Capítulo Três - " O Segredo De Tia Petúnia"
Sua tia Petúnia deu um grande suspiro, esperou Harry se acomodar e começou a falar.
- Ah, Harry, como me envergonho de todos estes anos. De tudo que eu fiz! Eu sou uma vergonha, um fracasso.
Harry não estava entendendo muito bem aquela conversa de sua tia. Estava surpreso.
- Você me surpreendeu ontem. Dizendo que se preocupa conosco. Apesar destes quinze anos está vivendo, todas esta humilhações, você se importa com a gente. Isto mostra que você tem um grande coração. Poderia não ter contado nada para gente, mas contou. Me sinto orgulhosa e sua mãe também deve estar se sentindo. Tudo isso que pensava... Que sentia por você é por causa de sua mãe.
- Minha mãe?
- É, sua mãe, Lílian. Sempre tive muito ciúme de sua mãe! Sempre a mais bonita, educada, sempre se destacava em tudo. Aos dez anos, sua mãe podia tocar valsas inteiras no piano, eu nem o parabéns conseguia!
Enquanto falava com Harry, Petúnia sorria e mostrava um olhar distante.
- Sua mãe era a caçula, achava que meus pais a paparicavam mais, eu me roía por dentro. Suas festas de aniversário sempre eram as mais animadas, tinha uma porção de amigos na escola, sempre ganhava elogios de todos. Eu ficava triste, queria ser igual a Lílian, me esforçava na escola, procurava fazer o que ela fazia, mas...
Os olhos de sua tia estavam marejados. Harry percebia que ela estava se esforçando para que as lágrimas não caíssem.
- Na manhã em que completara onze anos, meu pai lhe falou que havia recebido uma carta. Eu nunca tinha recebido uma carta.
- Era a carta de Hogwarts... – Harry falou
- Era. Eu já tinha doze anos e não havia recebido, não era bruxa, estava desapontada. Eu havia puxado meus pais, realmente diferente da Lílian, depois daquela revelação estava explicado as coisas que aconteciam, coisas caindo, voando do nada. Meu pai disse para eu não ficar triste, me amava do mesmo jeito. Mas eu fiquei, fiquei muito. Me perguntava todos os dias por que Lílian era e eu não, lamentava minha sorte. Quando sua mãe voltou para o Natal nos contou sobre as coisas de Hogwarts, como eram as comidas, as pessoas, tudo. E me lamentava ainda mais, cada dia odiava mais os bruxos e minha irmã. Quando estava no terceiro ano, nos contou de Tiago. Falou que nunca tinha reparado muito bem nele até que deram uma trombada no corredor. Ele vinha correndo e não a viu, resultado: tomaram um banho de tinta. Ela brigou muito com Tiago porque, além de seu estado, suas anotações tinham ido para o espaço. Seu pai ficou detido, não podia correr no corredor e ele estava correndo. Foi aí que tudo começou... Não veio para o Natal no quarto ano, acho que era para ficar com ele. Escreveu explicando que tinha muitas lições para fazer, não queria se atrasar, e decidiu ficar por lá. No término das aulas nos contou que estava namorando o Potter. Meus pais ficaram felizes, pra mim era indiferente, tanto faz como tanto fez. Daí no Natal, Tiago passou com a gente. Pediu sua mãe em casamento. Nossos pais deixaram, é claro, mesmo que não aceitassem o namoro não iria adiantar nada. Já estava tudo acertado, quando terminassem a escola poderiam se casar.
Petúnia parou de falar. As lágrimas falavam por ela. Era estranho a ver chorar, ele sempre achou que sua tia não tinha sentimentos, mas notou que era humana. Que tinha sangue nas veias e deveria ser muito difícil para ela relembrar coisas passadas. A dor de Petúnia era visível e Harry não sabia o que fazer, o que deveria falar.
- Tia, você não tem que me falar nada. Passado é passado... Não precisa mexer nesta ferida.
- Harry, você nunca vai entender o que eu sinto agora. Sinto-me suja, por tudo que falei, das coisas que eu fiz. Veja só o que foi a minha vida. Foi um nada!
Cada vez, escorriam mais lágrimas do rosto de Petúnia.
- Estava tudo correndo muito bem, Lílian lá e eu aqui. Eu estava com 18 anos e meu pai ficou doente. Logo depois, minha mãe ficou também. Fiquei doidinha, contei para minha irmã o que estava acontecendo. Comecei a trabalhar em um supermercado. Foi aí que conheci Válter. Lílian me mandava dinheiro de bruxos, eu tinha que ir a um banco com criaturas estanhas, como eu odiava!
- Você conheceu o Gringotes.
- Nossa, eu realmente não gostava de ir lá. Aquelas criaturas, pareciam desconfiar de mim. Me perguntava onde Lílian conseguia aquele dinheiro. Nunca perguntei. Meu pai morreu. Brigamos feio. Feio mesmo. Eu dizia que ela só se importava com a vida dela, com seu noivo, que havia esquecido da gente. Disse que ela era uma bruxa de quinta categoria, não mandava mais corujas para os nossos pais. Lílian me falou que eu era uma invejosa. E, de fato, era a mais pura verdade. Falou que, só porque eu não era feliz, queria que aqueles que estivessem ao meu redor também fossem infelizes, disse que eu era infeliz. Me rogou centenas de pragas e eu também. Lílian disse que eu estava sendo injusta nas acusações, ela sofria muito também, disse que amava nossos pais, que se preocupava a todo instante, falou que estavam acontecendo uma série de coisas ao mesmo tempo tanto aqui como lá. Falou de Voldemort. Eu achei que era mentira. Ela se lamentava de não ter falado com papai.
- E sua mãe?
- Minha mãe era uma grande sensitiva, sabia tudo o que acontecia ao nosso redor... Sabia que tínhamos brigado. Lílian iria ficar um tempo lá em casa. A saúde de sua avó piorava a cada dia. Era triste a ver ali, deitada. Minha mãe sempre aparentou ter menos idade do que já tinha. Envelheceu anos deitada. Os médicos disseram que a pneumonia estava muito forte, teria que ser internada. Ela não quis, falava que queria morrer em sua casa e não em um hospital. Com a saúde dela comprometida, Lílian ficou em casa mais do que tinha sido planejado. Minha mãe faleceu no Natal. Estava um dia bonito, tinha até um sol. Sol de inverno, mas tinha. Ela estava doente. No quarto dela tinha uma varanda. Na primavera, a varanda ficava mais bonita, porque nela havia diversos vasinhos com diferentes tipos de flores. Nossa como eu tenho saudades daquela varanda! Minha mãe queria sentar- se na varanda, eu e Lílian não queríamos deixar, por causa de seu estado debilitado. Acho que ela sabia que ia morrer. Sentou- se e ficou tomando aquele sol de inverno. Parecia estar feliz. Lílian começou a chorar, mamãe lhe uma bela bronca. Não havia necessidade de chorar, ela estava muito bem.
Mesmo que Petúnia quisesse não conseguia pronunciar uma só palavra. Chorava. Harry estava muito emocionado também. Petúnia respirou fundo e retornou a falar com uma certa dificuldade.
- Ela nos desejou um feliz Natal. Ficamos conversando na varanda um bom tempo até mamãe dizer que estava com sono. Lílian me disse que iria fazer um chá pra gente e deixou o quarto. Aproveitando a situação mãe pediu para deixar os ressentimentos de lado, foi aí que ela me entregou esta carta que você está segurando agora. Disse que me amava do jeito que eu era. Eu falei que a amava também. Pediu que eu tomasse conta de Lílian porque eu era a irmã mais velha. Cobri-a. Lílian entrou no quarto e disse "Bons sonhos" para a nossa mãe, e eu dei um beijo na testa dela. E ela dormiu... E nunca mais acordou. Fiquei feliz por ela ter falecido dormindo, porque ela já estava sofrendo o bastante.
Sua tia já não chorava mais, tinha um sorriso tímido nos lábios. Harry tinha lágrimas nos olhos. Era muito triste o que acabara de escutar.
- Como você sabe que esta carta é para mim?
- Minha mãe disse que era para entregar para quem eu achasse que deveria receber.
Harry ficou surpreso.
- Mas como ficou... Você e a minha mãe?
- Sua mãe tentou falar comigo, me mandava corujas, telefonava, deixava recados na secretária eletrônica, mas eu nunca retornava as ligações. Não tinha interesse algum. Lílian me lembrava meus pais e eu queria esquece-los. Arrependo-me por não ter cuidado dela, me arrependo de ser tão orgulhosa e de tudo o que eu fiz durante estes anos da minha vida.
Ouve uma longa pausa. Mas Petúnia retomou a conversa.
- Não vai abrir seu presente?
Harry percebeu que sua tia queria mudar de assunto. E ele já tinha até esquecido daquela caixinha que estava segurando. Decidido Harry abriu. Sorriu e olhou para sua tia.
- Pertenceu ao seu avô. Não deixava que ninguém pegasse, parecia até que isto era gente. Seu avô ganhou isto do pai dele, vem passando de geração a geração. Achei que iria gostar.
- É lindo!
Harry olhava admirado com o presente que havia ganhado. Era um relógio de bolso. Uma relíquia, era de ouro, os números eram em algarismos romanos. Parecia ter saído da loja, estava reluzente, nem aparentava ter tantos anos assim.
- Aposto se eu desse este relógio ao Duda, não faria nenhum sentido, não iria significar muito. Ele sempre teve tudo o que quis, todos os presentes, tudo! Bem, deixe-me cuidar dos meus afazeres. E você vá cuidar dos seus, viu?
Petúnia sorriu para ele e se retirou do quarto, deixando a porta entreaberta e ele ficou ali, parado, sem saber o que fazer.
Tinha muitas informações em sua cabeça, pensava em mil coisas ao mesmo tempo. Pensava em seus avós, sua mãe e em sua tia. Foi aí que Harry olhou para a carta que sua avó Catherine havia escrito tantos anos atrás.
