VIII
A Seeker de Castle College
Quando o quadro da Dama Gorda se moveu eles entraram, foram recebidos por uma torrente de perguntas e foram imediatamente rodeados pelos outros alunos.
- Pensávamos que tinham sido comidos! – pálido, Neville quase gritou aos ouvidos de Harry.
- O que se passou? O que aconteceu à cobra? – perguntou Dean.
- O que é que vocês fizeram? Como é que saíram de lá? – e Seamus perguntou logo a seguir.
- Faltaram à aula de Encantamentos e o professor Flitwick ficou preocupado. – disse Parvati Patil.
- Harry! Harry, estás bem? – era Wood que tentava desesperadamente aproximar-se de Harry.
Rodeados de alunos, nem Harry ou Ron, nem Gabriela ou Hermione tinham espaço para respirar e eram bombardeados por perguntas e teve de ser Percy a tentar meter alguma ordem naquilo.
- Com licença! Deixem-me passar! Sou o Chefe de Turma, deixem-me passar! Harry! Ron! Hermione!
Após um grande esforço, Percy lá conseguiu chegar ao pé deles, afastando alguns alunos para eles terem algum espaço para respirar. Após ter pedido silêncio, encheu-se de importância.
- Muito bem, – disse – querem contar-nos a história completa? Anda por aí uma história de uma cobra gigantesca que andava a comer alunos. O que se passou?
Harry olhou para Ron e Hermione. Gabriela abanou a cabeça, dizendo que não queria ser ela a explicar. Hermione respirou fundo e começou.
- O que aconteceu foi o seguinte... – a narrativa demorou cerca de cinco minutos, pois ninguém queria interromper. – ... e nós acabamos de sair de lá. O Harry e a Gabriela ganharam vinte e cinco pontos cada.
Todos começaram a bater palmas entusiasticamente.
- É isso Harry! Vinte e cinco pontos para os Gryffindor logo de uma vez! – gritavam. Um dos que batiam palmas mais entusiasticamente era Wood.
Ouviu-se uma campainha e todos os alunos agarraram nas suas mochilas, seguindo para as salas onde teriam as aulas seguintes, falando entusiasticamente sobre aquilo. Finalmente, eles tiveram alguma paz para pegarem nas mochilas. Só lá estavam Percy, George e Fred, que se aproximaram logo de Ron, pondo os braços por cima do ombros dele.
- Ouvimos dizer que andaste à pancada com uma cobra gigante? – perguntou Fred. – É assim mesmo irmãozinho!
- Já estás a aprender uma coisas aqui com os teus manos! – George completou, despenteando o cabelo de Ron com a mão.
Ron escapou aos irmão, com uma expressão aborrecida, tentando alisar o cabelo de novo.
- Eu não andei à pancada com uma cobra, porque nem era uma cobra. Era uma Hidra. O que vos contaram era mentira.
- Isso não interessa, Ronald! – disse George. – O que interessa é que TU estavas lá! Genial!
E dizendo aquilo, Fred e George passaram pelo buraco da parede e desapareceram, com Percy atrás deles.
- Os teus irmãos são esquisitos... muito esquisitos. – Gabriela comentou na brincadeira.
- E tu nem sabes como!
- Vamos lá! Já perdemos uma aula e já vamos chegar atrasados a outra! – disse Hermione alarmada.
- Vamos ter Astronomia. – Gabriela olhou para o horário. – O que vais ter Hermione?
- Runas Antigas! – gritou ela ao atravessar o buraco.
Ron e Harry pegaram nas suas mochilas e juntamente com Gabriela seguiram para a aula de Astronomia.
A aula tinha corrido bastante bem. Harry tinha ganho alguns pontos ao dizer vários nomes de constelações e Ron até tinha ganho pelo menos dez pontos ao dizer o nome de duas estrelas. No fim arrumaram tudo, meios aborrecidos com os trabalhos de casa que o professor Sinistra lhes tinha passado.
A aula seguinte seria a de Herbologia com a professora Sprout. Depois de encontrarem Hermione, juntos dirigiram-se para lá.
Juntaram-se todos ao pé das estufas, à espera da professora, quando, mais uma vez, os Slytherin se juntaram a eles. Ficaram todos reunidos, pois pareciam estar a ouvir alguém que parecia estar a contar algo emocionante. Harry estava a explicar a Gabriela como costumavam ser as aulas de Herbologia, quando uma voz fina e esguiçada que eles já tinham ouvido antes, lhe cortou as explicações, desviando a atenção de Harry para os Slytherin.
- Oh não! – dizia a voz. – Ela vai comer-me! São demasiadas cabeças! Socorro! Harry! Socorro!!!
Gabriela olhou também para lá e Ron e Hermione aproximaram-se, juntamente com Neville, Dean Thomas e Seamus Finnigan.
- O que se passa? – perguntou Neville em voz baixa.
- Não sei. – Hermione murmurou, tentando ouvir. A voz continuou.
- Salva-me Harry!! Ah, e já agora, eu não corri para que a Hidra me apanhasse. Alguém me empurrou, mas é
mentira! Eu só fiz isto para ganhar vinte e cinco pontos e para o Harry me salvar. Oh meu herói!... Dá-me um beijinho!
Antes que Harry se apercebesse mais ou menos o que se estava a passar, Gabriela passou os seus livros para os braços de Hermione e vermelha de fúria, avançou para o grupo dos Slytherins. Furou o mar de mantos negros e o seu manto roxo desapareceu no meio deles. Subitamente, a voz tinha parado de falar e ouviu-se um oohhh de espanto. Harry e os outros correram para lá e rodearam os Slytherin.
Arregalaram os olhos de perplexidade ao ver o que se estava a passar.
Gabriela estava a agarrar Draco Malfoy pelos colarinhos do manto, com a sua cara quase colada à dele. Ela tinha a expressão mais furiosa que Harry a tinha visto fazer até aquele momento. Tinhas as sobrancelhas franzidas, o rosto muito vermelho e os dentes cerrados. Malfoy parecia petrificado, pois estava pálido, ainda mais pálido do que já era. Gabriela era pouco mais alta que Malfoy e era por isso que a cara dele estava meia tapada pelo colarinhos que Gabriela agarrava com força. Tinha sido Malfoy que a estivera imitar.
- Ora diz lá isso outra vez, ó descorado! – ela quase gritou. – Diz isso agora à minha frente! Diz lá!
Malfoy não respondeu. Ninguém queria acreditar no que estavam a ver. Até aquele dia quase ninguém tinha confrontado Malfoy fisicamente, a não ser Ron, que já o tinha esmurrado uma vez à dois anos atrás, mas de certeza, que nunca nenhuma rapariga o tinha agarrado pelos colarinhos daquela maneira.
- Diz lá! Estavas a gozar-me pelas costas, goza-me agora à minha frente! – ela quase gritou de novo.
- Vão lá buscá-la! – Hermione pediu assustada. – Alguém que a vá buscar! Tirem-na
dali!
- Porquê? – Ron perguntou com um olhar maldoso, cruzando os braços. – Se ela der cabo do Malfoy, melhor!
Harry acenou em concordância e Hermione não queria acreditar neles. Ela nem queria acreditar que Gabriela estava a segurar Draco Malfoy pelo pescoço. Ninguém se mexia nem para os separar nem para os ajudar. Nem Crabbe ou o Goyle, que estavam totalmente aparvalhados com a cena.
- Larga-me Sangue de Lama! – Malfoy gemeu abafadamente. Mais uma vez um oohhh de admiração foi ouvido. Sangue de Lama, era a pior ofensa que se poderia dirigir a um feiticeiro.
- Sou sangue de Lama e depois? Tens problemas com isso? Tu só és muito corajoso com uma varinha na mão ou quando estás com os teus amigos! – Gabriela retorquiu cada vez mais furiosa e vermelha.
- O que vem a ser isto?
O grupo que os rodeava abriu-se e apareceu uma bruxa baixinha com a roupa coberta de terra e um chapéu na cabeça. Era a professora Sprout. Ao vê-la, Gabriela soltou Malfoy, empurrando-o para longe dela.
- Não se passa nada professora. – disse Hermione disfarçando. – Eles estavam a brincar.
- Está bem. – a professora Sprout não parecia ter fica convencida. – Vamos para a estufa três.
A professora afastou-se, mas poucos alunos a seguiram. Gabriela e Malfoy ainda estavam no mesmo sítio, lançando olhares mortais um para o outro.
- Se me voltas a tocar... – Malfoy ameaçou de varinha na mão, agora que já tinha Crabbe e Goyle ao seu lado.
- Se te volto a tocar o quê? O que é que tu me fazes? – Gabriela retorquia, sacando também da varinha. – Se eu dei conta de uma Hidra, tratar de ti era canja!
- Isto não fica assim! – Malfoy retrucou. – O meu pai vai saber disto! Ele vai vir cá e...
- Pode vir o teu pai, e o teu avô e o teu tio! Nem que viesse o Ministro da Magia! Se me chateares estás lixado! E fica sabendo, se me tornas a lançar um feitiço pelas costas, eu vou dar-te uma lição que tu nunca mais vais esquecer! – a varinha de Gabriela tinha-se tornado numa brasa incandescente. A varinha fica começado a arder e Gabriela continuava a segurá-la como se nada fosse.
Malfoy fez uma careta indecente e voltou-lhe costas, seguindo os outros Slytherin para a estufa. Gabriela continuou no mesmo lugar, ainda furiosa e a respirar com dificuldade. Voltou-se para trás, perplexa quando ouviu palmas. A varinha tinha-se apagado, voltando a ficar normal.
- Boa! – dizia Dean Thomas. – Pregaste um susto de morte ao Malfoy!
- Ele até deve ter molhado as calças! – reforçou Seamus.
- Os Slytherin nunca mais vão cantar de galo, depois desta cena! – Harry exclamou.
- Não sabias esmurrá-lo? – Ron perguntou em voz baixa, no meio de outras felicitações, enquanto entravam na estufa três. Os Slytherin tinham ocupado um canto e olhavam para os Gryffindor com ódio, principalmente, Malfoy, quando eles entram.
- Já estão cá todos? – perguntou a professora Sprout. Todos acenaram que sim. – Vamos então começar.
Enquanto tiravam os livros, Harry aproximou-se de Gabriela.
- Por que é que ias bater no Malfoy? – perguntou. – Não que ele não merecesse, mas porquê? O que é que ele te fez?
- Harry, para começar, eu já estava a ficar cheia de o ouvir a imitar-me a gozar-me, depois porque foi ele que me empurrou para a Hidra.
- Como é que sabes? – Harry perguntou ao olhar em volta, para ter a certeza que a professora não os ouvia.
- O feitiço que o professor Varatojo me fez, foi um que nos permite ver se tu foste enfeitiçado à pouco tempo. E nas minhas costas apareceu uma mancha verde. O verde não é a cor dos Slytherin? Só lá estávamos nós e eles. Achas que um Gryffindor me ia enfeitiçar?
- Tens a certeza que foi o Malfoy? – Hermione perguntou, porque tinha estado a ouvir tudo. – Então tens de ir dizer ao professor Dumbledore, para ele o castigar.
- Não. – disse Gabriela. Já estava mais calma. – Deixa lá. Eu já tratei dos meus problemas com esse Malfoy.
Ela lançou um olhar a Malfoy que lhe retribuiu outro de ódio puro. Ela prestou atenção ao que a professora Sprout estava a dizer.
Aquela aula seria sobre os transplantes dos rebentos da Explogimélia. A Explogimélia era uma árvore que dava flores vermelhas parecidas com camélias, mas que quando caiam da árvore, explodiam largando nuvens de pólen vermelhas. O que a professora Sprout os tinha mandado fazer, era irem tirar um rebento à Explogimélia sem fazer nenhuma flor cair, transplantando-o para um vaso.
Poucos minutos depois, haviam explosões por toda a estufa. Era impossível retirar os rebentos sem tocar nas flores porque a árvore estava cheia delas e elas eram grande como pratos. Neville, que apenas parecia ser bom a Herbologia, ganhou imensos pontos por ter conseguido transplantar dois rebentos sem tocar em nenhuma flor. Como é que ele tinha conseguido, ninguém sabia.
A aula teve de acabar mais cedo, porque a estufa estava tão cheia de pólen vermelho, que quase que não conseguiam ver nada no seu interior.
Os Gryffindor e Slytherin saíram, lançando olhares de ódio uns para os outros. O almoço esperava-os no Salão.
Entraram e acomodaram-se, ainda sacudindo o pólen vermelho dos mantos. Ron não conseguia parar de espirrar e Hermione já tinha sugerido que talvez ele fosse alérgico, mas ele discordou. A cena de atritos entre Gabriela e Malfoy já se tinha espalhado pela mesa dos Gryffindor (e mesmo não sendo de Hogwarts Gabriela, teve de ouvir um raspanete de Percy e as loucas felicitações de Fred e George).
Hermione também criticou a atitude de Gabriela, dizendo que não era digna de uma rapariga, mas Harry e Ron discordavam, dizendo que ela devia mesmo tê-lo esmurrado. Desenrolava-se agora uma discussão entre os três, à qual Gabriela assistia em silêncio, parecendo divertida. Quando se esticou para pegar numa fatia de bolo de chocolate, olhou para o tecto no preciso momento em que uma densa nuvem de corujas entrava pelas janelas e se misturava com o tecto enfeitiçado (que mostrava o céu azul e limpo).
- Ei! – disse ela puxando pelo manto de Harry. – Chegou o correio.
Eles voltaram a sentar-se, observando as corujas e apercebendo-se de que haviam mais do que era normal. As corujas e mochos de Castle College tinham-se misturado com as de Hogwarts, que voavam em círculos à procura dos seus donos. Uma chuva de embrulhos caiam do céu à medida que elas encontravam os encontravam.
Harry procurava Hedwig, pois já à algum tempo que não a via. Ela chegou juntamente com a minúscula Pigwidgeon de Ron e pousou no ombro de Harry, bicando-lhe uma orelha com carinho. Harry acariciou-lhe as penas e tirou-lhe a carta que ela trazia, dando-lhe um bocadinho de bolo.
Harry abriu a carta e voltou a fechá-la num instante, metendo-a rapidamente ao bolso. Hermione olhou para ele, enquanto folheava o jornal Profeta Diário.
- De quem era a carta, Harry?
Ele não respondeu e Hermione entendeu porquê. Não fez mais perguntas e observou Ron. A pequena Pig, como ele lhe chamava, tinha-lhe trazido duas cartas, uma da mãe e outra do irmão, Charlie.
- A mãe diz que está tudo bem em casa... que o pai tem trabalhado muito... – lia Ron para Fred, George e Ginny. – ... o Charlie vai ficar em casa mais ou menos um mês. Está cá a fazer um trabalho, mas não pode dizer sobre o que é. Uau! – Ron exclamou. – Ele vai ver se tem tempo para nos vir ver aqui. Ele diz que tem de falar com o professor Dumbledore.
- Quando é que ele vem? – Ginny perguntou entusiasmada.
- Ele não sabe, mas diz que nos avisa quando vier. – Ron pegou noutra duas cartas, passando uma delas aos gémeos. – Esta é para vocês e esta é para a Ginny.
Pegando nas respectivas cartas, afastaram-se. Algumas corujas ainda pairavam no ar, outras estavam junto aos seus donos nas mesas. Contudo, Gabriela olhava ansiosamente para o tecto.
- Estás à espera de correio? – Harry perguntou.
- Estou... – ela respondeu vagamente. – Espero que o Fire Wing (Asa de Fogo) não se tenha perdido.
- Fire Wing? – Hermione repetiu.
- Sim. É a minha... – Gabriela parou e os três ficaram a olhar para ela. – Vocês vão ver o que ele é quando ele chegar.
Deixando-os curiosos, em breve estavam os quatro a olhar para o tecto. Os minutos foram passando e quando Gabriela já pensava que ela não viria, a voz de Ron despertou-lhe a atenção.
- O que é aquilo?! – exclamou apontando para uma ave que tinha acabado de entrar, juntamente com mais dois mochos.
Gabriela levantou-se de um salto, parecendo feliz.
- Fire Wing! – exclamou e o pássaro desceu na direcção dela, pousando-lhe no braço. Gabriela afagou-o ao sentar-se. – Pensava que não vinhas!
Harry estava de boca aberta. O que Gabriela tinha pousado no braço, não era, de maneira nenhuma, uma coruja ou um mocho. Era uma fénix. As suas penas eram douradas e vermelhas e tinha uma cauda que devia medir meio metro. O bico era alaranjado e os olhos eram pequenos e vermelhos, e tinha uma pequena crista de penas na cabeça. Era mais pequena do que a Fawkes, a fénix de Dumbledore.
- Este é o Fire Wing. – disse Gabriela com orgulho. – É um macho e é ele que me traz o correio na escola.
- Tens uma fénix como animal de estimação? – Ron exclamou perplexo.
- Já o tenho à cinco anos. Encontrei-o quando era muito pequeno. Ainda nem tinha penas. Eu tratei dele e ele sobreviveu. Tentei libertá-lo quando chegou a adulto, mas ele não quis ir.
Gabriela chegou-se mais para eles e murmurou.
- Eu sei que as aves fénix, já de si, não são normais, mas o Fire Wing é especial. Ele faz uma coisa que eu nunca vi outra fénix a fazer, querem ver? – Gabriela procurou algo em cima da mesa. – Precisava de algo afiado...
- Uma faca? – Hermione sugeriu.
- Não, umas tesouras.
Hermione agitou a sua varinha e umas tesouras prateadas apareceram à frente de Gabriela, que pegou nelas.
- Obrigado Hermione. Agora olhem para isto. – Gabriela pegou na tesoura numa mão e na cauda de Fire Wing na outra e... SNAP! Cortou-lha, ficando com as longas penas na mão.
- O que fizeste?! – Hermione parecia horrorizada, pois Gabriela sorria, mostrando-lhes a cauda e apenas começou a contar:
- Um, dois, tre...
Uma cauda cresceu quase instantaneamente no Fire Wing, no lugar onde Gabriela lha tinha cortado e parecia ainda mais bonita e longa que a anterior. A que Gabriela tinha não, tinha pura e simplesmente desaparecido.
- É engraçado, não acham? – ela perguntou.
- Fantástico! – Harry admitiu completamente fascinado. Hermione e Ron concordaram.
- É por isso que digo que o Fire Wing é especial. – Gabriela afagou o pássaro que lhe bicou uma bochecha.
- Bem, a Pig nunca fez isso. – disse Ron apontando para a sua minúscula coruja, enquanto lhe dava bocadinhos de pão.
- E que eu saiba, a Hedwig também não. – disse Harry.
- A tua coruja é lindíssima. – Gabriela comentou apontando para Hedwig.
- É, não é? – Harry ficou orgulho e Hedwig também. – Foi o Hagrid que ma deu como presente de aniversário, quando vim para esta escola.
Gabriela começou a ler a carta. Subitamente um grande sorriso abriu-se no seu rosto. Ela pareceu ficar incrédula e voltou a olhar para carta relendo-a.
- Não pode ser! – ela exclamou. – Eles encontraram-na!
- O que foi? – Ron perguntou.
Gabriela agarrou o embrulho que Fire Wing lhe tinha trazido e abriu-o entusiasmadamente. Praguejou quando o não conseguiu desapertar o cordão, por isso, arrancou-o e abriu a tampa da pequena caixa, olhando lá para dentro. O seu olhar iluminou-se.
- BOA! – exclamou. – Mãe, és a maior!
Algo saiu de dentro da pequena caixa. Algo mais ou menos do tamanho de uma noz. Algo que era dourado. Algo que tinha umas pequenas asas prateadas e voava. Era uma Snitch que voava agora à frente de Gabriela. Ron levantou-se incrédulo. Fred e George aproximaram-se também de boca aberta.
- Tu jogas Quidditch? – Harry perguntou perplexo, mas ela não lhe respondeu.
A pequena bola dourada ficou a flutuar em cima da mesa dos Gryffindor, que se levantavam para ver. Das outras mesas, também surgiam muitos interessados, principalmente por parte dos alunos de Castle College.
- É verdadeira? Uma Snitch a sério? – Lee Jordan perguntou.
- Fantástico! – exclamaram Seamus e Dean em coro.
- Volta. – disse Gabriela abrindo a mão e a pousou lá pacificamente, recolhendo as asinhas minúsculas. Oliver Wood, quase que comia a Snitch com os olhos. Estava mais do que incrédulo. Parecia estar horrorizado.
- TU tens uma Snitch?! – Ron exclamou.
- Tenho, mas tinha-a perdido o ano passado na escola. – disse Gabriela apertando-a na mão. – Eles encontraram-na e foram-na levar ontem a minha casa e a minha mãe mandou-ma.
- Eu também tenho uma. – disse Harry, lembrando-se.
- Tu também tens uma E NÃO ME DISSESTE NADA?!? – Ron exclamou com voz desiludida e magoada.
Harry riu da cara do amigo e Hermione pediu a Gabriela para lhe deixar ver a Snitch. Ao fim de alguns minutos ela estava a passar de mão em mão.
- Ela tem um feitiço, não tem? – Hermione perguntou, enquanto os rapazes babavam. – Para não a perderes?
- Tem, mas já o tinha quando ma deram.
- É... é uma Snitch de marca oficial! Do mundial... – Wood até parecia que tinha os olhos húmidos quando olhou para Gabriela. – Onde? Onde é que tu a arranjaste?
- É segredo! – Gabriela gozou, piscando-lhe o olho e Wood passou-lha de novo.
- Já que nós temos mais duas horas antes da aula de Transfiguração, o que é que achas de irmos um bocadinho lá para fora jogar com a Snitch? – Harry sugeriu para Gabriela. – Eu também levo a minha.
- Isso era óptimo! – Gabriela parecia entusiasmada. – Mas eu não tenho uma vassoura...
- Pedimos umas à Madam Hooch. – disse Harry. – Ela empresta-nos umas de certeza.
- Gabriela?
Ela olhou para trás, para um rapaz do sexto ano e de manto roxo que estava atrás de si, que também tinha ficado nos Gryffindor. Ele era corpulento e tinha cabelos castanhos e olhos verdes-amarelados.
- O professor Varatojo pediu para avisar os alunos de Castle College que... – ele olhou para a Snitch que ela
tinha no meio das mãos. Os seus olhos abriram-se de perplexidade, mas depressa ele se controlou. – ... pediu... pediu para avisar que vamos ter uma reunião para tratarmos da escolha equipa de Quidditch.
- Eu não precisava de ir, mas pronto. Está bem, eu vou. – disse ela, mas o rapaz não tirava os olhos da pequenina Snitch.
- Eu vou lá acima buscar a minha vassoura e a minha Snitch. – disse Harry levantando-se da mesa. – Vai indo para o campo com a Hermione e o Ron. Eu já lá vou ter.
Harry desatou a correr do salão para fora e o rapaz que tinha dado o recado a Gabriela também se afastou.
- Aquele era o Nuno Martins. – disse ela para Ron. – É um dos Beaters da equipa Fénix. É muito bom jogador.
- Vamos? – disse Ron levantando-se.
Gabriela acenou e saiu com Hermione da mesa. Quando passaram pela mesa dos Ravenclaw, Nuno estava a falar entusismadamente com um rapaz de cabelos negros-azulados.
Os três saíram para fora, dirigindo-se para os campos. Ron ainda estava admirado.
- Tu jogas Quidditch? – perguntou. Gabriela corou quando olhou para ele.
- Jogo, mas só jogo sozinha e ninguém de Castle College sabe. Não contes a ninguém, está bem? – ela pediu.
- Por que é que não queres que ninguém saiba? – Hermione perguntou.
- Não quero que se saiba e pronto. – disse ela com um sorriso e um encolher de braços.
Ron conduziu as duas raparigas a um campo que ficava ao pé da cabana de Hagrid. Ali era bom para poderem jogar. Havia muito espaço e não haviam árvores por perto. Sentaram-se na relva à espera de Harry.
- À quanto tempo é que jogas? – Ron perguntou minutos depois. – Em que posição?
- Eu já jogo à pelo menos... – ela fez uma expressão pensativa – Três anos e meio. Comecei a jogar a meio do meu primeiro ano em Castle College. Jogo como Seeker.
- Sabes as regras? – Hermione, é claro, tinha que perguntar pela parte teórica do jogo.
- Queres ouvir? – Hermione disse que sim. Gabriela sentou-se direita. – Muito bem. O Quidditch é um jogo que se joga em cima de vassouras, com sete jogadores para cada equipa: Três Chasers, dois Beaters, um Keeper e um Seeker. Existem também quatro bolas: Duas Bludgers, duas bolas negras e pesadas que têm como função deitar os jogadores abaixo das vassouras. São os Beaters que as devem afastar da sua equipa e mandá-las para a equipa adversária. Há também a Quaffle, que é uma bola vermelha. São os Chasers que jogam com ela e têm de a fazer passar por uma das três balizas que o Keeper defende. De cada vez que a Quaffle passe por uma dessas balizas, que são parecidas com arcos que estão a dezasseis metros de altura, a equipa ganha dez pontos. E por fim há a pequena Snitch dourada, que é a bola mais importante do jogo. Apenas o Seeker anda atrás dela e não tem de se preocupar com mais nada. – Gabriela riu. – A não ser em ter cuidado para não apanhar com uma Bludger. A Snitch é muito rápida e muito difícil de apanhar. O jogo só acaba quando ela for apanhada e dá cento e cinquenta pontos à equipa do Seeker que a agarrar, o que deixa o jogo praticamente ganho. Acho que o jogo mais longo do mundo demorou quase seis meses. Foi entre a Rússia e o Japão, que acabou por desistir.
- Tu sabes as regras. – Ron admitiu.
- Tinha que saber, se queria jogar.
- Estão prontos?
Olharam para trás e viram Harry a chegar, carregando quatro vassouras. Ron foi ajudá-lo.
- Para que é que trouxeste quatro vassouras, Harry? – Hermione perguntou.
- Porque tu vens jogar connosco. Nem penses que vais ficar a olhar para nós. – Ron atirou-lhe uma vassoura para as mãos. – E também porque...
- Minha nossa!! – Gabriela exclamou deixando cair ao chão a vassoura que segurava nas mãos. A sua expressão era de completo espanto.
- Gabriela? Sentes-te bem? – Hermione perguntou preocupada, mas ela apenas se aproximou de Harry, com os olhos fixos na vassoura dele, como se não acreditasse no que via.
- Harry... tu, tu tens... tu tens uma F-Flecha de Fogo? – mal conseguiu dizer.
Harry sorriu divertido com a expressão da rapariga. Ron passou o braço pelos ombros de Harry e deu palmadinhas no cabo da Flecha de Fogo.
- Sim. – disse de forma solene e importante. – O Harry deve ser o único rapaz de toda a Inglaterra a ter uma Flecha de Fogo, fora a selecção Irlandesa e Inglesa.
- Bolas, não é qualquer um que tem uma super-vassoura como esta! – dizia Gabriela, observando a vassoura ao milímetro. – Harry, posso... posso vê-la?
Harry passou-lhe a vassoura e Gabriela segurou-a com muito cuidado, como se receasse que ela pudesse partir-se nas suas mãos.
- Pois é. – Ron gozou. – Não é qualquer um que pode ter uma vassoura dessas, e o Harry não é qualquer um! Ele é... ele é o Harry Potter. O nome diz tudo!
Gabriela sorria, observando a vassoura de todos os ângulos, vendo-lhe o peso, a forma, os galhos do rabo, o número de registo escrito à mão...
- A Selecção Portuguesa de Quidditch encomendou três destas belezas no ano passado e ainda não as usou. – Gabriela passou a vassoura a Harry. – Dizem que as estão a guardar para o Mundial deste ano, e continuaram a usar as sete Nimbos Dois Mil e Um. Tens muita, muita, muita sorte!
- Ah, já me esquecia! – Harry rebuscou algo no seu bolso. – Também trouxe a minha Snitch. – Ele abriu a mão e uma pequena bolinha dourada voou da sua mão. – Deram-ma como presente de aniversário.
Gabriela tirou também a sua do bolso e ficaram as duas a flutuar lado a lado à frente deles.
- Como é que vocês vão saber qual é a sua Snitch? – Hermione perguntou.
- A minha tem o meu nome gravado nela. – disse Gabriela pegando na vassoura que estava no chão. Gabriela disse volta e a Snitch pousou-lhe na mão e ela mostrou-lhes as iniciais do seu nome gravadas debaixo da asa direita: "GD".
- E o feitiço para chamar a minha é diferente. – disse Harry. – O da Gabriela é volta e o meu é pousa.
- Vamos então jogar? – Ron perguntou montando a sua vassoura.
Harry tinha trazido três vassouras Shooting Star que a Madam Hooch, a professora de voo e arbitro dos jogos de Quidditch, lhes tinha emprestados. Deixando os mantos na relva, montaram nas vassouras e batendo com os pés no chão, levantaram voo. Hermione levantou voo um pouco desajeitadamente, mas Gabriela ajudou-a. Harry e Gabriela libertaram as suas Snitch e depois divertiram-se a tentar agarrá-las.
Faziam loopings, curvas apertadas, acrobacias... Harry e Gabriela foram uma vez atrás da mesma Snitch, fazendo ziguezagues para se despistarem um ao outro, mas acabaram por agarrar a Snitch ao mesmo tempo. Rindo como loucos, largaram-na e voltaram a persegui-la. Contudo, a Flecha de Fogo deixava a Shooting Star de Gabriela muitas vezes para trás, embora ela não se estivesse a dar nada mal na vassoura menos potente. Pelo meio de acrobacias ela quase que se conseguia pôr ao nível de Harry. Ele achava que ela, numa boa vassoura, seria tão boa a jogar como ele.
Estavam tão divertidos que nem repararam num pequeno grupo de pessoas de mantos roxos que os observavam com interesse.
Cerca de duas depois, Ron e Hermione já estavam cansados e já tinham pousado, ficando sentados na relva a ver Gabriela e Harry a jogar e eles lá teriam ficado se não fossem ter uma aula a seguir. Desceram e foram entregar as vassouras à Madam Hooch e guardando as respectivas Snitch correram para o castelo.
A aula que tiveram a seguir foi a aborrecida aula de História da Magia. O professor Binns falou sem parar, embora quase ninguém lhe estivesse a prestar atenção. Harry, que estava quase a adormecer, quase deu um salto na cadeira quando a Hermione, com a voz propositadamente aguda para o acordar, respondeu a uma pergunta.
Após História da Magia, as aulas já tinham acabado e eles dirigiram-se para a sala comum dos Gryffindor, sentando-se nos sofás a conversar. Ron apareceu depois com o seu tabuleiro de Xadrez.
- Alguém quer jogar? – perguntou e Gabriela aproximou-se dele.
- O que é isso? – perguntou.
- É um tabuleiro de Xadrez de Feiticeiro. – Ron explicou tirando as peças brancas e pretas. – Queres jogar?
- Está bem. – Gabriela ocupou a outra cadeira da mesa. – Já joguei Xadrez Muggle, mas nunca joguei Xadrez de Feiticeiro. Acho que deve ser a mesma coisa, certo?
- Cuidado! – Harry avisou divertido. – O Ron é um óptimo jogador.
- Vamos lá a ver. – disse Gabriela escolhendo as peças brancas.
Começaram a jogar. Após Gabriela se ter apercebido que as peças se moviam sozinhas e como se jogava, ela melhorou muito o seu jogo. Apesar de tudo, Ron tinha ganho, mas tinha sido uma vitória sofrida.
- Vamos a outra partida? – Gabriela perguntou, mas interrompida pelo rapaz com quem já tinha falado à hora de almoço, o Nuno Martins.
- Talvez mais tarde. – disse ele. – Agora temos de ir à reunião, lembras-te?
- Já quase que me tinha esquecido. – Gabriela levantou-se. – Mas não sei o que vou lá fazer. Que diferença faz, se eu não estiver lá para fazerem a escolha da equipa de Quidditch?
- Faz muita diferença! – disse Nuno entusiasmado. – Têm estar lá todos os alunos.
- Está bem. – Gabriela encolheu os ombros e pegou no seu manto, olhando para os outros disse: – Até já.
- Até já. – disse Hermione ao vê-la sair com mais nove alunos de Castle College que estavam nos Gryffindor.
- E eu também vou ter treino. – Harry também se levantou e pegou na sua vassoura. – Até logo.
Harry saiu pelo buraco da parede com Fred, George, Wood, Angelina, Katie e a Alicia. Ron e Hermione ficaram na sala comum. Aproveitaram para fazer os trabalhos de casa, ajudando Neville.
Harry voltou meia hora depois, com uma cara mal disposta e pior do que ele estavam Fred e George.
- Já chegaram? O que se passou? – Hermione perguntou, com os olhos fixos no livro de Runas Antigas.
- Foram os Slytherin, foi o que foi! – Fred exclamou furioso. – Eles puseram-nos fora do campo, porque tinham uma autorização do Snape. O Wood foi agora falar com a MacGonagall. Isto não pode ser assim! Nós tínhamos marcado o campo para nós!
Fred e George foram reclamar para longe deles, discutindo com Lee Jordan e outros alunos do sexto ano, quando Gabriela surgiu com os outros alunos de Castle College através do buraco. Ela parecia vir imensamente feliz.
- Não te esqueças! – disse Nuno Martins que tinha uma expressão tão satisfeita como ela. – Temos treinos em breve.
- Está bem. – disse ela antes de saltar para o sofá, para o lado de Harry. – Vocês não sabem o que me aconteceu! É fantástico!!
- O que foi que se passou? – Ron perguntou ao vê-la tão entusiasmada.
- Eu fui à reunião com o professor Varatojo para escolhermos os alunos que vão fazer a nossa equipa de
Quidditch e eu nem queria ir, mas ainda bem que fui... isto é fantástico! – dizia Gabriela que perecia estar eléctrica.
- Tem calma! – disse Hermione. – O que se passou afinal?
- Nós já escolhemos a nossa equipa de Quidditch. E eles já tinham escolhido o nosso Seeker que ia ser o Luís Carvalho da equipa Mocho e que está agora nos vossos Hufflepuff, mas o Leon, sabem aquele rapaz de cabelo preto que estava com a Pandora? Ele disse que me tinha visto a jogar hoje à tarde, quando nós estávamos no campo, e exigiu que EU fosse a Seeker de Castle College! – Gabriela falava sem parar e muito depressa, de tão entusiasmada que estava. – Eu perguntei-lhe se ele estava maluco, mas ele disse que não estava! Até o professor Varatojo disse que me tinha visto a jogar e que eu era a melhor escolha! Imaginem! Primeiro perguntaram se ele estava maluco, mas depois todos concordaram e agora eu sou a Seeker de Castle College! Eu vou jogar pela minha escola!
- Parabéns! – exclamou Hermione. – Tu mereces. Jogas muito bem.
- Ei Harry, acho que agora tens concorrência! – disse Ron dando-lhe uma cotovelada.
- Concorrência? – Gabriela perguntou refreando um pouco o seu entusiasmo.
- Sim, – Ron explicou – Castle College vai jogar contra as equipas de Hogwarts, certo? Pois olha, o Seeker dos Gryffindor é o Harry!
- Oh Harry, eu não sabia! – disse ela perplexa. – Agora vamos ter de jogar um contra o outro!
- Estou muito contente por ti. Ainda bem que vais ser a Seeker de Castle College. – disse ele. – Tu és boa jogadora e eu queria mesmo jogar contra ti. Vai ser um bom jogo, quando for o Gryffindor contra Castle College.
- Obrigada, Harry. – Gabriela sorriu-lhe. – Eu também estou desejosa de jogar contra ti!
Harry estava feliz por ela, mas tinha a impressão que Wood não ia gostar nada daquilo quando soubesse que Gabriela ia ser a Seeker de Castle College. Ele não ia gostar mesmo nada.
