Capítulo Dez "O Dia Seguinte"

Harry acordou com os raios de sol batendo em seu rosto. Plácido abria a janela alegremente, cantarolava uma canção, mas Harry não conseguiu identificar. Estava um pouco tonto, teve a sensação de ter dormido algumas horas. Procurou os óculos, estavam em cima de um criado mudo. Harry não lembrava de ter visto o móvel na noite anterior.

- Plácido, que horas são? – perguntou Harry, ainda com sono.

- Já é tarde Harry, são onze e meia da manhã – informou o elfo.

- Dormi bastante – disse Harry, espreguiçando-se.

- Ah, Harry dormiu bastante. Harry está dormindo há dias! – falou Plácido, sorrindo.

- Há dias?

- Sim, faz dois dias que Harry está dormindo.

Harry se levantou, estava um pouco desesperado.

- Mas por que vocês deixaram eu dormir tanto?

- Meu senhor disse que não era pra acordar Harry. Agora Harry deve se alimentar, Harry está fraco.

- Lupin está em casa?

- Meu senhor não voltou desde o dia que saiu. Plácido fala com meu senhor através da lareira.

Plácido começou a arrumar a cama de Harry, que estava parecendo um ninho, era um amontoado de cobertos e travesseiros.

- As roupas de Harry estão no armário – disse Plácido. – Tome o seu banho e desça para tomar café.

Lá estavam todas as coisas de Harry e os seus livros de Hogwarts. Tomou banho e se trocou. Estava com sono e ansioso por notícias. Queria falar com Lupin, queria saber por que tinha dormido tanto e mesmo assim estava com sono.

Saiu do quarto, o corredor era enfeitado por flores e quadros trouxas. Desceu as escadas, estava esfomeado. Entrou na cozinha e viu a morena de cabelos claros, suposta amiga de Lupin, Melane.

Ela olhou para Harry, pareceu estar satisfeita de vê-lo e sorriu.

- Bom dia!

- Bom dia – murmurou Harry, sentando-se à mesa.

- Quando Lupin souber que você acordou vai querer me matar – contou Melane, servido-se de torradas. – Queria que acordasse por vontade própria. Creio que se fosse por sua vontade só acordaria daqui uma semana!

- Por quê?

- Ah, você deixou Plácido de cabelos em pé. Era para eu estar cuidando de outras pessoas e não de você...

- O que aconteceu comigo?

- Eu vou te contar, mas antes tome o seu café. Assim conversamos com mais calma.

Harry não gostava quando alguém começava um assunto e parava bem no meio, na parte mais interessante. Isso o irritava. Comeu feito Rony. Tinha a sensação de não comer há anos, quanto mais pedaços de bolo ingeria com mais fome parecia ficar.

Comeu uma porção de frutas, mamão, maçã, fatias de abacaxi, tomou café com leite, pão e finalmente a sua fome tinha passado. Depois de ter devorado praticamente a mesa do café da manhã, ele se sentiu envergonhado.

- Oh, não precisa me olhar assim. Achei que você comeria mais! Vamos ao meu escritório.

"Aqui é a casa dela", pensou Harry.

Foram até a sala, era enorme. Estava iluminada pelo sol, havia mais flores enfeitando. Muitos quadros, que desta vez a pintura se mexia, livros e uma porção de coisas estranhas. Havia uma enorme lareira e de frente a ela uma mesa colocada por improviso, suspeitou Harry. "Ali não é lugar de mesa". Em cima do móvel tinha uma porção de papéis, livros, algumas poções, objetos estranhos e um enorme chapéu preto.

Atravessaram a sala e entraram em um cômodo, trancado por chave. Era um escritório com duas estantes contendo mais livros. Havia uma lousa, uma escrivaninha, uns quadrinhos pequenos. No chão, um tapete persa, muito bonito por sinal. Existiam duas poltronas, parecidas com as do quarto de Harry, e mais uma porção de objetos estranhos, pareciam invenções. Em direção da janela havia uma espécie de luneta.

- Sente-se, Harry – pediu Melane.

Harry se sentou em uma das poltronas, Melane sentou-se de frente a ele. Tirou alguns papéis da escrivaninha, que estava muito bagunçada.

- Eu nem sei por onde começo! – exclamou Melane.

- Hermione, ela está bem? – disparou Harry, ele sabia muito bem por onde começar.

- Durante o seu sono, você gritou muito por ela.

- Gritei?

- Sim, você teve pesadelos horrendos, foi o que me pareceu. Como disse há pouco, eu não ficaria aqui com você, mas foi preciso. Eu apareci na lareira para dar algumas instruções a Plácido e o encontrei desesperado. Era impressionante, você gritava, chamava por Hermione quase o tempo todo!

- Mas ela está bem? – perguntou Harry novamente.

Melane não deu ouvidos.

- Você teve febre alta, ficou melhor ontem de tarde. Já não gritava mais por Hermione e nem por Gina. Achei que você iria morrer.

Harry se sentia horrível, passou mal durante dois dias e não se lembrava de nada.

- Hermione continua em coma, Harry.

- Em coma? – perguntou Harry, desacreditado.

- Você-Sabe-Quem lhe tirou grande parte de sua vida... Mais um pouco e morreria.

- Mas e os Granger? Eles sabem de Hermione? Sabem que ela está, em, em coma? – Harry estava desesperado.

- Eu não tenho informações da família dela, Harry.

- Como não tem? – perguntou revoltado.

- Eu apenas não tenho... Também não sei da família Weasley e nem dos Dursley.

Harry estremeceu, não podiam estar mortos. "Não podiam!" Ele olhou para Melane e uma lágrima solitária escorreu pelo seu rosto.

- Não estão mortos. Da última vez que vi Rony ele estava bem, preocupado com Hermione, com Gina e com você.

- Quando você o viu na última vez?

- No hospital Saint Hope, em Hogmeade. Depois de horas, eu tive que voltar. Hermione estava em boas mãos e eu vim cuidar de você.

- Também não tem notícias dos Dursley...

- Não. Não tenho.

- E Voldemort? Apareceu de novo?

- Não...

- Alguma notícia boa? – perguntou Harry, sem esperança.

- Achei que você não ia me perguntar! Arthur Weasley capturou Pedro Pettigrew!

Harry deu um sorriso, com Pedro preso Sirius estaria bem. Livre.

- É, ele estava caído no chão da estação quando Arthur o reconheceu.

- Eu e Rony, não me lembro direito... Havíamos estuporado aquele rato – disse Harry, um pouco feliz.

- É, Lupin disse que foi um grande duelo. Eu queria ter visto, duelos são emocionantes! Mas estava cuidando da saúde de Hermione. Ele está preso, mas não creio que seja em Azkaban.

- E Sirius? Foi localizado?

- Ninguém tem notícias de Sirius. Tudo que sei é que ele estava em uma missão no norte da África, escondido. Fazendo alianças, disfarçado. Foi o que Lupin soube por Dumbledore. Ninguém tem notícias dele, ou melhor, poucas pessoas sabem que Sirius está conosco. Está foragido há tempos. Agora é que não teremos notícias depois do que aconteceu em King's Cross.

- Gina, ela está bem?

- Sim, ela está. Quando estava vindo para casa, vi sendo atendida, mas foi breve. Pelo que percebi ela tinha quebrado um dos pés.

- Sim, foi isso – concordou Harry.

- Como eu disse, não tenho informações. Minha janela com o mundo é a lareira da sala, quando Lupin aparece por ela...

- Lupin... Deve estar bravo comigo – lamentou Harry.

- Bem, se ele está bravo eu não sei, mas preocupado com a sua saúde.

Melane se levantou e sorriu pra Harry.

- Suba, vá dormir, sei que deve estar cansado.

- Mas quero saber mais!

- Bem, escuta. Conversamos mais tarde, já estamos de saída.

- De saída? Vamos para onde?

- Eu não sei... Soa estranho, mas eu realmente não sei. Sigo ordens.

- Ordens – resmungou Harry.

- É, eu as odiava na sua idade. Sempre enchendo o saco, são chatas assim como as regras. Mas a questão aqui é a sua segurança.

Harry se levantou, sentia que cairia de tanto sono.

- Vamos, te acompanho até o seu quarto – disse Melane.

- Não é necessário...

- Ok, se caso acordar, estou aqui no escritório ou na sala.

Harry se retirou do escritório, extremamente mal, preocupado com os Weasley, com sua tia, com Sirius, com o estado de Hermione. Chegou ao seu quarto e olhou para a janela, a rua estava deserta. Sentia vontade uma imensa vontade de dormir, mas procurava resistir.

Lembrou-se do "Feitos históricos", resolve ler. Abriu o grande armário de mogno e o apanhou em meio a outros livros. Jogou os sapatos para longe, sentou-se na cama. Começou a ler, mas estava sendo impossível. Dentro de Harry existiam duas forças e elas estavam travando uma grande batalha. Uma parte sua queria dormir, seus olhos já não ficavam tão abertos, leu cerca de 20 vezes a frase "Wigbon Waspen foi certamente um dos melhores Ministros que a Inglaterra teve. Dentre as suas criações a que mais se destacou foi...". E a outra, tentava manter Harry consciente, com os olhos abertos. Uma de suas estratégias era fazer vir à tona pensamentos de Hermione sendo morta, Voldemort matando os Weasley, Sirius morrendo em uma batalha na África ou algo do tipo. Depois de muita resistência, finalmente uma havia ganhado. O livro havia rolado pelo chão. Harry dormia.