Quando Severus Snape Amou uma Aluna de Hogwarts
Capítulo 10
"Do amor, a lembrança. Da lembrança, a saudade. Da saudade, a Certeza. Da Certeza, o Sorriso. Do Sorriso, Você..."
"De você... o Amor"
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Cerca de Quarenta Dias depois....
Snape entrou em seu quarto e trancou a porta atrás de si apenas com um breve murmurar de um feitiço. O professor de poções parecia cansado. Retirou a capa largando-a sobre a cabeceira da cama. Olhou em volta devagar. Naquele instante sentira um leve arrepio ao lembrar que ela já estivera ali. Sentou-se na borda da cama e lentamente alisou com as pontas dos dedos a parte central do colchão onde os dois dormiram juntos por três noites seguidas. Sorriu, mas de melancolia. Enfim descobrira que sim, era possível sorrir de tristeza. Seu olhar parecia ter perdido o foco no momento em que num suspiro profundo, pronunciou "Adamus Gillidius" quase sem força na voz. Era um feitiço criado por ele desde que ela fora embora.
De um momento para o outro começou a chover cellidios azuis dentro do quarto. As pequenas flores azuis caiam incessantemente sobre o chão, sobre a cama, sobre ele, sobre tudo ali. Snape deitou-se e puxou para si uma coberta no intuito de amenizar o frio que tomara conta de seu corpo já completamente encolhido sobre a cama. E era só assim que Severus Snape estava conseguindo dormir por todas as noites que se seguiram após a partida de Gillian. Era só assim, sentindo o perfume que ele considerava dela e não das cellidios, estas teriam apenas roubado dela um dia, que Snape adormecia nos últimos quarenta dias.
Sentada na cama ao seu lado, estava Gillian passando levemente uma das mãos pelos cabelos dele. Ela sorria acompanhando Snape adormecer pouco a pouco.
— Eu não posso mais te ver, mas você está aqui. — Snape sussurrou com os olhos fechados e aspirando com mais intensidade a aroma espalhado no ar — Eu sei que sim...
"É claro que você sabe, meu amor. Você é o homem mais especial que já surgiu sobre estas terras mágicas que um dia desfrutará da verdadeira paz, mas apenas por tua preciosa ajuda. Nesse dia... Nesse dia eu segurarei em tua mão, te acalmarei num abraço e te guiarei em meio a fumaça densa e escura do caminho até que a luz surja para nós".
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— Levantem-se todos! Levantem-se! O juiz proferirá agora a sentença!
Todos ergueram-se de seus lugares.
— Senhorita Gillian White Ridley, pelos poderes a mim conferidos e pelos fortes argumentos de sua defesa que decidiram sabiamente se basear nos itens "perdão" e "amor", concedo à sua alma a absolvição pelo ato de suicídio!
Gillian e seus defensores Tiago e Lílian Potter se abraçaram neste momento.
— Desde queeeeeee! —o juiz gritou para chamar a atenção daqueles que já comemoravam a vitória.
Os três então cessaram as comemorações. Ainda haveria condições.
— Desde que a senhorita aceite de bom grado prestar serviços voluntários em prol de nossa comunidade! — e bateu o martelo.
— Desculpe, excelência. — Tiago falou solícito — Por acaso se refere ao cargo de guardião espiritual?
— Exatamente, senhor Potter. Por quê?
— Excelência, se me permite uma observação e até quem sabe, uma sugestão, sabemos que o senhor Severus Snape perdeu totalmente o seu direito de ser acompanhado por um guardião espiritual da comunidade dos bruxos do além, a CBA, quando aceitou se tornar um comensal da morte.
— Isso é correto. — afirmou o juiz franzindo as sobrancelhas. Queria saber onde Tiago Potter queria chegar apesar de já fazer uma certa idéia.
— Poremmmm! — Thiago puxou bem esse 'porém' — O mesmo nunca fora reincorporado ao grupo guarnecido após o seu arrependimento! E isso depois de constar nos autos que ele realmente se arrependeu!
— Bem, é que isso ainda não entrou em pauta. Como o senhor sabe sofremos com a burocracia. Até um pouco de demagogia no sistema se me permite dizer. — explicou o juiz um tanto sem jeito.
— Pode acreditar Excelência, eu compreendo perfeitamente. É exatamente com base nos fatos explanados e sabendo que a minha Cliente necessita se tornar um guardião espiritual de alguém, proponho que este alguém seja o próprio Severus Snape! Assim neutralizamos dois coelhos, o senhor sabe, com um Expelliarmus só!
— Isso só pode ser algum tipo de brincadeira da parte do nobre colega! — manifestou-se a promotora do caso erguendo-se de sua cadeira quase tão rápida quanto a velocidade da luz — Excelência, peço que desconsidere tal proposta visto que isso não seria encarado pela ré como penitência pelos seus crimes contra si mesma! Isso seria... um presente! — berrou indignada.
O juiz permaneceu sério e pensativo por alguns minutos, depois voltou a bater o martelo.
— Sugestão aprovada, senhor Potter! A senhorita Gillian Ridley se tornará a partir deste momento a guardiã espiritual do senhor Severus Snape até o fim dos seus dias na Terra! — ele falou em alto tom depois virou-se para a promotora ao seu lado — Não se preocupe... — disse-lhe baixinho para só ela ouvir — Isso não vai durar muito.
— Como se isso fosse ruim para ela. — limitou-se a rosnar entre os dentes.
— Senhorita Ridley, por favor, venha até aqui. — o juiz pediu.
Gillian seguiu até a mesa do juiz ficando de frente a ele.
— Senhorita, antes de mais nada precisa ter a consciência de que nem tudo dependerá da senhorita. Por isso, regra número um dos guardiões espirituais: Se algo deu errado, não é culpa sua! Seu guarnecido tem livre arbítrio para escolher a pior opção, não se esqueça disso. Segundo: seu guarnecido nunca, mas nunca mesmo poderá ouvi-la. Já vimos muitos casos dos guarnecidos terem a nítida sensação de estarem sendo acompanhados, mas nunca nenhum deles descobriu quem eram seus guardiões. Nada de conversa! Terceiro: Apegar-se ao guarnecido é muito comum, principalmente no seu caso — ele sorriu para ela —, mas lembre-se, todo guardião vê seus guarnecidos passarem por situações boas e ruins. Não adianta se desesperar se seu guarnecido está sofrendo por alguma situação terrível. É assim que eles aprendem. E por último: Cuidado, quando um guarnecido morre, a primeira imagem que ele tem é de seu guardião que o trará até aqui. Devo avisa-la ainda que particularmente falando de Severus Snape, a senhorita passará por muitas agonias ao lado dele e sofrerá com ele por nada poder fazer para cessar suas dores e horrores. A pergunta é: A senhorita aceita o cargo para assim estar completamente livre de sua pena por suicídio?
Gillian começou a chorar. Não conseguia ainda acreditar que estaria tão perto de Snape.
— Sim ou não? — insistiu o juiz. Apesar de saber qual seria a resposta, ele precisava deixar armazenado nos registros que a ré aceitara de bom grado.
— Claro que sim! É claro que sim, excelência! Não sabe como o senhor e os senhores Potter me fizeram feliz com esse veredicto.
— Então pode começar, senhorita. Treinamento de trinta dias e depois início imediato. Boa sorte! Caso encerrado! O próximo!
Gillian correu ao encontro de seus advogados, mas foi barrada pela acusadora deste caso.
— Ao que parece, você se saiu muito bem disso tudo. — a promotora resmungou com um muxoxo.
— Desculpe pelo que fiz. Sei que a senhora estava certa ao informar aos representantes da Comunidade o que eu estava fazendo em Hogwarts. Eu só queria...
— Uma segunda chance... — a promotora abriu um sorriso e Gillian assustou-se com isso; a promotora, sempre tão séria e cheia de preceitos, estava sorrindo — Bom, parece que você a conquistou. Não a desperdice dessa vez.
— Não senhora! Não vou desperdiçar. Obrigada!
— Pode ir, vá... Aqueles... dois — e torceu o nariz — estão te esperando.
Gillian saiu correndo na direção de Tiago e Lílian e os abraçou ao mesmo tempo com um sorriso enorme.
— Obrigada! Muito obrigada por tudo o que fizeram por mim! Obrigada por me protegerem com sua magia, por me permitirem viver... VIVER — ela repetiu enfatizando bem a palavra — um pouco mais e ao lado dele. Vocês foram maravilhosos comigo!
— Não há de que, querida. Quando Snape morrer, diga a ele o que fizemos, sim? — disse Lílian de forma delicada.
— Eu direi sim, não se preocupem!
— Isso! — Tiago esmurrou o ar de satisfação — Daí veremos como o ranhoso vai conseguir nos encarar depois de todos esses anos pegando no pé do nosso Harry! Yesssss! — e os dois, Tiago e Lílian, bateram as mãos no ar.
Gillian só sorriu. Eles eram mesmo demais.
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A única certeza que Snape tinha era que guardaria para sempre em sua memória a doce imagem de Gillian, uma aluna que fora completamente apaixonada por ele, uma aluna por quem ele fora completamente apaixonado, mesmo que essa paixão só tivesse surgido sete anos após a morte dela.
E naquela noite, mais uma vez, o mestre das poções adormecera acometido pelo suave perfume que o envolvia.
"Meu amor, Severus Snape."
FIM
