Capítulo Quinze – Estudo dos Trouxas

A palavra "detenção" ecoou mais uma vez na mente de Harry. Olhou novamente, mais cabisbaixo desta vez, para o diretor e percebeu uma McGonagall bastante pálida. A professora tinha as mãos nas bochechas magras, os olhos arregalados por detrás dos óculos. Olhava Malfoy, bastante assustada, depois observou Rony, que no momento estava meio acordado meio desmaiado. Correu em direção ao loiro e conjurou uma maca.

- Vamos! Gramond, Potter! Me acompanhem – disse Dumbledore, bastante severo. – Minerva, leve Weasley e Malfoy para enfermaria o mais rápido possível.

Persephone levantou, um tanto desajeitada, parecendo bastante confusa. Harry olhou mais uma vez Rony, que certamente havia desmaiado.

Dumbledore começou a descer as escadas, Harry e Persephone o acompanhavam. Enquanto seguia o diretor, o garoto pensava no que havia acontecido. Detenção seria um castigo muito bom, estivera certo que seria expulso. Não podia correr e nem fazer qualquer tipo de magia nos corredores, imagine uma briga! Seu estômago gelou novamente, estava perdido e bastante envergonhado. Chegaram rapidamente na gárgula que levava à sala de Dumbledore. "Pipoca doce" era a senha, que o diretor disse rispidamente. Tantas vezes estivera lá... "Está senha é a pior de todas", concluiu mentalmente.

Alvo Dumbledore sentou e fez um gesto com a mão esquerda para que sentassem também. Harry agarrou firmemente o braço da cadeira, com suas mãos bastante suadas.

- Expliquem-se – ordenou com o rosto bastante amargo.

- Você quer a verdade ou a mentira? – começou Persephone, parecendo bem certa do que dizia. Ela contaria tudo? O professor suspirou e se inclinou para frente, encarando a garota severamente. Harry nunca havia visto Dumbledore daquela forma.

- Quero a versão exata dos acontecimentos, sem mais e nem menos.

- Todo mundo sabe que Potter James e Draco não se gostam, não é mesmo? – Dumbledore assentiu. – Marcamos um duelo mas Draco, insultou a Granger e Ronald começou a briga...

Harry arregalou as sobrancelhas, não acreditava no que ouvia.

- O senhor sabe professor – continuou, sendo extremamente realista -, Draco não gosta da Granger e pelo que me parece... – fez uma pausa e olhou Harry. - Ronald gosta ibastante/i dela.

- Harry, você confirma isso? – perguntou Dumbledore, parecendo um pouco mais calmo. – Confirma?

- Sim professor – disse rapidamente.

- Foi sua a idéia do duelo?

- Sim – confirmou, fracamente. – Foi minha.

- Por que isso agora, Harry? Estamos no meio de uma batalha, você sabe disso mais do que eu. Duelar com Draco não é a solução dos seus problemas, isso só faz com que eles aumentem.

- Professor, eu sei que estou errado... Malfoy não é um anjo, insulta meus amigos, a memória de meus pais. Como todo garoto... Ainda corre sangue em minhas veias! – desabafou.

- A diretoria já estava querendo organizar novamente um Grupo de Duelos, creio que os senhores se precipitaram um pouco – contou Dumbledore, olhando Harry, cuja mãos ainda suavam. Estava mentindo, muito bem, por sinal. - Sabem quantas regras vocês quebraram hoje? Quantos pontos perdidos? – continuou Dumbledore, agora olhando Persephone. – A senhorita vem causando muitos problemas, sabe muito bem disso.

- Eu sei. Não gosto de estar aqui e tudo que faço conto para minha avó. Não escondo nada de ninguém porque não tenho nada a temer! – respondeu apressadamente.

- Sua avó não vale – falou em um início de sorriso. – Sei muito bem que não gosta de estudar em Hogwarts e lamento muito. Mas você não precisa fazer o que anda fazendo.

- Eu não tenho feito nada! – exaltou-se. – Apenas cheguei atrasada na aula de Poções, foi isso. Não tenho culpa que estas malditas escadas se movam à torto e à direito.

- Sabia que era brava mas mal educada? Bem... Isso não vem ao caso. Causaram bastantes transtornos esta noite. Acredito que Lúcio Malfoy não vai gostar de saber o que houve com seu filho... Arthur Weasley também. Conversaremos mais tarde, podem ir.

Gramond se levantou rapidamente e se dirigiu à gárgula. Harry colocava sua cadeira no lugar quando percebeu que o diretor o observava.

- Estão dizendo a verdade, não é mesmo? – perguntou.

- Sim... – Harry mentiu, tristemente.

Alcançou Persephone, que estava extremamente calma. Fazia alguns minutos que caminhavam e estranhamente a garota cantarolava uma música trouxa.

- Como você pode cantar... Depois de tudo? – indignou-se.

- Forever, forever you'll stay in my heart, lalalaaaa – cantarolou.

- Hein?

- I say a little prayer for you...

- Você realmente é incomunicável – estressou Harry.

- Potter James – disse zombeteira. – Quer que eu chore? Estamos fritos mas vou fazer o quê? – questionou, olhando fixamente os olhos dele.

- Você acabou de inventar uma enorme mentira! E depois fica cantando... Cantando Diana Ross ou seja lá o que for!

- Primeiro – anunciou, parando de andar. – EU não contei uma mentira! NÓS contamos uma MENTIRA! Não faça esta cara de santo, Potter. Segundo, você não tem nada a ver com que eu canto ou deixo de cantar, fique sabendo disso. Terceiro, estamos nesta juntos, se eu me afogar arrasto você comigo! – esbravejou.

Ele suspirou alto, contou até três e ouviu passos no corredor. Seria Dumbledore? Olhou para sua esquerda, era de lá que ouvia o barulho. Avistou uma garota um tanto alta aproximando-se dos dois. Uma sensação de alívio percorreu por todo o seu corpo, fazendo com que suspirasse aliviado.

A garota pareceu aliviada ao vê-los, cabelos cor de carvão e repicados, bastante branca. Sobrancelhas finas, olhos castanhos perturbados, nariz um tanto peculiar, boca levemente rosada com lábios finos. Usava uniforme da Sonserina.

- Gramond! – disse um tanto aliviada.

- De' Windson, agora não – respondeu a garota, indicando Harry com o queixo. A sonserina olhou o menino como avistasse um monte de estrume fedorento, com moscas varejeiras o sobrevoando.

- Ahn? O que anda fazendo com ele? – perguntou rapidamente.

Harry se abaixou e fingiu amarrar o cadarço de seu sapato. Durante segundos que ficou agachado ouviu coisas como "Potter não sabe", "E dou o recado", "Vermes!". Levantou-se rapidamente e encarou a sonserina.

- Vá, depois nos falamos direito – disse para De' Windson, que se retirou rapidamente. – Sem perguntas, Potter James.

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Harry ansiava sentando na enorme cadeira, bastante dura, de madeira. Ao seu lado estava Persephone, irritantemente tranqüila, as pernas cruzadas. Estavam em uma sala, aguardando todos os professores de Hogwarts para saber qual seria a punição do grupo. Faltavam apenas três professores – sendo um deles Melane. Também aguardavam Rony e Draco. Suas cadeiras estavam localizadas em um pequeno palanque, de frente a uma enorme mesa, onde os professores conversavam. Os quadros cochichavam entre si e aquele "zum zum zum" deixava Harry mais nervoso do que já estava.

Aliás, aquele não era um dos seus melhores dias. Não conseguira dormir direito, cochilava e depois acordava. Seguia bastante sonolento para aula de Adivinhação quando foi bruscamente barrado na porta. Estava proibido de assistir aulas até segunda ordem, isso lhe causou bastante constrangimento. Na hora do almoço a escola toda comentava sua ausência, da insuportável Persephone Gramond e o suposto desaparecimento de Draco Malfoy e Ronald Weasley. Quando eram seis horas estava arrumando o seu malão (estava certo de que não passaria muito tempo na escola) quando Neville lhe deu o recado que McGonagall o esperava no salão comunal.

A porta da sala se abriu, fazendo um enorme barulho. Lá estavam Melane, Snape e um loiro um tanto barrigudo. Possuía olhos fundos, sobrancelhas absurdamente grossas, lábios engraçados e um nariz bastante arrebitado. Era calvo e tinha as orelhas pequeninas, seu andar era imponente. Vestia uma calça social azul escuro, camisa preta e capa de bruxo três números mais larga. Conversava com Melane animadamente.

Severo Snape o olhou com bastante satisfação, um olhar com pitada de felicidade. Os mestres se sentaram e assim que o fizeram a porta se abriu mais uma vez. Lá estavam Rony, com um olho roxo, pálido e com o olhar perdido, usava uma muleta. Ao seu lado vinha Draco Malfoy. O braço direito enfaixado, assim como a cabeça. Os lábios inchados, mancava um pouco mas não precisava de muletas. Sua mão esquerda estava sobre o estômago.

Na noite anterior, Rony acertara várias vezes o estômago do loiro. Draco faiscava de raiva. Madame Promfrey estava bastante ansiosa, não estava gostando que seus pacientes se esforçassem daquela maneira. Rony se sentou ao lado do amigo e Draco ao de Persephone.

- Bem, podemos começar – anunciou Dumbledore, levantando-se. – Snape...

O professor de Poções levantou elegantemente e se postou a falar.

- Acho que todos os professores já estão sabendo do acontecimento da noite passada. Gostaria que se explicassem, com detalhes... Ronald Weasley, o que o senhor tem a me dizer?

"Rony não sabe de nada!", pensou Harry em pânico.

- Acho melhor eu contar, professor Snape – disse Harry rapidamente.

- Potter? – exclamou Snape. – Eu disse Weasley!

Rony olhou o amigo como quisesse dizer "Deixa comigo".

- Malfoy perturba todos os grifinórios – disse Rony pausadamente. – Marcamos um duelo. Mas não deu muito certo.

- Por quê? – perguntou Melane.

- Oh... Ele insultou Hermione, então, decidi duelar igual aos trouxas – respondeu Rony, querendo sorrir.

- Você confirma isso Malfoy? – continuou Melane.

- Não insultei Granger, disse apenas a verdade – disse rispidamente.

Os professores começaram um burburinho. Rony se virou para Malfoy com os maxilares serrados.

- Weasley, Weasley... A verdade dói, não é mesmo? – perguntou em tom de sarcasmo.

- Okay, chega de conversas paralelas! – disse McGonagall ao quarteto. – Gostaria de saber, Malfoy, porque Gramond estava com o senhor?

- Ela foi porque quis.

- Então você não a queria por perto?

- Não, ela me acompanhou de teimosa. Me garanto muito bem sozinho.

- A senhorita Gramond sabe muito bem que não pode ficar se metendo em encrencas, não é mesmo? – continuou McGonagall. – Havia algum motivo especial para acompanhar o senhor Malfoy?

- A senhora quer insinuar o que com isso? Eu fui porque queria ver o duelo, não havia nenhum motivo iespecial/i – respondeu Persephone, um pouco irritada.

- E você, Potter, por que deixou que Weasley o acompanhasse?

- Rony foi porque é meu amigo – disse Harry, frisando bem a última palavra e olhando Malfoy.

- É, professora, fui com Harry porque somos amigos e se ele precisasse de mim estaria lá – confirmou Rony.

- Muito bem – disse a professora, dando-se por satisfeita.

Os professores voltaram a conversar, desta vez mais baixo.

- Rony... Como você sabia do duelo? – sussurrou Harry.

- Oh, depois eu te conto – disse, apontando com o queixo Madame Pomfrey, que se aproximava.

- Muito bem, muito bem. Como se sente Rony? – perguntou Pomfrey, verificando com as mãos a temperatura do ruivo. – Como está o estômago?

- Não está doendo mais, só estou com sono – resmungou.

- E você, menino Malfoy? Sua cabeça continua doendo?

- Já disse, estou perfeitamente bem.

- Não está, não! Assim não podemos trabalhar, posso ver que sua cabeça está latejando de dor!

- Se sabe por que pergunta? – respondeu bastante mal educado.

- Logo a poção fará efeito e você poderá dormir o quanto quiser – falou a enfermeira, ignorando a resposta de Draco. – Por Merlin, quando isso tudo vai acabar? – resmungou, andando de volta para a mesa. Dumbledore estava de pé, parecendo um tanto feliz para a ocasião.

- Todos vocês infringiram centenas de regras da escola. Mas resolvemos que se os punimos severamente servirá de exemplo para todos os demais alunos. Mostrando que nem os monitores serão poupados se quebrarem as regras de Hogwarts. Como punição, de amanhã em diante passarão a estudar "Estudos dos Trouxas". Todos vocês, sem exceção. Madame Prince providenciará os livros que precisam, retirem com ela – anunciou o diretor.

- Estudo dos Trouxas! – exclamaram Rony e Draco ao mesmo tempo.

- Sim, fabuloso, não? Temos muito que aprender com os trouxas, será interessantíssimo. Quero apresentar Trend Twain, nosso novo professor de Estudo dos Trouxas.

Então o loiro de nariz arrebitado levantou e acenou brevemente para o quarteto. Harry olhou Malfoy, que estalava os dedos, bastante nervoso. Era bastante cômica a situação: Draco Malfoy estudando os trouxas. Estava ali por ter insultado Hermione, ironia do destino.

- Estão dispensados – disse Dumbledore.

Rony e Draco só voltaram as atividades normais na sexta-feira. Hermione ainda não sabia o motivo real da briga entre Draco e Rony, o último havia pedido para o amigo não contar nada. Os gêmeos fizeram uma grande folia pela volta do irmão mais novo. "Isso mesmo, este é um verdadeiro Weasley! Pondo os Malfoy no verdadeiro lugar", gabou-se Fred. Jorge também não deixou por menos: "Da próxima vez soque o rosto dele com mais força!". Harry estava gostando de sua detenção, Estudo dos Trouxas não era tão ruim assim. Segundo Pavarti, o outro professor era bem mais tedioso. Trend Twain tinha um bom humor. Por anos, lecionou para trouxas, de certo modo havia abandonado a magia. Na sua aula não era necessário o uso da varinha e até então Harry não havia usado livros. A classe estava aprendendo a cozinhar. No dia que havia começado suas aulas, quarta-feira, aprendiam a fritar ovos. "Sobrevivência sem varinha, ovos é um bom começo", dizia Twain.

A sala de aula era na verdade uma enorme cozinha. Harry fritou os ovos de olhos fechados, sabia se virar muito bem na cozinha. Os alunos estavam protegidos por feitiços anti-queimaduras, se não fosse por isso Neville estaria com graves queimaduras, assim como Daniella Barsos, uma aluna da Lufa-Lufa um tanto desajeitada e extremamente engraçada, que fazia dupla com Harry.

Como havia poucos alunos que se interessassem pela matéria, tinha alunos de todas as casas de Hogwarts, apenas Draco Malfoy representava a Sonserina.