Capítulo dezessete – A derrota

"POR MERLIM! CHO CHANG CAPTUROU O POMO! CORVINAL VENCE!"

Cho Chang ergueu orgulhosamente a bolinha de ouro em sua mão, com lágrimas nos olhos.

- Por Cedrico! – gritava em meio às lágrimas. Em segundos todo o time da Corvinal a circulava e a torcida invadia o campo.

Harry ficou imóvel. Havia perdido o pomo. Por sua culpa. Olhou para os lados, ninguém parecia acreditar na derrota, inclusive os alunos da Corvinal. A torcida da Grifinória permanecia calada, imóvel. Era amargo o gosto da derrota, foi então que sentiu uma mão pesada em seu ombro, virou-se e, inesperadamente, encontrou Rony.

- Vamos, Harry! Só tem você do nosso time aqui em cima. Vamos, deixe os corvinais comemorarem. – falou Rony, puxando o amigo pelo braço. Ele não teve forças para dizer nada, apenas seguiu Rony e aterrizou. Desta vez não havia um tumulto em sua volta, para parabenizá-lo, não houve gritaria, vivas, nada. Rony devolveu a vassoura para Katie, que olhou tristemente para Harry.

"O que aconteceu com ele? Ficou parado, olhando a Chang apanhar o pomo!", ouviu Harry, quando Fred reclamava para Alícia.

Olhou novamente para as arquibancadas, que estavam vazias. Parte das pessoas estavam no campo, e os grifinórios se retiravam silenciosamente. Hermione e Gina apareceram, mas não disseram nada, não havia o que dizer.

- Vai, Harry, empacou aí? Se mexe, vá tomar um banho... 'Cê tá fedendo. – reclamou Rony.

- RONY! Quer ficar quieto?! – brandou Hermione.

- Deixe ele, Mione. – resmungou Harry, procurando não olhar para os amigos, principalmente para Gina.

- Potter James! Que coisa, hein? – disse Persephone, atrás de si. Ele olhou para trás, lá estava Persephone extremamente agasalhada, acompanhada de Malfoy, Crabbe e Goyle.

- Como ele fez mesmo? – perguntou Draco, que esticou o braço, abriu a boca e fez cara de mongo. – Dããã! – caçoou.

- Você gosta mesmo daquela chinezinha nanica, hein? Deixou ela apanhar o pomo e fez cara de menino apaixonado. – falou Persephone.

- Aliás, temos que parabenizar Potter, ele é um verdadeiro cavalheiro. As damas primeiro! – continuou Draco, fazendo com que Crabbe, Goyle e Persephone rissem alto. – Vamos lá, Cho, pode ir na frente, eu deixo! – zombou Draco, imitando a voz de Harry.

- Cai fora, Malfoy, ou quer que eu te arrebente de novo? – perguntou Rony, arregaçando as mangas.

- Weasley, você só sabe resolver as coisas desta forma. Isso não me surpreende nem um pouco.– respondeu Draco, cruzando os braços. – Vamos, deixem o "perfeito cavalheiro" amargar a sua derrota patética. – e saiu junto com os outros. Mas Persephone não pôde deixar de dizer a sua enjoativa frase "Nem tudo na vida são flores, Potter James".

Mais tarde, de banho tomado e devidamente agasalhado, Harry encontrava-se no tumultuado Salão Comunal, sentando em uma poltrona discreta sem que ninguém o perturbasse. Ainda não acreditava que havia perdido, não queria acreditar, não podia acreditar.

- Aí está você. – disse Rony. aproximando-se, acompanhado de Hermione. – Não vai para Hogsmeade? – Harry apenas olhou para o amigo como resposta.

- Harry... Poxa, vamos lá. Nós três estudamos tanto por causa deste passeio. O que adianta você ficar aqui, sozinho.– consolou Hermione, passando a mão na cabeça de Harry.

- Não estou com vontade de ir, Mione. Não nestas condições.– respondeu Harry cabisbaixo.

- Tudo bem, se você mudar de idéia... Estaremos no Três Vassouras, junto com o pessoal. – disse Rony. Harry concordou com a cabeça e os dois foram embora. O salão esvaziou-se rapidamente. Os alunos que não poderiam visitar Hogsmeade assistiriam ou participariam da Gincana. Estava totalmente sozinho, dirigia-se ao dormitório quando alguém entrou no salão, era Melane acompanhada de Snuffles.

- Aí está o nosso Harry – disse a morena, aproximando-se – Quer saber a minha opinião sobre isso tudo?

- Não mesmo. – respondeu rapidamente.

- Ah, quem liga pra você? – falou sorrindo – Gostei da Cho ter ganhado, isso mostra que nós mulheres temos poder para tudo.

- Eu poderia ter passado o dia sem ter ouvido isso, Melane.

- Vai, Harry. Você reclama demais. Uma hora você teria que perder... E coitado do pessoal da Corvinal! Pelo que fiquei sabendo, a Sonserina estava ganhando desde que o tal do Carlinhos deixou a escola, e faz muito tempo. Depois, você chegou e a Grifinória vem ganhando desde então a Taça. 'Tá reclamando de quê? Deixa os azuizinhos comemorarem.

- Melane!

- Não estou mentindo, estou? Larga a mão de ser carrancudo. Perdeu, perdeu. Vai chorar? Não, né? – respondeu ela mesma, e Snuffles latiu. – Ah... Tem alguém aqui?

- Não. Pode se transformar, Sirius – falou Harry, e assim Sirius fez.

- Melane, eu simplesmente não agüento mais ouvir a sua voz. – reclamou Sirius, e Harry o entendeu perfeitamente.

- Vai, vai, Sirius. Não me enche. Até você vai me dar lição de moral?

- Até hoje, não sei como a Lílian te agüentava!

- EU que não SEI como Remo e Tiago te agüentavam! Vai, some da minha frente, seu sarnento. Tchau, estão me esperando lá embaixo.

- Meu Deus, quando ela quer falar, ela não pára! - disse Sirius, tornando-se para Harry. – E de repente, tudo fica quieto... Impressionante como Melane "preenche" um ambiente.

- Está falando demais em Melane – brincou Harry.

- Não, não. Aprenda uma coisa, Lupin fala mais de Melane do que eu – disse Sirius, subindo a escada de caracol.

- Tem notícias dele?

- Logo ele aparece, Harry. Não se preocupe – contou o padrinho. – Onde é o seu quarto?

- Quinta porta – apontou Harry.

Já dentro do dormitório, Sirius sentou na cama bagunçada de Neville.

- Harry, não fica com esta cara de lesma morta.

- Quer que eu fique com que cara? – respondeu, mal humorado.

- Tiago também perdeu, se isso serve como um consolo.

- Ah é? – perguntou o garoto, puxando uma poltrona para perto da cama de Neville.

- É, perdeu. E ele ficava com esta sua cara. Mas depois, ele voltava ao normal. Fazendo coisas erradas... Não, não, eu não quis dizer isso. Seu pai era o máximo, – disse risonho - mas nem tanto assim. Perder é uma conseqüência. Até concordo com a matraca da Melane, um dia você seria derrotado, e este dia chegou.

- Meu pai, meu pai! – resmungou irritado – Ele não está aqui agora, está? - O sorriso maroto de Sirius transformou-se em uma expressão bastante triste. – Meu pai está morto. Pare de ficar falando como se ele estivesse viajando, curtindo umas férias. Ele não está!

- Harry...

- Ele não está aqui? Está vendo? Falou com ele hoje? Não! – gritou Harry. – Estou cansado de ficar ouvindo estas coisas...

- CALE A SUA BOCA AGORA! – berrou Sirius, que estava em pé, extremamente vermelho. – SE O MEU AMIGO NÃO ESTÁ AQUI, É POR AMOR A VOCÊ! ENTÃO CALE ESTA SUA BOCA ENORME! Nunca pensei ouvir isso de você, justo de você! Quem colocou estas idéias em sua cabeça?

- Eu... Sirius, eu... – ele gaguejou, arrependido.

- Eu o quê? 'Tô errado também? Não conheço a pessoa que está na minha frente. Não é este o filho de Tiago e Lílian. Você tem que começar a perder mais vezes, pra aprender que nem tudo na vida é do jeito que você quer que seja. – falou rispidamente e saiu do quarto, batendo a porta.

- Parabéns, Harry... – praguejou-se o garoto.

Só depois de alguns minutos, ele percebeu o tamanho da besteira que havia falado. Malfoy conseguiu envenená-lo, se ele estivesse ali, bateria palmas. Se Harry estava vivo, se ele podia jogar quadribol, estudar, amar, ter amigos, respirar, viver, devia isso ao seu pai. Aos seus pais. Calculado o estrago de sua atitude e o enorme remorso na consciência, foi procurar o seu padrinho. Mas, descendo a escada, encontrou Gina.

- Harry! Eu preciso...

- Agora não. – interrompeu o garoto.

- Você não precisa ficar assim – disse amorosa.

- Gina, o que você está fazendo aqui? Não foi para Hogsmeade?

- Eu não fui porque... Não, eu não devo satisfações a você!

- Ah, ótimo! – exclamou sarcástico – É tudo o que eu preciso mesmo!

- Como eu sou idiota de perder o meu tempo com você! Eu, toda preocupadinha, e você com toda esta grosseria. Fique sozinho então! – gritou a ruiva.

"Definitivamente, hoje não é o meu dia", pensou Harry.

- Não, Gina. – disse Harry, pegando no braço da garota, impedindo-a de ir embora – Me desculpa...

- Vá pedir desculpas pra Cho! Vá atrás dela, está perdendo tempo comigo – respondeu com os olhos marejados. – Me solta!

Ela puxou o braço de volta e saiu da sala comunal.

No dia seguinte, Harry não conseguiu falar nem com Gina, muito menos, com Sirius. Ouviu uma série de gozações dos sonserinos. Durante o café da manhã, Harry recebeu cumprimentos de todos os grifinórios, palavras de carinho e por várias vezes ouviu "Da próxima vez, nós ganhamos". Mas nem isso mudou o seu mau humor.

Durante o almoço da quarta feira, Harry brincava com a comida quando algumas corujas invadiram o salão.

- Correio a esta hora? – perguntou Rony.

Uma coruja marrom-sujo pousou perto de Hermione, ele conhecia aquela coruja.

- Edição extra do "Profeta Diário". – informou Hermione, apanhando o jornal. Alguns minutos lendo a única página, a garota arregalou os olhos e olhou para mesa da sonserina.

- Mione, o que foi? – perguntou Harry. Em resposta ela estendeu o jornal.

A manchete dizia: Antony Gramond – Novo Ministro

"A Inglaterra vem sido ministrada por Antony Gramond depois do ataque à Estação King's Cross. Ontem, terminou a última reunião da Confederação Internacional dos Bruxos, confirmando que Gramond é o novo Ministro da Inglaterra."

- Gramond? – perguntou incrédulo.

- O que tem ela? – perguntou Rony, curioso.

- Ele... O pai de Gramond é ministro da Inglaterra! – disse Harry, bastante alto. Os alunos que estavam sentados à mesa perto do trio, arregalaram os olhos.

- Continue a ler, Harry – falou Hermione.

"Nascido em Londres, Antony é bastante conhecido por ser diretor da famosa 'Escola de Magia Midley Gramond'. Chamado às pressas para Inglaterra, começou a ministrar antes de qualquer votação do Conselho, que no momento, ocupava-se com a retirada do poder de Cornélio Fudge.

Muitos bruxos estavam bastante indignados com a conduta de Fudge diante de fatos evidentes, o ressurgimento de Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado. O Conselho, depois de muitos anos, foi reunido para tratar da 'insanidade' de Fudge e da nomeação de Antony Gramond.

Até então, não houve o pronunciamento oficial de Gramond e nem tempo para isso. Sérios problemas, alguns resolvidos, como o 'vazamento' da notícia de Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado para os trouxas, segurança dos trouxas, bruxos de todo mundo sendo convocados para o combate ao Lord das Trevas. Até então, Gramond tem se saído bem, mas não podemos deixar de esquecer do Lions Alado, desaparecimento de bruxos, Pedro Pettigreiw, Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado e o 'esquecido' Sirius Black."

- Rita Skeeter... – falou Harry ao terminar de ler. – Furo de reportagem...

- Até que enfim ela resolveu ser uma jornalista. – comentou Hermione. – Bem que este nome, Gramond, me soava familiar. É claro! Este Midley é o iMidley!/i

- Okay... O pai de Persephone é Ministro... Desde quando? Não estou entendendo merda nenhuma! – falou Rony, mastigando uma torrada.

- Há tempos, Rony... Eu o conheci, falou comigo e Melane quando saímos do isolamento. – contou Harry, que o reconheceu em uma pequenina foto que estava no jornal.

- AHHHHH! – exclamou Rony, longamente – Um grandalhão, negro e com um sorriso enorme?

- Esse mesmo – confirmou – Mas, quem é este tal de Midley?

- Provavelmente um antepassado de Antony. Discípulo de Merlin, gostava da Arte das Trevas. – Rony engasgou com a torrada – Inventou vários contra feitiços, foi perseguido por causa da sua cor... Naquela época eram raríssimos os negros, até hoje ninguém sabe muito bem como ele foi parar na Europa.

- Se aquela garota já era metidinha, imagine agora? – falou Harry. – Não quero nem ver...

- O que realmente importa – disse Hermione, limpando a boca educadamente - é que devemos muito a Midley e que Antony parece um bom Ministro.

- Eu não devo nada a ninguém. – disse Rony risonho – Vamos, temos aula de...

- Feitiços. – completou Harry, levantando-se.

- Podem ir. – disse Hermione, ainda sentada – Tenho que...

- Hermione, você ainda está com fome? – perguntou Rony, fazendo uma careta.

- Não! Eu preciso falar com alguns monitores e...

- Filipe. – completou Rony – Vai, vamos embora. 'Té mais, monitora.

- Hermione anda esquisita, não? – comentou Harry, enquanto se afastavam da mesa.

- É mesmo? – respondeu Rony, desinteressado.

- Não come direito, só pensa na monitoria e em estudar.

- Harry, Hermione é isso! O dia que ela plantar bananeira e não se preocupar com a escola, não falar em Patriani, aí sim, ela estará esquisita.

- Cara, está pouco se ligando pra Mione. Ela é sua amiga também!

- Eu já me preocupei demais com Hermione. Estou cansado deste assunto! Se isso te deixa feliz, eu falo pra ela comer, Harry! Mas eu duvido que ela coma. Menina é assim, elas vivem se achando gordas, feias, gordas, fedidas, gordas, burras e gordas – enumerou Rony.

Durante o período das aulas da tarde, Harry pensou em mil formas de falar com Gina, de se desculpar. Se havia perdido o jogo, magoado Sirius, ela não tinha culpa. Nem ele mesmo reconheceu as suas atitudes no domingo. Gina o fazia tão feliz, o modo como ela sorria e despertava uma enorme alegria dentro de si. Faltando alguns minutos para o término da última aula, Harry deu uma desculpa qualquer para a professora de adivinhação, "Minha cabeça está doendo muito" e saiu em direção aos jardins. Ele sabia que a classe de Gina estaria lá (Trato de Criaturas Mágicas), aproveitou o tempo que lhe restava e, sem que ninguém visse, apanhou um botão de rosa na estufa de ervas e flores.

Ela vinha caminhando junto com Colin quando avistou Harry, que estava próximo a uma árvore, perto do lago. Ela disse alguma coisa para Colin, que acenou para Harry e seguiu sozinho. Gina caminhou apressadamente até Harry, com as feições fechadas. Ele sentiu um frio na barriga, nem ele sabia o quanto gostava de Gina, até aquele momento. Percebeu que aquela pequena ruiva tomava conta de todo o seu coração, preenchendo o vazio que sentia constantemente.

O que adiantava ser o Menino-Que-Sobreviveu, se não tinha nenhuma razão para continuar vivo? Agora ele sabia qual era a razão para estar ali, parecia puro exagero, mas era aquele o motivo. Sua razão possuía um metro e sessenta, cabelos longos e vermelhos, pele clara com pontinhos de ferrugem nas bochechas, sorriso tímido, voz doce, olhos cor-de-chocolate e caminhava extremamente brava em sua direção. Como ele amava Gina.

- Se você vai... – começou a ruiva

- Espere, deixa eu falar, depois você briga comigo – interrompeu Harry. – Eu não queria ter te magoado, não mesmo... Eu não deveria ter descontado a minha raiva em você, mas eu tenho milhares de problemas, minha vida é uma confusão. Todo mundo fica me comparando, exigindo que eu seja o melhor e eu... Eu não sei explicar, sabe?

- Harry, calma...

- Não, agora eu vou falar! Todo aquele negócio do Você-Sabe-Quem, eu acabo me exigindo muito de mim. Tem uma hora que não agüento mais, e perder no quadribol foi horrível... A gota d'água, eu tinha acabado de magoar uma pessoa muito importante e depois eu acabei magoando você, que é mais importante ainda e... Eu sinto muito, mesmo – disse Harry, um pouco envergonhado por não conseguir se expressar direito. – Olhe, trouxe isso pra você – e estendeu a rosa para Gina, que apanhou o botão branco.

- É linda... – murmurou Gina, ainda olhando para a flor.

- Achei que você gostaria – contou, levantando o rosto de Gina, ela tinha lágrimas nos olhos.

- Oh, Harry... – disse o abraçando. – Está tudo bem, você... Você pode dividir os seus problemas comigo agora.

- Gina, eu gosto muito de você... Muito mesmo – contou Harry, ela riu em seu ouvido.

Depois do longo abraço, seguiram de um beijo e mais outro, outro...

Encontravam-se quase todos os dias debaixo daquela árvore. Conversando, rindo, sem olhares indiscretos. Ele não inventava desculpas mirabolantes para Rony, que só pensava em seu projeto de estudo dos trouxas, e Hermione, que continuava triste e não contava o porquê de sua tristeza.

- Harry, temos que sair daqui... Alguém pode nos ver, se é que já não viram...

- E o que tem isso? Quando é que vamos falar com Rony? Ficar se escondendo assim, Gina... Eu não quero isso pra mim, muito menos pra você.

- De novo este assunto, Harry! – disse ela, saindo dos braços do garoto e se virando de costas – Você não conhece Rony, ele é...

- Ciumento, mas e daí? Eu gosto de você e você de mim! Rony é meu amigo e seu irmão, ele vai entender.

- Por que não esperamos mais um pouco?

- Será que dá pra se virar? Eu odeio quando "converso" com as suas costas! – reclamou Harry, e com razão. Ela se virou, enrolando uma mecha de seu cabelo. – Já esperamos demais, dezembro está aí! Ele está todo atrapalhado, aposto que se eu contar, ele nem vai escutar direito.

- E se ele escutar?

- Gina, nós estamos tirando conclusões precipitadas. Rony não é tão durão assim.

- Só porque você quer. Ele vive me perguntando o que eu converso com Neville, com Colin, qualquer garoto. Imagine se eu chegar agora e dizer: Rony, querido eu...

- Tá, está bem. Vamos pro salão, já devem estar sentindo a nossa falta. Eu vou na frente – e saiu mal humorado.

Chegando lá, as portas já estavam fechadas, a refeição já estava na mesa, sempre perdia a noção do tempo quando estava com Gina. Encontrou seus amigos e, gentilmente, Hermione havia reservado um lugar para ele. Dumbledore estava falando enquanto Harry se acomodava. Ele não prestou muito atenção no que o diretor falava, até ouvir uma gritaria feminina enorme.

- O que está acontecendo? – perguntou Harry, desanimado.

- Por Merlin! Você não escutou? – disse Parvati animada – Um baile, Harry!

- Grande coisa... – resmungou Rony – Bah, odeio bailes.

- Não é um baile qualquer, é um baile de máscaras! – enfatizou Parvati.

- Pode ir se animando, Rony – falou Fred – Pode ir se animando, não precisa comprar uma máscara, você é feio o suficiente.

- Rá-rá-rá. – disse Rony – Não sou eu que...

- Calma aê – interrompeu Hermione – Depois vocês resolvem quem é o mais feio, okay?

"Um baile, temos que falar com Rony...", pensou Harry. Ele ficaria mais feliz com a notícia, se não tivesse que ficar ocultando isso de seu amigo. Fred, Jorge e Hermione já sabiam que Harry e Gina estavam juntos. Ficar escondendo de Rony não era nem um pouco legal. Ele olhou para a mesa dos professores, Melane não estava lá e nem Snuffles. Tinha que resolver o mal entendido com Sirius. Ele correu em direção à sala de D.C.A.T e como tinha previsto, encontrou Melane, Snuffles e, inesperadamente, Lupin.

- Harry! – exclamou Lupin, em direção ao Harry. Abraçaram-se, Lupin parecia estar bastante cansado.

- Harry, já lhe falaram que é muuuuuuuuito legal bater na porta, antes de entrar? – ralhou Melane.

- Me desculpe, é que eu... Queria fala com o... – e apontou para o cão preto, que estava deitado no chão.

- Ah, eu já fiquei sabendo ponto final – disse Lupin.

- A fofoca rola solta aqui, né Melane? – brigou Harry.

- Tudo é culpa da Melane, né Harry? Pombas! Tranque lá a porta, vamos ao meu aposento. – disse dirigindo-se ao fundo da sala. Lupin trancou a porta. Melane subiu a escada que havia em sua sala e Harry lembrou-se da última vez que tinha estado ali. Sem dúvida, Lockhart era o que mais tinha enfeitado o lugar, com todos aqueles quadros.

O aposento era bastante parecido com Melane, bastante confuso. Snuffes transformou-se em Sirius e sentou-se em uma cadeira.

- Isso aqui está uma zona – disse Lupin, apanhando um livro no chão.

- Isso NÃO É DA SUA CONTA! – reclamou Melane – Mal você chega e já fica brigando comigo, dizendo que eu sou isso e aquilo. Meu quarto está uma bagunça, mas passa pela sua cabeça se eu tenho tempo para arrumá-lo? Não, né... Você é um...

- Ei! – interrompeu Sirius – Já vai começar? Meu Deus, parem já com isso! Um minuto sem brigar, por favor? O que Harry vai achar disso?!

- Harry é um pirralho, isso é o que ele é – falou Melane – Você se importa com isso?

- Harry não é um pirralho... – corrigiu Lupin.

- Francamente, quando nós tínhamos quinze anos, nós éramos pirralhos – respondeu Melane.

- Você ainda age como uma adolescente às vezes... – disse Lupin, arrumando a escrivaninha de Melane. – Aliás, sempre.

- Deixei a minha escrivaninha assim, Remo. Eu gosto dela bagunçada e assim ela vai ficar – bronqueou Melane.

- Okay, okay... Briga de amor não dói, ou tapa de amor não dói, mas cansa! Estou farto de vocês dois, por que não se arranjam logo? – interveio Sirius novamente.

- Sirius! – disseram Melane e Lupin ao mesmo tempo.

Lupin pegou Melane pelo braço, abriu uma porta que havia na saleta, que provavelmente seria o quarto dela, e fechou a porta.

- Eu sinto muito – começou Harry – Não queria ter te magoado. Toda aquela coisa de quadribol, Cho e tudo o que tem direito.

- Não, você não me magoou... Falou de um jeito como seu pai fosse um qualquer, entende? Um bunda de trasgo!

- Bunda de trasgo? – perguntou sorrindo.

- É, um bundão! O que está acontecendo com você?

- Milhares de coisas...

- Como o quê? Sente-se – disse Sirius, indicando uma cadeira.

Harry deu mais uma olhada em tudo. Era uma saleta, com uma pequenina janela, uma estante totalmente bagunçada, uma lareira do tipo encantada (sem fumaça, sem chaminé), e um sofazinho e uma poltrona de frente para a lareira. Perto da porta havia uma escrivaninha, atolada de coisas. Sirius estava sentado perto da janela, onde havia uma mesinha redonda minúscula e outra cadeira, "Melane deve comer aqui...", pensou Harry, enquanto se sentava.

- O que são estas milhares de coisas? - continuou o padrinho.

- Uma delas é estarem escondendo as coisas de mim. Voldemort me quer... Vocês estão tramando e me deixam fora de tudo, eu não acho isso nem um pouco legal.

- Hum...

- Depois tem esta história de ficarem me comparando, eu acho isso legal, mas tem uma hora que cansa. Eu não quero ficar decepcionando os outros. Meu pai foi o máximo... E se eu não for o máximo? Um fiasco? Como você acha que eu me sinto?

- Mal – respondeu Sirius – Eu entendo, mas não fazer comparações é difícil, porque toda vez que te olho, me lembro de Tiago...

- Mas eu não sou o Tiago, eu sou o Harry – desabafou o garoto – Quero ser conhecido como Harry, e não pelo o que meu pai era... Ficar vivendo na sombra de meu pai. Às vezes é bom, mas é ruim ao mesmo tempo.

- Que mais?

- Ah, tem a...

- Está namorando? – perguntou com um sorriso que não cabia no rosto – Por Merlin! Eu já estava começando a ficar preocupado com isso, quinze anos e nenhuma namorada, ou rolo... Ou qualquer coisa. Quem é a garota?

- Virgínia Weasley – disse Harry em um muxoxo.

- Quem? Anh? Não ouvi direito – falou Sirius com os olhos arregalados.

- A Gina!

- Harry... Você não está fazendo nada de errado, digo, ela é...

- Ai, não me venha com asneiras. Ela é irmã do meu melhor amigo.

- E o seu melhor amigo vai virar o seu pior inimigo, quando souber que você está com a irmã caçula dele. Esquece o que eu disse, ele já deve estar sabendo...

- Não, não está – contou, temendo a reação de Sirius.

- Está pedindo pra morrer, não é mesmo? Quem é que sabe desta história?

- Os outros irmãos de Gina e Hermione. Hoje eu discuti com Gina de novo, porque eu tenho que contar pro Rony, mas ela fica com lenga-lenga, com medo da reação dele.

- Ah... Harry, eu não gostaria de estar na sua pele...– contou Sirius – Rony é meio... Quer dizer, ele é inteiro esquentadinho. Fale com ele... Você gostaria que ele fizesse isso com você?

- Mas é claro que não! Eu quero falar, mas Gina não deixa.

- Putz, tá com medo da patroa? – perguntou sorrindo.

- Não...

- Não se preocupe com as outras coisas, se você não está sabendo de nada, tem algum motivo, não é mesmo? – falou Sirius, mudando de assunto.

- Eu vou falar com Dumbledore – disse Harry, levantando-se. – Sirius... Você não acha que os dois estão quietos demais?

- Ah... – resmungou olhando para a porta do quarto de Melane - Eu não vejo a hora que eles se acertem logo de uma vez – e sorriu malicioso. – Foram feitos um para o outro, e eu me divirto com as briguinhas. Ele voltou com saudade dela, ela estava com saudade dele. Os dois são cabeças duras e não deram o braço a torcer até agora.

- Mas eles estão namorando?

- Que nada, nunca namoraram... – contou Sirius – Vai entender... Mas acho que hoje sai alguma coisa.

- Ah, eu preciso de uma ajudinha sua.

- Ihhhhhh... – reclamou longamente – O que foi?

- Eu tenho Estudo dos Trouxas agora... O professor Twain sorteou uns temas, eu e a Dani...

- Que Dani? – interrompeu Sirius. – Não era Gina?

- Dani, minha colega de classe. Como eu ia dizendo, nós ficamos com o tema de animais trouxas... Você é um cachorro...

- Ah não! Não mesmo!

- Vai, larga de ser chato... Você só vai ter que ficar na frente e ficar ouvindo a Daniella explicar algumas coisinhas.

- Que coisinhas?

- Uns truques – disse Harry baixinho.

- AH NÃO! Ninguém vai pedir a minha pata e nem que eu role pelo chão!

- Eu preciso falar um negócio com você, Rony– anunciou Harry, ressabiado.

- Sobre?

- Sobre a Gina – resmungou Harry de qualquer jeito.

Eles estavam em mais uma aula prática de Estudo dos Trouxas. O professor Twain era bastante elétrico, não parava de se mexer. Também não usava os livros, sua aula era toda falada, os alunos se atrapalhavam para copiar o que Twain dizia e explicava. Desta vez não era culinária, era Artes Plásticas. Estavam fazendo suas máscaras para o baile que se aproximava.

Havia muitos materiais, penas multicoloridas, tintas, papéis, cola, arame, papelão, tudo o que era possível de se imaginar. Rony estava todo atrapalhado com o tubo de cola, ele apertava com muita força, fazendo com que saísse mais cola do que o esperado. Ele pintava a sua, era preta com algumas coisas verdes. Nem ele sabia o que tinha nas mãos.

- O que tem a Gina? Alguém andou aprontando com ela? Foi o Malfoy? Sabia, eu já...

- Não, não, não! – interrompeu Harry – Malfoy não têm nada a ver com Gina. - Eu queria falar que vou com ela ao baile... Tudo bem?

Rony o olhou de um jeito estranho, como se quisesse dizer com o olhar "O que você quer com a Gina?".

- Ué, vai! Por que está perguntando isso pra mim?

- Talvez porque o cabeçudo aí seja o irmão dela! – brincou Harry.

- Antes você do que aquele grudento do Colin, nunca vi coisa parecida...

- Vamos lá, pessoal, eu sei que vocês estão se divertindo, mas vamos arrumando as coisas – anunciou o professor – Aula de Artes Plásticas já acabou, agora é a hora de arrumar as coisas.

- Como este cara é patético– reclamou Persephone, que estava perto de Harry.

Alguns minutos depois, Harry, Rony e Neville caminhavam para o salão principal, hora do almoço. Harry estava bastante faminto, tanto que escutou o barulho que seu estômago fez. Encontraram as garotas um tanto animadas com o baile, sobretudo Hermione.

- Parece que todo mundo resolveu ficar para o Natal, não é mesmo? – comentou Hermione, animada. – Pouquíssimos alunos deixaram a escola, acho que é por causa do baile. É neste sábado.

- É! Hogwarts nunca esteve tão animada, desde o Baile de Inverno, no ano passado – acrescentou Lilá. – Acho que todo mundo tem par, não é mesmo?

Harry olhou para Rony, que estava sentado à sua frente. Mastigava um pedaço de frango com o olhar distraído.

- O Rony não tem par ainda... – falou Harry, apanhado mais arroz. Hermione exibiu um enorme sorriso.

- É claro que tenho, Harry. Vou com a Pá... – contou Rony.

- Com quem? Pá? Quem é essa? – perguntou Hermione, desfazendo o sorriso.

- A Parvati, vou com ela ao baile... Achei que já tinha contado pra vocês dois – falou Rony meio envergonhado.

- É! – confirmou Parvati Patil, agarrando o braço de Rony – Ele vai comigo. E você, Mione?

- Eu...? Bailes são uma besteira, isso sim! – e saiu derramando suco na mesa.

Mais tarde, depois de voltar de mais um encontro com Gina, Harry encontrou Hermione e Rony, discutindo em um canto no Salão Comunal.

- Parvati, desde quando você é amigo dela?

- Hermione, não fale besteiras, desde quando você se preocupa tanto comigo assim?

- O que você quer dizer com isso?

- Isso mesmo que você entendeu! – esbravejou Rony – Se queria ir ao baile comigo, por que não disse antes?

- Ei, parem vocês dois! – gritou Harry. – Parem!

- Hermione fica dando escândalo por causa de bailinho! – explicou-se Rony.

- Eu não estou dando escândalo! – defendeu-se a garota.

- Desde que você chegou em Hogwarts, não conversa mais comigo e nem com Harry. Não come, não dorme, só pensa nesta PORCARIA de monitoria! Depois vem com esta conversinha fiada pra cima de mim. Por favor, Hermione, me poupe! – disse Rony bastante vermelho.

- Quê? Quem está me deixando de lado é VOCÊ, RONALD WEASLEY! Fica pra lá e pra cá, com aquela Gramond. VOCÊ que não conversa mais comigo, VOCÊ que não me dá atenção, VOCÊ que não conta mais piadas, VOCÊ que está ausente!

- Querem parar com isso?! – gritou Harry. Nesta altura, alguns grifinórios olhavam os dois discutindo. – Todo mundo está indo para um canto, e quando nós três ficamos juntos, vocês dois começam a brigar! Por causa de baile, tenha dó!

Harry passou o sábado com os amigos, era dia de visita a Hogsmeade. Aproveitou e se "perdeu" de Hermione e Rony e dirigiu-se à joalheira bruxa, "Jóias da Bruxa" e comprou duas alianças, que estava namorando desde a primeira visita ao povoado, naquele ano.

Aliança prateada, um tanto grossa, com o nome deles gravados e com a data do dia do baile. Ele pediria oficialmente Gina em namoro, resolveria logo o assunto com Rony, não poderia ser tão horrível assim. Encontrou os amigos no Três Vassouras (que estava lotado) conversando normalmente, o que era raro, desde quarta feira, quando Hermione havia brigado com Rony por causa de ciúmes. Harry juntou-se a eles e conversaram e riram bastante, como não faziam há séculos.

- E você, Mione... Com quem vai ao baile? – perguntou Harry, tomando mais um gole de cerveja amanteigada.

- Oh...- resmungou bastante sem graça - Com Filipe.

- Eu sabia que você iria com ele. – contou Rony, batucando com os dedos na mesa – Bastante óbvio, monitor e monitora.

- Você vai continuar com este assunto? – perguntou Hermione, com uma voz esganiçada. – Vai?

- Não! Parvati está me esperando. – disse abrindo um sorriso enorme – E aí, vocês vão comigo?

Harry olhou para a porta do Três Vassouras e lá estava Pavarti Patil, com roupas de inverno rosa-claro e acenando para os três.

- 'Té mais. – despediu-se Rony.

Harry encarou ela, que acompanhava Rony e Pavarti com olhar.

- Olá?

- Ah, oi. – respondeu Hermione, sem graça – Sabe, eu acho que vou indo. Até eu me arrumar... e acho que você quer dar uma palavrinha com Gina, antes do baile.

- Pra falar a verdade, não... Você quer conversar?

- Sobre? – perguntou Hermione, levantando-se e apanhando a sua bolsa.

- Sobre você... Não come, não dorme, só estuda... – comentou Harry, levantando-se também.

- Está tudo bem comigo, Harry. Estou bem! – disse com um sorrisinho amarelo.

- Tem o Rony...

- O que tem ele? – perguntou Hermione, franzindo o cenho.

- Você quer conversar sobre o Rony?

Hermione ficou bastante vermelha e começou a andar em direção à porta. Harry a acompanhou, na medida que saíram do bar, um vento congelante atingiu seu rosto.

- O dia que quiser conversar sobre Rony, eu te procuro – contou com uma voz mal humorada.