V
Os Capas Roxas
O segundo dia de aulas amanheceu depressa e eles prepararam-se para o que teriam naquele dia. Estavam ansiosos por ver que animal teria Hagrid trazido para a aula. Não era nada tão assustador como pensavam. O que Hagrid tinha trazido era uma Harpia, um pássaro cor de laranja com cabeça de mulher, com longos cabelos loiros. Os seus olhos eram vermelhos como rubis e lançavam chamas para onde quer que olhasse. Nas patas tinha grandes garras de águia venenosas. Hagrid tivera o cuidado de lhe tapar as garras com ligaduras, mas tinha-se esquecido dos olhos. A harpia largava pios tão agudos que lhes arrepiavam os cabelos e ficavam atordoados.
No final da aula a Harpia quase tinha incendiado a cabana de Hagrid e alguns alunos tinham queimaduras pouco graves. Um deles era Malfoy, que ao armar-se em esperto, a Harpia lhe tinha incendiado o manto e lhe queimara uma mão. Foi todo o caminho a praguejar sobre Hagrid até à ala hospitalar. Ron só tinha pena que ele não se tivesse queimado mais.
Nada de emocionante aconteceu nas aulas seguintes. Montes de trabalhos de casa a Encantamentos e a Astronomia. Em Herbologia tinham trabalhado com as Milleceias, plantas das quais era retirados os sucos para algumas poções importantes. Nada de especial.
Também nada de especial aconteceu nos dias que se seguiram. As aulas continuavam, as montanhas de trabalhos de casa pareciam cada vez maiores... até que... Na sexta-feira, Harry começou a notar uma certa irratibilidade estranha dos professores. Andavam nervosos, cochichavam de cada vez que estavam juntos, não toleravam a menor brincadeira. Essas atitudes com a professora MacGonagall e com o Snape eram normais, mas com professores como o Flitwick ou a Sprout já não era tão normal. Até Hagrid andava nervoso.
Argus Filch, o encarregado da escola, andava ainda pior do que já era todos os dias. Ele e a sua gata, a esquelética Mrs. Norris, não deixavam passar uma infracção, por mais pequena que ela fosse como espirrar demasiado alto e fazer barulho ao andar. Nesses cinco dias tinham ficado mais alunos de castigo do que num mês inteiro. Isso começou a intrigar os alunos. Histórias começaram a surgir, passando de boca em boca.
No Domingo, por volta das sete da tarde e estando a sala comum dos Gryffindor cheia de gente, apareceu a professora MacGonagall. Todos os alunos fizeram silêncio ao vê-la chegar pois, para além de ela não ir lá muitas vezes, havia algo de diferente nela. Usava um manto azul-noite e no seu habitual chapéu, tinha agora uma pena longa, também azul. Parecia estar vestida para uma festa.
- Prestem atenção! – ela quase gritou para obter silêncio. – Prestem atenção. Hoje vai haver um banquete especial. Sob a direcção do vosso Chefe de Turma – apontou para Percy que encheu o peito do ar, fazendo-se importante – todos vão vestir os uniformes da escola e vão colocar as vossos melhores mantos. O banquete começará às oito da noite, mas às sete e meia já têm de estar prontos. O vosso Chefe levar-vos-á juntamente com os vossos colegas das outras equipas para o Salão.
Toda a gente começou a murmurar entusiasmada. Ninguém sabia que iria haver um banquete especial.
- Por que é que vai haver este banquete? – perguntou uma aluna do sexto ano.
- Não façam perguntas. – disse a professora MacGonagall calmamente, mas Harry quase que podia jurar que ela estava a sorrir. Mas que estava entusiasmada, lá isso estava. – O professor Dumbledore irá explicar-vos tudo quando estiverem no Salão. Não se demorem, porque os Gryffindor têm que ficar bem vistos. Vão lá vestir-se!
A professora saiu e mal o quadro da Dama Gorda voltou a encostar-se ao buraco, a sala encheu-se de conversas. Todos estavam curiosos sobre o porquê daquele banquete. Percy teve muita dificuldade em mandar toda a gente para os quartos, para se vestirem.
Ron e Harry, juntamente com Dean, Seamus e Neville, subiram para o quarto e começaram-se a vestir.
- Por que é que achas que vai haver este banquete? – Ron perguntou enquanto apertava a gravata.
- Não faço a mínima ideia. – disse Harry procurando o seu manto de gala preto, tal como os dos outros. – Mas acho que estes eram os acontecimentos... – aproximou-se de Ron e segredou – ... Acho que estes são os tais acontecimentos a que o Sirius se referia. Um banquete de última hora não é normal.
- Já estão prontos? – perguntou Percy irritado, metendo a cabeça pela porta. – Vá lá! Despachem-se!
- O Percy está mesmo nervoso. – comentou Dean Thomas penteando o cabelo.
- Ele quer ficar bem visto pelos primeiros anos. – resmungou Ron vestindo o seu manto em segunda mão, olhando para Harry, que tentava domar os seus rebeldes cabelos negros. – Só se quer fazer de importante.
Os outros deram gargalhadas baixinho e quando estavam prontos, saíram dos quartos e, após descerem as escadas em espiral, juntaram-se à ruidosa multidão de mantos negros que enchia a sala comum. Cada um dos alunos, fosse de que ano fosse, tentavam adivinhar o porquê daquilo tudo. Não era normal que lhes pedissem para vestir as suas melhores capas só para ir a um banquete.
- Hermione! – Harry chamou pelo meio da multidão.
Ela teve alguma dificuldade em chegar lá, mas furando pelos meio dos alunos, empurrando e pisando mantos e pés, ela lá chegou.
- Que confusão! – exclamou ela aborrecida quando um aluno do sétimo ano lhe deu uma dolorosa cotovelada nas costelas. – Alguém é capaz de me dizer que raio é que se passa aqui?
- Ninguém sabe de nada. – disse Ginny aproximando-se deles, sendo seguida dos gémeos.
- Muito bem, está aqui toda a gente? – a voz de Percy soou fraca no meio de tanta confusão de vozes. Ele tentou de novo, mas ninguém o ouviu. Então, ele revolveu ser drástico. Pegou na sua varinha e ela começou a soltar faíscas vermelhas para o ar, com o som de trovões. Toda a gente parou e começou a olhar para ele. Finalmente, Percy tinha a sua tão desejada atenção. Mesmo assim, teve que falar alto para ser ouvido ao fundo da sala. – Ouçam bem! Quero toda a gente em fila, com pares de dois e por anos. Primeiros à frente, sétimos atrás! Vamos lá! Já estamos atrasados!
Aquela organização demorou alguns minutos, (Vamos! Organizem-se! Estamos a perder tempo! – gritava Percy de dois em dois segundos, agitando a varinha no ar) mas quando o quadro da Dama Gorda se afastou, Percy seguia à frente pomposamente orgulhoso. Os alunos seguiram-no em fila pelas escadas até à porta maciça de entrada do grande Salão. Entraram ao mesmo tempo que os Hufflepuff e a porta fechou-se atrás deles.
Harry olhou em volta, enquanto se sentava na sua mesa. Nunca tinha visto o Salão assim. Reluzia à luz de centenas de velas que flutuavam no ar, por debaixo do céu estrelado que o tecto enfeitiçado mostrava. Serpentinas prateadas, douradas e roxas escorregavam das paredes, reflectindo a luz das velas e dos archotes. Nas paredes estavam lindas tapeçarias que mostravam as cores e os símbolos das quadro equipas. As mesas tinham toalhas com as cores vermelho, azul, amarelo e verde. Por detrás da mesa dos professores estava uma enorme tapeçaria com o brasão de Hogwarts com o leão, a águia, a serpente e texugo, com um H no meio.
Harry depressa entendeu que se aquele banquete era uma festa, não seria uma festa normal.
Na mesa dos professores, Albus Dumbledore parecia estar radiante. Sorria para todos os alunos, irradiando energia. Todos os professores, excepto Snape que trajava sempre de negro, estavam vestidos a rigor e todos eles pareciam entusiasmados excepto, mais uma vez, o professor Snape. Até Hagrid tinha tentado domar o seu cabelo e tinha vestido um casaco castanho aos quadradinhos amarelos com uma gravata verde.
- Será que isto é a festa de boas vindas ao novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas? – perguntou Ron num murmúrio, maravilhado com a beleza do Salão.
- Não creio. – murmurou Hermione em resposta. – Se assim fosse, ele já teria chegado. A cadeira que ele deveria ocupar ainda está fazia.
- Não estava a falar para ti! Estava a falar para o Harry!
- Falaste para quem ouviu! – Hermione respondeu irritada, evitando olhar mais para ele. – E se te serve de ajuda, acho que isto é uma festa de recepção, a mais do que uma pessoa.
Ron fez uma expressão confusa, mas era demasiado orgulhoso para perguntar a Hermione o que ela quereria dizer. Harry apontou para uma facha com letras roxas que Dumbledore tinha acabado de fazer aparecer no ar e que dizia "BEM-VINDOS". Ron não percebeu o que estaria lá escrito, porque não estava em Inglês.
- O que é que diz ali? – perguntou Harry.
- Sei lá! – Ron encolheu os ombros. – Está numa língua estrangeira.
- Perguntamos à Hermione? – Harry sugeriu.
- Se quiseres pergunta tu. – resmungou Ron. – Eu não pergunto mais nada àquela sabichona!
Harry suspirou e olhou para o tecto. Quando é que aqueles dois se iam entender?, pensava. Voltou o seu olhar para a mesa dos professores, quando Dumbledore se levantou e bateu com a varinha na mesa para obter atenção. Todos os alunos olharam para ele.
- Muito bem. Vocês devem estar curiosos sobre o que se passa aqui, – disse ele sorridente – mas este é um banquete especial. O Salão foi decorado no seu melhor pelo professor Flitwick e vocês também estão no vosso melhor, com os vossos melhores mantos. Tudo isto porque temos de ficar bem vistos. Durante esta semana, que foi preenchida de secretísmo, estivemos a preparar esta festa de boas-vindas muito especial. Vamos receber um grupo de pessoas muito especial, aqui em Hogwarts.
Hermione lançou um olhar de viés a Ron, algo que seria igual a dizer: Vês? Eu bem te disse! Eu tinha razão! Ron ignorou o olhar dela.
- Pela primeira vez em muito anos, – Dumbledore continuou – esta escola vai fazer um intercâmbio com um escola estrangeira, a escola de Magia e Feitiçaria de Castle College.
Murmúrios ouviram-se vindos de todas as mesas, mas Harry estava intrigado. Castle College... onde é que ele que ele já tinha ouvido aquele nome?
- Eles são de uma escola de Portugal, que mandou uma comitiva de quarenta alunos, acompanhada pelo director da escola, para passarem um ano connosco. Eles vão ter as mesmas aulas que vocês e as mesma actividades, isso inclui os jogos de Quidditch.
Harry olhou através da mesa e viu Oliver Wood, o capitão da equipa de Quidditch dos Gryffindor, branco como uma folha de papel. Dumbledore continuou.
- É uma comitiva de quarenta alunos, os melhores de Castle College do quinto e sexto anos. Antes de eles chegarem, vamos esclarecer algumas coisas. A escola de Castle College, é em tudo parecida com Hogwarts, pelo menos no sistema de ensino. Eles têm as mesmas aulas que vocês e também estão divididos por quatro equipas que em tudo são semelhantes aos nosso Gryffindor, Slytherin, Ravenclaw e Hufflepuff. Estes novos alunos vão juntar-se a vocês e às vossas equipas, mais ou menos dez para cada uma. Para eles não haverá selecção, uma vez que eles já têm as suas próprias equipas. Por isso, quando eles chegarem, vão sentir-se atraídos pelas equipas que forem equivalentes às esquipas que têm na sua própria escola e sentar-se-ão na mesa da equipa que escolherem.
Alguns alunos pareciam confusos com aquelas coisas das equipas e dos novos alunos. Dumbledore continuou.
- Portanto, quando eles se sentarem nas vossas mesas, recebam-nos bem! – sorriu, aliás, desde o inicio daquele discurso que ele não parava de sorrir. – Os novos alunos que se juntarem às suas novas equipas pertencerão a ela, como se tivessem passado pela selecção do Chapéu Seleccionador desde o primeiro ano. Por exemplo, um aluno Castle College que se sente na mesa dos Ravenclaw, passará a ser um Ravenclaw. Andará com os colegas Ravenclaw do mesmo ano, terá aulas com eles, ganhará e perderá pontos com eles mas – Dumbledore olhou para todos – agora vem a parte confusa.
- A parte confusa? – pensou Harry. – Isto ainda pode ficar mais confuso?!
- Os novos alunos vão pertencer às equipas de Hogwarts. Até toda a gente está a entender, certo? – alguns alunos abanarem que sim. Hermione foi uma deles. – Vocês sabem que uma das finalidades de ganhar pontos é para no final do ano se ganhar a Taça da Melhor Equipa, algo em que o Quidditch também ajuda. Muito bem, esta comitiva também vai jogar Quidditch, mas com uma equipa só de alunos de Castle College, que vai jogar contra as equipas da casa. Durante as aulas, os alunos de Castle College ganharão e perderão pontos quando merecerem, porque eles também estarão a disputar a Taça da Melhor Equipa. Este ano haverão cinco equipas em jogo, em vez de quatro.
Harry pensava que era agora que Wood ia desmaiar. George e Fred já estavam a abanar guardanapos à frente dele, para lhe dar ar. Para além de ter de defrontar as três equipas de Hogwarts, ainda tinham de enfrentar uma equipa estrangeira da qual não sabiam nada. Harry sentiu um aperto no estômago. Agora ele já percebia por que é que a professora MacGonagall tinha dito que seria difícil vencer a Taça naquele ano.
- Espero que tenham entendido tudo. – disse Dumbledore. – Espero que recebam bem os nossos convidados e que os acolham nas vossas equipas como um de vós. Não sejam mauzinhos, a não ser nos jogos de Quidditch... não ficaria bem se perdêssemos. Ah! Já me ia esquecendo. Uma vez que eles são Portugueses, é obvio que falam uma língua estrangeira e como eles são nossos convidados, não os vamos forçar a falar inglês. Vamos nós falar Português.
Aquilo foi a gota de água. Todos os alunos olhavam para Dumbledore como se ele fosse maluco. Como é que ele ia por uma escola inteira a falar Português? Mas já deviam saber que, com Dumbledore, tudo era possível.
- Ele vai usar um feitiço! – exclamou Hermione entusiasmadíssima, remexendo-se no acento, já com a varinha na mão. – Ele vai mesmo usar um feitiço!
- Prestem atenção! – disse ele. – Com um feitiço simples, todos nós ficaremos a falar Português e faremos um figurão quando os nosso convidados chegarem. Não fiquem com medo, porque no final do ano, este feitiço desaparecerá e todos ficaremos outra vez a falar inglês. É só apontar a varinha para as vossas gargantas e dizer Sonoros Portugus. Oram repitam comigo.
- Sonoros Portugus! – o Salão tremeu ao som de todas as vozes a repetir a mesma coisa. Pó começou a cair das paredes.
- Muito bem! – exclamou Dumbledore satisfeito. – Agora, à minha contagem vamos lá realizar este feitiços. Uma vez que os primeiros anos ainda não têm experiência suficiente, alguns mais velhos façam lá o favor de os ajudar. Vamos lá.
Todo o Salão estava entusiasmado com aquilo. Um banquete especial, alunos estrangeiros, falar uma língua nova... todos estavam entusiasmados. Esperaram pela contagem decrescente de Dumbledore, com as varinhas prontas e apontadas às gargantas.
- Vamos lá. 1 ... 2 ... 3!
- SONOROS PORTUGUS!
Mais uma vez o Salão voltou a vibrar com as vozes em uníssono, agora acompanhadas por faíscas brancas que saiam das inúmeras varinhas. Depois, foi o silêncio. Ninguém se atrevia a falar. Nem os professores, que ainda seguravam as suas varinhas. A professora Sprout tinha feito o feitiço a Hagrid, uma vez que ele não tinha varinha.
- Então? Estão todos a entender-me? – perguntou Dumbledore preocupado, com a voz a soar diferente.
Um SIM em língua Portuguesa escapou-se das bocas dos alunos. No entanto, houve uma voz diferente, voz essa que vinha da mesa dos Gryffindor.
- Ah! Muito bem! Excelente! Agora ajudem os primeiros anos e... – Dumbledore riu – alguém ajude Mr. Longbottom. Ele enganou-se geograficamente e agora está a falar Espanhol.
Toda a gente se riu e até Neville se riu à medida que mais uma vez o feitiço Sonoros Portugus era novamente ouvido pelo Salão. Hermione ajudou os alunos que estavam do seu lado e Harry ajudou um rapazinho enfezadito que estava ao seu lado direito, Ron tratou do lado esquerdo.
- Já está toda a gente? – Dumbledore perguntou e todos responderam afirmativamente. Ele olhou para um relógio prateado que tinha na mão. – Mesmo a tempo! Eles devem estar mesmo a chegar a chegar!
Dumbledore saiu da mesa os professores e percorreu o corredor entre as mesas dos Gryffindor e dos Ravenclaw. Parou a meio e apontou a sua varinha para a porta do fundo. Todos os alunos olharam para lá, na expectativa de vê-la abrir-se e de ver os novos alunos. Mas não foi isso que aconteceu.
Da varinha de Dumbledore saiu um fogo azul, que formou uma grande fogueira, de parede a parede, junto à porta. Todos os alunos olharam para aquilo aparvalhados. Piscaram os olhos num segundo e quando olharam para o meio das mesas, Dumbledore já não estava lá. Já estava sentado na sua cadeira, no centro da mesa dos professores, com uma expressão muito satisfeita. Todos estavam espantados com rapidez com que ele se tinha movido.
- Materializou-se. – disse Ron baixinho para Harry, que não tirava os olhos do fogo azul.
Dumbledore voltou a consultar o relógio e disse bem alto, levantando-se com um enorme sorriso bem-disposto.
- Acabaram de chegar!
Toda a gente estava à espera de ver a porta a abrir-se, mas em vez disso, um vento frio saiu das chamas e invadiu o Salão. O vento era forte e os mantos dos alunos, bem como os cabelos, começaram a voar. Alguns gritaram cheios de medo. O vento apagou todas as velas e archotes do Salão, deixando-os quase às escuras. As chamas azuis eram agora a única fonte de luz.
As chamar começaram a contorcer-se e Harry teve de segurar os óculos para evitar que eles lhe voassem da cara. Então, o seu olhar ficou ainda mais preso nas chamas. Algo estava a surgir dela. Pareciam sombras. Sombras que aos poucos estavam a ficar mais nítidas.
Harry engoliu em seco.
As sombras estavam a ficar cada vez mais nítidas. A tomar formas humanas, até que por fim, um grande grupo de pessoas saíram das chamas e o vento cessou. Eles permaneceram parados, como fantasmas, ao pé da porta. Ainda estava escuro e mais escuro ficou quando o fogo azul se apagou, mas no momento seguinte todas as velas que pairavam no ar e todos os archotes das paredes voltaram a aceder-se, iluminando com uma luz dourada, todo o Salão. Dumbledore levantou-se.
- Caros alunos de Hogwarts, dêem as boas-vindas aos nossos convidados Castle College.
Ele começou a bater palmas e todos os alunos e professores (excepto Snape que parecia profundamente desagradado) se lhe seguiram. Pela primeira vez, os estrangeiros moveram-se. Muitos olhos estavam presos neles.
- Aposto que usaram o Pó de Floo para chegarem cá. – murmurou Ron por entre o som das palmas.
Harry ficou extremamente curioso acerca daqueles novos alunos, uma vez que não lhes podia ver a cara. Usavam longas túnicas roxas debruadas a ouro nas mangas e nas bainhas. Pareciam longos vestidos roxos com capucho, também ele com um fio de ouro. Ninguém lhes via as mãos, pois estavam escondidas dentro das longas mangas. Harry apenas podia adivinhar quais seriam as raparigas, pois com os capuchos a esconderem-lhes as faces, apenas os cabelos longos estavam à vista.
À medida que eram aplaudidos, aquela longa fila de pessoas moveu-se silenciosamente pelo corredor entre as mesas dos Ravenclaw e dos Gryffindor, até pararem à frente da mesa dos professores.
As palmas cessaram.
Dumbledore desceu da sua cadeira e foi juntar-se aos recém-chegados, à medida que eles começaram a tirar os capuchos. De facto, todos os alunos que lá estavam, agora com os rostos descobertos, aparentavam ser dos quintos e sextos anos. Dumbledore aproximou-se de um homem de barba cinzenta e curta e estendeu-lhe a mão, cumprimentando-o.
- Roberto Varatojo! Que bom ver-te! Estou a ver que agora és Director.
- Eu posso dizer o mesmo de ti, Albus. Já lá vão muitos anos. – tanto os alunos de Castle College como os de Hogwarts observavam tudo em silêncio. – E agora falas Português? Usaste um pequeno feitiço, não?
- Meus caros alunos, – anunciou Dumbledore a sorrir – deixem-me apresentar-vos o Director de Castle College e o vosso novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, Roberto Varatojo.
Todos os alunos bateram palmas, entusiasmados por finalmente saberem quem era o novo professor. Ele tinha olhos azuis esverdeados, barba e cabelos curtos cinzento prateado, e parecia ser simpático. Parecia ser mais jovem que Dumbledore. Sorria.
- Viste a cara do Snape? – Harry perguntou feliz para Ron. – Ele está fulo!
Snape, de facto, lançava olhares mortais para as costas do Director Varatojo porque mais uma vez tinha perdido a oportunidade de dar as aulas de Defesa Contra as Artes das Trevas. Ver Snape assim tão irritado, deixou Harry incrivelmente feliz.
- Vocês devem estar cansados e com fome, não é verdade? – perguntou aos recém-chegados, mas ninguém respondeu. Todos os alunos, até mesmo os mais velhos, pareciam envergonhados ao terem os olhos de uma sala gigantesca e cheia de gente a voltados para eles com curiosidade.
- Portanto, e sem mais delongas, – Dumbledore continuou com um sorriso reconfortante para os alunos cansados da viagem – vamos proceder então à recepção dos alunos de Castle College nas suas novas equipas. Roberto, deixo tudo contigo.
- Obrigado Albus. – o Director Varatojo deu um passo em frente, enquanto Dumbledore se sentava de novo na sua cadeira satisfeito. Voltou-se para os alunos das mesas. – É com grande prazer que aceitamos fazer este intercâmbio com uma escola como Hogwarts. Estes quarenta alunos e alunas do quinto e sexto anos são os melhores das suas equipas e foram escolhidos para virem nesta viagem. Por certo que o Director Dumbledore já vos explicou como estes vossos novos colegas se vão juntar a vocês e às vossas equipas, por isso, não vou demorar-me mais. – ele voltou-se para os alunos de túnicas roxas e disse simplesmente. – Honrem Castle College e sigam o vosso coração.
Depois passou para detrás da longa fila de alunos que depressa formaram uma única fila. À frente dela estava um rapaz alto, de cabelo castanho-alaranjado, que devia ser do sexto ano. Deu alguns passos em frente, indeciso. Parecia tremer e não saber o que fazer. Colocou-se à frente das quatro grandes mesas e ali ficou durante uns segundos, como se estivesse à espera que lhe dissessem para onde ir. Estava pálido. Subitamente sorriu e a sua face ganhou alguma cor. Dirigiu-se convicto para a mesa dos Hufflepuff que o aplaudiram e arranjaram um lugar para que se sentasse.
A seguir estava outro rapaz. Tinha cabelo escuro e curto, penteado para trás. Tinha olhos quase pretos e pequenos. A cara era quadrada e longa, parecida com a de um cavalo, e os dentes saiam-lhe pela boca fora de forma medonha. Deu alguns passos em frente e sem sequer pensar, dirigiu-se aos Slytherin.
Depois uma rapariga deu um passo em frente e todos os olhares se prenderam nela. A sua pele era clara e o cabelo caia-lhe pela cintura e pelos ombros em delicadas cascatas de caracóis dourados. Parecia frágil. Os olhos verdes escuros brilhavam à luz das velas. Tinha um nariz fino e delicado, que levantava bem alto. Era extremamente bonita e algo nela deixou as raparigas desconfiadas. Encaminhou-se para as mesas (os olhares dos rapazes seguiam-na). Por momentos parecia dirigir-se aos Gryffindor, mas numa mudança rápida e com expressão de troça para os Gryffindor, foi para a mesa dos Slytherin que lhe deram uma grande ovação.
Harry sentiu uma certa desilusão por ela não ter ido para a sua mesa. Ele ouviu Ron ao seu lado a dizer desalentado "Que pena..." e Hermione a retorquir "Se foi para os Slytherin, é porque não era nada de especial ". Harry era obrigado, em parte, a concordar com ela.
Aquela estranha selecção continuou, à medida que os alunos de Castle College se dirigiam para as mesas que os aplaudiam. Alguns pareciam saber exactamente para onde ir, ao passo que outros ficavam parados no mesmo sítio olhando em volta ou indecisos entre duas mesas. Alguns deles, mais desesperados, olhavam, para o seu professor em busca de ajuda, mas acabavam por encontrar a sua nova equipa sozinhos.
A fila decrescia rapidamente. Já só deviam faltar uns dez alunos, quando Harry se apercebeu de uma coisa. No fim da fila, estava uma rapariga que não parecia ser nem do quinto, nem do sexto ano. Era baixa em relação aos outros, mas devia ser do tamanho de Harry. Tinha cabelos castanhos pouco abaixo dos ombros, com uma teimosa madeixa que teimava em cair-lhe para a frente dos olhos. Harry reparou que também ela estava pálida e estava quase colada ao director vestido de roxo.
Harry estranhou e franziu a testa olhando para Hermione. Apesar de ele não lhe ter dito nada, ela acenou-lhe afirmativamente. Harry voltou a olhar em frente onde agora um aluno do quinto ano era o centro das atenções.
Ele deu um passo em frente, parecendo muito seguro de si. Olhou para todas as mesas e sorriu. As raparigas começaram de imediato a suspirar. Ele era alto e magro, com algum músculo. Tinha olhos azuis profundos e expressivos. As madeixas de cabelo negro-azulado revoluteavam na sua testa, onde uma madeixa branca se distinguia de tudo o resto. Com passos calculados dirigiu-se para a mesa dos Ravenclaw que o aplaudiram.
Harry não gostou que ele se tivesse sentado ao lado de Cho Chan.
Por fim só sobravam duas pessoas. Um rapaz de cabelos castanhos e corpulento que se dirigiu sem delongas para os Gryffindor e a rapariga que Harry tinha estado a observar.
Ela olhou para toda aquela multidão que a observava com interesse. Ela pareceu engolir em seco nervosa e olhou para o seu director. Ele incitou-a, por gestos, a andar e dirigiu-se para a mesa dos professores. Ela estava agora por sua conta e respirou fundo. Dirigiu-se as mesas, com as mãos apertadas uma contra a outra. Tentava ignorar os olhares curiosos por ser a última e até estava a conseguir, mas não foi capaz de deixar de corar.
Harry viu que ela tinha olhos castanhos claros e os cabelos eram apenas um bocadinho mais escuros do que os da Hermione e de facto devia ser mais ou menos da sua altura.
Ela deu mais um passo em frente, olhando para todas as mesas. Fechou os olhos por segundos e respirando fundo novamente, dirigiu-se para a mesa dos Gryffindor que a aplaudiram.
Ela encaminhou-se para lá de forma envergonhada, procurando um lugar para se sentar. Dirigiu-se para Hermione e perguntou com voz nervosa.
- Posso... posso sentar-me?
- Claro! – Hermione sorriu e arrastou-se para o lado enquanto a rapariga de cabelos castanhos se sentava, com todos os Gryffindor a olhá-la.
- Muito bem! – disse Dumbledore levantando-se, enquanto o director Varatojo ocupava uma cadeira que tinha sido colocada ao lado esquerdo da de Dumbledore. – Os novos alunos já estão nas suas novas equipas, por isso, vamos à paparoca!!!
Todos bateram palmas, incluindo os novos quarenta alunos agora distribuídos por todo o Salão e a comida começou magicamente a aparecer nas mesas.
Dumbledore inclinou-se para o lado esquerdo, para junto do novo professor Varatojo.
- É bom rever-te, Roberto. – disse com voz murmurada, olhando por cima dos seus óculos em meia-lua.
- É mesmo! – disse o director Varatojo com um sorriso enchendo o seu copo.
- Trouxeste-a? – a expressão de Dumbledore tinha mudado. Estava mais sério.
- Trouxe. – também Varatojo estava sério. – Está numa das mesas. Com o que está a acontecer, não era seguro deixá-la lá. Não agora.
- Aqui, estará em segurança. – afirmou Dumbledore.
Dumbledore sorriu de novo olhando para a comida que tinha acabado de surgir nos pratos de ouro. Desejou bom apetite a todos os professores e começou a comer.
Na mesa dos Gryffindor, todos olhavam para a comida admirados. O que tinha surgido na mesa, não era a ementa do costume.
- Que comida é esta? – perguntou Harry de olhos muito abertos, olhando para a travessa cheia de batatas cozidas e algo branco que ele não sabia o que era.
A rapariga que tinha acabado de se sentar ao lado de Hermione e que estivera silenciosa até então, deu uma gargalhada envergonhada, mas divertida. Harry ficou a olhar para ela. A rapariga apontou para várias travessas.
- Isto é comida tipicamente Portuguesa. – disse. – Isso que está à tua frente é Bacalhau à Brás, aquilo é Feijoada, isto aqui é Caldeirada de Peixe... ali atrás são Rojões à Transmontana e isto – ela fez um ar enjoado ao olhar para a travessa que tinha mesmo à sua frente – são Tripas à Moda do Porto. Garanto que é tudo muito bom.
Só então ela se apercebeu que todos os que estavam próximos dela, a ouviam com atenção, olhando para as travessas que ela tinha apontado. Até Fred e George se tinham levantado e aproximado para ouvir. Ela corou um bocadinho, ao ter tanta atenção só para ela. Ela viu alguns dos seus colegas de Castle College, que tinham ido para os Gryffindor, a sorrirem-lhe.
Todos se sentaram de novo e começaram a encher os pratos de ouro. Hermione ficou a olhar para ela e a rapariga estendeu-lhe a mão.
- Já estou aqui sentada e nem sequer me apresentei. Chamo-me Gabriela Dinis, muito prazer.
Hermione sorriu e apertou a mão contra a da rapariga, que agora tinha nome: Gabriela.
- Prazer em conhecer-te. Eu sou a Hermione Granger – ela apontou para o outro lado da mesa. – Aquele ruivo é o Ron Weasley e aquele é...
- Eu sem quem é. – Graciela cortou com um sorriso, olhando brevemente para o rapaz que estava à sua frente do outro lado da mesa, e para a cicatriz na testa, que o cabelo tentava esconder. – Harry Potter.
Ele sorriu para Gabriela. Nunca pensara que fosse conhecido fora de Inglaterra. Hermione continuou a apresentar-lhe as pessoas que estavam junto delas. Apresentou-lhe o Neville, o Dean e o Seamus, a Ginny, o Fred, o George e o Percy. Lavander Brown e Parvati Patil apresentaram-se sozinhas.
Alguns momentos depois, todos falavam com os recém-chegados como se já os conhecessem à muito tempo. Harry ficou contente ao aperceber-se de que Gabriela já não tinha vergonha de falar. Ele achou que ela era muito simpática. Harry também apreciou o facto de ela não ter feito uma grande barulheira por o conhecer, nem por tocar no assunto nem por estar sempre a olhar para ele de lado, como alguns alunos de Castle College daquela mesa estavam a fazer. Pelos vistos, o mesmo estava a acontecer nas outras mesas. Vários alunos de túnicas roxas fixavam o seu olhar em Harry e alguns chegavam-se mesmo a levantar-se para ver melhor. Ele tentou não ligar.
- É difícil não é? – Gabriela perguntou e Harry olhou para ela. – Ter sempre toda a gente a olhar para ti?
Harry ficou a olhar para ela, admirado de princípio. Acenou que sim.
- As vezes é. – disse.
Gabriela acenou-lhe e encheu o seu prato com Rojões. Todos conversavam animadamente, e quase ninguém notou a música que enchia o Salão enquanto comiam.
- Tiveram uma boa viagem? – Hermione perguntou.
- Tivemos. Mas tenho que dizer que viajar numa lareira com o Pó de Floo, não é a melhor forma de viajar que eu experimentei até hoje. – disse Gabriela pegando no jarro do sumo de abóbora.
- Aha! – Ron exclamou erguendo o garfo no com um batata cozida lá espetada. – Eu sabia que vocês tinham usado o Pó de Floo!
- Ron! – Hermione repreendeu-o corada quando a batata lhe caiu do garfo. Mas Gabriela riu e Harry também.
- O vosso Salão é lindo! – Gabriela olhou em volta maravilhada.
- É não, é? – Hermione sentia-se orgulhosa. – O nosso castelo é muito bonito. Temos muitas salas de aula. Os campos em volta da escola também são muito grandes bonitos. Temos o lago, com a Lula gigante e...
- A Floresta Proibida cheia de Centauros, Unicórnios e Lobisomens, proibida a todos os alunos. – Gabriela acabou a frase de Hermione. – Aqui perto está também a vila de Hogsmead, a única vila exclusivamente de feiticeiros em toda Inglaterra.
- Er... exactamente. – Ron e Harry riram da cara de Hermione, pois até aquele dia nunca ninguém tinha acabado um discurso de Hermione, impedindo-a de falar.
Ficaram a falar mais um pouco até que a comida desapareceu e foi substituída pelas sobremesas. A música ambiente mudou, mas mais uma vez ninguém notou. Na mesa dos professores, todos eles conversavam animadamente. Até Snape, que estava dizer algo à professora Sprout.
- Como é a tua escola? – Ron perguntou a Gabriela quando ela lhe pediu que lhe passasse o pudim de caramelo para Hermione.
- Bem, a nossa escola é também um castelo enorme que tem sete torres. Fica no topo de uma montanha junto ao mar. Temos campos e uma grande floresta à volta, com clareiras onde estão as estufas. Como mar fica no sopé da montanha, vamos muitas vezes lá tomar banho no verão. Lá há muitos hipocampos, que são animais mágicos meio cavalos meio peixes, e sereias. Temos também uma pequena torre ao lado do castelo onde guardamos as nossas corujas, mochos e os animais mágicos para as aulas de Cuidados Com as Criaturas Mágicas.
- Parece ser bonito. – comentou Hermione tirando gelado de baunilha para o seu prato e deitando-lhe molho de chocolate em cima, deitando também no de Gabriela.
- Sim, é lindo. Gostava que pudessem ver. A sala comum da minha equipa é na torre norte. É muito confortável.
- Nós também temos uma sala comum. – disse Ron lambendo uma colher cheia de caramelo. – E também fica numa torre. Quando formos para cima nós mostramos-te.
- Gabriela, que emblema é esse? – perguntou Harry apontando para o desenho que estava no peito da túnica roxa.
- Isto? – ela apontou para um emblema dourado. - É o brasão de Castle College: duas varinhas, que são símbolo da magia, as fitas roxas que são a nossa cor e um palácio ao pé do mar, que é a nossa escola. Também somos conhecidos pela Escola dos Capas Roxas, como é óbvio. Andamos sempre de mantos roxos.
- Os nossos são negros. – disse Ron como se não fosse fácil de ver. – E esse símbolo que tens no braço?
- É o emblema da minha equipa. Todas as equipas da minha escola têm um emblema destes no braço, mudam as cores e os desenhos conforme for a sua equipa. A nossa escola, tal como a vossa, está divida em equipas: a equipa Fénix, onde dizem que estão os corajosos e os audazes, a equipa Unicórnio com as cores prateado e azul, lá só há alunos afincados, passam a vida com o nariz dentro dos livros, a equipa Mocho de amarelo e preto onde estão os prudentes e os leais e por fim, a equipa Dragão de verde e prateado, que aqui entre nós, é de onde saem mais feiticeiros negros. Os dessa equipa acham-se superiores os outros. Pensam que são muito importantes...
Harry revirou os olhos. Até parecia que Gabriela estava a falar dos Slytherin.
Ela apontou para o emblema que tinha no braço esquerdo, uma espécie de brasão com um pássaro de fogo no interior. – Eu pertenço à equipa Fénix e as nossas cores são o vermelho e o dourado. – olhou em volta pela mesa e para a tapeçaria dos Gryffindor que estava pendurado no tecto. – Acho que deve ser o equivalente aos vossos Gryffindor. Os Unicórnio são iguais aos vossos Ravenclaw, os Mocho aos Hufflepuff e os Dragão aos Slytherin.
- Sabes muitas coisas sobre Hogwarts! – Hermione estava espantada e Ron acenou em concordância.
- Sei algumas, mas não sei tudo. Estudei algumas coisas em História da Magia e outras foi o professor Varatojo que nos disse antes de virmos. – ela piscou o olho a Ron que corou. – Para não fazermos má figura.
- Gabriela, é impressão minha ou tu és a mais nova de todos? – Harry perguntou.
- Não é impressão tua. Eu sou a única aluna do quarto ano a vir nesta viagem. Os outros são todos de quinto e sexto anos. Os dos sétimo não quiseram vir por causa dos exames.
- Fazem eles muito bem. – Hermione afirmou. – O sétimo ano é muito importante e não se podem perder aulas importantes por causa de viagens.
Gabriela deu uma risada ao ver a expressão de censura de Ron.
- Isso é lá com eles. – ela ficou subitamente séria. – Eles não deixaram os quartos anos virem nesta viagem. Não sei por que é que abriram uma excepção para mim, não sei porque me fizeram vir. Ninguém me tinha dado o papel da autorização. Só hoje é que soube que ia na viagem a Hogwarts, com autorização especial do director, que já tinha falado com os meus pais. – suspirou. – E sendo os meus pais como são, o director deve ter tido cá um trabalho para os convencer a deixarem-me vir...
- Qual é o problema? – Harry perguntou. – Os teus pais não te deixavam vir se não viessem alunos do quarto ano?
- Oh não... – Gabriela riu divertida. – Antes fosse! Os meus pais são Muggles e não entendem nada de magia. Quando recebi a carta de Castle College, eles pensavam que eu ia para um colégio, mas quando souberam que eu ia para uma escola de magia e feitiçaria... a minha mãe ia tendo um ataque! Mas agora eles já aceitam bem isso. Já lá ando lá à quatro anos, mas eles não gostam que os outros saibam. É que eu sou a primeira feiticeira na minha família.
- E como é que desconfiaste que eras feiticeira? – Ron perguntou.
- Nunca desconfiei. – Gabriela disse com sinceridade. – Acho que nunca fiz nada de anormal, que me levasse a pensar que seria diferente dos outros. Só quando recebi a carta da escola e tive que ir comprar os meus livros, e sobretudo a minha varinha, é que eu vi que algo naquilo tudo não era normal.
Gabriela tirou uma varinha do bolso da túnica e pousou-a em cima da mesa e pegou num copo de sumo.
- Posso vê-la? – Hermione perguntou.
- Claro. – Hermione pegou na varinha e começou a examiná-la. – Comprei-a na loja do Sr. Varetas que é o melhor fabricante de varinhas mágicas de Portugal. – fez um ar pensativo. – Deixem-me ver se me lembro do que ele disse... ah, sim! Varinha de 30 cm de comprimento, pau de roseira e plumagem de Fénix, leve e flexível, mas...
Hermione abriu os olhos exageradamente quando a varinha começou a encher-se de rosas de fogo.
- Mas ultimamente tenho tido alguns problemas com ela. – Gabriela desculpou-se, pegando na varinha e passando-lhe a mão por cima, as rosas desapareceram. – Já fui à loja onde a comprei, mas o Sr. Varetas diz que é completamente normal.
Voltou a metê-la dentro do bolso e as sobremesas desapareceram. Harry queixou-se de que estava cheio e se tivesse de comer mais alguma coisa rebentava. Gabriela concordou e Hermione limpou a boca, delicadamente, ao guardanapo enquanto Ron suspirava satisfeito. Todos tinham comido bastante.
- É verdade que a vossa selecção de alunos do primeiro ano, é feita através de um chapéu? – Gabriela lembrou-se de perguntar.
Ron ia a responder, mas Hermione adiantou-se-lhe, morta por começar a explicar.
- É. É o nosso Chapéu Seleccionador. – explicou entusiasmada. – Quando chegamos à escola há um grande banquete de boas-vindas e para os novos alunos serem distribuídos pelas equipas. Eles sentam-se num banco e colocam-lhe na cabeça um chapéu de feiticeiro velho e sujo. Nunca ninguém percebe o que está ali a fazer até ele começar a falar e dizer a que equipas pertences. – Hermione murmurou aproximando-se de Gabriela. – Dizem que ele nos lê os pensamentos, mas cá por mim, eu digo que não é nada disso.
- Uau Hermione! – disse Gabriela com admiração. – Tu és que sabes muito sobre Hogwarts.
- Claro! – resmungou Ron entre dentes. – Ela passa a vida com o nariz enfiado nos livros!
Hermione fez-lhe um ar de censura, empinando o nariz, que muito a fazia parecer com a professora MacGonagall e disse com secura.
- Tens muita piada...
- Como é a selecção em Castle College? – Harry perguntou. – Vocês também têm um Chapéu Seleccionador?
- Ah não! – ela respondeu. – A nossa selecção é diferente. É feita através de um espelho.
- De um espelho? – repetiu Hermione curiosa.
- Sim, um espelho enorme, antigo e sujo, pois parece que não reflecte nada. A selecção é feita assim: um a um, os alunos do primeiro ano são colocados sozinhos à frente do espelho, com toda a escola a ver. Conforme as qualidades de cada um, o espelho mostra um animal, ou seja, o símbolo da equipa para a qual eles foram escolhidos: ou uma fénix, ou um unicórnio, um mocho ou um dragão.
- É diferente de facto. – disse Harry imaginando-se à frente de um espelho do tamanho de Hagrid e a ver o reflexo de um leão a fintá-lo.
Subitamente, os fantasmas de Hogwarts fizeram a sua entrada no Salão. Muitos, brancos azulados e cor de pérola, flutuando no ar. Um deles aproximou-se de Hermione.
- Boa noite. – disse ele com um vénia elegante ao aperceber-se que havia gente nova nas mesas.
- Boa noite. – disseram Harry, Ron, Gabriela e Hermione ao mesmo tempo.
- Ah! Alunos novos! – constatou com entusiasmo. – De onde são?
- De Castle College, Portugal. – respondeu Gabriela observando o fantasma. – O Sr. é o Sir Nicholas?
- Sou! – disse ele com um rubor prateado a surgir-lhe na cara. Harry achava que se ele fosse vivo, estaria a corar. – E vós? Quem sois?
- Gabriela Dinis.
Ela respondeu e Nick Quase-Sem-Cabeça pegou-lhe na mão e beijou-lha.
- Encantado! – disse ele. Gabriela teve a sensação que tinha metido a mão num balde cheio de gelo.
- Então a Dona Inês de Castro manda-lhe cumprimentos, esperando que se encontre bem... ou pelo menos bem morto. – Nick corou ainda mais e fez um sorriso envergonhado. Gabriela voltou-se para os outros murmurando. – A Dona Inês é a fantasma da minha equipa.
- Eu retribuo os cumprimentos a tão prezada dama! – disse ele. E inclinou-se tanto numa vénia que a sua cabeça lhe caiu os ombros. Gabriela puxou-se para o lado, pensando que ela lhe iria cair no colo, mas ela ficou presa por apenas um bocadinho de pele.
- Caramba! – ela exclamou estupefacta, de olhos muito abertos.
- Surpreendente, não é? – ele perguntou com um sorriso de troça, colocando a cabeça no lugar. Outros alunos de Castle College que estavam com os Gryffindor levantaram-se e aproximaram-se.
- Bem, tenho que ir. Quero ver os outros alunos. Retribua então os meus cumprimentos a Dona Inês de Castro. Boa noite.
Todos disseram boa noite e Gabriela inclinou-se logo para a mesa, murmurando para os outros.
- Agora já entendo por que é que a Dona Inês me disse para não fazer nada que o entusiasmasse. Ela disse que ele poderia perder a cabeça! Agora eu já sei porquê!
E todos desataram a rir a alto e bom som. Harry simpatizava cada vez mais com aquela nova amiga. Depois fez-se silêncio na sala e até os fantasmas pararam. Dumbledore e todos os professores se tinham levantado.
- Bem, após este jantar magnífico, no qual eu tenho que dizer que a cozinha Portuguesa é óptima, temos todos de nos ir deitar. Amanhã temos aulas. É claro que os novos alunos vão para os dormitórios das suas novas equipas. Serão acrescentadas camas aos quartos onde quiserem ficar e as vossas malas serão levadas para lá. Os Chefes de Turma guiar-vos-ão às vossas salas comuns. – Dumbledore sorriu e tirou os óculos de meia-lua, esfregando os olhos. – Desculpem. É do cansaço. Acho que é tudo, boa noite!
Os professores saíram das mesas e os Chefes de Turma começaram a juntar as suas equipas.
- Queres ficar o meu quarto? – Hermione perguntou agarrando o braço de Gabriela, puxando-a da mesa. Só estamos lá eu, a Lavander Brown, a Parvati Patil e a Natalie McDonald. Só somos quatro e o quarto tem cinco camas o que achas?
- Se vocês não se importarem... – disse ela com um encolher de ombros quando Lavander e Parvati se juntaram a Hermione.
- É claro que não nos importamos! – disseram as três.
Gabriela seguiu-as, juntamente com Harry e Ron, com Percy a liderar a fila. À medida que subiam as escadas passavam pelos quadros onde as suas personagens se amontoavam acenando-lhes e procurando ver os novos alunos estrangeiros. Gabriela não parava de murmurar fantástico! durante todo o caminho, Hermione bombardeou Gabriela com perguntas sobre Castle College, às quais ela respondia como podia. Harry e Ron murmuravam-lhe que Hermione era sempre assim e que não se ia calar tão cedo. Mas Gabriela apenas sorria e continuava a satisfazer a curiosidade de Hermione.
Ao chegar à sala comum, os alunos espalharam-se, sentando-se nos cadeirões e sofás esperando ficar a conversar com os novos colegas, mas Percy mandou-os a todos para a cama. Gabriela mal teve tempo de observar a sala comum, mas sabia que iria ter imenso tempo para a ver melhor, além disso, sentia-se cansada da viagem. Viajar quilómetros através de lareiras não era uma coisa nada fácil e com o estômago agora cheio, o cansaço atacava-os a todos.
- Boa noite, Harry, Ron... – disse Gabriela com um sorriso ensonado.
- Boa noite! – desejaram os dois rapazes e subiram para os seus dormitórios.
Hermione arrastou uma Gabriela subitamente sonolenta para o seu quarto. Um grande malão roxo com dois Cs e o nome Dinis a letras douradas estava aos pés de uma cama desocupada, ao pé da janela. Gabriela dirigiu-se para lá e abriu-o, tirando apenas a camisa de dormir e a roupa para o dia seguinte. Hermione ocupou a cama ao lado da dela. Mal Gabriela caiu na fofa cama de dossel e fechou as cortinas, nem chegou a ouvir as boas noites de Hermione. Adormeceu de imediato num sono profundo.
