O Novo Professor

Capítulo Doze – Impossível

Snape não ficou muito tempo na Espanha depois da morte de Íris. Dumbledore consolou-o de certa forma, dizendo que, mesmo tendo ido como guardião dela, não era sua culpa, e ainda assegurou que ele não precisava mais ficar no país. Ainda entorpecido mentalmente, Snape voltou para a Inglaterra, e soube, dias depois, que a mãe de Íris também morrera, Abigail Branden. Morta pela tristeza, ele julgou.

Ele nunca esqueceu aquela garota de cabelos loiros, sorriso contagiante e modos alegres, e mesmo anos depois chegou a pensar que estivesse apaixonado por outra pessoa, mas, como se ele estivesse sendo perseguido, ela também foi assassinada, diante de seus olhos como acontecera com Íris...

Treze anos depois da morte de Íris, Snape era uma pessoa amarga e cruel, mas do que quando dera aula em Hogwarts pela primeira vez. Agora, ele tinha que lidar com o filho convencido de seu inimigo de infância, Tiago Potter, viu-se mesmo obrigado a protegê-lo certa vez, e poucas coisas conseguiram deixá-lo tão na dúvida se devia ter mesmo feito aquilo. Afinal, quando Voldemort ressurgiu, Snape pensou se teria valido a pena todo o esforço para mantê-lo afastado, se no fim ele ressurgiria de qualquer modo.

Um ano depois, ele sumiu de novo, arte do filho de Potter, que parecia especialmente destinado a combatê-lo, ano após ano. Snape assistia a tudo, e em conversas com o prof. Dumbledore, era obrigado a assumir que o garoto tinha muita fibra. Mas isso não queria dizer que ele pudesse se achar sempre acima de tudo, como costumava fazer. Snape odiava Harry Potter e Harry Potter odiava Severo Snape. Isso era realmente indiscutível.

No fim do ano seguinte, quando Voldemort voltou à ativa pela terceira vez, Snape pensou em desistir de vez. Se ainda não fora morto durante todos esses anos, algo lhe dizia que essa volta do Lord das Trevas era definitiva e que desta vez ele não escaparia. Com um aperto no coração, Snape lembrou-se de que nem tinha mais alguém para dizer: "Isso é irrelevante, Branden".

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Íris Branden chegou em seu apartamento trouxa quando já começava a escurecer na cidade de Madrid. Não era porque fora obrigada a morar como uma trouxa nos últimos anos que abandonaria seus hábitos bruxos, como, por exemplo, receber cartas por corujas. Uma delas a esperava no peitoril de sua janela.

Íris, agora uma mulher de trinta e quatro anos, um pouco abaixo do peso pela dificuldade com que vivera em seus primeiros anos sozinha, de olhos cor de mel que insistiam em brilhar mesmo com a vida que já levara, trabalhava havia uns meses num escritório trouxa. Recomendada por Dumbledore que estudasse alguma ciência trouxa para arrumar emprego, ela estudou matemática e conseguiu se estabilizar. Antes, durante os últimos dezesseis anos, ela havia pulado de emprego para emprego, chegara até a se mudar para Portugal, mas agora já havia aprendido espanhol, e português já era demais para ela.

Ela tomou um susto ao ver a coruja folgada bem ali, onde qualquer trouxa podia vê-la e suspeitar de alguma coisa, e correu até a ave, fechando a janela bruscamente. Aquela ave era Atena, sua coruja nova. Trazia uma carta de Dumbledore, de novo.

As primeiras linhas da carta fizeram com que ela dançasse feito uma louca pelo apartamento:

Íris,

Ótimas notícias. Finalmente seu inquérito foi retirado. Você foi inocentada por ter matado Judy Halfman, com uma ajuda generosa de meu amigo Arthur Weasley, pai de seus amigos Gui e Carlinhos, lembra-se? O que significa que você já pode voltar para a Inglaterra, a qualquer momento.

A mulher pulou pelo cômodo feito uma maluca, riu e sacudiu Atena, com gritos histéricos. A coisa com a qual ela mais sonhara, mais devaneara, agora era real. Por dezesseis anos ela se escondeu dos bruxos porque seria levada para Azkaban por ter matado Judy, não é porque ela era uma Comensal da Morte que Íris seria uma exceção à lei. Felizmente, poucos sabiam que ela ainda estava viva, o que facilitou o processo. Dumbledore dizia que ela estava viva, mas todos que já o consideravam maluco, resolveram absolvê-la para "livrar a memória da garota" e também para se livrarem das cobranças daquele diretor de escola.

Íris pulou tanto que logo teve que ir para a cozinha tomar um pouco de água, mas estava feliz demais para se importar com algo. Foi quando percebeu que mal começara a leitura da carta. Voltou para o sofá da sala e retomou a leitura, ainda respirando com dificuldade, e constatando que quebrara uma mola do móvel.

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No penúltimo dia de aula daquele ano, Snape foi chamado à sala do diretor. Estava furioso ultimamente, pois a Taça das Casas já estava definida de novo, para a Grifinória. Não fazia idéia do que Dumbledore queria com ele, Minerva McGonagall parecia muito animada quando o comunicou de seu chamado.

Snape falou a senha e entrou na sala circular do diretor. Dumbledore estava sentado em sua cadeira, como sempre, e tinha um sorriso contido, visível por baixo de sua enorme barba.

-O senhor me chamou?-perguntou ele.

-Sim, chamei-o, Severo -respondeu Dumbledore, desistindo de disfarçar sua alegria.-, e finalmente acredito que tenho uma notícia maravilhosa para você. Duvido mesmo que acredite no que vou lhe contar.

Snape ergueu apenas uma sobrancelha.

-E precisamente o quê poderia melhorar as coisas a essa altura dos acontecimentos?

-Quatro palavras responderão a sua pergunta, Severo.

-Então estou esperando que as diga.

-Como quiser: Íris Branden está viva.

O professor de Poções nem se mexeu. Ficou olhando Dumbledore, imóvel, vendo que ele tivera razão. Ele não acreditara. Ao mesmo tempo, uma onda de calor pareceu surgir dentro dele, um raio de esperança.

-O que disse?

-O que ouviu, Severo. Íris está viva, contrariando as suas expectativas.

-Mas... Como isso é possível?

-Primeiro quero que se lembre do que me disse quando relatou a morte dela: você lamentou não saber executar um Feitiço da Vida. Realmente, Severo, você não tinha essa capacidade. Mas eu descobri que Abigail Branden tinha.

-Mas... Não, passou-se mais de uma hora da morte de Íris até que ela ficasse sabendo, não foi?

-Não. Assim que interrompi o contato com você, contatei os Branden, para dar a notícia, do mesmo modo que conversamos. Desse modo, a sra. Branden teve algum tempo para executar o Feitiço e dar sua vida pela filha.

Snape olhava, pasmado, para o rosto de Dumbledore. Então, mesmo perturbado como ficara com a notícia, lembrou-se de acusar o diretor:

-E por que diabos você escondeu isso de mim durante todos esses anos??

-Íris matou Judy ao mesmo tempo que foi também amaldiçoada por ela. Mesmo tendo matado uma Comensal, a lei de permissão das Maldições Imperdoáveis contra os Comensais da Morte já havia sido revogada, e ela deveria ter sido presa em Azkaban para sempre. Achei isso terrivelmente injusto e vim batalhando para que ela fosse inocentada. Se você soubesse que ela estava viva, certamente iria atrás dela e acabaria chamando a atenção para onde ela vive. Assim, ela seria descoberta e presa. Mas agora, ela voltará para a Inglaterra e sei que poderão matar as saudades.

-Alvo, eu passei dezesseis anos da minha vida pensando que ela estivesse morta! Como acha que pode ser tão simples?

-Não estou dizendo que seja simples, Severo. A absolvição de Íris não poderia ter vindo em melhor hora. A guerra contra Voldemort finalmente atingiu sua reta final e no ano que vem acredito que tudo vai terminar. E desse modo, resolvi trazê-la para Hogwarts. Com a triste morte de Victoria, acredito que há novamente um cargo vago na mesa dos professores.

-Você está dizendo que...

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-Eu? Professora de Defesa Contra as Artes das Trevas?-Íris exclamava em seu apartamento, aos berros, com Atena.-Dumbledore enlouqueceu?

Pelo sim, pelo não, no dia seguinte Íris arrumou as malas e pegou uma Chave de Portal Escalada de volta para sua terra natal, a saudosa Inglaterra.