IX
A Aula de Adivinhação
A notícia de que Gabriela seria a Seeker de Castle College espalhou-se pela escola à velocidade da luz. Com esta súbita atenção concentrada nela, muitos alunos apenas agora se apercebiam de que ela era a única aluna do quarto ano e todos faziam a mesma pergunta: Porquê?
Quem também não tinha recebido a notícia com muito entusiasmo, tinha sido Oliver Wood que desatara aos gritos em plena sala comum dos Gryffindor, estando todos os alunos de Castle College presentes. Eles tinham ficado um pouco incomodados com a reacção de Wood.
A tenção crescia à medida que o mês de Outubro se aproximava, por três razões: iniciava-se a época de Quidditch com o primeiro jogo, haveria a primeira viagem a Hogsmead e havia também o banquete de Halloween.
As aulas prosseguiam como normalmente e Hagrid nunca mais trouxera animais com mais de vinte metros para as aulas, embora que, de vez em quando, ainda se lembrasse de levar cada animal que os alunos tinham vontade de fugir a sete pés. Os duros treinos de Harry também continuavam, de manhã e à noite todos os dias, se bem que, mais tarde, Wood decidira dar-lhes uma pausa, esquecendo os treinos de manhã aos Domingos.
Uma coisa boa que também tinha acontecido é que Malfoy, naqueles últimos dias, não os tinha chateado. Nem sequer se aproximava deles. Ron costumava gozá-lo, dizendo que ele tinha medo a Gabriela. Riam-se muitas vezes com isso, sobretudo da cara que Malfoy fazia.
Naquele dia de Segunda-feira, o sol ainda estava quentinho e convidativo para dar um passeio pelos campos de Hogwarts. Alguns alunos passeavam preocupados. Harry era um deles.
- Harry, queres fazer o favor de te acalmares um pouco? – resmungou Hermione farta de o ver a andar para trás e para a frente. – Estás a estragar a relva e a cortar-me a minha concentração! Se eu tiver má nota nos trabalhos de casa de Runas Antigas, a culpa vai ser tua!
Harry, Ron e Hermione estavam na relva verde dos campos de Hogwarts a fazerem os trabalhos de casa. Quer dizer, a Hermione estava a fazer os trabalhos de casa. Ron estava deitado a olhar para o céu azul e Harry andava impacientemente de um lado para o outro.
- Desculpa, Hermione. – disse sentando-se ao lado de Ron. – Mas estou preocupado. Hoje sai o calendário dos jogos. O primeiro jogo é já no Domingo! – Ron levantou-se e olhou para ele. Hermione deixou os seus trabalhos de casa durante uns minutos. – E depois... o Sirius escreveu-me à quase uma semana. Apenas dizia que estava bem, mas que tinha de se esconder. Dizia que andavam pessoas atrás dele.
- Pessoas? – Ron repetiu. – Dementors?
- Não sei, ele não disse. – Harry suspirou. – Apenas me disse que estava escondido e que estava bem e que me escreveria assim que pudesse. Ele ainda não escreveu.
- Aposto que ele está bem, Harry. – Hermione tentou tranquilizá-lo. – Se calhar, ele não te pode escrever porque tem medo que essas pessoas possam apanhar as cartas que ele te manda.
- A Hermione tem razão. – Ron reforçou. – Ele está bem. Não há razões para ficares preocupado. Relaxa um pouco, como eu! – Ron fechou os olhos e voltou a deitar-se na relva.
- Pois, como ele, que nem sequer ainda começou a fazer os trabalhos de casa... – Hermione resmungou entre deles, folheando o grosso livro que tinha nos joelhos.
Harry fixou o olhar no lago, onde a Lula gigante nadava calmamente. Ele esperava que os seus amigos tivessem razão.
- Harry! Ei Harry! Harry Potter!
- Oh não! Será possível?... – Harry gemeu com medo de olhar para trás, pois ele já conhecia aquela voz. E aquela voz pertencia a uma pequena melga que era seu admirador. Harry voltou-se e deu um suspirar de desespero.
Quem vinha a correr a toda a velocidade pelos campos era Colin Creevey, um rapazinho que Harry tinha conhecido à três anos atrás. Ainda trazia ao pescoço a maldita câmara fotográfica.
- Olá Harry! – disse ele sorridente.
- Olá Colin. – disse Harry inexpressivamente. O que lhe faltava agora, era ter de aturar aquele miúdo. Se ele lhe pedisse uma fotografia...
- Olha Harry, já viste o calendário dos jogos? Já? Acabou de sair! O Filch foi agora pô-lo no hall de entrada.
- Não ainda não vimos. Qual é o primeiro jogo? – Ron perguntou.
- O primeiro jogo é... – Colin tirou um pequeno papel do bolso. – Slytherin contra Castle College. Vamos jogar contra os estrangeiros.
- Caramba, a Gabriela vai ter logo o primeiro jogo contra os Slytherin. Vai ser bonito, vai. – disse Ron.
- E os outros jogos?
- Depois é o Ravenclaw contra Hufflepuff. O terceiro jogo é Gryffindor contra Slytherin. Depois Ravenclaw contra Castle College. Depois é Slytherin contra Hufflepuff. Depois é Gryffindor contra Ravenclaw, depois Hufflepuff contra Castle College, depois Gryffindor contra Hufflepuff, a seguir Slytherin contra Ravenclaw e o último jogo será Gryffindor contra Castle College.
Harry ficou um pouco confuso com tudo aquilo. Poucos segundos depois já não sabia quem é que iria jogar contra quem.
- O que vale Harry, é que tu só vais jogar contra a Gabriela no último jogo. – Ron comentou. – A equipa de Castle College é a primeira e a última a jogar.
- Sim. – Hermione concordou guardando os seus livros. – Vais ter tempo de ver como ela joga.
- Vocês conhecem a Seeker de Castle College? Conhecem? Ela fala com vocês? Acham que ela me deixava tirar-lhe uma foto? – perguntou Colin parecendo entusiasmado.
- Oh céus! – Harry pensou batendo com a mão na testa.
- Por falar na Gabriela, onde é que ela está? Tenho de lhe devolver um livro que ela me emprestou. – disse Hermione levantando-se da relva.
- Ela não tinha dito que tinha treinos hoje? – Ron perguntou. – Se assim for, ela deve estar no campo de Quidditch. Vamos até lá?
- Vamos. – disse Harry, que já se tinha esquecido um pouco da preocupação que sentia por causa de Sirius. Pelo menos poderia distrair-se um pouco.
- Posso ir com vocês? Posso? Posso? – Colin perguntou.
- Claro. – disse Hermione apesar do olhar carrancudo de Harry. – Vamos.
Pegando nas suas mochilas, os quatro atravessam os campos em direcção ao estádio de Quidditch.
- Harry, essa Gabriela de Castle College anda no quarto ano contigo, não é? – Colin perguntou enquanto andavam.
- É. – Harry respondeu.
- E ela é a única aluna do quarto ano? Os outros de Castle College são do quinto e sexto ano, não são?
- Sim, ela é única aluna do quarto ano.
- E porquê? Por que é que ela é a única do quarto ano?
- Não sei! – Harry exclamou irritado. – Olha Colin, se queres saber por que é que não lhe perguntas? Ela diz-te!
- Está bem. – Colin continuava entusiasmado e isso desesperava Harry. Ron riu e pôs-lhe a mão no ombro.
Já viam ao longe o campo circular do estádio, mas não estava lá ninguém. O campo estava vazio.
- Onde é que está toda a gente? – Ron perguntou olhando em volta.
- Ron, – Hermione chamou-o com um tom de troça na voz – olha lá para cima.
Ron olhou para o céu e viu um grupo de sete pessoas em cima de vassouras, paradas no ar. Uma delas falava e as outras seis que o rodeavam, ouviam. Não quiseram chamar por Gabriela, após a terem visto ligeiramente afastada dos outros. Ao fim de alguns minutos, todos se separaram e começaram a voar pelo campo. Gabriela viu-os e desceu até ao pé deles.
- Olá Harry, Hermione, Ron. – disse ela sorrindo. Depois olhou para o rapaz que estava com eles.
- Este é o Colin Creevey. – disse Hermione. – Ele também está nos Gryffindor, no terceiro ano.
- Prazer em conhecer-te Colin. – Gabriela apertou a sua mão contra a de Colin que corou. – Bela máquina fotográfica.
- São giros, os vossos equipamentos. – Hermione comentou.
- Gostam? Estamos a estreá-los pela primeira vez. – Gabriela explicou. – Em Castle College os nossos equipamentos têm as cores das nossas equipas, mas como vamos jogar pela escola sem distinção de equipas, os nosso equipamentos tinham que ter as cores da escola, ou seja, o roxo.
Harry observou o equipamento dela. Usava uma camisola roxa com os colarinhos e os punhos a dourado e umas calças justas de cor violeta e botas pelo joelhos e luvas até aos cotovelos pretas. Só lhes faltava os mantos, que estavam pousados na relva. Os equipamentos eram muito parecido com os de Hogwarts, Harry pensou.
- Posso tirar-te uma fotografia? – Colin perguntou timidamente.
- Humm... – Gabriela fez uma expressão pensativa. – Pode ser, mas com uma condição: O Ron, a Hermione e o Harry ficam comigo na foto.
Harry não queria e começou a afastar-se de fininho.
- Ná, ná! Onde é que pensas que vais Harry Potter? – Gabriela agarrou-lhe por um braço. – Vá lá! Assim posso mandar aos meus pais para eles verem os novos amigos que eu arranjei em Hogwarts! – depois segredou baixinho enquanto arrastava. – Não te preocupes! Os meus pais não sabem que és o famoso Harry Potter e eu não vou mostrar esta fotografia a ninguém.
- Se tu o dizes...
Hermione e Ron sentaram-se na relva e Gabriela e Harry ficaram em pé por detrás deles. Ela olhou para trás.
- Uau! A paisagem de fundo vai ser a cabana do Hagrid. Vê-se daqui. Ai! – Gabriela rebuscou algo dentro da camisola. Tirou a sua Snitch para fora. Resmungou e passou-a para as mãos de Harry. – Ela nunca sabe ficar quieta no meu bolso! Toma, segura aí.
- E o que é que eu faço com ela? – Harry perguntou confuso.
- Olhas para o Colin e dizes "Giz"! – Gabriela riu e pôs um braço por cima dos ombros de Harry e com a outra mão elevou a sua vassoura por cima da cabeça. – Vá lá malta! Vamos lá mostrar esses sorriso tamanho 33!
Harry acabou por rir e Colin disparou o flash. Os quatros foram encandeados pela luz forte e ficaram a ver estrelinhas à frente dos olhos.
Ron levantou-se, esfregando os olhos.
- Bolas! – queixou-se. – Estou a ver estrelas cadentes!
- Isso já te passa. – disse Hermione.
- Colin, quando revelares esta fotografia, dás-me uma cópia, está bem? – Gabriela pediu.
- Claro! – respondeu o rapaz entusiasticamente.
- Vem aí o resto da tua equipa. – disse Harry apontando para detrás dela.
Os cinco voltaram-se para as vassouras que tinham acabado de pousar e para as pessoas com equipamentos iguais aos de Gabriela que se estavam a aproximar.
- Não devias estar a treinar? – perguntou um rapaz aproximando-se de Gabriela, que ficou automaticamente vermelha.
- D-desculpa Leon. Só os vim cumprimentar. – a equipa rodeou-os. Ela voltou-se para Harry. – Deixem-me apresentar-vos a minha equipa: Este é nosso Capitão e Chaser, Leonardo Alves. Aquelas são a Claudia Freitas e a Isabel Castro, que também são Chasers. Este é o nosso Keeper, Rui Rocha e os nossos Beaters estão ali atrás, são o André Ferreira e o Nuno Martins. Equipa, estes são a Hermione Granger, o Ron Weasley, o Colin Creevey e o Harry Potter.
- O quê? Harry Potter? – exclamou Claudia Freitas, uma rapariga de cabelos castanhos escuros, incrédula apontando para a sua própria testa. – Aquele Harry Potter?
- O único e o original! – Gabriela gozou. – Eu estou na turma dele, nos Gryffindor.
- Caramba! – exclamou André Ferreira, um rapaz baixo e forte coçando a cabeça. – O Harry Potter.
- Ele é o Seeker dos Gryffindor. – Gabriela acrescentou.
Naquele momento toda a equipa vestida de roxo desatou aos murmúrios, fixando os olhares na testa de Harry. Leonardo Alves, um rapaz alto, com um sorriso contagiante e uma curiosa madeixa branca no cabelo negro que eles já tinham visto antes, avançou para Harry e estendeu-lhe a mão, apertando-a.
- Vai ser um prazer jogar contra ti, Potter. – disse. – Só é pena que nos encontremos no último jogo.
- Não vais perder pela espera. – disse Harry em resposta.
- Espero bem que não. – sorriu e voltou-se para o resto da equipa. – Vamos lá equipa! Temos treinos para fazer! Temos de mostrar quanto vale Castle College!
Todos concordaram e subiram para as suas vassouras. Apenas Gabriela ficou para trás.
- Vão ficar a ver?
- Se o vosso capitão não se importar... – disse Harry inseguro.
- Ele não se importa. O Leon as vezes gosta de se exibir quando estão raparigas por perto. – Gabriela piscou o olho a Hermione. Montou a sua vassoura. – Tenho de ir. Até Já!
Gabriela levantou voo enquanto Ron, Harry, Hermione e Harry subiam para uma das altas bancadas para verem os treinos. Instalaram-se e foram observando.
- Olá crianças. Não têm aulas?
Os três deram um salto nas cadeiras ao ouvirem aquela voz. Voltaram-se e viram alguém na fila de trás.
- Professor Varatojo! – Harry exclamou. – Não o tínhamos visto aí.
- Isso é porque eu acabei de chegar. – riu o professor passando a mão pela barba cura e cinzenta. – Uma materializaçãozita rápida para poder vir ver como estão a ir os treinos.
- Materialização? Fantástico! – Ron exclamou. – O meu pai também faz isso algumas vezes. Estou morto por poder aprender também.
- Bem, Sr. Weasley, ainda vai demorar algum tempo até aprender a materializar-se. – disse Varatojo.
- Que pena... – Ron pareceu ficar desiludido.
Voltaram de novo a atenção para o jogo que a equipa roxa estava a fazer. Os Chaser passavam a Quaffle a alta velocidade entre eles e arremessavam-na com força contra as balizas do Keeper. Certa vez foi tão forte o arremesso que o Keeper apanhou com a Quaffle no estômago e entrou pela baliza a dentro. Harry nem queria pensar no que iria acontecer a Wood se apanhasse uma bola como aquela.
Os Beaters também estavam a fazer um bom trabalho, afastando as Bludgers dos seus colegas batendo nelas com força com os tacos. Por fim, Gabriela estava uns metros acima dos seus colegas, com cara de quem estava a procurar algo. Subitamente meteu velocidade e mergulhou para o lado esquerdo do campo.
- Estás a vê-la Harry? Estás? Estás a ver a Snitch? – perguntava Colin sem parar.
- Estou Colin, mas não vou poder segui-la se tu não te calares. – os olhos de Harry moviam-se rapidamente por detrás dos óculos, enquanto ele tentava seguir aquele brilho dourado que Gabriela seguia.
- Eu não estou a vê-la. – disse Hermione após se ter esforçado bastante. – Desisto.
Até Gabriela a tinha deixado de ver. Tinha parado, olhando em volta. A Snitch tinha desaparecido. Contudo, as Bludgers não, e ela teve de dar uma cambalhota na vassoura para escapar a uma que lhe passou rente pelo braço. Depois recomeçou a voar a alta velocidade. A Snitch estava perto da bancada onde eles estavam. Fazendo curvas e ziguezagues por entre os seus companheiros e escapando às Bludgers, Gabriela tentava por tudo pôr a mão na pequena bolinha dourada.
- Aaaa Harry?
Harry sentiu uma voz nervosa a agarrar-lhe o braço. Era Ron. Parecia muito nervoso e olhava para o seu lado direito.
- O que foi Ron?
- A Gabriela está a vir para aqui a alta velocidade...
- Não está nada. – Harry riu sem olhar para onde o amigo olhava.
- Acho que é melhor dares-lhe ouvidos Harry! – Hermione guinchou. – É que ela está mesmo a vir para aqui!!
Harry olhou para a sua direita e viu Gabriela quase deitada sobre a vassoura, a dirigir-se para eles a alta velocidade. A Snitch vinha à sua frente. Harry só teve tempo de se baixar no banco e fechou os olhos. Sentiu uma corrente de ar a passar por cima dele, abanando-lhe o cabelo. Depois levantou a cabeça.
- Desculpem! – ouviram Gabriela a gritar enquanto se afastava.
- Ela é maluca! – Hermione exclamou retirando os cabelos da frente dos olhos.
- Concordo! – disse Ron pálido.
Harry mal conseguia falar. Tinha sido um grande susto, pois pensou que Gabriela a ia bater contra eles.
- Mas foi uma boa manobra. – disse Varatojo atrás deles, passando a mão pelo cabelo despenteado. – Ela conseguiu apanhar a Snitch.
Gabriela aproximava-se deles a alta velocidade, com uma pequena bolinha dourada apertada na mão. Parecia preocupada quando parou a vassoura à frente deles.
- Desculpem. Eu não queria voar tão baixo. Estão todos bem?
- Sobrevivemos. – Ron resmungou.
Ela fez um sorriso envergonhado e afastou-se. Soltou a Snitch e voltou a persegui-la.
Meia hora depois, já estavam todos os jogadores no chão. Tinham de acabar os treinos porque havia outra equipa que o queria usar. Juntamente Harry e os outros, o professor Varatojo desceu da alta bancada para o campo.
- Eles estão mais lentos do que são na realidade. – disse ele ao descer para Harry quando ele lhe perguntou que vassouras usavam em Castle College. – Cada um tem a sua própria vassoura, mas ninguém as trouxe porque não sabiam se ficariam na equipa. Vamos ter de as mandar vir de Portugal.
Atravessaram o campo e juntaram-se ao resto da equipa.
- Ei professor, aqui a pequenota até sabe umas coisas. – disse Leonardo entusiasmado, pondo a mão no ombro de Gabriela que corou.
Hermione não entendeu o termo "pequenota" que Leonardo tinha usado. Gabriela apenas devia ser mais baixa do que ele apenas uns dez centímetros, apesar de ser mais nova um ano.
- Tem piada, – Leonardo continuou – tu jogas bem, mas eu nunca te vi jogar na escola. Ela não faz parte da tua equipa, pois não, Nuno?
- Não. – disse Nuno Martins. – O Seeker da Equipa Fénix é o Francisco Coelho.
- E também não me lembro de te ver muitas vezes pelos corredores. – disse Leonardo para ela. – Só te vi algumas vezes no salão durante as refeições.
- Eu consigo passar despercebida. – Gabriela respondeu em voz baixa, estando muito corada. – Mas podes ter a certeza que eu ando lá na escola à quatro anos.
- Bem, mas ainda bem que vais jogar. Agora és a nossa Seeker! – Leonardo concluiu sorrindo. Olhou para o relógio. – O nosso tempo acabou malta, vamos para os vestiários. Professor? Posso falar consigo? – Leonardo correu trás do professor Varatojo e voltou-se para os outros. – Vão indo. Eu vou já.
- Tenho de ir trocar de roupa. – disse Gabriela. – Vocês esperam um bocadinho?
- Esperamos. – disse Harry. – Ainda temos uma hora antes da próxima aula. Íamos ter Astronomia, mas o professor Sinistra está doente. E a seguir temos...
Ron sorriu e fez uma voz assombrada. Falou baixinho e arrastadamente, apontando para Gabriela, interrompendo Harry.
- Aula de Aaaadivinhaçãooooo... Tu vais ter um futuro negro, mmmmmuitooooo negrooooo...
Gabriela desatou às gargalhadas com a imitação de Ron da professora Trelawney.
- Hermione, queres vir comigo? – perguntou. Ela aceitou. – Estou cá fora em dez minutos, rapazes.
Gabriela e Hermione afastaram-se, deixando Harry, Ron e Colin sozinhos. Colin voltou-se para eles.
- Eu vou ter aula agora e está quase a tocar. Até logo Harry! – disse e depois desatou a correr para o castelo.
- Eles são uma boa equipa. – disse Ron num aviso quando Colin desapareceu. – Vencê-los não vai ser fácil.
- Sim. – Harry concordou. – Mas veremos como eles jogam quando for o jogo contra os Slytherin.
- É preciso ter azar. – Ron parecia preocupado. – Por causa da cena que aconteceu com a Gabriela e com o Malfoy e o primeiro jogo ter de ser logo entre os dois. O Malfoy vai aproveitar para se vingar, tenho a certeza.
- Concordo. – disse Harry. – Temos de avisar a Gabriela sobre o Malfoy.
- O que é que o Malfoy tem?
Harry e Ron voltaram-se para trás. Gabriela e Hermione tinham acabado de chegar.
- O Malfoy é o Seeker dos Slytherin e vais jogar contra ele no Domingo. O calendário dos jogos já saiu. Ele pode tentar vingar-se de ti no jogo. – Harry explicou.
- Ah sim? Ele é o Seeker? Não há problema! – Gabriela sorriu parecendo segura de si. – Isso é apenas mais uma razão para ganhar!
- E se ele tentar alguma coisa? Sei lá, atirar-te abaixo da vassoura? – Hermione perguntou.
- Não estou preocupada. Eu sei defender-me. – Gabriela não queria falar mais sobre o assunto. – Agora, onde é que vocês estavam a planear ir?
- À cabana do Hagrid. Ele convidou-nos o para tomar chá. – disse Harry. – Queres vir?
- Sim! Eu não fui da última vez, tive treinos. Vamos?
Harry, Ron, Hermione e Gabriela atravessaram o campo e seguiram para a cabana de Hagrid. Ao passarem ao lago, conversavam animadamente sobre a Lula gigante que estava no lago até uma voz os distrair.
- Dinis!
- Só me faltava esta... – Gabriela resmungou entre dentes. Voltou-se e falou com secura. – O que queres Pandora?
Os quatros observaram uma rapariga que pouco mais alta era do que Gabriela. Os seus caracóis loiros e longos brilhavam ao sol. Os olhos eram verdes, muito mais escuros que os olhos verdes brilhantes de Harry. Era muito bonita e o nariz pálido e pontiagudo estava bem levantado no ar. Olhava para Gabriela com desprezo. Dos uniformes, a única coisa que a diferenciava de Gabriela era o emblema verde com um dragão. E com ela estava...
- Olá Potter.
- Malfoy. – resmungou Harry.
- Ouvi dizer que ias ser a nossa Seeker. – disse a rapariga com voz afectada. – O que é que tiveste de fazer para que te aceitassem? Deves ter feito muita graxa ao director Varatojo.
- Pandora, eu sinceramente não estou para te aturar. Nem a ti nem ao teu amigo. – disse Gabriela olhando para Malfoy.
- Não te quero perto do meu namorado. – disse Pandora numa ameaça disfarçada. – Não penses que é assim que arranjas amigos. Nunca os tiveste, não vai ser agora que os vais ter, principalmente – Pandora olhou para os outros – quando eles souberem o teu pequeno segredinho...
- Pandora... – começou Gabriela corada, mas foi Malfoy que desviou a atenção daquele assunto.
- Vais ser a Seeker? – perguntou com superioridade e maldade. – Mal posso esperar pela hora de te encontrar lá em cima numa vassoura...
- Não perdes por esperar. – resmungou Gabriela baixinho, dando um passo em frente. Hermione agarrou-lhe um braço.
- Tem cuidado Draco. Sangues de Lama como ela, são do pior que há. Nem sei como é que os deixam entrar em escolas tão importantes como Castle College ou Hogwarts. – Pandora observou Hermione com cuidado.
- Sim, há muitos Sangues de Lama em Hogwarts. O meu pais diz que Dumbledore não sabe dirigir esta escola. – Malfoy continuou. – Ele diz que um Director decente não os deixaria entrar. Mas olha que há alguns feiticeiros que não se importam de se misturar com os feiticeiros de sangue impuro. – Malfoy olhou para Harry. – E há outras família de sangue puro que também não deviam estar nestas escolas importantes. Não têm onde cair mortos. – aquela tinha sido dirigida a Ron que fechou os punhos.
- Não duvido. – Pandora confirmou. Depois voltou-se para Gabriela e avisou. – Não chegas perto do Leon, senão...
- Pandora, o que se passa?
Leonardo aproximou-se deles e abraçou Pandora.
- Nada Leon. – disse ela com uma simpatia forçada. – Eu e a Gabriela estávamos a conversar. Eu acabei de saber que ela vai ser a nossa Seeker.
- Sim! – Leonardo ficou entusiasmado, olhando para Gabriela. – Ela joga muito bem. Temos uma boa equipa!
- Leon, este é o Draco Malfoy. Ele é o Seeker dos Slytherin. – disse Pandora e eles apertaram as mãos.
- Vou para o castelo, queres vir? – Leon apontou para o castelo.
- Sim. – disse Pandora. Voltou-se para Gabriela. – Até logo, e não te esqueças do que eu te disse.
- Até Domingo. – disse Malfoy com cinismo para Gabriela e afastou-se com Leon e Pandora.
- Se o Leon soubesse a cobra que tem como namorada... – murmurou Gabriela entre dentes.
- Pelo que eu entendi, ela e o Malfoy foram feitos um para o outro. – Hermione concordou com Gabriela.
- Deixem-nos. – disse Harry também com um ar carrancudo. – Vamos ter com o Hagrid.
Embora irritados, seguiram Harry até à cabana de Hagrid e bateram à porta. Ouviram um forte ladrar do outro lado e a porta pesada abriu-se.
- Olá! – disse Hagrid sorridente. – Entrem, entrem! 'Tou acabar de fazer chá e bolinhos.
Eles entram atrás de Hagrid, com caras carrancudas e sentaram-se na grande mesa que ocupava aquele espaço. Na lareira estava um grande bule de chá ao lume.
- O que s' passa? – Hagrid perguntou quando pôs os bolinhos em cima da mesa e bombons de melaço. Harry lembrava-se bem deles. Foi buscar o chá e deitou nas chávenas à frente deles. – 'Tão muito calados.
- Não é nada Hagrid. – Hermione falou. – Nós é que encontramos o Draco Malfoy e uma aluna de Castle College pelo caminho...
- ... E tivemos uma conversa que não foi nada agradável. – Ron finalizou.
- Oh, 'tou a ver. – Hagrid bebeu da sua chávena do tamanho de uma bola de Futebol. – Quanto ao Malfoy, eu já nã' digo nada. Vocês sabem o qu'eu penso da família dele. Má rés. Muito má rés. Quanto a alunos de Castle College, nós devemos tratá-los bem para causar uma boa impressão...
- A pessoa em questão não merece que a tratem bem, Hagrid. – Gabriela interrompeu. Fang aproximou-se dela e Gabriela começou a coçar-lhe as orelhas. – A Pandora chamou-me Sangue de Lama a mim e indirectamente à Hermione.
- Sangue de Lama! – Hagrid exclamou como que ofendido. – Nã' s' deve chamar isso a ninguém! É um dos piores insultos qu' há!
- Era isso o que eu queria dizer.
Hagrid ficou pensativo durante uns minutos. Depois sorriu. Tinha de alegrar os miúdos.
- Ouvi dizer qu' ias ser a Seeker de Castle College. É verdade, nã' é?
Gabriela parecia que tinha sido apanhada de surpresa. Ficou embaraçada.
- Bolas, para uma escola tão grande, aqui as notícias correm depressa. – disse. – Sim, é verdade e o primeiro jogo é já no Domingo.
- 'Tás nervosa?
- Ainda não tive muito tempo para pensar no jogo. As aulas e o treinos têm-me distraído um pouco sobre isso. Mas espero sair-me bem.
- Aqui o Harry é o melhor Seeker qu' esta escola já viu! – exclamou Hagrid orgulhoso, dando uma palmada no ombro de Harry. Os óculos lhe saltaram da cara e Harry voltou a colocá-los no nariz. – Ele é o Seeker mais jovem qu' alguma vez jogou em Hogwarts, desde à um século! O melhor dos melhores!
- Oh Hagrid! Que exagero! – Harry retorquiu corado e envergonhado.
- Bem, eu só espero estar à altura dele. – disse Gabriela.
- Ná, não acho... – Ron gozou. – Ele é um rapaz!
- Ron! – Hermione exclamou incomodada, mas todos riram. Era obvio que Ron só estava a brincar.
A tarde acabou por ser muito melhor. Divertiram-se com a cara de Gabriela quando ela viu o tamanho real de Fang e com a cara de Ron quando ele comeu um bombom de melaço e os seus maxilares ficaram colados e ele não podia falar. Contudo ninguém tocou nos biscoitos duros de Hagrid. Disseram que não tinham fome para escaparem a partir os dentes se os trincassem.
- Até amanhã Hagrid! – disse Harry quando eles saíram para fora.
- Até amanhã! – disse ele abanando a sua grande mão.
- Está quase a tocar. – disse Hermione. – Vamos ter de correr.
- O último a chegar é burro! – Gabriela gritou, desatando a correr.
- Isso é batota! – gritou Ron. – Tu partiste primeiro do que nós!
Os quatro correram como loucos para porta do castelo e subiram apressadamente as escadas. Harry estava mesmo atrás de Gabriela. Depois apanhou-a nas escadas e correram lado a lado.
- Cheguei primeir... – Gabriela ia a dizer mas...
PUM!!!
Ela e Harry bateram contra algo e caíram para trás de costas. Harry ficou meio tonto quando se levantou. Ajeitou os óculos e olhou em frente.
- Não sabem ver por onde andam? – disse uma voz fria como gelo.
- Snape! – Harry murmurou completamente gelado. Eles tinham batido contra o professor Snape. Gabriela tirou o cabelo da frente da cara e ficou lívida ao ver contra quem tinha batido.
Ambos esperaram que o professor berrasse com eles ou lhes retirasse pontos, mas Snape apenas lhes lançou um olhar gelado e afastou-se rapidamente com a capa negra a esvoaçar atrás dele.
- Que sorte! – disse Ron ajudando-os a levantarem-se. – Pensei que eles vos ia tirar pontos ou dar-vos um castigo!
- De facto, foi uma sorte... – começou Harry, depois ficou desconfiado – ... o que não é normal.
- Esqueçam lá se é normal ou não! Depois vemos isso! – guinchou Hermione repreendendo-os. – Ainda temos de ir buscar os livros para a próxima aula. Vamos para cima.
Seguiram agora mais calmamente pelas escadas até à sala comum dos Gryffindor, com Neville, Seamus e Dean que tinham encontrado pelo caminho. Pegaram nos livros e despediram-se de Hermione, que iria ter uma aula diferente.
- Vamos lá aturar a Trelawney... – disse Ron dengoso, andando devagar, como se estivesse contrariado.
- Não fales mal dela Ron! – Gabriela gozou. – Olha que ela pode agora estar a ver-nos pela sua bola de cristal e ainda te lança uma praga!
- Ela pode fazer isso? – perguntou Neville nervoso.
- É claro que não! – Harry esclareceu. – A Gabriela só estava a gozar o Ron.
- Ah! Uff, por momentos fiquei nervoso! – disse Neville pondo a mão no peito, parecendo realmente aliviado.
A conversar, nem se deram conta de que a subida para a torre norte não custava assim tanto. Quando chegaram esperaram que a escada prateada descesse e subiram.
Não foi surpresa encontrar a sala meia escura, abafada e quente com aquela mistura de perfumes que lhes dava sono. Contudo, havia uma coisa diferente. Cada mesa tinha uma bola de cristal.
- Que azar! – Ron exclamou. – Vamos começar com as bolas de cristal! Eu detesto isso!
- Porquê? – Gabriela perguntou curiosa enquanto se sentavam nos puffs macios à volta de uma mesa.
- Porque ele nunca consegue ver nada! – Harry explicou.
- Não te preocupes, Ron! – disse ela. – Eu também nunca vejo nada! Só nevoeiro.
- Bem, isso já é alguma coisa. – Ron resmungou. – Eu só vejo vidro, mais nada.
- Bem-vindos crianças, a mais uma aula. – começou a professora Trelawney, sentada no seu grande cadeirão. Os óculos reflectiam as chamas da lareira. – Bem-vindos a mais uma aula em que a vossa visão interior e a vossa aura são os vossos únicos instrumentos. Como já repararam, hoje vamos começar com as previsões do futuro através das bolas de cristal. Vamos ler a página trinta de introdução. Miss Patil, queira começar.
Todos seguiram a voz de Parvati Patil, olhando para o livro. Quando ela acabou, voltaram a olhar para a professora. Ela levantou-se, com as suas pulseiras e anéis a brilhar, pondo a mão no ombro de Parvati.
- Muito obrigada, Miss Patil. – disse a professora Trelawney com um sorriso dormente. – Para podermos ver o que nos espera numa bola de cristal, temos de ter o nosso espírito aberto. Temos de estar calmos e em sintonia com o que nos rodeia. A clarividência é uma coisa que nem todos conseguem e não me espantaria se esta aula acabar e metade de vocês não tiver visto nada nas bolas. Não se preocupem. Temos tempo para alargar a nossa visão interior. – a professora fez uma pausa, olhando para os alunos através das suas grossas lentes, que mais a faziam parecer um insecto em ponto grande. – Agora vamos fazer um pequeno exercício antes de começarmos. Vamos fechar os olhos e ficar alguns momentos em silêncio. Vamos respirar profunda e calmamente. Vamos lá.
Todos os alunos começaram a olhar uns para os outros confusos, mas lá fizeram o que a professora tinha pedido. Fecharam os olhos e inspiraram, profundamente e expiraram. Muitos alunos a inspirar e a expirar fazia um barulho terrível, mas a professora não disse nada. Também ela estava de olhos fechado. Só falou uma vez.
- Sr. Longbottom, faça o favor de fechar os olhos, por favor. – ela avisou.
- Desculpe, professora. – disse Neville fechando os olhos rapidamente.
- Muito bem, já chega. Vamos então começar. – disse Trelawney. – Pratiquem com o vosso colega do lado, seguindo o livro. Nas mesas de três pessoas façam à vez. Se tiverem dúvidas, chamem-me. Eu vou andar por aí.
- Muito bem. – disse Harry. – Quem quer começar?
- Eu não! – Ron exclamou de imediato.
- Gabriela?
- Está bem. Vamos lá ver se eu vejo o que me espera no meu futuro negro, muitooooo negrooooo! – ela gozou. Aproximou-se da bola e abriu as mãos sobre ela. Fez uma expressão séria. – Diz-me bola de cristal, diz-me o que o futuro reserva a estes dois rapazes. Sim... eu estou a ver... estou a VER... eu... eu não estou a ver nada!
Ron e Harry desataram às gargalhadas devido à expressão desiludida de Gabriela. A professora Trelawney olhou para eles por cima dos óculos. Não era preciso ver numa bola de cristal que aquilo não era bom sinal.
- Agora é a sério. – disse Gabriela. Olhou com concentração para a bola e Harry e Ron esperaram.
- Já conseguiram ver alguma coisa? – perguntou Dean Thomas. – Nós não.
- Nós também não. – Harry respondeu.
- Ah, eu desisto. – Gabriela exclamou pouco depois. – A minha antena deve estar mal sintonizada, porque por mais que eu olhe, não vejo absolutamente nada, a não ser este nevoeiro amarelo. – resmungou. – Será que isto quer dizer que eu tenho de limpar a bola, porque ela está suja?
Harry ia pedir para ela o deixar tentar quando uma voz de espanto o impediu de falar.
- Ooohhhhh!!! Professora! Professora venha cá! Eu estou a ver uma coisa! – gritou Lavander Brown.
Enquanto os alunos murmuravam, a professora Trelawney aproximou-se da rapariga.
- O que estás a ver, querida? – perguntou ansiosa.
- O Harry professora! – Harry voltou logo a cabeça para Lavander. Ela estava a vê-lo numa bola de cristal? A rapariga continuou. – Estou a ver o Harry! Ele tem uma coisa na mão... uma coisa que brilha. Oh, e também estou a ver um pássaro amarelo! E... e... e uma luz verde! O que isto quer dizer professora?
Ron olhou para Harry confuso. O que é que uma coisa brilhante, um pássaro amarelo e uma luz verde tinham haver com Harry?
A professora Trelawney pôs-se atrás de Lavander e Parvati, olhando para a bola de cristal. Ficou assim durante uns minutos até se levantar, olhando directamente para a mesa de Ron, Harry e Gabriela. Parecia assustada.
Correu para a sua secretária e olhou para a sua própria bola, mas a sua expressão não mudou. Voltou a olhar para a mesa de Harry parecendo angustiada.
- Vejo-o mais claramente do que nunca! Esperava estar errada mas... estás condenada! – a professora Trelawney exclamou num esgar de horror. A face estava branca como uma folha de papel quando apontou para Gabriela.
- Outra vez? – Gabriela exclamou. – Condenada? Já?! Já há pessoas a condenarem-me? Pensei que só ia ter um futuro negro! – arfou num resmungo aborrecido. – Caramba! Arranjo inimigos mais depressa do que arranjo amigos...
- E quem é que condenou a Gabriela? – perguntou Parvati Patil, lívida.
- Foi... foi o Harry... – a professora tinha começado a chorar, limpando os olhos a um lenço cor-de-rosa.
Todos os olhos se voltaram para Harry, que sentiu uma imensa vontade de desaparecer debaixo da mesa. Até Gabriela olhava para ele admiradíssima.
- O Harry, professora? – disse Gabriela com um sorriso de troça. – Por que é que o Harry haveria de me condenar? Tu não me condenaste, pois não Harry?
- É claro que não! – Harry exclamou vermelho como um tomate, mas todos continuavam a olhar para ele.
A professora Trelawney soluçava cada vez mais alto. Ela saiu da sua secretária, atravessou a sala, deu a volta à mesa, agarrou Gabriela pelos ombros e apertou-a num abraço. Gabriela ficou com as bochechas coradas por estar a ser abraçada por uma professora e porque ela lhe estava a apertar o pescoço e Gabriela não podia respirar. A professora Trelawney continuava a apertá-la e a soluçar.
- Pobre criança! Oh, minha querida, como o teu destino é cruel... – Gabriela continuava a tentar fugir daquele abraço forçado. – O que o teu futuro te preparou... é tão injusto... estava com tantas esperanças de estar errada,
mas quando te vi... eu já sabia!
- Professora... eu... não... consigo... r-respirar! – Gabriela exclamou já a passar de vermelho para o tom violeta de quem está a ser asfixiado.
- Desculpa. – a professora largou-a e Gabriela sentou-se, massajando o pescoço e resmungando em voz baixa. As lágrimas caíam em fio pelo rosto da professora Trelawney.
- Quer ajuda professora? – Lavander Brown e Parvati Patil levantaram-se preocupadas e ajudaram a professora chorosa a sentar-se no seu cadeirão.
- Esta prof' é maluca! – resmungou Gabriela entre dentes.
- Oh, minha querida... o mundo é tão cruel... para o Harry e para ti. O Harry vai defrontar-se com um dos seus piores medos e tu... tu... – a professora continuava a dizer, olhando para Gabriela.
- O que é que me vai acontecer afinal? – perguntou Gabriela irritada.
- O teu destino está ligado ao do Harry, minha querida... – disse a professora nos intervalos dos soluços, não conseguindo olhar para Gabriela. Ela e Harry olharam um para o outro confusos. – Eu previ no início do ano, que uma pessoa que Harry iria conhecer iria morrer. Uma rapariga de cabelos castanhos, uma aluna nova que ele ia conhecer num domingo...
- E?... – Gabriela incitou a perplexa e chorosa professora Trelawney a continuar.
- Vais morrer, minha querida! De forma dolorosa... tão dolorosa às mãos de um feiticeiro das trevas ainda antes deste ano lectivo acabar... quem me dera poder impedi-lo. Vieste de tão longe só para morrer! – disse a professora com o lenço cor-de-rosa encostado aos olhos. Parvati e Lavander continuavam, uma de cada lado do cadeirão, a tentar acalmá-la.
- Ah, então é só isso? – Gabriela perguntou parecendo calma, sorrindo mesmo e recostando-se no puff.
"Então é só isso?". Aquela frase dita na maior das calmas, fez toda a turma pensar que ela tinha enlouquecido. Gabriela tinha acabado de saber que iria morrer, por que é que estava tão calma? Até Harry estava a olhar para ela, de olhos arregalados, parecendo chocado. Ela olhou em volta e explicou em voz alta.
- Antes de eu vir para Hogwarts, a Elsa Mendes, a minha professora de Adivinhação em Castle College, também disse que eu ia morrer se fizesse esta viagem. Não falava em nenhum Harry Potter, mas falava de mortes.
- E ela tinha razão. – afirmou a professora, mandando Lavander e Parvati sentarem-se. – Mas não há nada que possamos fazer, meu anjo. O teu destino está traçado e não há nada que o possa mudar e o que tiver de acontecer acontecerá. Vamos avançar com a aula.
Todos voltaram às suas bolas de cristal, mas ninguém se conseguia concentrar. Os olhares continuavam presos em Gabriela e Harry. Ela quase que podia jurar que haviam lágrimas nos olhos de Lavander e Patil.
- Oh céus... – Gabriela resmungou aborrecida, olhando para a bola.
O resto da aula continuou em silêncio, com vários olhares furtivos voltados para a mesa de Harry. Ele começou a pensar que Hermione é que tinha razão em ter desistido de Adivinhação. Se ele soubesse o iria acontecer, também teria desistido.
A campainha soou e eles ficaram felizes de finalmente sair daquele ambiente de velório. Meteram tudo dentro das mochilas e saíram para fora da sala, descendo pela pequena e frágil escada.
- Caramba, já não aguentava mais! – Harry exclamou zangado. – Duas horas ali dentro com toda a gente a olhar para mim como se eu fosse morrer no segundo seguinte! Já estava farto!
- Bem o podes dizer... – Gabriela concordou e Ron concordou com ela. – Se eu já não gostava de adivinhação, acho que passei a detestar.
Cabisbaixos, carrancudos e cansados, os três desceram da torre norte e subiram para a sala comum, esperaram que o quadro da Dama Gorda os deixasse passar (após dizerem Scorpios Astralis, que era a senha da semana) e deixaram-se cair nos sofás.
- Onde está a Hermione? – Harry perguntou a Fred e George que estavam a jogar uma partida de Cartas Explosivas.
- Ela disse que ia à biblioteca à procura de não sei o quê, para os trabalhos de casa a Poções. – disse Fred.
- Oh não! – Ron exclamou. – Ainda não fiz os trabalhos de casa a Poções! Não tenho energia para os fazer...
Os três deixaram-se ficar nos sofás e quando Hermione voltou, ela não estranhou que eles estivessem pouco faladores, pois meteu logo o nariz nos trabalhos de casa.
A luz do dia desapareceu no horizonte e eles desceram para o salão, para o jantar com os resto dos Gryffindor. Sentaram-se na mesa e esperaram pela comida. Hermione, contudo, estava mais energética do que eles e após os ter aborrecido durante dez minutos sobre os trabalhos de casa, ela apercebeu-se de que muitos alunos naquela mesa murmuravam e olhavam para na direcção de Harry e Gabriela de forma estranha.
- Por que é que estão todos a olhar para vocês? – ela perguntou.
- Hermione, depois nós contamos-te, está bem? – Harry pediu.
Ela não tocou mais no assunto e começaram a comer. Por volta da sobremesa, Ron, Harry e Gabriela já estavam mais animados. As sobremesas deliciosas tinham-lhes elevado o animo e eles já estavam mais alegres.
Estavam a comer a terceira fatia de Bolo Inglês quando um mocho castanho-escuro entrou no salão. Sobrevoou as mesas e dirigiu-se à mesa dos professores, pousando no braço do professor Varatojo. Ele tirou uma carta do bico do mocho e ele levantou voo. O professor leu-a e disse algo a Dumbledore e à professora MacGonagall e levantou-se, saindo pela porta lateral.
- O que passará? – Hermione perguntou e Gabriela encolheu os ombros, dizendo que não sabia.
- Mas uma coisa é certa. – Gabriela afirmou pouco depois. – É um assunto importante da escola porque aquele é um dos mochos-correio de Castle College.
Trocaram de assunto e comeram o resto das sobremesas. Depois seguiram para a sala comum.
- O QUÊ?!? – Hermione exclamou ao vê-los abrir os livros de Poções. – Vocês ainda não fizeram os trabalhos de casa a Poções?
- Não Hermione. – Ron resmungou.
- Mas já os deviam ter feito! – ela exclamou de novo.
- Está bem, Hermione. – disse Gabriela escrevendo no seu pergaminho.
- Mas já os deviam ter feito à muito! Se não os fizerem o professor Snape vai tirar-vos pintos e dar-vos um castigo! – ela continuo.
- Nós sabemos Hermione. – daquela vez tinha sido Harry a falar.
- Mas...
- Cala-te Hermione!!! – exclamaram Harry, Ron e Gabriela ao mesmo tempo.
Ela recuou um pouco perplexa e cruzando os braços, sentou-se no sofá parecendo zangada e amuada. Meia hora depois eles fecharam os livros e pergaminhos, com os olhos arder.
- Já acabaram? – resmungou Hermione maldisposta.
- Já, já acabamos. – respondeu Ron no mesmo tom.
- Desculpa termos sido brutos. – disse Gabriela sentando-se ao pé dela. – Mas tivemos um dia difícil e não tivemos tempo de fazer os trabalhos de casa. E ao estares a falar estavas a distrair-nos e nós queríamos acabá-los depressa, compreendes?
Hermione não respondeu, mas emitiu um grunhido e abanou a cabeça. Gabriela sorriu.
- Ei, Ron, vai uma partida de Xadrez? – perguntou.
- Claro, vou já buscar o meu tabuleiro. – Ron correu para o dormitório dos rapazes e não viu o quadro da Dama Gorda a abrir-se e uma pessoa a entrar.
- Miss Gabriela Dinis? – perguntou a professora MacGonagall.
- Sou eu. – Gabriela levantou-se e aproximou-se da professora.
- Vem comigo. O professor Varatojo quer falar contigo.
Lentamente, Gabriela levantou-se e vestiu o seu manto, lançando um olhar curioso a Hermione. Por que é que os professores queriam falar com ela?
- Eu ainda não fiz nada de mal. – murmurou ao juntar-se à professora MacGonagall e com ela atravessou o buraco da parede.
- Onde é que ela vai? – perguntou Ron ao chegar com o tabuleiro de Xadrez.
- Não sei. O que se terá passado? – perguntou Harry
- Será por causa daquela cena com o Malfoy? – Hermione sugeriu. – Ele é bem capaz de ter feito queixa dela.
Ninguém soube como responder.
Eram quase onze da noite quando Gabriela voltou. A sala comum estava quase vazia. Só lá estavam três pessoas e um grande gato cor de laranja: Ron, Harry, Hermione e Crookshanks.
- O que estão aqui a fazer? – perguntou admirada. – É tarde.
- Está vamos à tua espera. – disse Hermione.
- O que se passou? – perguntou Harry.
- O que é isso? – Ron apontou para um longo embrulho que ela tinha na mão.
- Não se preocupem, não aconteceu nada de grave, pelo contrário! – disse Gabriela aproximando-se de uma mesa, pousando lá o embrulho, começando a desembrulhá-lo. – O professor Varatojo só me chamou para eu ir buscar...
Gabriela retirou o papel castanho de cima do objecto.
- ... a minha vassoura nova! – exclamou com orgulho.
Os olhos de Harry e Ron abriram-se perante a visão daquela vassoura. O cabo era de madeira clara e fino, bem polido. Os galhos do rabo eram prateados ou até mesmo feitos de prata. Uma forte corda dourada mantinha-os firmemente presos. Na ponta do cabo estava gravada a prateado uma palavra: WindRider.
- Uau! – foi a única coisa que os dois rapazes conseguiram dizer ao fim de alguns minutos.
- Têm razão em dizer "uau". Isso foi a única coisa que eu consegui dizer quando a vi! – disse ela.
- Isto é uma WindRider? – Ron perguntou depois exclamou. – Espera lá! Uma WindRider?! Eu já li alguma coisa sobre este modelo de vassoura, na revista "Que Vassoura?" do Fred e do mês passado. Falava sobre uma vassoura de modelo Português. Li que em Portugal estavam a fazer um protótipo de uma vassoura de corrida rápida e flexível que fosse capaz de rivalizar com a Flecha de Fogo. Era muito aerodinâmica e os galhos do rabo tinham um revestimento especial para evitar que se gastassem muito depressa. O cabo era mais fino e polido para cortar bem o ar. Conseguia atingir grandes velocidades com uma simples ordem. Só existe uma, um protótipo. Onde é que arranjaste esta vassoura?
- Ron, este É o protótipo. Não existe mais nenhuma. – disse Gabriela.
- A sério? – Harry passou a mão pelo cabo.
- A única no mundo.
- E como é que a conseguiste? – perguntou Hermione.
- Foi o professor Varatojo. – Gabriela explicou. – Um dos feiticeiros fornece vassouras para a minha escola e que inventou esta vassoura é sobrinho dele e disse-lhe que a WindRider estava pronta para ser experimentada. Só faltava alguém para fazer o teste nela. O professor disse que precisava de uma vassoura rápida para uma época de Quidditch e disse que tinha a pessoa ideal para a testar: eu!
- Que sorte! – disse Hermione apesar de tudo. – Essa vassoura deve ser fantástica.
- Sim. – ela concordou. – Já há muita gente em Portugal à espera que ela sai-a para o mercado. Se eu voar nela e tudo correr bem, esta vassoura vai sair para o mercado e a Flecha de Fogo vai ter uma concorrente embora, – ela falou mais baixo – que nada nem ninguém consegue superar uma Flecha de Fogo. Eu acho que a WindRider vai ficar entre a Nimbus Dois Mil e Um e a Flecha de Fogo. Vai ser a segunda melhor vassoura do mundo.
Gabriela pegou nela e pô-la no chão. A vassoura levantou-se sozinha à altura ideal para ela subir. Agarrou-lhe o cabo e pô-la direita.
- Estou morta por a experimentar. – disse.
- Depois deixas-me dar uma volta? – Ron pediu.
- Claro! Tu e o Harry, se ele quiser.
- Claro que quero! – Harry exclamou.
- Mas isso vai ficar para amanhã. – disse Hermione. – Já é muito tarde. Temos de ir para a cama.
As raparigas desejaram-lhes boa noite e foram para os seus dormitórios. Harry e Ron subiram para os seus.
- Estou morto por ver o jogo no Domingo. – disse Harry. – Quero ver a cara que o Malfoy vai fazer quando vir aquela vassoura! Eu só quero ver...
