Capítulo 4 – Notícias II
O rosto outrora bondoso da Sra. Weasley perdeu toda a cor. Um silêncio sepulcral pairava sobre a cozinha. Carlinhos parecia Ter levado um balde de água fria no rosto, enquanto Gina, Rony e Gui ficaram sem fala. O Sr. Weasley tinha uma expressão incrédula, como se achasse que tudo fosse uma brincadeira de mau gosto de Hermione. Percy? Desaparecer? Não era possível...
Hermione parecia desconcertada, com o olhar de todos a mesa voltado para si. Ela empalideceu um pouco mais. Olhou para Harry, que parecia tão surpreso quanto os Weasley. Depois de cinco minutos bem desagradáveis, Gui tomou fôlego e foi o primeiro a se pronunciar:
-Isso é sério, Mione, não faça brincadeiras.
-Mas eu não estou brincando, juro! – respondeu, com uma voz fina – Está aqui, primeira página!
-Oh, por Merlin! – exclamou ele, enquanto seus olhos se fixavam na menina a sua frente – Isso não pode ser verdade!
-Hermione, querida, - disse a Sra. Weasley, o pânico instalado em sua voz – tenha a bondade de ler, por favor.
Ela concertou o jornal e se aprumou. Suas mãos estavam trêmulas. Mais uma vez, seu olhar se fixou em cada pessoa ali presente, até que começou a ler.
DESAPARECIMENTO NO MINISTÉRIOOntem, nosso correspondente recebeu uma terrível notícia: um funcionário do Ministério da Magia desapareceu. Trata-se de Percy Inácio Weasley, ou Percy, como era conhecido pelos mais íntimos. O Sr. Weasley foi visto pela última vez semana passada, quando deixava o Ministério após um dia de trabalho. Sabe-se que ele iria para a Alemanha, a trabalho, mas não houve qualquer sinal dele desde então.
Um caso parecido ocorreu há algum tempo atrás, quando Berta Jorkins também desapareceu. Mas, infelizmente, descobriu-se que ela havia sido morta por Aquele-Que-Não-Se-Deve-Nomear. Torçamos para que esse não seja o fim do Sr. Weasley.
Aurores de confiança já estão a postos para procurá-lo ,embora não tenham tido muito sucesso até o presente momento. " É um episódio lamentável, mas estamos tomando todas as medidas cabíveis para que o Sr. Weasley seja trago de volta, são e salvo. ", pronunciou o Sr. Fudge, Ministro da Magia, quando entrevistado pelo Profeta Diário
A família do desaparecido não foi encontrada.
Hermione terminou de ler e entregou o jornal ao Sr. Weasley, que agora parecia certo de que era verdade. Harry pôde notar que os olhos de Gina e da Sra. Weasley estavam muito vermelhos, apesar dos demais não terem qualquer sinal de que queriam chorar.
-Oh, Arthur, nosso Percy, desaparecido! – exclamou, enquanto grossas lágrimas rolavam pelo seu rosto.
-Ele deve apenas estar apenas se escondendo. Não vejo porque alguém iria querer algo com Percy. – disse Carlinhos, amargurado
-Não dig-ga isso. – a Sra. Weasley censurou, em meio a soluços – Ele é seu irm-mão.
-Mas, mamãe, e tudo o que Percy falou para papai? – agora era Rony
-El-le d-d-disse coisas horrív-veis, eu sei, mas el-le ainda é um W-weasley.
-Vou para o Ministério. – murmurou o Sr. Weasley
-Papai... – a voz fina de Gina ecoou pela cozinha – isso não pode ser...obra de Você-Sabe-Quem, pode?
A Sra. Weasley chorou ainda mais. Gui e Carlinhos foram ampará-la. O semblante do Sr. Weasley tornou-se cansado, enquanto ponderava sobre a pergunta.
-Pode ser que sim, pode ser que não.
-Mas o que Voldemort – todos fizeram uma careta – poderia querer com Percy?
-Não sei Harry, não sei. Ele devia saber demais.
O resto da manhã não foi nem um pouco agradável. Gui, Carlinhos e Gina ficaram na cozinha com a mãe. Harry, Rony e Hermione preferiram subir para o quarto dos garotos. Ninguém disse nada durante o percurso, nem quando adentraram o quarto. Rony apenas sentou na cama e olhou para o céu, enquanto Harry colocava Edwiges na gaiola. A coruja parecia saber que algo não estava certo.
Hermione fez menção de falar, mas Harry pediu que ficasse quieta. Estava um dia nublado, e parecia que talvez pudesse chover mais tarde. Rony encarou os amigos por um instante, e decidiu falar pela primeira vez em alguns minutos.
-Eu não acredito que Você-Sabe-Quem tenha sequestrado Percy. Ele não sabe onde estamos, nem nada sobre a Ordem. Seria uma perda de tempo.
-Rony, não sabemos se foi realmente isso que aconteceu com seu irmão.
-Ah, Mione, você pode não estar certa dessa vez. Percy não sumiria assim, sem mais nem menos. Ele sempre pensa em tudo. – seu olhar vagou pelo quarto – Mas, mudando de assunto, acho que você deve contar algo a Mione, não é Harry?
-Contar o quê para mim? – disse, encarando o amigo
-Tive um pesadelo hoje. Sobre Voldemort.
-Ah, Harry, eu sabia que você deveria Ter continuado as aulas de Oclumência!
-Mas não foi nada de mais...
-Ah, não foi, é? – perguntou Rony, sarcástico – Conte o sonho todo!
-Eu não...
-Harry, pare de mentir sobre tudo que acontece com você! – implorou Hermione – Queremos ajudar!
Ele contou tudo, detalhadamente. Como estava frio, onde estava correndo, quando encontrou Voldemort, o duelo, e sobre a pessoa que pulou na sua frente e o salvou da morte. Enquanto falava, percebia o espanto ir tomando conta do rosto de Hermione que fitou-o por um segundo e desapareceu pela porta. Minutos depois ela voltou, munida de pergaminhos, penas e tinteiros. Rony se acomodou ao lado do amigo, enquanto a garota depositava tudo perto de Harry.
-Você tem que escrever para Dumbledore e Lupin.
-Hermione, não posso incomodar, foi um sonho bobo...
-HARRY, PELO AMOR DE DEUS!!!! Esse seu sonho NÃO foi bobo! É sério, e você precisa contar para alguém. Se não for para Dumbledore, que seja para Lupin. De qualquer forma, ele contará mesmo.
-Tá legal.- disse, surpreso com a explosão da amiga
Pegou a pena, um pergaminho e começou a escrever. Primeiro para Lupin. Terminou de escrever, e enrolou o pergaminho. Pegou Edwiges e a despachou. Hermione e Rony o encaravam, esperando que escrevesse mais.
Pegou outro pedaço de pergaminho e pôs-se a escrever, agora para Dumbledore. Não sabia se ainda estava bravo com o diretor. Sabia que fora uma atitude errada, mas, afinal de contas, fora para seu bem. Media cada palavra, afim de que não parecesse que estava muito preocupado. Não detalhou muito o sonho. Terminou e deu uma boa lida no que havia feito até então. Não parecia tão ruim.
Prezado Dumbledore,
Como está? Por aqui as coisas não vão muito bem. Hermione recebeu hoje o Profeta Diário, e tinha uma grande matéria sobre o desaparecimento de Percy. A Sra. Weasley está muito abalada, e não foi uma manhã muito agradável até agora.
Conhecemos os filhos do Sr. Laveri, e são muito legais. Ontem fomos até a casa deles jogar um pouco e distrair as idéias. Eles têm jogos muito bons.
Tive um sonho hoje. Estava em um lugar frio, parecia uma cidade, então encontrei Voldemort, e começamos a duelar. Quando ia me matar, alguém pulou na minha frente, mas não vi quem era. O que isso quer dizer?
Espero que suas férias estejam boas,
Harry
-Me parece boa. – disse Rony
-Também acho. – afirmou Hermione
-Vou despachar, então.
-Calma aí que eu vou pegar Pichitinho.
Ele foi até a gaiola da pequena coruja e agarrou-a sem muita cerimônia. Levou até Harry, que amarrou o pergaminho em sua perninha. Ela se animou ainda mais. Rony soltou um muxoxo de impaciência e lançou Pichitinho no ar, e observou-o sumir no horizonte.
-Acho que seus irmãos conseguiram acalmar sua mãe. - informou Hermione, indo até a porta e abrindo-a ligeiramente
-Hum. - disse Rony
-Então vamos descer. – sentenciou ela – Você vem, Harry?
-Ah, não, podem ir. Eu desço depois.
-Então tá.
Ele observou os amigos saírem do quarto e esperou até que o barulho de seus passos tivesse sumido completamente. Foi até o malão, abriu-o e retirou os presentes que ganhara de aniversário. Pegou um espelho que recebera de Moody, mas só haviam sombras nele. Os demais objetos que ganhara do pessoal da Ordem estavam normais. Guardou-os novamente, exceto pelo livro que ganhara de Lupin. Observou-o. Continuava todo em branco. Esperava que ele aparecesse hoje para o almoço ou jantar, então perguntaria o que, exatamente, era aquilo.
Harry saiu silenciosamente. Foi ao quarto onde Bicuço costumava ficar. Mas o Sr. Weasley já o mandara há muito tempo para Hagrid, portanto o quarto estava vazio. Só agora percebera o quanto era grande. Saiu e se dirigiu a uma porta defronte. Estava trancada. Pegou a varinha a murmurou " Alorromora! ". A porta se abriu. Era um lugar visivelmente menor que o outro quarto. Haviam muitos pôsteres de times de quadribol, muito empoeirados, uma cama de dossel a um canto, um criado-mudo, algumas poltronas e uma porta. Harry foi até ela, e quando abriu, se viu em um closet , embora não houvessem roupas. Em uma prateleira baixa, ele encontrou alguns livros. Pegou um vermelho sangue, as folhas eram levemente amareladas. Não havia nada escrito na capa. Abriu, e estava todo em branco. " Será que foi daqui que Lupin tirou aquele livro? ". Pegou a varinha e deu uma pancada. Imediatamente, as páginas se encheram de palavras, uma letra que Harry conhecia muito bem... de repente teve um estalo de compreensão: Sirius. Estava no quarto do padrinho. Começou a ler, e logo percebeu que se tratava de um diário. Parecia ser bem antigo.
Hoje foi meu primeiro dia aqui em Hogwarts. Fui selecionado para a Grifinória, o que é estranho, já que todos na família são Sonserinos...
Continuou lendo, e páginas mais à frente encontrou uma passagem que o fez lembrar da penseira de Snape.
Fizemos o teste do N.O.M. de História da magia. Tenho certeza que tirei um Deplorável. Mas o dia não foi de todo improdutivo. Eu e Tiago implicamos um pouco com o nojento do Ranhoso, e arranjamos uma encrenca danada. A Profa. Minerva nos deu uma detenção por uma semana, e é na sala dela que estou agora... ops, ela está vindo, tenho que ir...
Harry perdeu a noção de tempo, e tinha a vaga impressão que estava ali há mais de uma hora...
Hoje foi o casamento de Lílian e Tiago. Ele não tirava aquele sorriso bobo do rosto. Quem diria, hein? Evans e Potter? Parece que não é verdade... acho que vou tirar um cochilo, foi uma festança, muitas mulheres interessantes...
Nasceu meu afilhado! Tem os olhos de Lílian, mas as feições de Tiago... foi por isso que ele me mandou aquela coruja... bem que podia Ter falado, então eu pegava o presente do garoto... o nome dele é Harry...
Lílian e Tiago morreram... Dumbledore não me deixou ficar com ele Harry...Eu sou o padrinho dele, tenho o direito!
Ele fechou o livro bruscamente. Sentia um gosto salgado na boca. Lágrimas escorriam pelo seu rosto... uma foto caiu de dentro do diário. Harry pegou-a e viu que era do casamento de seus pais. Eles sorriam e acenavam para ele, junto com o padrinho e outras pessoas que deviam ser seus parentes. Guardou-a cuidadosamente no bolso da calça e devolveu o livro ao lugar que estava. Saiu do closet e deu de cara com Lupin, que o olhava com um sorriso abatido no rosto.
-Vejo que achou o quarto de Sirius. – disse – Gosto de vir aqui às vezes.
Lupin encarou-o por alguns instantes, esperando queo rapaz dissesse alguma coisa.Harry não tinha muita certeza se gostaria de falar sobre Sirius. Ainda não tinha se conformado com a nova realidade, claro, mas tentava ao máximo não comentar nada com ninguém, e estava grato por não terem levantado essa questão até agora.
-Eu... não sabia que estava aqui... - despistou
-Cheguei agora há pouco. Molly estava com os olhos muito vermelhos, mas parece que já se recuperou um pouco. Recebi o Profeta Diário quando estava no Caldeirão Furado. Imagino como Rony está se sentindo...
-Ele parece não se importar muito.
-Ah, claro que ele se importa, só não quer admitir. Sei que Percy falou umas coisas no mínimo terríveis, mas é irmão dele, não importa o que aconteça.
-Você não acha que foi coisa de Voldemort, acha?
-Harry, – seu semblante tornou-se sério – embora seja difícil de acreditar, é o mais provável. Percy não desapareceria assim, do nada.
-Hum... recebeu minha coruja?
-Quê? Ah, recebi. Edwiges saiu, para caçar, acho. Quanto ao seu sonho, não creio que -seja uma visão. Pode muito bem ser algo que Voldemort colocou na sua cabeça. Mas você tem que retomar as aulas de Oclumência, Harry. Sei que será desagradável, mas é imprescindível. Já mandou uma coruja para Dumbledore?
-Já, Rony e Hermione me obrigaram.
-E fizeram muito bem. Talvez ele venha jantar hoje, caso contrário, mandará uma resposta, creio eu.
-Ele provavelmente vai dizer a mesma coisa que você.
-Dumbledore é um homem muito sábio, saberá o que fazer.
-Hum, sabe o livro que me mandou de aniversário?
-Livro? Ah, sei. Gostou?
-Não teria como. Não há nada escrito nele!
-Não?! Onde está ?
Harry o conduziu até o quarto que dividia com Rony. Abriu o malão e retirou o livro. Entregou-o a Lupin, que abriu e examinou. Compreendeu logo, e deu uma risadinha. Harry lançou um olhar indagativo, e ele logo se pôs a explicar:
Isso aqui só vai poder ser lido quando você estiver pronto. Não posso explicar do que se trata, mas daqui há algum tempo descobrirá sozinho. Creio que gostará, então.
-Porquê não pode me falar o que é?
-Estragará a surpresa.
O Beco Diagonal estava cheio. James e Kate caminharam entre a multidão, procurando pela " Gemialidades Weasley ". Não demorou muito para achar. Era a vitrine mais colorida, chamativa e de longe a loja mais movimentada. Entraram, e tudo estava uma confusão: papagaios voavam para todo lado, pessoas com o nariz sangrando, alguns fogos de artifício e muitos ratos de brinquedo. Não demorou muito, Fred e Jorge vieram ao seu encontro, ambos exibindo um largo sorriso.
-Que bom que vieram nos visitar! – berrou Fred, para ser ouvido em meio à balbúrdia
-Ah! Mamãe veio comprar nosso material, então aproveitamos e viemos aqui. – respondeu Kate – É sempre essa confusão?
-Não, hoje o movimento tá muito grande. – gritou Jorge – Venham aqui!
Ele os conduziu até uma porta nos fundos da loja, que parecia ser um escritório. Fechou-a, abafando o barulho.
-Assim está melhor. – disse Fred, um tanto rouco
-Meu Deus, estava muito cheio! – observou James – Vocês devem ganhar uma grana preta!
-Em dias como esse, sim. – acrescentou Jorge, a voz mal saindo.
-Tem vendedores aqui?
-Tem sim, Kate. Eles devem estar por aí. – murmurou Fred, enquanto conjurava dois chás – Vão querer beber alguma coisa?
-Não, obrigada. Vocês... receberam o Profeta Diário?
-Recebemos. – Jorge tomou um gole do chá e sua voz voltou ao normal – Assim está melhor.
-Sinto muito, pelo seu irmão. – James falou em voz baixa
-Vão encontrá-lo. – a voz de Fred estava normal – Talvez não inteirinho.
-Se Você-Sabe-Quem realmente sequestrou ele, não vai conseguir nada. Percy não sabe sobre a Ordem, muito menos onde estamos.
-Mas, e se quiserem informações sobre o Ministério?
-Aí é outra história... – ponderou Fred – mas tem Lúcio Malfoy, que vive por lá. Ele certamente poderia dar uma espiada.
-E se...ele, bem, mor... – James não terminou a frase, Kate lhe deu um pisão no pé
-Nem pensamos nisso. É melhor não remoer.
Kate achou que os gêmeos estavam estranhamente neutros quanto ao assunto. Lino Jordan irrompeu na sala, e se juntou a eles. Jorge apresentou-o aos visitantes. Fred conjurou um chá para ele também, que logo teve a voz restaurada. O clima se descontraiu um pouco, e todos começaram a contar piadas.Fred e Jorge mostraram alguns projetos de produtos, que James adorou.
-Estamos pensando em escrever um livro. – anunciou Jorge
-" Manual dos irmãos Weasley – um guia completo " – completou Fred
-Vocês têm cada idéia... – admirou-se Kate
O Ministério estava esvaziando. Era fim de expediente, e muitos bruxos e bruxas cansados aparatavam ou usavam o Pó de Flu. O Sr. Weasley recolhia os papéis sobre sua mesa, enquanto Perkins se despedia, desejando que Percy fosse achado. Ele trancou a sala e encaminhou-se para o Átrio, cada passo ecoando. Estava pronto para aparatar quando alguém o deteve. Virou-se e viu o rosto vermelho de Damien.
-O que aconteceu? – perguntou o Sr. Weasley
-Arthur... consegui me comunicar com a Ordem das Américas.
