O Novo Professor
Capítulo Quatro - Pensamentos Confusos
Anos depois de terminar Hogwarts, fora outras coisinhas, quase todas as memórias que Íris guardaria do sétimo ano seriam dela mesma estudando. Ela estava morrendo de medo dos N.I.E.M.s, e o Natal estava chegando muito rápido, como se o tempo corresse contra ela. Por isso, decidiu passar as férias em Hogwarts, para revisar as matérias sobre as quais ela praticamente passara batido.
Naquele Natal em Hogwarts, que viria a ser o último de Íris na escola, poucas pessoas ficaram. Herbert, Judy, Gui e Carlinhos foram todos para suas casas. Os pais de Íris - Abigail e Thomas Branden - deixaram-na ficar na escola com facilidade, assim que ela lhes mandou sua coruja dando uma demonstração a eles de toda a matéria acumulada que tinha pra revisar. Além de tudo isso, tinha as táticas do time de quadribol para rever.
Foram férias tranqüilas, e isso era também o que Íris esperava do jantar de Natal, embora não tenha sido exatamente assim. Em toda a mesa da Grifinória havia apenas seis ou sete alunos. Íris ouviu o discurso de Dumbledore com apenas metade da atenção, mais interessada no livro de Poções, escancarado em frente ao prato a apoiado no suco de abóbora. Quando o diretor terminou seu discurso, ela levou os olhos à mesa dos professores e sentiu um arrepio perto do estômago quando seu olhar se encontrou com o de Snape.
Imediatamente, ele desviou. Íris também. Voltou ao seu estudo e ao seu jantar por muito tempo.
Mas ela podia sentir à distância que o mesmo não acontecia com Snape, podia sentir que os olhos dele estavam nela de novo. Ela só poderia perceber se esse olhar era de amizade ou de... porque para isso era obrigada a ter que encará-lo de novo. Ao contrário do que, com certeza, aconteceu com o leitor dessa fic, Íris nunca viu o prof. Snape como um homem... disponível. "Não estou dizendo que ele seja bonito", Íris lembrou-se das palavras de Alexandra, "Mas um dia ele pode até ter sido".
Íris não teve coragem de erguer os olhos para confirmar a si mesma o comentário da colega. Achou mais prático vasculhar suas memórias, mas como é clássico acontecer nesses momentos, a lembrança do rosto do professor escapou-lhe da mente como areia entre os dedos. Reunindo coragem, com rapidez voltou-se para a mesa dos professores. Não era um olhar apaixonado, Íris constatou com alívio. Era um olhar quase surpreso. Ele deveria estar pensando no porquê dela ter se importado com ele tantas vezes.
Quando se levantou, um tempo mais tarde, para voltar à sala comunal, olhou para trás e viu Snape vindo na sua direção. Suas pernas nem pareciam se mover, ele dava a impressão de ser um fantasma, flutuando sobre o chão. Íris virou-se e simplesmente esperou que Snape chegasse até ela, sem ter melhor opção. Logo, eles estavam frente a frente.
-Srta. Branden -ele disse- há um assunto muito importante, que preciso falar com a senhorita.
-E qual seria esse assunto?
-Venha comigo.-respondeu Snape, secamente.
Com o livro de Poções debaixo do braço e com uma expressão confusa no rosto, íris seguiu Snape até as frias masmorras. Ficou toda arrepiada de puro frio, e encolheu-se dentro de seu uniforme da Grifinória. Chegaram, finalmente, e nisso ela já estava tremendo. Snape, ao contrário, pareceu acostumado a sobreviver naquela geladeira; viu que Íris estava congelando e entregou a ela sua pesada capa. Por baixo, nenhuma surpresa: mais roupas negras.
-Obrigada, professor.-Íris disse, enrolando-se na capa e constatando, num arrepio, que o calor da roupa que agora a envolvia pertencera a Snape.-Então... Sobre o que queria mesmo falar?
-Quero saber -disse Snape com rudeza.- se contou a alguém sobre eu... Sobre a época em que servi ao Lord das Trevas.
Íris olhou-o, surpresa. -Por que eu sairia espalhando um segredo que o senhor me contou sem querer?
Por um instante, Snape pareceu um humano a Íris - ela teve a impressão de ter visto alívio em seu rosto. Mas só por um instante.
-Por quê?-ela se arriscou a perguntar.
-Nada que importe.-retrucou Snape, depressa, desviando do olhar dela.
Íris já ia perguntar se era só isso que ele queria, quando sentiu algo estranho. Um zumbido sem razão invadiu seus ouvidos, primeiro bem baixinho, depois aumentando de volume de tal forma que ela não escutava mais nada. Íris perdeu a consciência de onde estava, o barulho ensurdecedor e insuportável encheu sua cabeça, e ela se lembrou de ter gritado duas palavras com toda a força, quando o zumbido cessou - a aflição estava muito distante agora.
Snape olhava pra ela, com uma expressão séria de quem tanta disfarçar uma grande surpresa. Quando recobrou toda a consciência, Íris percebeu que ele estava segurando seus braços com força - talvez ele a estivesse sacudindo para despertá-la. Então ele soltou-a repentinamente, como se o toque dela, mesmo sob camadas e camadas de roupas, de alguma forma o incomodasse.
Íris encarou-o no fundo dos olhos, confusa.
-Que droga de zumbido foi esse?
-Zumbido?-repetiu Snape, afastando-se dela bem depressa.-Do que está falando, Branden?
-O senhor não ouviu?-disse ela, assustada.
-Tudo o que vi e ouvi foi a senhorita começar a fazer uma cara um tanto sofredora e depois gritar um feitiço.-retorquiu ele, virando as costas e andando até a sua escrivaninha.
O que não adiantou nada, ela correu até ele de novo.
-Eu comecei a ouvir um zumbido tão alto, parecia que a minha cabeça ia estourar e... Que diabos eu gritei?
-Finite Incantatem- murmurou Snape, fugindo dela de novo até uma de suas estantes de livros, pegando um.
-Certeza? Logo que eu gritei, tudo voltou ao normal. Não posso ter feito um feitiço sem a minha varinha... Ou posso?
-Conheço apenas um tipo de pessoa que pode fazer feitiços sem uma varinha.-disse Snape, folheando furtivamente o livro. -E esse tipo seria...
-Uma Rowena.
-Rowena?? Do que está falando, professor??-exclamou Íris.-Rowena não é o primeiro nome de Ravenclaw, a fundadora da Corvinal?
-Precisamente.-falou Snape, pousando o livro sobre sua escrivaninha.-Fazer feitiços com palavras, sem a varinha. Só palavras e poder. Um dom exclusivo entre os descendentes de Ravenclaw.
-Ei, espera aí.-interpelou Íris.-Eu pertenço à Grifinória.
-Não há necessidade de me lembrar disso, Branden.
-Ah... Até faz sentido. Tenho uma prima na Corvinal, o pai dela é irmão da minha mãe... Professor, mas e o zumbido que eu ouvi?
-Dou aula de Poções, não de Feitiços.-disse ele.
-Não há necessidade de me lembrar disso, prof. Snape.-retrucou ela, imitando-o. Ele bufou e leu bem por cima o que estava escrito na página do livro.
-Vou falar de seu dom a Dumbledore.-disse, ignorando a provocação anterior dela.-Não é todo dia que se descobre a família de um dos fundadores de Hogwarts.
-Vai falar também sobre aquele zumbido esquisito que eu escutei?
-Se achar relevante, Branden.
-Como se não fosse relevante o fato de eu ouvir sozinha uma porcaria de zumbido dos infernos!!-Íris explodiu, perdendo a paciência. Mas no instante seguinte se arrependeu, sentindo-se diminuída com o olhar austero de Snape.-Desculpe, professor.-acrescentou. Ele nem pareceu ter ouvido.
-Já pode voltar para a, hum, Torre da Grifinória, Branden.
Tudo o que já tinha acontecido, mesmo sem ser a seqüência mais emocionante do mundo literário já era o suficiente para tirar o sono de Íris por algumas boas horas. Creio que o "ataque do zumbido" nem precisava ter se repetido. Mas, de fato, repetiu-se.
Ela já estava abrindo a porta para sair; quando olhou para trás por um instante, aquele ruído infernal voltou com força total. Ela tentou gritar o feitiço de novo, mas sentiu que não conseguia mover de nenhuma forma sua garganta, de repente nem respirar ela conseguia, sua vista foi se apagando e ela pensou que fosse morrer daquele jeito... Ela caiu no chão, totalmente sem ar, tentando em vão encher seus pulmões, quando um tremendo estampido se sobrepôs ao zumbido que insistia em seus ouvidos...
E, de repente, tudo parou. O ruído, a aflição, o pânico e tudo o mais, Íris sentiu seus pulmões se enchendo de novo, com um ar que nunca antes lhe parecera tão valioso. Íris, caída no chão, deixou-se ficar ali por uns momentos, respirando depressa e retomando o fôlego. Tomou consciência de que ainda estava na sala de Snape, e que ele devia estar olhando espantado para ela outra vez naquele momento. Íris se sentou no chão em que estivera deitada e...
Snape estava jogado do outro lado da sala, desacordado, com um ferimento na cabeça que sangrava a cântaros. O coração de Íris quase parou com o susto. Levantou-se às pressas e correu até ele. Ele perderia sangue demais até chegar à ala hospitalar. Ela precisava fazer algo com os ingredientes que tinha ao seu alcance bem ali, naquela sala. Por dentro, ela deu um risinho sarcástico. Poções era agora uma de suas piores matérias.
Mas tinha que dar um jeito! Íris abriu o armário de Snape com estrépito. Com um suspiro de muita sorte, ela encontrou um vidro médio de Poção Cicatrizante, prontinho. Em seguida, praticamente voou até uma gaveta, onde achou um grande rolo de bandagem. Parece que hoje é o dia de sorte de Snape, pensou ela, embebendo um grande pedaço de faixa na poção e correndo a tapar o ferimento, na parte de trás da cabeça do professor.
Para seu alívio, Íris logo notou a diminuição de hemorragia. Ela suspirou, aliviada.
-Muito bem, professor, agora tem uma ala hospitalar esperando por você... Ops, pelo senhor.
Íris ajoelhou-se ao lado dele pra conseguir enfaixá-lo direito. Estava tão entretida em fazer o curativo direito que nem viu quando Snape abriu os olhos. Ele acordou, meio desnorteado, e quando percebeu que Íris estava bem ali, encostada nele e cuidando de seu ferimento, deu um tranco para o lado com força e quase bateu a cabeça outra vez.
-Bom, vejo que acordou.-disse ela, abrindo um grande sorriso.
-Já que tem tanta certeza...-retrucou Snape, pondo a mão na cabeça.
-O que aconteceu com você? Eu ouvi a porcaria do zumbido de novo e fiquei sem ar.
-Um raio me pegou, vindo da porta. Então fui jogado contra a parede.
-Mas... Prof. Snape, eu estava à porta.
-Conte-me uma novidade, Branden.
-Ha, ha, ha, vejam o piadista de Hogwarts.-falou Íris, indo até ele.-Anda, prof. Durão Snape, me deixe ver esse corte, vai que eu tratei errado dele.
Snape foi obrigado a deixar que ela cuidasse de seu ferimento, até porque ele estava encurralado contra a parede. Mas, ainda assim, ele ainda não tinha se acostumado com o fato de Íris se importar com ele.
-Pronto!-ela exclamou, sorrindo.-Agora não vai mais sangrar.
-Por que fez isso?-inquiriu ele, recompondo-se no alto de sua (falsa) frieza.
-O quê? O ferimento? Eu teria feito por qualquer pessoa.-respondeu ela.-Oh, não, quero dizer, o senhor podia ter morrido com todo aquele sangue a menos, eu não podia simplesmente ir embora!
Snape ergueu a mão para que ela se calasse. Então foi até a porta e abriu-a pessoalmente.
-Assim tenho certeza de que não serei jogado no ar de novo. Pode ir, Branden.
-De nada, professor.-ironizou ela.- Que tal ser educado às vezes? Um obrigado não vai fazer sua boca cair.
-Já chega, srta. Branden, já tolerei muitas das suas gracinhas esta noite.
Íris fez uma cara descontraída e aproximou seu rosto do professor, perturbando-o de novo:
-Um dia vou fazer com que o senhor me trate como gente!
