Capítulo 6 - Pistas de Percy

Carlinhos e Kate voltaram para a sala de jogos. James e os gêmeos jogavam videogame, e pareciam estar se divertindo a valer. Pelo que puderam ver, era um jogo de corrida, e até agora, Jorge era quem liderava. Cortara uns três carros, batera em um poste, rodopiara na pista e caíra para segundo lugar, deixando James em primeiro.

-Como você é barbeiro, meu chapa! – exclamou ele, em meio a gostosas risadas

-Que importa, não é de verdade mesmo! – respondeu, tendo acabado de atropelar um ciclista, deixando Fred em segundo

-Ihhhhhhhh, - exclamou o gêmeo – agora é lanterninha!!!!

Ele e James começaram a rir, e Jorge, determinado a voltar a liderança, acelerou um pouco mais e atropelou e cortou, sem dó nem piedade, qualquer coisa que se pusesse em seu caminho. Finalmente o tempo acabou, e o ranking foi mostrado. Em primeiro, James, em segundo, Fred e em terceiro Jorge.

Perceberam a presença de Carlinhos e Kate quando iam começar de novo.

-Olá, vejo que já cuidaram da testa do meu irmãozinho! – disse Jorge, o olhar preso na bolsa de gelo na testa de Carlinhos

-Embora eu ache que ficaria bem mais bonito com o galo! – replicou Fred

-Será que poderíamos ao menos parar de falar da minha testa? Notícias de Percy! – disse, brandindo o jornal na frente deles

-Notícias de Percy? – indagaram juntos – Ele foi achado?

-Isso é o que vamos ver. – respondeu Kate

Ela sentou-se no sofá, e os rapazes se amontoaram a fim de ler a pequena matéria no canto do jornal. Fred e Jorge pareciam sérios, o que não era muito normal. Finalmente, um pouco sufocadamente, começou a ler:

O CASO WEASLEY

O desaparecimento de Percy Weasley parece estar perto de uma solução, escreve nosso correspondente. Aurores informaram ontem com exclusividade ao Profeta Diário que já reuniram pistas suficientes sobre o paradeiro do jovem assistente júnior do Ministro Cornélio Fudge.

" Sabemos que o Sr. Weasley rumou para a Alemanha um dia depois da última vez que foi visto. " informou Fúlvio Perkins, responsável pelo caso, " Segundo fontes confiáveis, ele chegou a uma cidadezinha perto de Berlim, e pernoitou por lá. Saiu no dia seguinte e rumou para a capital, mas nunca chegou. Chegamos então a conclusão que se perdeu entre essas cidades. Mas nada é certo. ".

Segundo o Sr. Perkins, uma equipe de aurores foi mandada para lá, agindo juntamente com o Ministério local. Espera-se que Percy seja achado até próximo Domingo.

James soltou um longo suspiro. Deu um sorriso solidário para Carlinhos, Fred e Jorge, ainda absortos em pensamentos particulares.

-Ao menos agora eles têm uma idéia de onde Percy está. – comentou Kate

-Talvez não demorem a achá-lo. – animou James – É uma boa notícia!

-É. – concordaram os três em uníssono.

-Hum, acho que mamãe gostaria de saber... – ponderou Carlinhos – vou avisá-la.

Ouviram passos leves.

-A reunião acabou. – avisou Jane da porta, – Se vocês quiserem tomar um café da manhã, estão todos na cozinha. Se eu fosse vocês, andaria logo. Alastor e Tonks estão famintos hoje. Talvez não sobre rabanadas, muito menos panquecas.

Dirigiram-se para a cozinha em silêncio. Chegando lá, foram cumprimentados por todos. Dumbledore havia ido embora. Tonks e Moody comiam rabanadas com especial prazer, a intervalos com goles de suco de abóbora. Kate logo anunciou a matéria no Profeta Diário. O Sr. Weasley parecia aliviado, pelo menos um pouco.

James estava perplexo. A não ser que estivesse errado, Fred, Jorge e Carlinhos não pareceram muito contentes que o irmão pudesse ser achado. "Tomara que eu esteja errado", pensou. Entrementes, Kate desejava a mesma coisa.

Harry e Rony já tinham terminado de comer há tempos, e se ocupavam agora com uma partida de Snap explosivo. Mais tarde teriam que fazer uma limpeza nos quartos, então aproveitavam ao máximo o momento de folga. Uma carta de Rony explodiu no seu rosto, deixando-o um pouco chamuscado. Não se importou e continuou jogando com o amigo.

-Onde o pessoal foi? Não tomaram café hoje... só Gui estava aqui. – indagou ele

-Tinha uma reunião na casa do Sr. Laveri. – respondeu Harry, olhando as cartas que tinha em mãos

-Hum, aposto como Fred e Jorge imploraram para ir. Me ouviram comentando com Gina sobre a casa, e estão curiosos desde então.

Gui entrou no quarto e sentou-se entre os garotos, observando a partida.

-Hum, Harry, acho que vocês terão que parar um pouquinho.

-Porquê? – perguntou em uníssono com Rony

-Dumbledore está lá embaixo, e quer falar com você.

Deixou o baralho de lado e saiu do quarto, descendo o lance de escadas devagar. Iria ver o diretor pela primeira vez desde junho. Não sabia realmente se queria encontrá-lo. Estava dividido. Parte dele compreendia Dumbledore. A outra parte revoltava-se com o fato de Ter escondido a verdade sobre ele e Voldemort. Mas Harry não tinha certeza se suportaria se a verdade lhe tivesse sido contada cinco anos atrás. Era uma profecia de fato cruel, e forte. Por um lado, essa revelação lhe tinha acrescentado um peso enorme nos ombros, além de pesadelos.

Chegou no andar térreo, e a Sra. Weasley logo veio ao seu encontro.

-Dumbledore lhe espera na sala de jantar, querido. – disse enquanto o conduzia para lá

Ela o empurrou para dentro da sala, fechando a porta logo em seguida. O velho bruxo lhe contemplava com olhos cintilantes, a mesma serenidade estampada no rosto. Indicou uma cadeira em frente à ele, e Harry logo se assentou. Ele deu um sorriso calmo, e começou a falar.

-Recebi sua coruja, Harry. Fico feliz que tenha recorrido a mim. Confesso que seu sonho só é a confirmação do que Remo já deve Ter lhe falado: deve retomar as aulas de Oclumência. É para seu bem e segurança, – acrescentou rapidamente, quando percebeu a expressão de desagrado no rosto do rapaz – e de extrema importância. O Lord das Trevas não pode Ter acesso livre à sua mente, para usar ao seu bel-prazer, e acredito que esteja ciente dessa atenuante. Quanto à isso, creio que já está resolvido.

-Hum, Snape...

-Professor Snape, Harry. – corrigiu firmemente

-O Professor Snape me dará as aulas de Oclumência?

-Receio que Severo esteja atarefado demais para tanto. Pelo menos por enquanto, eu continuarei de onde ele parou. Mas só poderei lhe dar as aulas de manhã.

-Certo. Professor... o senhor acha que meu sonho é uma visão? - indagou receoso. Uma das coisas que lhe incomodavam era o possível fato de seu sonho ser uma visão. Desse modo, alguém morreria, idéia que não lhe agradava nem um pouco.

-Não estou tão certo quanto a isso. Voldemort já provou que pode colocar imagens em sua cabeça. Pode ser que essa seja uma das arapucas dele. Estou certo quanto o que pretendia.

-Me assustar? – sugeriu – Porque se foi, ele conseguiu.

-Não se impressione com isso. – afirmou, os olhos brilhando – Apague esse sonho de sua memória, para evitar algo indesejável. Não dê atenção, Harry. Quanto mais medo sentir, melhor será para Voldemort. Mas... a não ser que esteja enganado, esse não foi se único pesadelo?

-Não. – respondeu, corando furiosamente – Venho tendo esses sonhos desde junho.

-Então começaremos com Oclumência amanhã mesmo. Quanto mais rápido agirmos, melhor.

Harry deu um longo suspiro, sentindo o peso do mundo sobre si.

-Não tenho dormido direito desde que o senhor me contou sobre a profecia. Raras vezes consigo não sonhar. No resto das noites, tenho pesadelos com meus pais, com batalhas contra Voldemort, e agora... Sirius morreu e, eu só gostaria de saber POR QUÊ TUDO ACONTECE COMIGO! – uma lágrima rolou por seu rosto – SERÁ QUE NUNCA VOU TER UMA VIDA NORMAL?!

-É difícil, Harry. – os olhos do diretor se encheram de solidariedade – Mas não pense, nem por um momento, que está sozinho. Há muitas pessoas do seu lado, que estão dispostas a te apoiar em qualquer circunstância.

-EU SÓ QUERIA PODER DORMIR SEM PENSAR QUE VOU TER QUE ASSASSINAR OU SER ASSASSINADO! – o desespero tomou conta do rapaz

-Harry...

-EU NÃO QUERO MAIS SER HARRY POTTER!!!

Embora tentasse conter, mais lágrimas rolaram por seu rosto. Dumbledore contornou a mesinha que os separava e colocou as mãos sobre os ombros de Harry. Ele tentou secar a face. Sentia-se envergonhado.

-Porque Sirius tinha que morrer? Porquê?

-Ele queria te proteger, Harry. Levava a sério as obrigações de padrinho, e aposto que preferiria morrer lutando por algo em que acreditasse. Sirius era um homem forte, não temia a morte.

-Eu NÃO ME CONFORMO!

-Não estou te pedindo isso. A morte é algo difícil de se lidar. É doloroso, triste. Levará muito tempo para que aceite essa nova realidade, e eu sinceramente não esperava que fosse diferente. Você gostava muito dele, e isso só torna a dor maior e mais lancinante. Mas lembre-se dele nos momentos alegres, no breve tempo que ele de fato foi seu padrinho. Sirius gostaria que fosse assim.

Ficaram em silêncio por um tempo. Harry não sentia muita vontade de falar. Não comentara sobre Sirius com ninguém até então. Era uma ferida aberta que ainda levaria muito tempo para curar. Sua cabeça transbordava de pensamentos. Sentimentos de desespero e dor se misturavam dentro dele. Teve a vaga impressão que Dumbledore se despedira. Continuou na sala por um tempo, pensando. Em uma coisa o diretor tinha razão. Haviam muitas pessoas ao seu lado. Isso diminuía o peso dentro de si.

Ouviu a porta abrir e alguém se aproximar dele. Não se virou para ver quem era.

-Harry, a Sra. Weasley está chamando. – disse Hermione, ficando de frente para o amigo – Você está bem?

-Estou. – mentiu ele

Para seu alívio, Hermione não fez mais observações. Gina os esperava do lado de fora. Foram em silêncio até o primeiro patamar. A Sra. Weasley os esperava em um quarto, junto a Rony e Gui. O rapaz parecia infeliz.

-Não consegui ser rápido o bastante. – cochichou para Harry, quando ele se aproximou – Mamãe não deixa ninguém escapar.

-Muito bem! – disse a Sra. Weasley energicamente. Parecia um pouco melhor desde que Hermione lhe mostrara a matéria sobre Percy no Profeta Diário – Vamos fazer uma limpeza na casa, não tão pesada quanto a última. Somente tirar o pó, creio que já cuidamos de todas as criaturas que pudessem ... habitar aqui. Rony, Hermione e Harry, vocês ficam com o primeiro andar. Eu, Gina e Gui limparemos o segundo. Depois cuidaremos do térreo e do terceiro andar.

Ela espantou todos para fazer o trabalho. Rony não parecia nada contente, como Gui, mas era uma forma de se ocupar, pensou Harry. Apesar de a casa estar descontaminada, parecia que uma quantidade enorme de sujeira havia se acumulado. A uma certa altura, Rony, cansado de tirar mofo e poeira, perguntou a Hermione se havia um feitiço para que tudo ficasse limpo, simples e rápido. Ela apenas lhe lançou um olhar de censura, antes que a Sra. Weasley irrompesse no quarto, seguida de Gui e Gina, que pareciam exaustos.

A cabana mofada e úmida nunca pareceu tão aterrorizante. Seu móveis de madeira puída por cupins produziam sombras sinistras, sob o sol poente. Os pássaros cantaram ao longe mais uma vez, anunciando a noite. Era um bosque realmente grande, e ninguém nunca se aventurava a caminhar por ali, nem mesmo os animais.

Havia um rapaz encolhido a um canto. Tremia incessantemente, sentindo cada fibra de seu ser encolher-se de frio. Seus olhos castanhos, estampados de medo, esquadrinharam o lugar. Estava sozinho. Talvez... não, concerteza haviam vigias ao redor da cabana, fugir seria o mesmo que assinar seu atestado de óbito. Estava há uma semana ali, e não entendia como conseguira sobreviver por tanto tempo. Queriam informações... as quais ele não podia dar. Perdera a conta de quantas vezes fora interrogado, de quantas vezes lhe fizeram beber Veritaserum, sem resultado. Temia, pela primeira vez em tanto tempo, por sua família. Se ao menos tivesse acreditado neles, se não tivesse duvidado que Lord Voldemort havia voltado... agora era tarde, e sentia que seus dias chegavam ao fim. Tinha tanta saudade deles, e se arrependia profundamente de Ter agido daquela forma. Enquanto lhe ocorriam esses pensamentos, uma profunda tristeza se apoderou dele. Grossas lágrimas desceram pelo seu rosto. Sentia o perigo ao seu lado todo dia... sabia demais, e não podia deixar que tivessem conhecimento disso, de jeito algum. Olhou para o céu quase escuro, e esfarrapado e esfomeado com estava, fez uma promessa secreta: se escapasse com vida, faria as pazes com a família, e contaria a Dumbledore. O velho bruxo precisava saber o que Voldemort tramava.

O som de gravetos se partindo anunciou que alguém se aproximava. Sentiu o medo se apoderar dele. Ouviu agora a precária escada de madeira ranger, e segundos depois, a porta se escancarar. Seus olhos eram negros e frios, exalando um ódio que ele nunca vira igual. Os longos cabelos negros e lisos estavam ocultos sob a capa negra que usava. Sua boca abriu-se em um sorriso desdenhoso. Examinou o rapaz, antes de resolver falar.

-Então... creio que já deve Ter tomado uma decisão, Weasley.

-Já disse milhões de vezes que não sei onde Harry Potter está. – disse, sentindo a voz falhar

-Não minta para mim! – esbravejou o homem – Sei que sabe, e ocultar a verdade lhe trará consequências maiores do que pode imaginar.

-Eu não sei – sibilou, enchendo-se de súbita coragem – e mesmo que soubesse, não lhe contaria.

-Ah, está me desafiando, Weasley? – riu o homem – Que admirável vindo de você!

Percy sentiu a raiva crescer dentro de si.

-Você pegou a pessoa errada. O Ministério já deve estar a minha procura...

-Aqueles babacas do Ministério nunca te acharão, pensamos no lugar com esmero, para evitar imprevistos. – o homem tomou fôlego, como se falar com Percy lhe custasse grande energia -– Mas já que você se recusa a falar, acho que teremos que pegar seu pai. Arthur, não é mesmo?

-NÃO! Faça o que quiser, mas não mexa com minha família!

-E sua mãe, – continuou o homem, como se não tivesse escutado Percy – Molly, não é mesmo? Aposto que ela sabe onde Potter está, é como se fosse um filho, não é ? Deixe-me ver... seus irmãos, Carlinhos e Gui, como seria trágico se um acidente acontecesse com eles! E aqueles gêmeos desprezíveis, com aquela loja de logros horrorosa, mas... hum, tem Rony e Gina, coitados, tão novinhos, não poderão aproveitar o que lhes sobra de vida ...

-PARA! MATE –ME, MAS DEIXE MINHA FAMÍLIA EM PAZ!

-Cale-se! – sibilou

Ouviram vozes. Obviamente não era de nenhum Comensal. O homem correu até a janela, seus olhos esbugalhados esquadrinhando o bosque já escuro. Mais vozes. Percy observou o homem tremer, como se seu pior pesadelo de tornasse realidade. Caminhou até o rapaz de novo, e levantou-o pela gola da camisa. Arrastou até o exterior, rapidamente. Tentou se livrar da mão forte dele, mas era inútil. Pensou em gritar, mas não tinha fôlego. Caminharam a uma velocidade muito rápida, até uma clareira úmida e fria, onde havia um pneu velho jogado. Foi arrastado até ele, e logo percebeu que era uma chave de portal. O homem preparou-se para tocá-la, mas um feitiço estuporante acertou-o em cheio. Percy procurou assustado pelo autor daquilo. Vinte bruxos, todos armados de varinhas, caminhavam em sua direção, parecendo amplamente satisfeitos. O líder, ele logo reconheceu. Era Fúlvio Parkins. Estendeu a mão para ele, mas algo o acertou, fazendo-o cair estatelado no chão. O grupo que o acompanhava se colocou de prontidão, olhando a clareira com atenção, procurando algum movimento. Lentamente, alguns comensais emergiram das sombras, todos com varinhas em punhos. O primeiro feitiço foi lançado, e em questão de segundos uma batalha começou. Percy espremeu-se contra o chão, a fim de desviar-se de um feitiço. Arriscou olhar para o lado. Um bruxo do grupo que viera em seu resgate duelava com uma expressão de fúria que ele nunca vira antes. Desferiu um feitiço no seu adversário e logo correu para auxiliar outro colega. Esticou o braço para o corpo inerte de Fúlvio, a fim de pegar sua varinha. Colocou-se de pé, mas sentiu algo atacá-lo na cabeça. Virou-se, sentindo tontura forte. Não perdeu tempo e imobilizou o adversário. Esquadrinhou a clareira, e viu muitas duplas duelando, poucos corpos já espalhados pelo chão. Uma assomo de terror lhe subiu pelo corpo.

Um braço firme o agarrou e arrastou para fora da clareira. Era um vulto alto. Percy não conseguiu distinguir suas feições.

-Escuta aqui, garoto. – disse uma voz forte – Vou te dar uma chave de portal. Tem que sair daqui antes que algo mais grave lhe aconteça.

-Mas... e vocês?

-Ah, tenha dó, somos aurores experientes. Sabemos nos cuidar. Você, fraco como está tem que sair daqui logo.

Percy assentiu. O vulto mexeu por um instante no bolso, até que retirou um pequeno objeto. Colocou-o firmemente na mão do rapaz, voltando logo em seguida para a clareira. Uns segundos depois, Percy sentiu seu umbigo ser puxado. Estava seguro.