VI

O Professor de Defesa Contra as Artes das Trevas

- Olha para ali! Estás a vê-lo? Ele vai ali, olha! O de manto negro. Não é esse! É o que vai junto àquele ruivo.

- Quem?

- Aquele rapaz do quarto ano que está com a Gabriela. O de olhos verdes e de óculos. Viste a cicatriz?

- O de cabelo preto? É o Harry Potter? Tens a certeza?

- Certeza absoluta! Eu vi-o passar ao meu lado. Eu vi-lhe a cicatriz.

- Eu disse-te que ele andava nesta escola!

- Viste-o? Conseguiste falar com ele?

Harry ouvia aqueles murmúrios ao passar pelos corredores. Onde quer que se encontrasse um aluno do primeiro ano ou um aluno de Castle College, ele ouvia aquilo vezes sem conta. Todos olhavam para ele de lado, como se ele fosse um bicho raro. Incomodava-o, mas não tanto como no primeiro ano em que estivera em Hogwarts. Seguia com Ron e atrás dele, Gabriela e Hermione. Sentaram-se todos na mesa dos Gryffindor, à espera dos pequenos almoços.

Era engraçado ver agora pequenas ilhas de cor roxa no meio daquele mar de mantos negros. O uniforme de Gabriela era igual ao de Hermione: meias pelos joelhos, saia, camisola e gravata e por cima o manto. Embora os uniformes de Hogwarts fossem acinzentados, com os mantos negros, os de Castle College eram em tons de violeta e roxo, com o manto de cor roxa mais escura e dourado por cima, com os emblemas da equipa e da escola a que pertenciam.

Os pequenos almoços começaram a surgir nas mesas: chá e bacon, torradas de doce de abóbora, laranja e manteiga. Salsichas e ovos estrelados fumegavam nas travessas. Haviam também leite e Cornflakes e papas de aveia. Os alunos começaram a servir-se.

Gabriela, após ter colocado à sua frente uma grande tigela de leite com cereais, puxou ainda para si, um copo de sumo de laranja, torradas com manteiga e doce de laranja juntamente com uma maçã. Ron ficou admiradíssimo ao vê-la rodear-se de comida.

- Vais comer isso tudo? – perguntou.

- Em princípio sim. – ela respondeu começando pelos cereais. – Não costumo comer muito, mas hoje acordei esfomeada! Além disso, preciso de um pequeno-almoço reforçado. Vou ter aulas diferentes das que costumo ter e preciso de me aguentar.

- Pareces os Fred e o George. – disse ele ao desistir de pensar no porquê de tanta comida. – Eles também comem bastante.

Gabriela apenas sorriu e rebuscou algo no bolso quando acabou de comer. Pegou no seu horário.

- Parece que a primeira aula é Adivinhação. – olhou para Harry. – Onde é a sala de aula?

- É na Torre Norte. Vais connosco para lá.

- A Hermione não vêm? – ela perguntou.

- Não. A Hermione tem algumas disciplinas diferentes das nossas. Nós temos Adivinhação e ela tem Aritmancia. – Harry explicou.

- Ah! – disse ela.

- É melhor irmos. – Ron levantou-se, olhando para o relógio. – Ainda temos que subir a maldita torre.

Levantaram-se e dirigiram-se para fora do Salão, despedindo-se de Hermione. Gabriela seguiu com Ron, Harry e o resto dos Gryffindor que tinham Adivinhação.

A subida era árdua e difícil. Mais uma vez, os alunos já iam cansados e ainda tinham subido metade das escadas. Ron, Harry e Gabriela não eram excepção. Os livros dentro das mochilas, pesavam-lhes nas costas, tornando a subida ainda mais difícil.

- Porque... por que é que eles... eles não põe aqui umas... umas escadas... rolantes? – perguntou Gabriela apoiando-se na parede para descansar durante alguns segundos. Harry estava mesmo atrás dela e já transpirava.

- Escadas rolantes? – Ron perguntou com a língua fora da boca. – O que é isso?

- São umas escadas dos Muggles que se movem sozinhas. Nós só nos apoiamos numa e elas levam-nos o resto do caminho, sem termos de as subir. – Harry explicou, retomando a subida. Passou à frente de Gabriela, juntamente com os outros.

Ele quase que nem queria acreditar que tinha chegado à pequena sala que lhe daria acesso à aula de Adivinhação. Arfava de cansaço e o suor molhava-lhe a testa. Gabriela parou a seu lado, pousando a mochila no chão, parecendo também cansada. Ele olhou para o relógio. Tinham chegado mesmo a tempo.

Gabriela olhou em volta, para todos os alunos dos Gryffindor que estavam ali parados. Pareciam estar à espera que algo acontecesse. Respirou fundo.

- Ainda vamos ter de subir mais escadas? – perguntou.

- Não. – disse Ron a seu lado. – Só vamos ter de subir para o alçapão e já estamos na sala de aula.

Alçapão? Ela olhou em volta. Aquela sala era fechada e só tinha duas janelas. Ela não via um alçapão em lado nenhum.

- Qual alçapão?

Ron e Harry apontaram para o tecto sem dizerem nada. Apesar de confusa, Gabriela olhou para lá. No tecto, estava um pequeno alçapão circular, que estava fechado.

- Caso ainda não tenham reparado, o alçapão está no tecto. – disse ela. – Como é que vamos subir?

- Vamos pelas escadas! – Harry riu, apontando para um circulo que os alunos tinham acabado de fazer à volta de uma escada prateada que tinha descido pelo tecto, que começavam a subir. Ela olhou para Ron e Harry de olhos semicerrados e resmungou entre dentes, aos vê-los dar uma risada silenciosa.

- Deixem lá. Esqueçam o que eu disse.

Harry passou por ela e começou a subir. Gabriela subiu atrás dele pela frágil escada. Meteu a cabeça pelo alçapão e olhou para o interior. Entrou e deu passagem a Ron. Observou a sala redonda e obscurecida, cheia de perfumes esquisitos no ar que a fizeram espirrar. Estava calor dentro ali dentro. Seguiu Ron e Harry para uma das mesas e sentou-lhe, olhando em volta.

- Onde está o professor? – sussurrou para Harry.

- Está ali. É a professora Sibyll Trelawney.

Ele apontou para um canto escuro onde estava uma sombra com óculos brilhantes. Gabriela semicerrou os olhos para tentar ver através da neblina que pairava no ar.

Uma mulher saiu do canto escuro e sentou-se num enorme cadeirão, sorrindo para todos eles.

- Bom dia, meus anjos. – disse a professora Trelawney, com Gabriela a observá-la atentamente. – Espero que tenham passado uma noite bastante repousante para o vosso espírito e para a vossa aura. – a voz dela estava a dar sono a Harry, que se esforçou por manter os olhos abertos. – Vamos então começar com a nossa aula. Abram os livros na página nove, enquanto eu faço a chamada.

Todos começaram a tirar os pergaminhos e as penas, enquanto a professora fazia a chamada até que...

- Oooohhhhhh!!!!

Todos olharam para a secretária da professora. Aquele som parecia de horror e de facto, a professora Trelawney tinha uma expressão horrorizada, olhando para o papel que continha o nome dos alunos. Depois olhou para directamente para a mesa de Harry.

- O que terá sido agora? – Harry resmungou. – Será que ela se lembrou de que vou morrer?

A professora levantou-se lentamente. Parecia tremer por todos os lados. Andando arrastadamente, dirigiu-se para a mesa de Harry, com uma mão sobre o peito, apertando o xaile e os colares. Os seus olhos pareciam húmidos.

- Tu. – disse num murmúrio doloroso, apontando para a mesa.

- Eu? – Harry perguntou.

- Não, filho. Ela! A aluna nova! – os óculos, ampliavam-lhe os olhos, fazendo-os parecer gigantescos.

- Eu?!? – Gabriela espetou o dedo indicador contra o seu peito, olhando para Harry e Ron e para detrás dela, onde não estava ninguém. Estava perplexa pela cara que a professora fazia. – Eu o quê?

- Minha filha, o teu futuro é negro, muito negro... tão cheio de sofrimento... – dizia a professora com os olhos esgazeados de horror.

- A sério? O que é que o futuro dela tem para ser negro? – perguntou Ron. – Falta de electricidade?

Gabriela desatou a dar sonoras gargalhadas, sendo seguida por Harry e por outros alunos como Neville e Seamus que estavam ao lados deles, mas a professora, além de chocada, parecia ter ficado zangada.

- Com as previsões do futuro não se brinca. Mr. Weasley! Nunca se deve brincar!

Ron calou-se com as orelhas vermelhas e os olhares indignados de Lavander Brown e Parvati Patil pousados nele. No entanto, Gabriela sorriu-lhe e deu-lhe uma cotovelada, piscando-lhe o olho, antes de fazer uma cara séria, olhando para a professora Trelawney.

- Diz-me meu anjo, – perguntou a professora com voz doce, aproximando-se de Gabriela. – Tu vieste de Castle College no Domingo à noite, não foi?

- Foi. – Gabriela confirmou.

A professora virou-se então para Harry, com uma expressão de súplica nos olhos reflectidos pelos óculos.

- E tu, querido, quem foi a primeira rapariga de cabelos castanhos que conheceste no domingo?

Harry estranhou a pergunta, franzindo as sobrancelhas, apontou para Gabriela, que estava ao seu lado direito.

- Foi ela.

- Oh céus!!...

A professora recuou alguns passos, tapando a boca com a mão, deixando todos os alunos perplexos. O xaile escorregou-lhe dos ombros. A professora parecia realmente horrorizada. Eles só se lembravam de a ter visto assim uma vez, quando ela tinha previsto a morte de Harry, no ano passado.

- O que foi? – perguntou Parvati Patil. – Professora Trelawney? Sente-se bem?

- Sim, minha querida, sim. Eu estou bem. – a professora Trelawney parecia completamente desnorteada, pois em vez de estar a falar para Parvati Patil, estava a falar para outra rapariga que estava no extremo oposto da sala.

Continuou a recuar sem tirar o olhar na direcção de Harry e Gabriela, sempre murmurando.

- Talvez ainda haja tempo, não é tarde... ainda se pode mudar muita coisa, sim ainda se pode mudar... talvez eu consiga fazer alguma coisa... tenho que rever tudo de novo! Espero estar errada! – dizia ela, falando sozinha.

Todos os alunos olhavam para a mesa de Harry e para a professora. Ninguém tinha percebido nada do que se estava a passar. Absolutamente nada.

- Tenho que rever umas previsões, meus filhos. – disse a professora Trelawney para os alunos perplexos. – Leiam a página nove e venham pegar nas cartas de Tarot. Vamos aprofundar as técnicas de disposição das cartas.

- De que é que ela estava a falar? – murmurou Neville para Ron, esticando-se para que ele o ouvisse.

- Não te lembras do que ela disse no primeiro dia de aulas? Ela disse que uma rapariga desconhecida e de cabelos castanhos que o Harry ia conhecer no domingo, ia morrer. – Ron apontou para Gabriela que conversava algo com Harry enquanto baralhava as cartas. – A Gabriela é uma rapariga, é estrangeira, tem cabelos castanhos e o Harry conheceu-a no domingo. Acho que era a isso que a professora se estava a referir.

- Oh! – disse Neville antes de se voltar para Seamus.

- Então o que é que se passou? – Gabriela perguntou, pondo as cartas na mesa, para fazer a previsão a Ron.

- São coisas da Trelawney. – Harry resmungou olhando para a professora de esguelha, que tinha agora um grosso livro, uma bola de cristal e um baralho de cartas em cima da mesa. – Todos os anos diz que um aluno vai morrer. Ano passado dizia que era eu, e olha, ainda estou vivo.

- Ai sim? – ela começou a virar as cartas. – E quem é que vai morrer este ano?

- Tu. – afirmou Ron com seriedade.

- A sério? – Gabriela riu, voltando mais uma carta e vendo o seu significado no livro. – Então está bem.

Ron e Harry ficaram a olhar para ela admirados. Ela continuava a sorrir e eles acabaram por sorrir com ela. A professora Trelawney raramente acertava nas suas previsões, por isso, porque haviam de se preocupar? Gabriela não parecia minimamente preocupada.

A aula acabou por ser uma das melhor, em grande parte devido a Gabriela. As previsões que ela fazia eram uma loucura após outra. Ela previra que Harry ia ser Ministro da Magia, que ia viver numa grande mansão, iria casar com uma Muggle e ia ter sete filhos. Quanto a Ron, ia ser director da escola de Castle College em Portugal, e que ia passar grande parte da sua vida na praia a apanhar sol, enquanto os alunos estavam encarcerados dentro da escola ou a fazer viagens exóticas por todo o mundo, sendo um dos mágicos mais poderosos de sempre.

Foi uma risota pegada.

Quase no fim da aula, os três olharam para a professora Trelawney. Ela olhava para Harry e Gabriela com os olhos sempre húmidos. Tocou e os alunos arrumaram as penas e pergaminhos, preparando-se para sair.

- Para quarta-feira queria que me trouxessem uma previsão do vosso futuro feito com cartas de Tarot. Façam grupos e levem um baralho.

Harry agarrou no baralho que estava em cima da mesa e meteu-o à mochila, saindo com Ron e Gabriela, rindo sobre as previsões que tinham feito.

Vinham a descer quando se cruzaram com Hermione num dos corredores. Ela vinha imensamente feliz.

- A aula de Aritmancia correu-me mesmo bem! – exclamou entusiasmada. – Ganhei trinta pontos para os Gryffindor!

- Que bom para ti, Hermione! – disse Gabriela com sinceridade, depois começou a gozar, fazendo uma voz assombrada. – Pois olha na aula de Adivinhação, eu ganhei uma certeza de um futuro negro... mmmuuuiiito negro!

- O quê? – Hermione já tinha assumido uma postura preocupada, olhando para Ron e Harry.

- Hermione, – disse Ron fazendo-se importante, pondo a mão no ombro de Gabriela que parecia divertida – apresento-te a vítima deste ano da professora Trelawney: Gabriela Dinis!

Hermione parecia ter sido tomada repentinamente pelo espanto e pela preocupação, mas ao ver as gargalhadas de Harry e Ron e ao ver a expressão despreocupada de Gabriela, também ela sorriu. Afinal, eles estavam a falar da professora Trelawney.

- Ah! A professora Trelawney previu que ela ia morrer? – Hermione sorriu para Harry. – Não ligues Gabriela. Ela está sempre a prever mortes e acidentes e coisas que nunca acontecem.

- Ela podia era ter previsto que eu me tinha esquecido do livro de Poções. – disse Gabriela aborrecida, procurando dentro da mochila. – Devo tê-lo deixado no quarto. Vou ao quarto buscá-lo e volto já.

- Não tens muito tempo. – disse Harry.

- Volto num instante! A aula é nos calabouços, não é? Eu apareço já lá. A senha é Dracos Podris, não é?

- Não. É Grafonolina Reduzo. – Ron retendo o riso. – A senha já mudou. Muda todas as semanas.

- Grafonolina Reduzo?! – repetiu Gabriela incrédula. – Que palavra é essa?

- Sei lá! Não fui eu que a inventei!

- Está bem. Grafonolina Reduzo. Eu apareço já lá.

Gabriela deixou os três para trás e correu escadas acima, em direcção à Torre dos Gryffindor. Harry, Hermione e Ron desceram para os calabouços.

- Vocês já repararam nos nossos horários? – Hermione perguntou, enquanto a sua voz era ampliada pelas paredes do calabouço pelo qual estavam a descer.

Harry pegou no seu. Os vários espaços vazios que estavam no horário, estavam agora preenchidos pelas aulas de Defesa Contra as Artes das Trevas.

- Finalmente! – Harry exclamou entusiasmado. – Hoje temos duas horas, logo após o almoço.

- É com o Director de Castle College, não é? – Ron perguntou. – Será que ele é um bom professor?

- Deve ser. – Harry respondeu, encolhendo os ombros.

- Podemos perguntar à Gabriela quando ela voltar. – Hermione sugeriu por fim e Harry e Ron abanaram a cabeça em concordância. Juntaram-se aos restantes Gryffindor e Slytherin que estavam à espera de Snape.

Entretanto, Gabriela subia a escadaria à velocidade mais rápida que podia. Atravessou os corredores e chegou à torre. Parou durante alguns segundos à frente do quadro da Dama Gorda para respirar.

- Bom dia. – disse ela para o quadro.

- Bom dia. – respondeu a Dama Gorda. – A senha?

- Grafonolina Reduzo.

O quadro levantou-se para a frente e Gabriela entrou pelo buraco. Correu para os quartos e remexeu na sua escrivaninha, à procura de um livro verde e grosso. Encontrou-o debaixo de uma camisola cor-de-rosa. Meteu-o na mochila à pressa e olhou para o relógio. Tinha três minutos para ir para os calabouços.

Correu do quarto para fora, atravessou o buraco da parede e correu a toda a velocidade pelo corredor. Corria o mais que podia. Quando chegou às escadas do primeiro piso, no qual tinha deixado Harry e os outros, ela ouviu uma voz vinda do nada.

- Olha! Uma alunazinha nova! Onde vais assim tão depressa?

Gabriela meteu travões a fundo e os seus sapatos derraparam na carpete vermelha. Parou e olhou para trás, para ver quem tinha falado com ela, mas não viu ninguém. Quando olhou em frente, deu um salto assustada. Estava agora, à frente dela, um homenzinho pequeno que flutuava no ar. Tinha um sorriso arreganhado tão maldoso como os seus pequenos olhos.

- Vou para os calabouços. – disse ela recompondo-se do susto.

- Oh, para os calabouços! – repetiu ele, colocando-se de pernas para o ar à frente da cara dela. – E o que vais lá fazer?

- Vou para a aula de Poções. – Gabriela respondeu, enquanto aquele homenzinho voava à volta da sua cabeça.

- A aula de Poções! Com o professor Snape, ele adora quando os alunos chegam atrasados! – subitamente ele desapareceu e surgiu por debaixo das pernas de Gabriela, agarrando-lhe os tornozelos.

- Eu não chegaria atrasada se não estivesse aqui a falar contigo e se tu – o homenzinho desapareceu de debaixo das pernas dela e reapareceu à frente da sua cara, sempre com uma expressão maldosa – me saísses da frente e me deixasses passar, talvez eu ainda chegasse a tempo.

- Mas estamos a ter uma conversa tão boa... Não vás à aula!

- Tenho que ir! – ela respondeu de forma autoritária. – Agora, se me deixares passar, eu agradecia.

O homenzinho fez-lhe uma vénia, rindo secamente, deixando-a passar. Gabriela correu o que restava do corredor e começou a descer as escadas, olhando para o relógio. Já estava atrasada.

Mais uma vez aquela voz a fê-la olhar para trás. Estava a meio das escadas e o homem estava no topo, olhando para ela com maldade.

- Eu disse que te deixava passar, mas como tu estás atrasada e eu vou ajudar-te a descer mais depressa! – ele pegou na ponta da carpete vermelha que descia as escadas. Rindo começou a cantar:

Corre, corre para a aula de Poções

Corre que estás atrasada!

Que eu vou ficar a ver a roxa alunazinha

Aos trambolhões a cair pela escada!

Gabriela viu-o a puxar a carpete vermelha e não teve tempo de fugir. Ela esticou-se sob os seus pés e Gabriela começou a deslizar pelas escadas abaixo, gritando e tentando não cair. Ouvia o homenzinho a rir e a cantar como um louco no topo das escadas, enquanto ela, tentava chegar ao fim delas sem partir nenhum osso.

Subitamente, tropeçou num dos degraus e ia rebolar pelas escadas abaixo se não tivesse batido contra algo que a tivesse feito parar. A carpete voltou a colocar-se sob as escadas e Gabriela caiu para detrás, batendo contra os degraus. Sentia-se atordoada, como se tivesse batido de frente contra uma parede a alta velocidade.

Deixou-se ficar deitada nas escadas, com o cabelo em desalinho e a face lívida. De olhos fechados, massajou a cabeça, no lugar onde tinha batido com ela nos degraus. Mesmo de olhos fechados, conseguia ver estrelas.

- Aaaaiiiiii... quem é que pôs esta parede no meio das escadas? – foi a única coisa que conseguiu dizer, mesmo que fosse um gemido doloroso

- 'Tás bem? – uma voz grossa perguntou à frente dela.

Gabriela abriu os olhos devagar, olhando em frente, mas só viu um grande par de pernas. Continuou a olhar lentamente ao longo daquele corpo maciço até encontrar muito, mas muito, acima da sua cabeça, um par de olhos pretos escondidos no meio de uma barba negra que parecia mato.

Ela olhou para aquilo de olhos muito abertos. Tinha acabado de bater contra um homem, mas não era um homem normal. Era três vezes maior que um homem normal e pelo menos duas vezes mais largo. Tinha uma barba e cabelos negros emaranhados, que lhe escondiam um par de olhos pequenos e pretos como baratas. Ele era realmente grande.

- Caramba! – sussurrou ao mesmo tempo que ficava sem ar nos pulmões.

- 'Tás bem? – voltou ele a perguntar, pegando em Gabriela pelos braços, pondo-a em pé sem dificuldade nenhuma. Passou-lhe a mochila que estava caída a seu lado e aninhou-se para ficar mais ou menos ao tamanho dela. – Vinhas a cair p'las escadas abaixo! Magoas-te? Queres qu' te leve à ala hospitalar?

- N-não... – disse ela incapaz de deixar de olhar para aquele homem tão grande. Parecia um gigante.

- O qu' se passou? Podias ter-t' magoado!

- Foi... – ela respirou fundo olhando para o topo das escadas o homenzinho tinha desaparecido – ... foi um homenzinho que apareceu a flutuar sem mais nem menos. Tentou atrasar-me e quando eu corri pelas escadas e puxou a carpete e eu vim a deslizar por aí abaixo.

- Peeves, aquele tratante miserável! É claro qu' nã' ia perder a oportunidade de s' meter em problemas c'os alunos novos! – resmungou aquele homem, de maneira que Gabriela até ficou assustada, mas o olhinhos pequeninos sorriam. – Ias pra' alguma aula?

- Para a de Poções. Estou com os Gryffindor.

- Ah! Andas c'o Harry? – Gabriela acenou afirmativamente. – Anda, eu levo-t' lá. Já 'tás muito atrasada. O professor Severus Snape nã' gosta nada disso. Vamos.

Gabriela recompôs o seu manto roxo, que lhe tinha escorregado dos ombros e seguiu aquele homem gigantesco pelas escadas abaixo. Tinha quase de correr para acompanhar as suas passadas.

- Tens d' ter cuidado c'o Peeves. – ele aconselhou. – Ele é um poltergeist muito mauzinho. Gosta muito de pregar partidas aos alunos, sejam eles quem forem.

- Está bem.

Ela seguiu-o por um corredor e começaram a descer as escadas. O homem quase que tinha de ir de lado e com a cabeça baixa, para poder passar no corredor de pedra estreito e frio.

- És de Castle College, nã' és? – ele perguntou voltado apenas a cabeça para trás.

- Sou.

- É claro qu' és! – Gabriela pensou que se conseguisse ver a boca, com certeza que ele estaria sorrir. – Os vossos mantos nã' enganam!

Ela sorriu e ele bateu numa porta. Ele abriu-a lentamente, baixando a cabeça para poder passar.

Todos olharam para o fundo da sala quando a porta se abriu, chiando. Harry olhou para a porta. Primeiro apareceu um homem grande e depois uma pequena rapariga num manto roxo apareceu por detrás dele.

- Viva, professor Snape. – disse o homem.

- O que fazes aqui em baixo, Hagrid? – perguntou o professor Snape com ar afectado.

- Vim trazer uma aluna. – Hagrid colocou a sua grande mão nas costas de Gabriela e empurrou-a para a frente. – Ela teve uns problemas nas escadas e eu vim traze-la. – murmurou para ela. – Vai sentar-te.

Gabriela engoliu e seco ao ver a cara de imenso desagrado na cara do professor. Ela estava atrasada um quarto de hora e ainda tinha interrompido a aula ao entrar.

- Bem, vou indo. – disse ele, acenando a Harry. – Até logo.

Gabriela sentou-se ao lado de Hermione. Ao olhar em frente, Harry viu que Snape estava a lançar um olhar venenoso à rapariga. Ele pegou numa folha e pareceu estar a procurar um nome.

- Miss Gabriela Dinis. – disse com arrogância. – Tem de aprender a chegar a horas.

- Desculpe professor. – disse ela. – Mas atrasaram-me porque...

- Cale-se! – rosnou Snape e Gabriela encolheu-se. – Não quero saber o que lhe aconteceu. Chegou atrasada e perturbou a minha aula. São dez pontos a menos para Castle College.

- Mas...

- Vinte e cinco pontos!! – Snape quase gritou. – E se quiser continuar, rapidamente chegaremos aos cinquenta!

Gabriela calou-se, com os olhos de toda a turma fixos nela. Os Slytherin, no outro lado da sala, riam à socapa.

- Sabe como é professor, – olharam para o outro extremo, para uma voz sardónica e irritante, que pertencia a uma pessoa, já de si, irritante – os novos alunos ainda não se habituaram ao novo fuso horário. Deve criar-lhes uma grande confusão.

Não era surpresa. Draco Malfoy tinha que falar e os outros Slytherin riram. Harry e Ron olharam para ele com desprezo. Gabriela fez uma expressão irritada, e murmurou "As horas em Portugal e em Inglaterra são iguais, idiota!"

- Vamos lá continuar. – disse o professor Snape e todos olhos se voltaram para os livros. Gabriela tirou um pergaminho e uma pena, abrindo o livro. Hermione ia-lhe a dizer onde iam quando foi interrompida pela voz de Snape.

- Queira continuar a ler, Miss Dinis. – havia ironia no tom de voz dele e a sua boca retorcia num sorriso cruel.

Gabriela olhou para o livro, tentando aperceber-se onde eles iam, mas acabou por olhar de frente para o professor, com as faces rosadas.

- Não posso professor. – disse em voz baixa. – Como cheguei atrasada, não estive a seguir a leitura.

- Está a ver? Tem que chegar a horas para a próxima. – disse ele satisfeito. Os seus olhos negros brilhavam de contentamento. – Cinco pontos a menos para Castle College.

Mais uma vez os Slytherin desmancharam-se a rir e riam mais ainda quando Malfoy começou a imitar Gabriela, com uma voz fina de e esguiçada: "Não posso professor, como cheguei atrasada não estive a seguir a leitura." Os Slytherin riam como loucos.

Harry desejou poder pôr-se a pé e colocar a suas mãos no pescoço de Malfoy, mas apenas lhe lançou olhares de desprezo. Gabriela também olhava para Malfoy, parecendo imensamente irritada. Respirou fundo e olhou para o livro, pois Snape tinha recomeçado a ler.

- " A poção Polisuco é uma poção que nos permite transformarmo-nos noutra pessoa por meio de ..."

Enquanto o professor lia, Malfoy cochichava algo para os enormes Crabbe e Goyle. Por vezes ouvia-se ele a dizer, propositadamente em voz alta, aquela capa roxa. Só se podia estar a referir a Gabriela. Ela olhava para Malfoy, com um olhar demolidor, com a cara cor de carmesim. Já nem conseguia seguir a leitura.

- Não vale a pena zangares-te por causa dele. – Hermione sussurrou o mais baixo possível. – O Malfoy é sempre assim, principalmente com o Harry.

Gabriela não respondeu, mas respirou fundo e um olhar demoníaco apareceu nos seus olhos. Harry desviou os olhos da leitura observando-a. Viu-a a meter uma mão debaixo da mesa. Ela reparou que estava a ser observada e piscou o olho a Harry que ficou curioso. Ela olhou na direcção de Malfoy, pelo canto do olho, e sussurrou uma palavra que a Harry pareceu ser algo parecido com Desiquilibratus.

No segundo seguinte ouviu-se um grande estrondo e um gemido. Snape levantou-se da sua secretária para ver o que se tinha passado.

Malfoy estava agora estendido no chão, com o manto negro a cobrir-lhe a cabeça, enquanto ele lutava para o tirar de lá, gritando. Tinha caído abaixo do banco.

Todos os Gryffindor começaram a rir e enquanto Snape ajudava Malfoy a levantar-se, Harry viu Gabriela a pôr a mão, muito discretamente, em cima da mesa. Ela tinha na cara um ar de espanto enquanto olhava para Malfoy, que soava completamente a falso. Ela olhou para Harry com um ar inocente e ele, acenou-lhe com a cabeça, parecendo divertido. Ron ria com vontade, enquanto Malfoy se debatia para se desenvencilhar do manto. Só Hermione olhava horrorizada para Gabriela.

- Se não pararem de rir, tiro dez pontos por aluno aos Gryffindor! – Snape quase gritou apontando a sua varinha aos Gryffindor.

Todos os risos pararam naquele instante.

Snape olhou na direcção de Harry, olhando tanto para ele como para Gabriela. Harry engoliu em seco. Para já, Snape tinha feito de Gabriela a sua única vítima, esquecendo-o por completo. Parecia que iria continuar assim durante o resto da aula. Voltou-se para Gabriela.

- Diga-me como se faz a poção Polisuco. – perguntou com voz arranhada.

Hermione ergueu o braço, apesar de saber que a pergunta não lhe era dirigida. Gabriela respirou fundo e encarou o professor de frente, tossindo antes de falar.

- A poção Polisuco é uma poção que nos permite tomar a forma de outra pessoa. – Snape ia interrompê-la, mas Gabriela falou mais alto para o impedir. – Usam-se moscas asa de renda, sanguessugas, fluxo de Cizânias, verdezelhas, pó de chifre de bicórneo e algo que pertença à pessoa em quem nos queremos transformar, como por exemplo, um cabelo. O fluxo de cizânia ter que ser recolhido durante a lua cheia e as asas de mosca de renda tem que ser abafadas durante vinte e um dias. Esta poção demora um mês a fazer e uma vez tomada, tem a duração de uma hora.

Harry olhou para Gabriela de esguelha tal como Hermione. À dois anos atrás, eles tinham feito essa poção e tiveram de requisitar um livro para saber como a fazer. Agora seria muito mais fácil, se quisessem faze-la de novo. Gabriela, parecia sabê-la de côr.

Snape pareceu ficar irritadíssimo pela resposta completa que Gabriela tinha dado, mas não lhe deu pontos por estar certa. Voltou-lhe as costas, parecendo frustrado.

Após a sua tentativa frustrada de tentar retirar mais alguns pontos a Castle College, Snape decidiu vingar-se, castigando os Gryffindor. Mandou-os fazer uma poção que tivesse sido descoberta no século XIX, à escolha. Os alunos começaram a preparar os seus caldeirões. Harry começou com Ron e Hermione fez par com Gabriela.

Snape andava por entre as secretárias de madeira, cheias de frascos com líquidos esquisitos e dos caldeirões fumegantes, sempre a olhar por cima dos ombros dos alunos, à espera de ver algo errado, fazendo comentários ou reparos maldosos aos trabalhos dos Gryffindor. A luz das velas faziam-nos parecia ainda mais assustador do que ela já parecia.

Quando ele estava a ver o trabalho de Malfoy, Hermione sussurrou, enquanto Gabriela cortava as bagas de Zimbro.

- O que é que fizeste ao Malfoy?

- Eu? – Gabriela perguntou inocentemente. – Eu não fiz nada. Ele é que caiu abaixo do banco. Não viste?

- Pois... estás à espera que eu acredite? – Hermione fez uma expressão aborrecida e olhou em volta, para ver onde estava Snape. Baixou-se e falou ainda mais baixo. – Que feitiço é que lhe lançaste?

- Hermione, eu já disse que não lhe fiz nada. – Gabriela reforçou, deitando as bagas e as raízes de cogumelo Peziza para o caldeirão, que largou uma nuvem rosada para o ar. – A sério que ele caiu abaixo do banco sozinho. Ele estava a balançar-se, desequilibrou-se e caiu. – contudo, ela fez um sorriso malandro. – Mas... eu dei-lhe uma ajudinha. Mas ele já estava na posição certa, mais cedo ou mais tarde acabaria por cair.

- Oh não! – Hermione exclamou num sussurro. – E se o Snape te tivesse visto?

- Bem, ele não viu, pois não?

Hermione abanou a cabeça negativamente. Gabriela não devia ter feito aquilo. Snape continuava a observar tudo, morto por retirar pontos. Aproximou-se do caldeirão de Harry e de Ron, observando-o. Ron estava a deitar as raízes de cogumelo no caldeirão.

- Menos cinco pontos para os Gryffindor. – disse Snape por cima do ombro de Harry, que olhou imediatamente para trás, indignado.

- Porquê? – retorquiu.

- Caso não tenhas reparado, Potter, as raízes que o Weasley está a deitar na poção, não estão do tamanho que pedi e ainda têm folhas.

Sentindo-se satisfeito, Snape aproximou-se da sua secretária, deixando Harry e Ron perplexos e furiosos. Ron pegou numa das raízes e observou-a, pondo-a bem perto dos seus olhos.

- Onde é que estão as folhas? – resmungou entre dentes. – Só tem aqui uns riscos verdes minúsculos. Isto são folhas?!

- Isso não são folhas e a raízes tem o cumprimento certo. Eu medi-as. – Harry voltou seus olhos verdes, a largarem faíscas, para Snape. – Ele só queria um pretexto para nos tirar pontos.

Os alunos começaram então a levar as suas poções a Snape, explicando o que eram e para que serviam. Os Gryffindor perderam mais cinco pontos por causa da poção de Gabriela e Hermione, uma poção de crescimento rápido para plantas. Snape dissera que a planta na qual elas tinham feito a demonstração, tinha crescido demasiado depressa. (Oops, desculpa Hermione! – Gabriela desculpara-se corada ao ver o ar chocado dela, por ter perdido pontos. – Acho que exagerei nas bagas.)

Por fim, a torturante aula tinha chegado ao fim e os alunos apreçaram-se a sair daquele calabouço gelado, dirigindo-se ao Salão para o almoço.

Quando se sentaram na mesa dos Gryffindor, Ron ainda resmungava por causa de Snape. Que ele já detestava os Gryffindor e que lhes retirava pontos por tudo e por nada, isso já todos sabiam, mas naquele dia, após Gabriela ter respondido à pergunta que Snape lhe tinha feito, ele tinha ficado quase insuportável.

A comida apareceu nas longas mesas, enquanto os alunos conversavam e comiam.

- Por que é que chegaste atrasada? – Ron perguntou para Gabriela.

- Foi um poltergeist que me atrasou no primeiro piso. Era assim pequeno, com olhos pequenos e...

- Peeves! – exclamaram Ron e Harry, olhando um para o outro.

- Sim, acho que foi isso que aquele gigante que me levou à aula lhe chamou.

- Ah, o Hagrid. – disse Harry enchendo o prato pela segunda vez.

- Ele é mesmo grande! – ela parecia impressionada. – Bati contra ele nas escadas. Pensei que tinha batido contra uma parede! Pensava que os gigantes não eram simpáticos. Bom, ele foi muito amável em levar-me à sala de aula. Onde é que eu posso encontrá-lo para lhe agradecer?

Ninguém lhe respondeu.

- Hermione?

Nada. Ela não lhe respondia.

- Ron? – ... nada... – Harry?

Gabriela ficou admirada. Eles não lhe respondiam. Estavam a olhar para a entrada do Salão. As cabeças de muitos outros alunos também estavam voltadas para lá. Gabriela olhou também nessa direcção.

Dois alunos de capas roxas estavam a atravessar o corredor entre as mesas do Ravenclaw e dos Gryffindor.

- Ah, pois. Só podia ser. – Gabriela parecia desapontada. – A Pandora e o Leon.

- Quem? – Ron perguntou, com os olhos ainda presos na rapariga loira. Ele lembrava-se dela. Era a rapariga que ele tinha visto na selecção e que tinha ido para os Slytherin.

- A Pandora e o Leon. – ela voltou a repetir, e desta vez, os três olharam para ela. Gabriela olhava para a rapariga loira de lado, não parecendo muito satisfeita, quando ela passou à sua frente. -– São lá da escola, ambos do quinto ano. Ela chama-se Cátia Pandora Lencastre e é dos Dragão. É a rapariga mais rica e mais popular do quinto ano. É rica, bonita, inteligente... todos a acham perfeita. E depois namora com o rapaz mais bonito do quinto ano, o Leonardo Alves dos Unicórnio. Vem de uma família de feiticeiros muito antiga. A mãe era Francesa, e é por isso que ele prefere que lhe chamem Leon. É o Capitão e Chaser da equipa de Quidditch dos Unicórnio. Foram eleitos o "Casal Perfeito" no ano passado. Escusado será dizer que quando eles passam, todas as cabeças se voltam para eles. O Leon é o rapaz mais cobiçado pelas raparigas.

- Sei o que queres dizer... – disse Hermione aereamente, observando o rapaz alto de cabelos negros azulados, com uma curiosa madeixa branca de e olhos azuis profundos. O seu sorriso era contagiante e muitas raparigas já suspiravam. Hermione era uma delas. Não se dava conta de como estava e disse: – Quem me dera andar em Castle College...

- Hermione!! – Ron resmungou.

Ela pareceu acordar do sonho no qual estivera mergulhada, ou seja, quando o rapaz saiu do seu campo de visão. Ela olhou para Ron, zangada e corada, voltando a sua atenção para a sobremesa.

- Parece que tu não gostas muito lá da... Cátia. – Harry observou.

Gabriela ficou a olhar perplexa para ele durante alguns segundos.

- É assim tão obvio? – perguntou como se estivesse assustada. – Eu e a Pandora, ela não gosta que lhe chamem Cátia, não... não nos damos lá muito bem. Harry, não me perguntes porquê. Pura e simplesmente não gostamos uma da outra. Toda a gente tem de ter inimigos, não é?

- É. – Harry lançou um olhar de esguelha a Malfoy. Todos tinham de ter inimigos.

Gabriela pegou no seu horário e observou-o.

- Agora vamos ter duas horas de D.C.A.T.

- D.C.A.T.? – Harry repetiu.

- Defesa Contra as Artes das Trevas. – ela explicou. – É um nome muito grande para se estar a dizer, por isso nós dizemo-lo só por iniciais.

- Ah... – disse Ron. – E é com o director da tua escola. Ele é bom professor?

- É! – Gabriela entusiasmou-se. – Ele gosta muito de dar aulas práticas. Leva cada coisa para as aulas...

- Oh não! – Hermione parecia assustada, agora que entendia que os livros não a iam ajudar muito nas aulas práticas. Eles não iam fazer as coisas por ela.

- Harry? – ele olhou para trás, para ver quem o chamava. Era um rapaz grande e entroncado do sétimo ano, Oliver Wood. – Temos de falar.

Fred e George estavam atrás dele. Harry levantou-se e apontou para Gabriela.

- Oliver, está é a Gabriela Dinis de Castle College.

Ela estendeu a mão para Oliver que a apertou contra a sua, mas lançou-lhe um olhar desconfiado.

- Tu não fazes parte da equipa de Quidditch de Castle College, pois não?

- WOOD!!! – exclamaram Harry, Fred, George e mais três raparigas todos em coro, num tom de repreensão.

- Não, não faço parte. – ela respondeu, um tanto perplexa.

- Gabriela, este é o Oliver Wood, o Capitão da equipa de Quidditch dos Gryffindor. – Harry explicou. Depois voltou-se para Wood. – Querias falar comigo?

- Temos de falar. Em privado. – disse ele olhando sempre desconfiadamente para Gabriela. – É sobre...aquilo.

Harry olhou perplexo para ele. Wood costumava ser paranóico no que tocava aos assuntos de Quidditch, mas nunca o vira como ele estava agora. Antes que ele ficasse ainda mais paranóico, seguiu-o para fora do Salão.

- Vão indo para a aula! – disse ele junto à porta. – Eu já lá vou ter.

Dizendo aquilo desapareceu.

Já estavam a entrar na sala de aula quando Harry apareceu, parecendo muito pouco satisfeito.

- O que foi? – Ron perguntou.

- É o Wood. – Harry rosnou mal disposto. – Já quer começar com os treinos de Quidditch. Dois treinos por dia! Um de manhã e outro ao fim da tarde, a começar a partir de hoje! Mesmo ao Sábado e ao Domingo. Ele está mais paranóico do que nunca! O Fred e o George ficaram a ver se o faziam mudar de ideias.

- Caramba... – Ron concordou com um assobio.

- Isso não te vai dar tempo nenhum para estudar! – Hermione disse numa atitude reprovadora.

Harry acenou com a cabeça em concordância, enquanto retirava o livro e os pergaminhos. Todos os alunos já estavam sentados, mas o professor ainda não tinha chegado. Conversavam em voz baixa tentando adivinhar o porquê daquele atraso.

Então, um barulho surgiu do lado esquerdo da sala, acompanhado de uma luz violeta. O barulho vinha da lareira e perante os olhares perplexos de todos, um homem de túnica roxa saiu de lá de dentro. Avançou para a secretária, dando palmadas na túnica, para tirar a fuligem da lareira.

- Desculpem-me o atraso. – desculpou-se pousando uma pasta em cima da mesa. – Não conseguia encontrar a sala e tive de pedir ao professor Snape que ma indicasse.

Os alunos cochicharam durante alguns minutos, nos quais o professor abriu uma série de livros em cima da mesa, até pedir silêncio.

- Muito bem, bem-vindos às aulas de Defesa Contra as Artes das Trevas. – disse sorrindo. – Eu chamo-me Roberto Varatojo e sou o Director de Castle College, mas aqui, serei apenas o vosso professor. Como sabem, o propósito desta aulas é de aprendermos maneiras de nos protegermos das chamadas, Artes ou Magias Negras. Vou agora fazer a chamada para ver se não falta ninguém.

O professor Varatojo pegou numa folha e foi chamando os alunos, até encravar num nome.

- Humm... Ora, ora! Harry Potter. – ele procurou Harry com o olhar e encontrou-o numa das mesas do meio, ao lado de Ron. – Quem diria? Excelente!

Harry ficou um pouco surpreendido com aquilo, olhando para Gabriela que estava ao lado de Hermione. Ela sorriu e abanou com a mão, como quem diz: "Não ligues."

O professor acabou de fazer a chamada, mas olhava para Harry desde que o tinha descoberto. Para já, Harry não sabia se isso seria bom ou mau. O professor parecia ser simpático...

Varatojo deu uma vista de olhos num cadernos que lá tinha, parecendo pensativo. Falava sozinho.

- Oh sim... muito bem... já deram isto... e isto... Ah! – ele exclamou subitamente. – Tiveram o professor Lupin no ano passado? Isso é óptimo! Ele devia ser um bom professor, uma vez que era um óptimo aluno.

- O professor conhece o Remus Lupin? – Harry perguntou.

- Sim conheço. – respondeu Varatojo, perante o olhar perplexo de Harry. – Eu fiz um estágio de um ano aqui em Hogwarts, à muito anos atrás. Lembro-me bem do Remus. Ele devia andar no terceiro ano, quando aqui estive. Era um bom aluno.

Todos os alunos voltaram a murmurar. Hermione estava perplexa, tal como Ron e Harry. Ele, no entanto, parecia indeciso. Uma pergunta queimava-lhe na boca. Ele tinha de saber.

- Se conheceu Lupin quando cá esteve, – Harry falou mais alto que os murmúrios, que desapareceram, pois todos o queriam ouvir – também deve ter conhecido o Sirius Black e...

- O teu pai, James Potter. – Varatojo completou. – Conheci-os aos três. Muito bons alunos, sempre juntos. É

incrível a tua semelhança com o teu pai, Harry.

- Já me tinham dito. – Harry respondeu.

O professor sorriu-lhe e deu mais uma vista de olhos aos cadernos.

- No ano passado vocês estudaram os Sem-Forma, os Grindylows, os Barretinhos Vermelhos, os Kappas e os Hinkypunks. Muito bem. Bom, acho que não há muito por onde pegar para vos ensinar. Humm... mas vamos rever os Hinkypunks.

O professor Varatojo fez um gesto com a sua varinha e duas caixas de vidro apareceram em cima da mesa. Uma delas tinha um Hinkypunk, uma criaturinha minúscula, com uma só perna, de aspecto frágil e inofensivo, que parecia ser feito de novelos de fumo e que tinha uma pequena lanterna na mão. Na outra caixa, estava uma criatura parecida com um duende amarelo brilhante e minúsculo, que também segurava uma lanterna na mão. Andava a alta velocidade dentro da caixa de vidro, deixando atrás de si um rasto de luz. Os alunos observaram-no com interesse.

- Todos sabem que este é um Hinkypunk, mas alguém me sabe dizer o que este é? – o professor Varatojo perguntou, apontando para a segunda caixa de vidro.

Ninguém levantou o braço para responder, nem Hermione, o que espantou bastante os colegas. Parecia indecisa. Se ela não sabia, então quem poderia responder? Gabriela, levantou a mão.

- Queres responder? – o professor perguntou.

- É um Fogo-Fátuo.

- Muito bem. Sabes que não te vou dar pontos pela tua resposta certa, porque não seria justo. Já deste os Fogos-Fátuos o ano passado, em Castle College e eles estão a ouvir falar neles pela primeira vez. – disse ele.

Gabriela acenou, porque sabia que o professor tinha razão. Hermione começou logo a tirar apontamentos.

- Os Fogos-Fátuos são em quase tudo semelhantes aos Hinkypunks. Alguém sabe porquê?

O braço de Hermione espetou-se no ar.

- Tal como os Hinkypunks, os Fogos-Fátuos afastam os viajantes dos seus caminhos, levando-os a perderem-se ao seguirem a sua luz.

- Está correcto Miss... – Varatojo pegou na folha dos nomes e percorreu-a num segundo – Granger. Cinco pontos para os Gryffindor. De facto, os Fogos-Fátuos levam os caminhantes a seguirem a sua luz e a perderem-se do seu caminho. Encontram-se muitas vezes em pântanos escuros e em atoleiros. Movem-se com extrema rapidez, o que os torna muito difíceis de apanhar. Há muitos em Portugal, Espanha e França.

Ouvia-se bem o barulho das penas a arranharem nos pergaminhos enquanto todos escreviam.

- E alguém me sabe dizer como é que nos defendemos de um Hinkypunk ou de um Fogo-Fátuo?

Três braços esticaram-se no ar de uma vez só. O de Gabriela, o de Hermione e o de Harry.

- Desculpem meninas, – disse o professor – mas vocês já responderam. Vamos dar uma oportunidade ao Harry.

- Não há maneira de nos defendermos deles, pois eles não nos atacam. O melhor é não seguirmos a luz que eles transportam. – Harry respondeu, enquanto Hermione olhava para ele aborrecida.

- É isso mesmo. Mais cinco pontos para os Gryffindor. Estou a ver que esta turma tem muito bons alunos. Quem ver como é que os Fogos-Fátuos nos confundem?

Muitos rostos entusiasmados acenaram afirmativamente. O professor Varatojo apagou as luzes da sala e todos olharam para a caixa do Fogo-Fátuo. Ele começou a andar muito depressa dentro da caixa e em pouco tempo, todos deixaram de ver a pequena criatura, só conseguiam ver o rasto de luz que ela deixava atrás de si.

O Fogo-Fátuo começou a andar cada vez mais depressa, até que a caixa se encheu de luz, iluminando a sala escura. Era como ter um candeeiro dentro de uma caixa de vidro, que os iluminava a todos. O professor acendeu as luzes e bateu com a varinha na caixa do Fogo-Fátuo que parou, parecendo cansado.

- Muitos feiticeiros usam Fogos-Fátuos como lanternas, prendendo-os em pequenas caixas de vidro. – ele explicou. – Quer dizer, os poucos que os conseguem apanhar. – depois fez uma expressão de quem se tinha acabado de se lembrar de algo. – Vamos fazer um bocadinho de aula prática. Querem fazer um jogo?

- Sim! – todos responderam.

- Eu vou soltar o Fogo-Fátuo na sala e quero ver quem o consegue apanhar. Levantem-se das mesas. – o professor Varatojo fez um gesto com a varinha e as secretárias encostaram-se às paredes. – Estão prontos? Vou soltá-lo... Apanhem-no!

A pequena criatura saiu disparada da caixa, deixando atrás de si um rasto dourado. Alguns alunos tiveram de se desviar dele. Todos tentavam agarrá-lo, mas ele era extremamente rápido. Desviava-se deles e mudava subitamente de direcção, escapando-lhes das mãos.

Ao fim de quinze minutos, Hermione e Gabriela tinham conseguido imobilizá-lo numa parede usando o feitiço Petrificus Totalus e Neville tinha-o espalmado ao colocar-lhe o livro em cima. Tinham conseguido apanhar o Fogo-Fátuo. O professor voltou a metê-lo na caixa dando cinco pontos a cada um dos três. Olhou para o relógio.

- O tempo voa quando nos estamos a divertir, não é? Já vai tocar. Antes de saírem, queria que me fizessem um trabalho sobre as diferenças entre as técnicas dos Hinkypunks e dos Fogos-Fátuos para enganarem os viajantes. Uma página de pergaminho chega perfeitamente. – tocou para fora e eles começaram a sair. – Até à próxima aula.

Todos saíram entusiasmados, falando sobre o que tinham feito para tentar agarrar o Fogo-Fátuo. Mas, sobretudo, todos tinham a mesma opinião:

Aquela aula tinha sido fantástica!