid vai levar-me a casa. – disse ela sentando-se em cima da moto, onde ficava minúscula.
- Hermione, tens a certeza? – perguntou Ron com um ar preocupado. – O Hagrid parece um pouco... bêbado.
- Eu confio no Hagrid. – disse ela. Mas os dois rapazes notaram a tremura na voz dela. – Vai tudo correr bem... acho eu. – depois sussurrou para Hagrid não ouvir. – Se eu chegar inteira a casa, mando-vos uma coruja.
- 'Tás pronta 'Mione? – perguntou Hagrid com as bochechas rosadas, debaixo do farto emaranhado de barba e cabelos negros.
- Estou! – disse ela. – Vamos.
- Adeus Harry! Espero ver-te em breve. Se tiveres problemas c'os Muggles, manda-me uma coruja.
- Está bem Hagrid. – disse ele. – Adeus.
Hagrid ligou a monstruosa motorizada e acelerou. Os dois viram Hermione a agarrar-se com força ao casaco de Hagrid, à medida que a moto se elevava no ar. Depois e com um grande barulho, a moto partiu, voando em direcção ao sol... um pouco aos ziguezagues.
- Não tenho a certeza de que ela vá chegar inteira a casa... – comentou Ron.
- Ela vai chegar bem, tenho a certeza. – Harry tranquilizou-o. – Mas aquela moto é me familiar...
- Estás pronto para irmos, Harry? – perguntou Mr. Weasley.
- Estou. – disse ele dando a mão ao homem de cabelo ruivo. Só teve tempo de gritar para Ron – Escreve-me!
Viu Ron a acenar-lhe e depois foi envolvido por uma luz azul e brilhante e antes que se apercebesse, estava de novo no seu quarto, na casa dos Dursleys.
- Pronto, estás entregue. – disse Mr. Weasley. – Agora deita-te e vê se consegues dormir um pouco. Adeus!
- Adeus! – disse ao ver o homem ruivo a desapareceu numa nuvem azul. Apesar de excitado com o que se tinha passado, Harry deitou-se a cama e adormeceu profundamente.
