Com os Weasleys de Regresso a Hogwarts
O resto das férias tinham sido ligeiramente melhores para Harry, uma vez que não estava de castigo. O feitiço de Mr. Weasley tinha resultado e os Dursleys não se lembravam de nada. Harry nem se importou de, no dia seguinte, sem obrigado a lavar as janelas e todos os tapetes da casa, porque o tio Vernon tinha encontrado todo o seu material de Hogwarts nas traseiras da casa. Mas, tal como Harry previra, antes das férias acabarem, ele já estava de novo de castigo por, sem querer, ter cortado de raiz uma das roseiras preferidas da tia Petúnia, embora aquele castigo não se comparasse em nada ao que ele tinha escapado.
Apesar dos dias de verão terem passado lentamente, o dia de ir para Hogwarts aproximava-se. Dois dias. Harry mal podia esperar. O Tio Vernon ficara furioso quando numa manhã, uma coruja-das-torres fez a sua entrada triunfal por uma janela, deixando uma carta nas mãos de Harry, rasando a cabeça de Dudley que gritou assustadíssimo e entornou as papas de aveia em cima do fato novo do pai. Tinha berrado imenso com Harry, mas ele tinha fugido para o seu quarto com o envelope escrito com uma letra cuidadosa de cor verde. Era a carta com material que ele iria precisar para aquele ano.
Por volta das duas da tarde do mesmo dia, sendo sábado, alguém bateu à porta e Harry foi abrir.
- Olá Ron! – disse ele.
- Olá Harry. – disse Mr. Weasley. Ambos estavam vestidos como Muggles e na estrada estava um carro com o resto da família Weasley no interior. – Podes chamar os teus tios? Temos de lhes pedir autorização para te levarmos connosco.
- Tio Vernon! – chamou Harry.
Pouco depois ouviram-se passos pesados no hall de entrada e o corpulento tio Vernon surgiu à porta.
- O que querem? – perguntou. – Aqui não fazemos caridade, não...
- Boa tarde. – disse Mr. Weasley. – Eu sou o pai do colega de escola do Harry e nós vamos hoje comprar o material para escola. O Harry pode vir connosco? – perguntou ele de uma só tirada. – Era mais prático e nós poupavamos-lhe o trabalho de depois ir a Londres levá-lo à estação. Ele dormia lá em casa e nós levamo-lo lá.
O tio Vernon pareceu ficar pensativo, cofiando o bigode farfalhudo.
- Vai lá acima fazer a mala para ires. Tens dois minutos para te pores a andar daqui para fora. – disse ele.
Harry ficou por momentos a olhar para ele. Ele nunca pensara que o tio Vernon fosse concordar tão depressa, mas correu escadas a cima, preparando o seu malão.
- Eu... não o conheço? – perguntou o tio Vernon secamente e de sobrancelhas franzidas, enquanto Harry estava no quarto, dirigindo-se a Mr. Weasley. – Tenho a impressão que já o vi antes.
- Provavelmente não. – disse Mr. Weasley, esperando que o seu feitiço não fosse quebrado.
Pouco depois Harry desceu com o malão. Com a ajuda de Ron, colocou-o na bagageira do carro e voltou a casa para ir buscar a sua vassoura e os seus livros. Quando já estava tudo Harry, embora a contragosto, aproximou-se da porta, onde ainda estava o tio Vernon.
- Bem, nós já vamos e na Segunda-feira levamos o Harry à estação. – disse Arthur Weasley pondo a mão no ombro de Harry. – Despede-te do teu tio.
- Adeus tio Vernon. – disse Harry secamente, mas imensamente feliz. Finalmente ia sair dali.
- Adeus! – disse o tio Vernon batendo com a porta na cara deles com um estrondo.
- Os Muggles com quem vives têm cá um feitio, que se eu pudesse... – resmungou Ron entre dentes.
- Deixa lá. – disse Harry seguindo para o carro. – Eu não ligo.
Mais uma vez Harry admirou-se como é que tanta cabia gente num só carro, dentro do velho Ford Anglia azul, mas ele já sabia que aquilo tinha um dedinho de magia de Mr. Weasley, que se entendia logo pelo olhar reprovador da esposa. A mala tinha sido alargada e os bancos eram agora grandes, para que ninguém estivesse apertado.
Aparentando ser um carro Muggle normal, eles seguiram para Londres a fim de fazem compras na Diagon-Al, a rua de comercio exclusivamente de feiticeiros, cuja a entrada ficava no interior de um bar chamado Caldeirão Escoante.
Harry adorava Diagon-Al, porque era diferente e havia sempre algo de novo nas suas curiosas lojas de pedra dourada e na sua loja preferida: a Loja de Equipamentos de Quidditch de Qualidade. As ruas eram limpas e cheias de coisas interessantes e os feiticeiros e bruxas, com os seus manto coloridos, davam movimento àquela rua.
Para começar foram todos ao banco de Gringotts, dirigindo-se a um edifício branco. Abriram a porta e atravessaram o hall, observando os vários duendes que lá trabalhavam, e que guardavam o dinheiro de feiticeiros: Galeões de Ouro, Leões de Prata e Knuts de Bronze.
Custava sempre a Harry ir com os Weasleys ao banco, pois eles eram mais pobres do que ele, pois os pais tinham-lhe deixado uma pequena fortuna. Apanharam um carrinho conduzido por um duende e viajaram pelos subterrâneos que percorriam quilómetros debaixo das ruas de Londres até aos cofres. Evitando que os Weasleys vissem as montanhas de ouro que Harry tinha no seu cofre, ele rapidamente encheu um pequeno saco cheio de dinheiro e apressou-se a fechá-lo. Harry gostava de poder ajudar os Weasleys, mas nunca sabia o que eles poderiam necessitar a seguir, mas pareciam felizes tal como eram.
Vinham a sair do edifício branco de Gringotts quando encontraram Hermione.
- Olá! – disse ela entusiasticamente. – Vou comprar pergaminhos e tinteiros e vou ao boticário para comprar ingredientes para Poções. Querem vir?
- Vão com ela meninos. – disse Mrs. Weasley com Ginny por uma mão. – Encontramo-nos dentro de uma hora na Flourish and Blots. Tenho que ir comprar um manto para a Ginny.
- Está bem. – disseram os três e afastaram-se.
Hermione, Harry e Ron dirigiram-se para o boticário, onde haviam os mais variados produtos e objectos: chifres de unicórnio, coração e tripas de dragão, Bezoares de cabra, pêlo de lobisomem, línguas de sapo, asas de mosca, olhos de osga... muitas plantas secas e estranhas que pendiam do tecto. Harry quase ficou verde de enjoo quando passou por um monte de miolos de rã e Ron quase gritou ao ver uma caixa de vidro cheia de aranhas.
Após terem comprado os ingredientes, os três saíram do boticário. Harry e Ron tiveram de parar na loja de Quidditch, onde a super-vassoura Flecha de Fogo era atracção principal. Hermione teve de os arrastar de lá.
Vinham a sair da loja de pergaminhos quando uma coruja branca surgiu por cima das suas cabeças. Era Hedwig Ela pousou no ombro de Harry. Trazia no bico um envelope.
- De quem é? – perguntou Ron curioso.
- Ron! – repreendeu Hermione.
Harry, contudo, não ligou aos amigos e abriu o envelope, lendo rapidamente.
- É do... – olhou em volta e sussurrou para as cabeças inclinadas de Ron e Hermione. – É do Sirius.
- Como é que ele está? – perguntou Hermione com olhar sério. – Está escondido?
- Está. – sussurrou guardando a carta rapidamente. – Está escondido longe daqui, mas não disse onde. Ele está bem. Só me pediu para me manter fora de problemas em Hogwarts e para ter atenção aos acontecimentos que por lá vão haver durante este ano.
- Acontecimentos? – perguntou Ron. – Que acontecimentos?
- Não faço ideia, e tu Hermione?
- Não sei de nada...
- Onde é que vocês estavam? – os três quase saltaram quando ouviram aquela voz atrás deles. Percy estava mesmo atrás deles com uma expressão reprovadora. – Não gosto nada de vos ver aos segredinhos.
- Vai dar uma curva Percy! – resmungou Ron, arrastando os amigos para a Flourish and Blots.
Quando lá chegaram, Mr. e Mrs. Weasley já lá estavam a comprar os livros de Fred, George e Ginny. Harry atravessou as largas prateleiras a cheirar a mofo e foi buscar os seus livros. Voltou com uma verdadeira montanha nos braços. A Flourish and Blots estava cheia e mal havia espaço para andar. Toda a gente parecia andar atrás das mesmas coisas. Tentando não atropelar ninguém nem deixar cair os seus livros, Harry procurou um lugar mais ou menos livre e esperou pelos outros.
- Espero que Defesa contra as Artes das Trevas este ano valha a pena. – disse ele olhando para um livro grosso, com encadernação negra e letras prateadas.
- É verdade. Temos tido azar. – Ron concordou. – Primeiro o Quirrell, depois o Lockhart e depois o Lupin... esse foi o melhor professor que tivemos. Tenho pena que ele tivesse ido embora...
- Ele era um lobisomem Ron. – disse Hermione, aparecendo com um montanha de livros igual à deles.
- E depois? – retorquiu Ron.
- Esqueçam lá isso! – Harry interrompeu a iminente discussão. – Vamos lá para fora.
Mal podendo com os livros, os três saíram para fora e esperaram pelo resto da família de Ron na rua solarenga. Mrs. Weasley ia demorar um bocadinho, pois ainda andava à procura de alguns livros em segunda mão para Ginny, que ia agora para terceiro ano em Hogwarts. Como estavam a demorar, os três deram uma escapadela para ir comprar gelados, à gelataria do Florean Fortescue, que Harry teimou em pagar (É por tudo o que fizeram por mim no meu aniversário! – dissera ele pondo dois Galeões de ouro na mesa).
Já quase que tinham acabado os gelados quando o resto dos Weasleys saíram da livraria. Mrs. Weasley vinha a resmungar com Fred e George sobre algo de eles querem comprar um livro de Feitiços de Vingança.
- Vocês já têm tudo? – perguntou Mr. Weasley. – Os tinteiros, pergaminhos, livros?
- Transfiguração, Encantamentos, Poções, História da Magia, Herbologia, Adivinhação, Defesa Contra as Artes das Trevas, Cuidados com Criaturas Mágicas (Ron assustou-se quando esse livro de capa purpura se moveu sozinho na sua mão), Astronomia... acho que está tudo. – respondeu contando os seus livros.
- Então acho que já está tudo. – confirmou Mrs. Weasley olhando para a carta que tinha na mão.
- Hermione!
Todos olharam para trás, na direcção de duas pessoas vestidas como Muggles, que deviam ser os únicos em toda a Diagon-Al. Eram os pais de Hermione, que eram de facto Muggles.
- Parece que tenho de ir. – disse ela por detrás dos seus livros. Só lhe se viam os olhos. – Tenho que ir para casa acabar a minha composição de Transfiguração. Ainda só escrevi três pergaminhos de um metro!
Ron e Harry olharam um para o outro perplexos. Por vezes, tinham quase a certeza que Hermione exagerava. Acenaram-lhe quando ela se afastou com os pais.
- Não se atrasem para o combóio no dia 1! – gritou ela no meio da multidão, antes de desaparecer.
Os Weasleys e Harry seguiram em sentido oposto de regresso «A Toca».
No dia 1 de manhã, o dia amanheceu com a confusão n' «A Toca».
- ESTAMOS ATRASADOS! ACORDEM!!! – gritou Mrs. Weasley ao olhar para o relógio e o grito foi de tal forma agudo e repentino, que Harry bateu com a cabeça no tecto inclinado do quarto, Ron caiu da cama e Percy apareceu à porta do seu quarto, muito atarantado, olhando para os lados e com a varinha ao contrário na mão.
- Onde é o fogo? Onde é o fogo? Foi o Fred? Foi o George? – perguntava com os cabelos ruivos espetados em todas as direcções e com os óculos inclinados e a caírem-lhe do nariz.
Toda a gente tinha adormecido e estavam atrasados. Rapidamente a casa fervilhava de actividade. Começaram a correr de um lado para o outro, meios vestidos meios despidos, à procura dos livros ou das varinhas ou dos sapatos que pareciam ter desaparecido. Os malões ainda estavam por fazer e o pequeno-almoço por tomar. O Expresso de Hogwarts, o combóio que os levaria à escola, partia às onze horas de Estação de King's Cross, na plataforma nove e três quartos, e ainda havia um monte de coisas para fazer.
Embora envolvidos numa grande trapalhada, Harry e os Weasleys lá conseguiram meter-se no carro em direcção a King's Cross. Faltavam 10 minutos para o combóio partir quando chegaram à estação e enquanto Mr. Weasley foi buscar carrinhos para pôr as malas, os restantes foram tirando-as para fora do carro. Depois de as colocarem sobre rodas, correram para plataforma nove e três quartos.
Para os Muggles tal plataforma não existia, pois era mágica e só acessível a feiticeiros. Ela ficava entre as plataformas nove e dez, mesmo no meio de uma coluna de pedra. Para se entrar nessa plataforma, tinha que se passar pela cancela mágica, atravessando essa parede. Tinham que ir em grupos de dois ou três, pois isso poderia causar alguma confusão aos Muggles que lá estivessem se vissem grandes grupos de pessoas a desaparecer numa parede aparentemente sólida. Faltava muito pouco tempo.
- Vá lá meninos! – Mrs. Weasley parecia aflita. – Percy, vai tu primeiro. Fred, George, depois vão vocês. Ron e Harry, vocês vão a seguir. Eu levo a Ginny.
Percy aproximou-se da parede, como quem não queria a coisa e, depois de se certificar que ninguém estava a olhar, correu para a parede com o carrinho e desapareceu. A seguir foram George e Fred.
Harry ainda se lembrava da primeira vez que tinha estado à procura da plataforma nove e três quartos. Tinha andado um pouco perdido, até que a mãe de Ron lhe tinha indicado como o fazer: ir contra a parede. Ele, ao princípio tinha ficado confuso, mas depois lá tinha tomado coragem e tinha empurrado o seu carrinho, com a gaiola de Hedwig a chocalhar à sua frente e de um momento para o outro estava numa outra plataforma, à frente de um combóio vermelho com o brasão de Hogwarts.
Ron e Harry olharam um para o outro e, discretamente, correram contra a barreira invisível, atravessando-a. Agora já tinham chegado à plataforma nove e três quartos que já estava cheia de bruxos e feiticeiros que vinham trazer os filhos ao combóio.
- Ron! Harry! – ambos olharam para o lado e viram Hermione a correr na direcção deles, com algo grande, peludo e cor de laranja nos braços. Era Crookshanks, o gato de Hermione. – Pensei que não iam vir a tempo.
- Atrasamo-nos. – disse Ron entregando a gaiola da sua minúscula e hiperactiva coruja, Pigwidgeon, ao empregado. Harry fez o mesmo com Hedwig.
- Vamos para a última carruagem. – disse ela. – É lá que eu tenho as minhas coisas.
Ao princípio Ron não entendeu que ela quereria dizer com as suas coisas, uma vez que ela já tinha vestido o uniforme. Ele e Harry só o vestiriam quando estivessem a chegar à escola.
- Tenho de esperar pela minha irmã. – disse Ron olhando em volta.
- Onde está a mãe? – perguntou Fred que tinha acabado de chegar.
- Estou aqui! – disse ela correndo na direcção deles com Ginny por uma mão. – Está tudo? As malas já estão guardadas? Estão prontos para ir?
- Está tudo pronto. – Percy chegou-se a eles, com o seu brilhante distintivo de Chefe de Turma ao peito.
- Então vamos lá! – disse Mrs. Weasley dando um beijo a todos, incluindo Hermione. – Não se metam em problemas. Principalmente vocês os dois! – disse ela apontando para Fred e George.
- Nós?! – exclamaram os dois em coro. – Nós somos uns perfeitos santos!
- Pois... – retorquiu ela. – Uns perfeitos santos... estão é por serem tão santinhos que eu recebo tantas cartas do Director Dumbledore! Prometam-me que não vão fazer asneiras.
- Nós prometemos! – exclamarão os dois com um sorriso maldoso mas solene. Se não fosse as figas que eles estavam a fazer atrás das costas...
- Percy, toma conta deles... – pediu Mrs. Weasley.
- Eu vou tomar. – disse ele parecendo responsável. Um bruxo ao pé do comboio gritou: "TODOS A BORDO!!!"
- É a vossa chamada! Vão! – Mrs. Weasley mandou-lhes um beijos enquanto eles corriam. – E não se metam em problemas!
Ron, Hermione, Harry e Ginny correram para o fim do combóio vermelho e entraram para o último compartimento como era habitual. Com um apito agudo e um arranque, o combóio começou a andar e os quatro recostaram-se no acentos fofos.
Harry sorriu. Estava entusiasmado. Tentava imaginar o que o esperaria aquele novo ano escolar, tal como tinha acontecido nos outros anos. Só esperava manter-se fora de sarilhos... por mais difícil que isso fosse.
O sol estrava pelas janelas, à medida que o combóio trocava a cidade pôr campos verdejantes. Estava um dia bonito e cheio de sol. Os quatro iam falando quando Fred e George se juntaram a eles.
- Há espaço para mais dois? – perguntaram eles ao abrir a porta?
- Parecer que sim. – disse Harry arrastando-se para que Fred se sentasse entre ele e Ron.
- Vocês já ouviram falar da novidade? – murmurou George inclinando-se para eles.
- Qual novidade?
- O pior é que ninguém sabe! – disse Fred numa voz meia assombrada. – Dizem que algo vai acontecer este ano em Hogwarts, mas que ninguém sabe o que é, a não ser o Dumbledore e os professores.
- Oh, isso são apenas boatos. – disse Hermione com seriedade.
- Talvez não Hermione. – Harry discordou. – O Hagrid disse-me numa carta que iam haver surpresas este ano e o... – Harry parou subitamente. Não podia falar de Sirius à frente de Fred, George e Ginny. - ... e um amigo meu também me disse para ter atenção aos acontecimentos.
- Que amigo? – perguntaram Fred e George em coro.
Harry ficou entalado. Como é que se ia safar daquela? Olhou para Ron e Hermione em busca de ajuda, mas o que o safou da inquisição dos gémeos foi a bruxa gordinha que trazia o carrinho com a comida.
- Olá! Querem alguma coisa, meninos? – perguntou ela com um sorriso.
Não foi preciso dizer aquilo uma segunda vez. Todos se levantaram e correram para o carrinho, que em poucos segundos ficou mais leve, pois todos voltaram para o compartimento com as mãos cheias de Sapos de Chocolate, Feijões de Todos os Sabores Bertie Bott, varinhas mágicas de alcaçuz, pastilhas elásticas do Drooble, Bolos do Caldeirão, Pastéis de Abóbora... tudo o que pudessem comer.
- Mas voltando ao tema da tal novidade, – disse Fred quando se sentaram de novo – não acredito que seja um boato, Hermione. Os Chefes de Turma da escola também sabem alguma coisa, pois não deixam ninguém se chegar ao compartimento deles. Estão lá todos agora.
- Até já andam a fazer apostas! – acrescentou George enquanto fazia uma careta enjoada por ter comido um feijão que sabia a óleo de fígado de bacalhau. – Os alunos do quinto ano dizem que talvez seja uma viagem para fora da escola. Os do sexto dizem que talvez vá haver uma festa especial e sem exames no fim do ano.
Hermione resmungou algo entre dentes que mais pareceu "claro, já agora nem vamos fazer testes!"
- Os do sétimo ano não se prenunciam e os do quarto não sabem de nada. – Fred completou.
- Estou a ver que a conversa já chegou à pocilga.
Todos olharam para a porta, mas nenhum deles gostou do que viu. Ao pé da porta aberta, estava um rapaz franzino, de pele demasiado pálida e cabelos loiros. Tinha uma expressão de superioridade nos olhos maldosos. Não havia dúvidas. Draco Malfoy tinha feito a sua entrada triunfal. Dos seus lados estavam dois rapazes grandes e fortes, com cara de broncos. Os seus dois inseparáveis guarda-costas Vincent Crabbe e Gregory Goyle.
Os olhos de Harry faiscaram por detrás dos óculos. Desde o primeiro dia em que o conhecera que Harry e Malfoy eram inimigos. Simplesmente, odiavam-se um ao outro, e Harry não estava para o aturar.
- O que queres? – Harry perguntou pousando o seu bolo.
- Nada, Potter. – disse Malfoy com um sorriso frio e afectado. – Vim ver se ainda estavas vivo e na companhia desta... – olhou para os Weasleys e para Hermione – ... gentinha.
- Gentinha?! – exclamou Ron levantando-se, já de varinha na mão. Harry colocou um braço à frente dele, para evitar que o amigo se atirasse a Malfoy. – A quem é que estás a chamar gentinha?
- Ainda estou e vou estar com eles para sempre. – disse Harry com seriedade. – Porquê? Tens algum problema com isso?
- Eu? – perguntou Malfoy com cinismo. – Eu não tenho problema nenhum, mas tu podes vir a ter, já que na escola vão haver novidades que podem por a tua... – olhou-o maldosamente – frágil constituição física em perigo.
- O que queres dizer com isso? – perguntou Hermione levantando-se também.
- Ninguém te perguntou nada, sangue de lama. – Malfoy ameaçou.
- O que é que tu lhe chamaste? – gritou Ron furioso, preso pelos braços de Harry. – Por acaso já olhaste por ti abaixo, ó ranhoso?
- O quê?! – gritou Malfoy em resposta, tirando a varinha do bolso. – Ora repete lá isso!
- Sai daqui, sua amostra de feiticeiro! – disse Ginny corajosamente. – Deixa o meu irmão e o Harry em paz!
- Vai dar uma curva, micróbio! – gritou Malfoy.
Agora já toda a gente estava de pé, com as varinhas na mão, incluindo os gémeos, Ginny, o Crabbe e o Goyle. Todos apontavam as varinhas prontas a disparar para toda a gente.
- Vai embora Malfoy! – disse Harry com secura. – Não estás aqui a fazer nada!
Malfoy não se mexeu e apontou a sua varinha a Harry e Ron. Ron deu um passo em frente, já com um feitiço pronto a atirar a Malfoy quando Hermione se intrometeu entre os dois.
- Não é preciso Ron. Nada de magia. – disse ela e depois voltou-se para Malfoy que estava agora com um ar mais afectado do que nunca. – Draco Malfoy, vai-te embora. Caso ainda não tenhas reparado nós somos seis e vocês só são três... e tu sabes que eu sou tão boa a lançar feitiços que valho por quatro! Portanto, se não queres problemas antes de chegarmos à escola, é melhor saíres daqui.
Todos olhavam para Hermione perplexos. Nunca a tinham visto tão séria. Malfoy deu dois passos atrás com os seus guarda-costas.
- Não digas que não te avisei Potter! – disse ele. – Eu avisei-te no primeiro ano que as companhias com quem andas são fracas. – sorriu com malícia. – Mas continua a andar com eles, continua! Aproveita bem a companhia
deles, pois eu garanto-te que este será o teu último ano... de vida. – voltou a rir e Crabbe e Goyle riram com ele.
Harry apostava que eles nem sabiam porque se estavam a rir.
- Eu acho que tu só andas com eles, por que tens pena deles. Os Weasleys nem têm onde cair mortos! Aproveita bem a companhia desta hiscória e aproveita para lhes fazer alguma caridade. – Malfoy voltou-lhe as costas e começou a afastar-te, com o manto negro a ondular atrás dele.
- Malfoy!
Ele olhou para trás empertigado quando ouviu o seu nome, mas não teve reacção quando viu uma pequena tarte de creme de abóbora e chantilly a voar em direcção da sua cara e... SPLASH!!!
A tarte esborrachou-se na cara de Malfoy, escorregando depois para o manto que ficou manchado de cor de laranja. Tinha sido Ron que a tinha atirado, tendo ainda o braço no ar. Malfoy olhou para si próprio e os seus olhos soltavam faíscas de raiva quando olhou para Ron. Fred e George também já tinham pegado em tartes, caso fossem necessárias. Malfoy limpou o creme alaranjado e branco da cara, falhando em alguns sítios. Ele estava mais furioso do que nunca. Já estava a levantar a varinha quando uma mão no seu ombro o fez parar.
- O que estás aqui a fazer Malfoy? – era Percy. Malfoy não respondeu. – Este não é o teu compartimento.
Malfoy não se foi embora e lançava olhares letais a Percy, que parecia estar indiferente à cara feroz dele.
- Não vou tornar a avisar-te. – disse Percy com seriedade. – Vai para o teu compartimento.
Draco Malfoy guardou a varinha e olhou para Ron.
- Não perdes por esperar Weasley! – disse com rancor. – Havemos de nos encontrar na escola! Não perdes por esperar!
Dizendo aquilo, virou-lhes as costas e afastou-se a passos rápidos com Crabbe e Goyle atrás dele. Todos respiraram fundo e sentaram-se, guardando as varinhas.
- O que se passou aqui? – perguntou Percy zangado. – O que é que aconteceu ao Malfoy?
- Nada de especial. – Ginny explicou. – Ele veio cá insultar-nos e o Ron atirou-lhe com uma tarte à cara.
Percy pareceu ficar horrorizado e quando se preparava para lhes passar um coro, Fred e George agarram-no pelos braços e puxaram-no para fora do compartimento.
- Anda Perce! Vamos dar uma volta! – disse George.
- Sim! – Fred concordou piscando o olho a Harry antes de fechar a porta. – Diz-nos o que sabes sobre o que se vai passar na escola.
Harry e os outros ouviram-nos discutir no corredor, mas o som afastou-se e eles ficaram sozinhos.
- Será que não vai haver um ano, em que o Malfoy fique no lugar onde está, em vez de nos vir chatear? – resmungou Ron. – Todos os anos é a mesma coisa!
- Ele é estúpido, o que é que se há de fazer? – disse Harry, depois sorriu. – Mas fizeste um bom lançamento de tarde! Ele merecia mais uma dúzia delas!
- Mas foi estúpido o que fizeste. – disse Hermione, acariciando o pêlo de Crookshanks
- Mas pelo menos não usei magia! – retorquiu Ron ainda furioso. – Vais-me dizer que ele não merecia?
- Merecia. – disse Hermione. – Ainda bem que não usaste magia. Podias ter problemas quando chegasses à escola. – ela olhou para ele de lado. – Se é que já não vais ter.
- Mas viste a cara dele? – Harry relembrou. – Quando ele viu a tarte a ir para a cara dele?
Todos começaram a rir com excepção de Hermione, que pelo menos sorriu. A cara que Malfoy tinha feito era impagável.
Eles nem notaram a passagem das paisagens de rebanhos, pequenas cidades e campos floridos. O resto da tarde tinha sido passada a comer o que restava dos doces e com Ron e Harry a trocar os cromos dos Sapos de Chocolate e Hermione a ensinar o feitiço das pernas amarradas a Ginny. Subitamente Ron lembrou-se.
- O que é que o Malfoy terá querido dizer que este ano seria o teu último ano de vida?
- Não faço a mínima ideia. – Harry disse com sinceridade. – Mas ele devia estar a referir-se ao que se vai passar na escola.
- Eu acho que ele só te estava ameaçar. – discordou Hermione, olhando pela janela. Já tinha escurecido. – Mas agora também já não interessa pensar nisso. Têm de se vestir. Já estamos quase a chegar.
Harry e Ron olharam pelas janelas. De facto, já estravam quase a chegar. As raparigas saíram e eles vestiram os seus uniformes e os mantos negros de Hogwarts. Elas voltaram a entrar e sentaram-se à espera que o combóio parasse.
Quando o combóio parou, toda a agente se precipitou para as saídas, entupindo as portas, mas eles saíram aos empurrões como os outros. Estava um frio de rachar no exterior, mas o céu estava limpo e cheio de estrelas.
- Primeiros anos! Primeiros anos! É pra' vir por aqui! – Ron, Hermione, Ginny e Harry olharam para trás quando ouviram aquela voz. Uma luz brilhava muito acima das suas cabeças enquanto aquela voz gritava. Era Hagrid. – Vamos! Despachem-se! Oh, olá Harry! Está tudo bem? – disse Hagrid aproximando-se deles.
- Está tudo! – Harry sorriu. – Vais levar os primeiros anos?
- Levo-os sempre! – disse Hagrid, que parecia sorrir, mas ninguém lhe via a boca no meio daquele emaranhado de barba. – Tenho d' ir! Vemo-nos no banquete. – voltou-se para um grupo de miúdos do primeiro ano, que estavam amedrontados e a tremer de frio. – Vamos! Sigam-me! Nã' se separem! Venham atrás de mim!
Harry sorriu e seguiu com os outros. À dois anos, a sua chegada a Hogwarts tinha sido um pouco atribulada, no interior de um carro voador que, ainda para mais, tinha aterrado em cima do Salgueiro Zurzidor, uma árvore que achava que era pugilista. Seguiu os outros por um caminho até um campo que cheio de carruagens puxadas, pensava Harry, por cavalos invisíveis. Ocupou uma com Ron, Hermione, Ginny e os gémeos e ela partiu.
Harry teria preferido mil vezes fazer o percurso até à escola de barco, tal como tinha feito no primeiro ano. Aquela carruagem dava tantos solavancos pela subida, que ele não conseguia ficar quieto mais do que dois segundos no mesmo lugar e uma vez quase que saltou para o colo de Hermione quando a carruagem passou por cima de uma pedra. Ron, já estava a ficar verde e enjoado com tanto balanço. O que valia era que a viagem era curta e todos eles ficaram contentes de saírem do interior daquela coisa.
Os alunos começaram a entrar no castelo e Harry teve um delicioso arrepio na espinha. Sabia que não haviam razões para estar nervoso, mas ele estava a gostar daquela sensação. Era mais um ano que ia começar, mais um ano cheio de emoções e surpresas. Seguiu com os outros pelo hall de entrada até à porta de entrada do Grande Salão.
A primeira coisa que Harry fez foi olhar para o tecto enfeitiçado do Salão, que mostrava exactamente o tempo que fizesse no exterior, dando a sensação de que aquela enorme sala estava a céu aberto. Depois seguiu para a mesa dos Gryffindor, a sua equipa que era caracterizada por um leão e pelas cores vermelho e dourado. As quatros mesas das quatro equipas enchiam-se ao poucos e Harry observou com prazer a arquitectura familiar: as paredes altas de pedra dourada, as muitas dezenas de velas que flutuavam magicamente no ar, o brasão de Hogwarts atrás da mesa dos professores, no topo do Salão, que estava voltada para as quatro mesas gigantes dos alunos cheias de pratos e de taças de ouro reluzentes...
Foi óptimo para ele poder rever os seus amigos após umas longas e torturantes férias. Faltavam lá alguns que tinham acabado a escola no ano anterior. Ele, Hermione e Ron sentaram-se ao pé de Neville Longbottom, Seamus Finnigan, Dean Thomas e Lee Jordan.
- Harry! É bom rever-te!
- Como passaste as tuas férias?
- Ei Potter! Crescente bastante!
Harry sorria a todos os que o cumprimentavam e que não eram poucos. Apenas se tinham passado apenas dois meses, mas parecia que tinha passado uma eternidade e que toda a gente estava diferente. Neville estava a mostrar um álbum de fotografias das suas férias quando se fez silêncio. As mesas já estavam cheias e os professores já estavam sentados. Albus Dumbledore, o Director de Hogwarts, estava sentado numa grande cadeira no meio da longa mesa. Tinha uma túnica purpura e um chapéu pontiagudo cheio de estrelas prateadas. Com a sua longa barba e cabelo prateados, o seu nariz adunco e com os seus óculos em meia-lua, ele era inconfundível. Sorria para todos os alunos e parecia estar bem disposto.
A professora Minerva MacGonagall tinha acabado de entrar com os primeiros anos em fila, que pareciam assustados, olhando para os outros alunos e para o tecto encantado. Por fim, foram posicionados junto à mesa dos professores, voltados para os outros alunos. Muitos tinham cara de que fugiriam dali para fora se pudessem.
A professora colocou à frente deles um pequeno banco de madeira e em cima dele um chapéu velho, sujo e remendado. Muitos ficaram a olhar para aquilo, sem saber o que fazer. O chapéu permaneceu imóvel até que um rasgão surgiu junto à aba e ele começou a falar. Alguns alunos recuaram, assustados, mas o chapéu apenas se limitou a cantar.
Mais um ano começa
Os alunos para Hogwarts a voltar
Mas atenção, não se atrasem!
A selecção vai começar!
O Chapéu Seleccionador de Hogwarts
Pode ser velho e sujo, coisa de espantar
Mas estão errados, pensem bem
Pois depende de mim, a equipa onde vão ficar.
Olharei para as vossas cabeças e verei os vossos valores
Não há nada que me possam esconder
Não tentem enganar-me, não vale o trabalho
Pois não há nada que eu não consiga saber.
Se forem corajosos e audaciosos
Nos Gryffindor é o vosso lugar
Mas se forem prudentes e estudiosos
É nos Ravenclaw que vão ficar.
Se forem justos e leais
Nos Hufflepuff terão guarida
Mas se são ambiciosos
Para os Slytherin vão
Os que amam o poder mais que a própria vida.
Por isso não tenham medo
Sentem-se e deixe-me na vossa cabeça me colocar
Que na escolha das vossas equipas
Os quatros grandes feiticeiros
Gryffindor, Ravenclaw, Hufflepuff e Slytherin
Vos hão de ajudar!
Quando o chapéu acabou, o Salão ecoou com os aplausos dos alunos e professores. Ele agradeceu fazendo uma vénia a cada uma das mesas e depois manteve-se quieto. A professora MacGonagall desenrolou um longo pergaminho dizendo em voz alta:
- Quando chamar pelos vossos nomes, vão sentar-se no banco e vão colocar o chapéu na cabeça para serem seleccionados. – a sua voz ecoou pelo Salão. – Christine Lovett!
Uma menina de cabelos castanhos caminhou timidamente para o banco e sentou-se, colocando na cabeça. Segundos depois ele gritou:
- RAVENCLAW!
A mesa, com as cores azul e prateado que estava ao lado esquerdo da de Harry, explodiu em aplausos enquanto a ela se lhes juntava.
- Matthew Fazzer!
- RAVENCLAW! – gritou de novo o chapéu e Matthew foi juntar-se a Christine e aos restante Ravenclaw.
- Soren Smith! – prosseguiu a professora MacGonagall e uma rapariga gordinha e loira sentou-se no banco.
- HUFFLEPUFF! – gritou o chapéu após pelos menos dois minutos de ponderação. Desta vez foi a mesa de amarelo e negro da extrema direita que aplaudiu com entusiasmo.
- Molly Montgomery!
- SLYTHERIN!
Harry viu Malfoy a bater palmas, na mesa verde da extrema esquerda, quando Molly se tornou uma Slytherin.
- Millena Sarck! – uma rapariga baixinha e de cabelos negros aproximou-se do banco, aguardando.
- GRYFFINDOR!
Finalmente Harry e os outros puderam bater palmas para receber o novo membro daquela equipa. Millena sentou-se no extremo da mesa, ao pé de Ginny.
A selecção continuou, à medida que os alunos eram escolhidos para as suas equipas que batiam palmas a cada novo elemento. Os alunos dos primeiros anos já não pareciam tão assustados uma vez que tinham percebido que apenas tinham que colocar um chapéu na cabeça.
Já faltavam poucos. Andrew Thompson, Allie Norren tornaram-se Gryffindors, Nina Maclean e Josh Trebek Hufflepuffs, Pierce Casthrum e Monica Lewsky eram agora Slytherins e Bruce Dorough e Alijah Mackintayre foram juntar-se aos restantes Ravenclaw. A casa de Gryffindor tinha agora doze novos alunos.
Quando todos os alunos já estavam seleccionados, a professora MacGonagall pegou no banco e no chapéu seleccionador e saiu por uma porta lateral.
As conversas podiam ouvir-se agora por todas as mesas, à medida que os alunos mais velhos tentavam ver os novos alunos, até que Dumbledore pediu silêncio, levantando-se. Fez-se silêncio no Salão.
- Bem-Vindos! – disse ele sorridente. – Dou-vos as boas-vindas a mais um novo ano em Hogwarts! Espero que se apliquem este ano e que consigam sair daqui com vida! É tudo, obrigado!
Dumbledore voltou a sentar-se com os alunos ainda a bater palmas, mas muitos tinham ficado lívidos, entre eles, a maioria dos novos alunos.
- O Dumbledore vem-se com cada saída... – disse Ron com um sorriso amarelo e forçado.
- Ele só estava a brincar. – disse Hermione suficientemente alto para que a miúda do primeiro ano que estava ao seu lado a tremer ouvisse, enquanto pegava uma perna de frango (porque os pratos e taças estavam agora cheios de comida que tinha aparecido magicamente).
Harry riu e começou a encher o seu prato, mas nem sabia por onde começar. Os bifes, pernas de frango, costeletas de porco e de carneiro, salsichas gigantes, bacon, batatas assadas e fritas, ervilhas e cenouras entre outras coisas, tudo tinha um aspecto delicioso. Harry, como não sabia ao certo o que comer, pegou num bocadinho de tudo.
- Hermione, passa-me o sumo de abóbora. – pediu Ron.
- Vocês já olharam para a mesa dos professores? – ela perguntou passando o jarro de sumo a Ron.
- O que é que tem? – Harry perguntou olhando para a longa mesa onde estavam os professores.
- Não acham que falta lá alguém? – perguntou ela de novo.
Ron e Harry olharam para a longa mesa, observando-a com cuidado. Na ponta estava Hagrid que tinha uma taça na mão e que lhes acenou. A seguir estava o Professor Binns e depois a professora Sprout. Do lado direito de Dumbledore estava a professora MacGonagall e do lado esquerdo estava o professor Flitwick e o professor Snape.
- O Snape continua ali. – constatou Ron com uma expressão dengosa. – Por que é que ele não se vai embora se não o deixam dar as aulas de...
- Onde é que está o professor de Defesa Contra as Artes das Trevas? – perguntou Harry reparando na cadeira vazia que estava no fundo da mesa dos professores.
- Era exactamente a isso que eu me referia. – disse Hermione. – Falta um professor.
- Será que não vamos ter Defesa Contra as Artes das Trevas este ano? – Harry perguntou, desviando o olhar de Snape, que olhava para ele.
- Podemos perguntar ao Percy. – Ron sugeriu olhando para a mesa em busca do irmão. – Ele deve saber de alguma coisa.
Os três procuraram Percy pela mesa, mas não o encontraram. Entretanto, a comida dos pratos já havia desaparecido e já tinha sido substituída por sobremesas. Desde bolos a musses de chocolate e gelados a Donuts recheados e pudins, era difícil a escolha.
Subitamente, ouviram-se gritos por todo o Salão, vindos de todas as mesas, e toda a gente voltou as cabeças para ver o que se estava a passar. Harry teve de se levantar para poder ver por cima da cabeça de Ron por que é que a miúda, que Harry reconheceu como sendo Allie Norren, uma das alunas do primeiro ano, estava quase em cima do colo de Hermione. Olhou para o centro da mesa, para onde Allie olhava com a expressão lívida e os olhos muito abertos.
Ron esticou o pescoço e olhou por cima de um bolo de caramelo. O que é que ela teria visto para a deixar assim? Todos se chegaram a Hermione para ver o que se estava a passar e...
- Ah! – disse Harry de olhos muito abertos, olhando para o centro da mesa.
Numa salva de ouro estava um grande pudim de gelatina verde, mas dentro dele estava uma cabeça. A gelatina fazia os olhos daquela coisa ficarem grandes e destorcidos, motivo pelo qual Allie ainda estava agarrada ao braço de Hermione. Depois os alunos mais velhos desataram às gargalhadas à medida que um fantasma prateado saía do meio da gelatina. Era Sir Nicholas Quase-Sem-Cabeça, o fantasma dos Gryffindor.
Harry viu ao longe o Frade Gordo dos Hufflepuff e o Barão Sangrento nos Slytherin, com o seu manto manchado de sangue prateado. Cada equipa da escola de Hogwarts tinha um fantasma e era sempre um choque para os novos alunos vê-los a atravessar as paredes do castelo, e muito pior era vê-los surgir de uma gelatina que se estava prestes a comer. Subitamente o Salão tinha-se enchido de fantasmas cor de pérola e prateados que flutuavam no ar.
- Olá Nick! – disse Harry ao vê-lo aproximar-se.
- Viva jovem Harry! Como estás? – perguntou Sir Nicholas fazendo uma vénia suave.
- Estou bem, obrigado e tu?
- Morto como sempre. – respondeu Sir Nicholas compondo o tufo de folhos que tinha em volta do pescoço.
- Ei Nick! Ainda não te zangaste ao ponto de... perderes a cabeça, pois não? – perguntou Fred maldosamente.
- Ainda não, Fred Weasley. – Sir Nicholas parecia aborrecido. Depois voltou-se para Hermione, apontando para todas as caras assustadas que estavam espalhadas pela longa mesa. – São os alunos novos?
- São. – disse ela simplesmente.
Sir Nicholas Quase-Sem-Cabeça começou a circular pela mesa, saudando os novos alunos, quando o Salão ficou em silêncio. Dumbledore tinha-se levantado e as sobremesas tinham desaparecido, deixando os pratos reluzentes.
- Após as boas-vindas e este magnifico jantar, só vou fazer alguns avisos antes de irmos para a cama. – disse ele. – Os alunos dos primeiros anos devem saber que a Floresta é proibida a todos os alunos... e mais uma vez era bom que alguns dos mais velhos se lembrassem disso...
O olhar perspicaz de Dumbledore fixou-se num grupinho em especial, formado por Ron, Harry e os gémeos.
- Mais uma vez o encarregado, o senhor Filch, pediu-me para vos recordar que não se deve fazer magia nos corredores e em lugar algum a não ser nas aulas. – Dumbledore sorriu e acrescentou. – Mas toda a gente sabe que isso é impossível uma vez que isto é uma escola de magia... Os desafios de Quidditch só terão início a meio da primeira semana de Outubro, uma vez que estaremos ocupados com outros acontecimentos.
Ao ouvir aquilo, Ron, Hermione e Harry olharam uns para os outros.
- Quem estiver interessado em jogar, dirija-se à Madam Hooch. E por fim, só os alunos com autorização podem ir aos passeios de fins-de-semana a Hogsmead. – Dumbledore olhou para todos os professores e depois voltou-se de novo para os alunos. – Agora vamos todos para a cama que já é tarde!
Todos abandonaram as mesas atrás dos Chefes das Turmas que os levariam aos respectivos dormitórios. Os Gryffindor seguiram Percy, subindo escadas e percorrendo corredores até chegarem à frente de um quadro que mostrava uma Dama Gorda num vestido cor de rosa, que se moveu ao vê-los chegar.
- A senha? – perguntou ela.
- Dracos Podris. – disse Percy pomposamente exibindo-se aos primeiros anos.
O quadro balançou-se para a frente e eles entraram por um buraco que estava na parede. Tinham acabado de entrar numa sala redonda e acolhedora cheia de cadeirões de braços, sofás, mesas e uma lareira, tudo decorado com tapeçarias vermelhas e douradas. Era a sala comum do Gryffindor.
Enquanto Percy levou os novos alunos aos respectivos quartos, Harry e Ron subiram para uma das torres através de uma escada em espiral até encontrarem uma porta que dizia agora "Quartos Anos". Abriu-a e olhou para o interior, para as cinco grandes camas antigas e fofas, com as suas cortinas de veludo vermelho, igual aos reposteiros das janelas. Pouco depois chegaram os restantes ocupantes daquela quarto que eram Dean Thomas, Seamus Finnigan e Neville Longbottom.
- Cá estamos nós de novo, não é Harry? – perguntou Seamus, um rapaz de cabelo cor de areia, ocupando uma cama junto à janela.
- Assim parece. – respondeu Harry desfazendo a mala na cama que ficava junto à porta. Ron, estava na cama ao lado e a seguir estava Neville. Dean estava ao lado de Seamus.
- Oh não! – disse Neville, um rapazinho gordo e atarracado, com a pior memória que Harry alguma vez conhecera, para além de ter um dom natural para o desastre. – Acho que me esqueci da minha varinha e dos tinteiros e de... – os seus olhos abriram-se exageradamente e ele agarrou a sua própria cara. – Trevor! – exclamou horrorizado referindo-se ao seu sapo de estimação. – Esqueci-me do Trevor em casa!
- Não te preocupes. – disse Ron enfiando o pijama. – A tua avó manda-to amanhã pelo correio. Depois todos se deitaram e o silêncio reinou. Harry tentou adormecer, pensando no que iria acontecer no dia seguinte. As aulas iriam começar.
