Quando Severus Snape Amou uma Aluna de Hogwarts


Capítulo 9


"Por Acreditar que para Tudo há um Momento Certo é que Eu Ainda Continuo Aqui, Mesmo tendo a Certeza de que só Depois de Ir Embora é que Serei Digno de um Pouco do que Chamam de Felicidade..."

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Snape caminhava em direção à sua sala. Sua cabeça doía, doía muito. Tinha a sensação de que esta iria pelos ares a qualquer momento. Os olhos estavam pesando em demasia, o corpo todo estava. Queria encontra-la mais uma vez, mas não sabia como. Pelo que parecia só dependia dela aparecer ou não.

Gillian teria voltado a Hogwarts apenas para lhe pedir perdão, mas acabou por despertar sentimentos... sentimentos que certamente ficariam sem resposta, sem caminho, sem abrigo, sem luz, sem esperança. Sentimentos esses que iriam provavelmente tornar a vida um pouco mais amarga, simplesmente pelo fato de não poderem ser libertados, sequer mencionados. Snape ouviu-a dizer tantas vezes que o admirava, que o amava... que o amava tanto! E agora ele tentava se agarrar àquela lembrança como se fosse o ar de seus pulmões por que..... era verdade afinal. Será que poderiam ficar juntos após a sua morte? Talvez não, talvez ele fosse diretamente para o inferno, lugar que com certeza sua linda e amada grifinória nunca haveria de conhecer.

Não havia descanso para a sua mente. Por mais que tentasse não pensar por pelo menos um instante em tudo aquilo, ele não conseguia... Simplesmente não conseguia.

Passaram-se horas.

A noite se aproximava.

Snape não havia comido nada e muito menos dado qualquer aula por todo aquele dia. Estava em sua sala olhando o vazio, pensando em como parar de pensar. Talvez devesse tomar outra vez uma poção de bloqueio, talvez devesse esquecer, apagar tudo de novo de suas memórias.

"Não! Eu não quero esquecer!", Snape gritou em sua mente enquanto de punho fechado acertava violentamente a parede de pedras em sua frente.

— Eu não quero esqueceeeeeeeer! — gritou agora para fora de si e o grito ecoou pela sala — Maldiçãoooooooo! — e voltou a esmurrar com força o mesmo ponto da parede. E o fez de novo e de novo e de novo... naquele ponto já havia marcas vermelhas, era sangue, mas ele continuava acertando a parede com o mesmo punho fechado e ferido. O sangue agora já começava aos poucos escorrer do tal ponto até o chão. Snape trincava os dentes e apertava ainda com mais força os olhos a cada investida, a cada choque com a rija construção.

— Eu... eu sinto muito... — Gillian sussurrou insegura por trás dele.

Snape parou com o punho ainda contra a parede ao ouvir a voz dela e assim permaneceu como se estivesse imobilizado. Estava ofegante demais, inconformado demais, triste demais... Ele não conseguia se virar... queria, mas não conseguia... Foi então que ele sentiu dois braços vindos por trás e o enlaçando pela cintura, depois o toque delicado do rosto dela apoiando-se em suas costas.

— Não me odeie, por favor... — disse ela entrecortando as palavras num murmúrio.

Nesse instante Snape pôde perceber pelo tom de sua voz que ela também chorava. Também? Nem mesmo tinha percebido em que momento suas próprias lágrimas abriram passagem por seus olhos e rosto novamente.

Odiar? Ela falara em ódio! Snape estava confuso e perdido numa mistura gigantesca de sentimentos, mas ódio, com certeza, não fazia parte disso... e se acaso fizesse, não estaria de forma alguma direcionado a ela, se ele tinha que odiar algo ou alguém... este seria ele próprio!

— Gillian... — ele também murmurou ainda sem condições de virar-se — Por quê?

— Eu sinto muito... — ela repetiu.

— Nada vale uma vida, minha querida Gillian. Nada!

— Isso não é verdade, Severus. Será que você não daria a vida pela sua causa? Pela sua missão? Pela sua luta?

Snape não respondeu. Ele daria!

"Mas a causa precisaria ser muito justa!", pensou junto com a resposta. "Muito justa!".

— Se precisei morrer para ter esse momento com você aqui agora — e beijou as costas de Snape sob o negro de suas roupas —, te digo que, pelo meu amor, tudo valeu a pena! Tudo!

Foi então que Snape virou-se.

E os olhos se encontraram...

Ele queria falar mais, questionar mais, perguntar mais, mas... emudeceu. Snape só conseguia olhar dentro daqueles olhos castanhos e inundados de lágrimas, assim como os seus próprios deveriam estar, ele sabia. Será que derramaria em um só dia as lágrimas de uma vida inteira? Havia tantas assim acumuladas em seu rígido e esquecido coração?

Faltaram as palavras naquela hora... Sim, as palavras, mas não as ações. Snape a puxou em sua direção e a envolveu num abraço demorado. O perfume que vinha dela o inebriava como sempre e ela era tão quente e tão macia... parecia tão viva, tão real, tão perfeita! Como pôde não ama-la há sete anos atrás? Como? Talvez a culpa tivesse sido do destino que provavelmente não lhe dera qualquer chance para isso!

O destino! Sempre o destino! Já não era de admirar... O destino e ele nunca foram muito amigos, nunca se deram muito bem... E lutar contra o destino à vezes era tão cansativo e difícil! Apesar de que ele não estava certo de que a culpa não fosse exclusivamente sua desta vez.

— Você pode me perdoar pelo que eu fiz, Severus? — Gillian indagou baixinho em meio ao calor do abraço.

— Sim, eu posso! — Snape a segurou com mais força e apertou os olhos numa tentativa frustrada de cessar as lágrimas — Quem dera eu pudesse fazer mais!

Gillian ergueu a cabeça procurando mais uma vez pelos olhos dele.

— Mas você pode, Severus. Você pode.

As lágrimas de novo nos olhos dela! Snape sentiu o desespero consumi-lo com muito mais vigor agora. Sabia que tudo aquilo nada mais era que um Adeus. E sentia que o tempo estava passando mais rápido que o normal! Desespero! Ele sentia! Ela estava indo embora, ele sabia! Os olhos dela! As lágrimas! Mas ainda faltava algo para que ela fosse embora para sempre! E Snape sabia! Queria tanto beija-la, mas ele também sabia que... E Gillian continuava pedindo-lhe com o olhar.

Respiração difícil! Quase arquejante!

Coração em Brasas

Batendo Intensamente

Numa velocidade Extraordinária

Querendo saltar em algum lugar bem longe do peito.

Corpo em puro frenesi.

Desespero total!

E finalmente, o beijo!

União e Separação!

O Beijo louco

Maravilhoso

Doloroso

Angustiado

Sofrido

Necessário!

E agora?

Agora o medo!

O medo de abrir os olhos e ver a realidade tão crua e tão nua como nunca a realidade fora tão crua e tão nua em toda a sua existência real.

Ela não estaria mais lá!

E não estava...

Snape recostou-se na mesma parede que há pouco esmurrava como se pedisse, por compaixão, um pouco de seu apoio. Depois foi caindo devagar até seu corpo inteiro estar ao chão. Na mente apenas uma frase repetida seguidas vezes sem parar: "Eu te amo!", entonada ora ao som da voz dela... ora ao som de sua própria voz...

E ali ele passaria o resto da noite....

Envolvido em lágrimas... e solidão...

Sozinho!

"Como sempre!".


continua...