O Novo Professor
Capítulo Dois - A Detenção e Afins
Qualquer pessoa diria que Íris tinha enlouquecido completamente com aquela idéia. Ela própria sabia que fazer amizade com um professor mal encarado era uma atitude bastante estrambólica, mas Íris tinha em mente a diversão que viria.
Mas, afinal de contas, ela estava no sétimo ano e não podia se preocupar em tempo integral com uma "missão". Logo trataram de mudar de assunto.
Por algum tempo Íris não pensou mais em qual estratégia poderia usar para amolecer alguém como Severo Snape. Só voltou a se preocupar com esse assunto no entardecer do dia seguinte, quando a detenção se anunciou muito próxima.
Judy e ela foram juntas até certa parte do caminho; depois de separaram. Judy tomou a direção da sala de Filch e Íris, a de Snape.
Quando chegou lá, o lugar estava deserto. Nem de longe aquela sala lembrava o lugar dos tempos dos prof. Hollander, aquilo agora era sombrio e mal iluminado por dois ou três archotes aqui e ali. Via-se que Snape não gostava muito de luz. Íris ainda estava observando a sala do novo professor quando a porta se abriu, dando espaço para que o próprio dono entrasse.
-Então já está aqui, Branden?-disse ele, bem devagar e num tom muito irritante.- Os panos e as vassouras estão bem ali no canto. Pode começar.
O que fez Íris quase desistir da idéia de que aquilo podia mesmo ser um ser humano.
-Está bem, professor.-ela murmurou, dando as costas para Snape.
Ele sentou-se na sua mesa e começou a fazer um monte de anotações num pedaço de pergaminho. Às vezes ele se lembrava de algo e pegava alguma outra coisa no seu armário, mas Íris nunca conseguia ver o que era. Enquanto varria o chão, começou a pensar em como poderia começar algum tipo de conversa. Quando Snape finalmente parou de anotar e ficou apenas sentado, com o pensamento distante, Íris achou que aquela era sua chance:
-Preparando as suas próximas aulas, professor?
Snape nem se mexeu. Parecia estar com o pensamento muito distante mesmo. Sem desistir, Íris repetiu a pergunta.
Finalmente ele demonstrou ter ouvido.
-Qual é o seu interesse no que eu faço, Branden?
Íris esperava uma resposta atravessada como essa. Não se abalou.
-Eu só queria conhecer o meu novo professor de Poções, ora... Eu sempre tive aulas com o prof. Hollander, desde o primeiro ano.
Snape pareceu ligeiramente surpreso com o interesse de Íris, mas manteve o tom indiferente.
-O meu trabalho fora das aulas não é da sua conta, srta. Branden. Já terminou o serviço ou não?
-Já estou quase acabando, professor.-respondeu ela, num tom propositalmente monótono.
Depois virou as costas para limpar uma prateleira, e resmungou, suficientemente alto para Snape entender:
-Humf, se eu fosse da Sonserina, aposto como ele teria me respondido direito. Bom, se eu fosse da Sonserina nem estaria aqui cumprindo detenção.
Snape entendeu muito bem, mas fingiu ter ouvido apenas uma reclamação qualquer.
-Quer perder mais pontos para a Grifinória por ficar falando fora de hora?
Com a ameaça, Íris se calou por algum tempo, tentando fazer o professor esquecer a própria intimidação. Um tempo depois, a limpeza estava terminada.
-Acabei, professor. Posso voltar para a minha sala comunal?
-Ande logo.-retorquiu Snape, sem nem mesmo olhar pra ela. Íris achou que não faria mal uma última tentativa, quando já estava abrindo a porta:
-Bom, professor, então boa sorte na próxima aula... Tchau!
E saiu, antes que descobrisse a reação dele.
Era a primeira vez que alguém tentava se aproximar de Snape, o que o deixou com a pulga atrás da orelha. Ele achou que ela estava apenas tirando sarro da cara dele, por isso fez o possível para não levar a sério.
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Íris passou o sábado seguinte preocupada pura e somente com quadribol. Era seu último ano, e ela era capitã da Grifinória, responsável pelo desempenho do time. Na manhã daquele dia, ela reuniu o time de quadribol e os candidatos ao novo apanhador.
-Bom, Eric, agora onde estão os candidatos a apanhador?-perguntou Íris ao goleiro do time, Eric Draven.
-Er... Olha pra trás, Íris.
Ela se virou, mas logo em seguida arrependeu-se de tê-lo feito. Atrás dela, uma das maiores filas que viu em toda a sua vida: pelo menos cinqüenta garotinhos miúdos de primeira, segunda, terceira ou até quarta série.
-Eric -balbuciou Íris.- eu quero morrer.
-Nem me fale.-disse ele.- Beeby, Mikael e Briane disseram a mesma coisa. É desesperador, não acha?
-Com certeza.-murmurou Íris, respirando fundo.- Bom, Eric, você poderia mandá-los se dividirem em seis filas? Vou fazer uns Feitiços de Cópia no pomo de ouro, cada um de nós examina uma fila e depois chegamos a uma decisão juntos.
O exame de quadribol quase acabou com ela. Arrastou-se pela manhã e pelo início da tarde. Ela estava cansada e com fome, e os apanhadores haviam sido decepcionantes. Agora só restava um candidato, um garoto da segunda série de cabelos muito vermelhos.
-Ah, oi Carlinhos.-cumprimentou ela.-Então você veio mesmo fazer os testes para apanhador? -Vim... Mas você não parece muito feliz com isso, Íris. Se quiser parar por um tempo, você está com cara de quem precisa mesmo almoçar...
-Não, Carlinhos, é só o cansaço. E você é o último mesmo, não tem problema. Só não me decepcione como os outros fizeram, por favor.
Carlinhos deu um grande sorriso, exibindo com uma mão sua vassoura, muito velhinha e surrada, a mesma que Gui usara há um ano atrás quando substituiu Eric, que tinha quebrado uma perna e um braço ao ser empurrado da vassoura por um artilheiro da Sonserina. Íris então desfez o Imobillus que lançara no pomo que era o original, cujas cópias estavam examinando os outros candidatos. E justamente por ser o pomo original, era mais difícil de ser pego. Carlinhos montou na vassoura e se preparou.
-Pronto?
-Pode soltar.
Íris soltou o pomo que segurava e ele imediatamente saiu zunindo pelo ar; como uma flecha (e rápido demais para uma vassoura tão velha) , Carlinhos passou atrás. Todos no campo de quadribol prenderam a respiração enquanto Carlinhos voava pelo campo atrás do pomo de ouro. A pequena bola dourava passava entre os outros candidatos, obrigando Carlinhos a segui-la, descrevendo curvas incríveis e até mesmo um tanto impossíveis. Ele foi espetacular, e sua manobra terminou quando o pomo, acuado, apelou para uma descida vertical com tudo.
Carlinhos não se intimidou e foi até o fim, pegando-o quando a bolinha dourada pegava embalo para recomeçar a subir.
Das portas do castelo já era possível ouvir o barulho ruidoso das palmas direcionadas a Carlinhos. Na mesma hora, Eric usou o Sonorus e anunciou:
-Temos um novo apanhador! E ele é Carlinhos Weasley!! Íris deu um grande sorriso, vendo a cara de felicidade de Carlinhos enquanto fazia seu vôo triunfal pelo campo.
