Capítulo Um - Tentando Consertar O Presente

- Você está indo para o caminho errado; é por aqui o escritório de Dumbledore. – o bruxo indicou o lado oposto em que a mulher estava andando.

- Vai indo à frente, Moody, eu passarei antes no banheiro. - respondeu a bruxa, rezando para que o outro não usasse Oclumência nela, pois saberia que estava mentindo.

- Bem – rosnou -, não demore muito; acho que os outros chegarão em breve... – Tonks fez um gesto com a cabeça e ia subindo as escadas da outra extremidade quando a voz rouca do bruxo a chamou:

- Esqueci-me de avisá-la. Não vá ao banheiro feminino do terceiro andar se você não está disposta a encharcar toda a sua roupa... A Murta ainda está em profunda e interminável depressão.

- Ok. – ela não deu muita importância para o aviso de Moody. Oras!, pouco me importo se ainda há ou não um fantasma vivendo lá no banheiro; não estou indo para lá mesmo, pensou a bruxa.

Subiu as escadas fingindo ir ao banheiro – ela sabia muito bem que o bruxo a seguia com o seu olho mágico -, depois de um certo tempo – quando deduziu que Olho Tonto já deveria estar na sala de Dumbledore -, mudou de rumo, e seguiu em direção a sala de McGonnagal.

Hogwarts estava completamente vazia. Todos os alunos estavam curtindo as férias enquanto os professores, ao contrário, permaneceram na escola e continuam a trabalhar; agora que o mundo mágico finalmente percebeu que Voldemort retornara, os membros da Ordem estão a todo o vapor. Agora que o quartel general ficara exposto ao inimigo, graças ao elfo da família Black, as reuniões estão sendo feitas na sala de Dumbledore.

Suas mãos estavam trêmulas, o que ela ia fazer não era certo. Ela sabia disso, mas sabia também que tinha que fazê-lo... Andando pelo castelo tentando fazer o mínimo de ruído possível – não gostaria nada, nada de que alguém a encontrasse por ali -, ela finalmente chegara em frente à porta da sala da amiga. Com todo cuidado do mundo, Tonks retirara de suas vestes negras sua varinha e murmurara um feitiço.

A porta em sua frente ficara instantaneamente transparente. Assim ela poderia checar se McGonnagal ainda estava na sala ou não. Ao notar que a outra não estava lá, a bruxa desfez o feitiço e, agradecendo profundamente ao constatar que a porta não estava trancada por nenhuma magia, ela entrou no recinto.

Era espaçoso, talvez por causa da pouca quantidade de móveis... Havia uma grande estante onde se encontravam vários exemplares de livros sobre transfiguração, alguns troféus e algumas outras coisas que a bruxa não fizera questão de descobrir o que era. Afinal, ela entrara naquela sala, sem a autorização da dona, para pegar certo objeto... não para ver a decoração!

Começou então sua busca. Tonks sabia que estava em algum lugar dali... Tinha que estar, afinal Hermione contara certa vez que deixara o vira-tempo com McGonnagal...

- Céus! Demorarei séculos para encontrar! – bufou nervosa, ao abrir a décima quinta gaveta sem obter sucesso.

Parou. Ficou tentando achar em sua mente alguma feitiçaria que pudesse ajudá-la naquela busca, mas não conseguia pensar em nada exceto em Remus: as poucas vezes em que ele sorriu – será que ele sempre fora tão tristonho assim? -, as longas e divertidas conversas que teve com ele, seu... seu corpo inerte no chão...

Tonks, Remus e alguns membros da Ordem foram cercados, certa vez, por um grande grupo de comensais. A missão dos bruxos era retirar tudo o que existia sobre a Ordem, de dentro da casa dos Black, antes que os comensais, com a ajuda de Narcissa, entrassem lá. Felizmente a tarefa fora cumprida, porém, infelizmente, os comensais da morte surgiram e começaram a duelar dentro da casa. Os berros da mãe de Sirius, ecoavam pelo salão, mas o som era abafado pelos vários feitiços que eram pronunciados. A bruxa lutava contra um homem magro e alto, não prestava muita atenção nos outros colegas pois estava tendo grande dificuldade em lutar com aquele comensal. Ela tinha que admitir: ele era bom.

Foi então, depois de muitos ataques e defesas, depois de alguns cortes, que recebeu de feitiços que passaram de raspão... ela se descuidara e fora acertada: seu corpo voou bem alto, bateu numa das paredes da casa e sua varinha sumira de suas mãos. Seu corpo estava dolorido e seus olhos começaram a lagrimejar devido à dor intensa que começava a sentir. O seu rival aproximou-se triunfante de seu corpo, apontara a varinha bem em seu rosto, mas antes mesmo que ele lançasse uma das maldiçoes imperdoáveis, Remus, que estava duelando com Bellatrix, surgira no último momento e, com o jato azul que saiu de sua varinha, conseguira deixar o comensal inconsciente.

- Você está bem? – perguntou o bruxo apreensivo.

- Sim, nada que uma boa poção não resolva. – sorriu ela em resposta ao ver que o outro demonstrava ceticismo. – Remus... obrigada.

Ele ia falar-lhe algo, porém, Tonks nunca saberia o que era, pois fora atingido pelo Avada Kedavra, que a Bellatrix lhe lançara.

Tudo começou a andar em câmera lenta: o corpo de Lupin, seu herói, caia bem devagar, até que – uma eternidade depois -, seu corpo encostou-se bruscamente no chão.

Tonks, ainda continuava no chão – Remus não tivera tempo para ajudá-la a se levantar -, levantando-se violentamente sem sentir seu corpo dolorido, ela foi até o cadáver do bruxo. Ao tocar sua mão no rosto dele, percebera que, a cada minuto, seu corpo perdia o calor e se tornava frio, percebera que seu rosto começava a empalidecer...

Relutante com a idéia de que Lupin estava morto, ela, chacoalhava o corpo do bruxo e chamava por seu nome, na esperança de que ele abrisse os olhos e lhe dissesse que era apenas uma brincadeira. Mas ela sabia que o outro nunca brincaria com algo tão sério. Notara que lágrimas escorriam de seus olhos e caiam sobre o bruxo. Soluçava sem parar. Olhou ao redor para ver o que estava acontecendo com os outros bruxos, mas tudo não passava de grandes borrões em movimento – seus olhos estavam inundados...

Aos poucos, o hall da casa dos Black foi desaparecendo e a sala de McGonnagal foi tomando o seu lugar. Tonks estava sentada no chão, com suas costas apoiadas a estante, abraçando suas pernas, balançando o seu corpo para frente e para trás, chorando louca e descontroladamente. A gargalhada que Bellatrix soltara ao ver o sofrimento da outra continuava nítido em seu ouvido, e o ouvia cada vez mais e mais alto. E cada vez que se lembrava da imagem do corpo imóvel no chão, seus soluços aumentavam e mais violento se tornava o movimento pra frente-e-pra-trás, que ela fazia com o corpo.

Desde a morte de Lupin, a bruxa entrara em um luto intenso. Sempre achara uma besteira os trouxas usarem preto por causa da morte de um ente querido. Porém, começara a mudar o seu guarda roupa aos poucos, trocando todas as suas roupas excêntricas e coloridas pelas vestes pretas e discretíssimas que mandara Madame Malkin – Roupas para Todas as Ocasiões - fazer. Só agora entendera o porquê dos trouxas optarem por preto: sua vida havia perdido completamente a cor... Sua mania de mudar de aparência a cada novo dia terminara. Ela mantinha sua aparência verdadeira – cabelos longos, com lindos cacheados, seus olhos de um preto intenso, da mesma cor de seus cabelos; não havia dúvidas de que ela era uma Black -, mas sempre há exceções: quando tinha que cumprir uma tarefa da Ordem da Fênix, a bruxa se disfarçava com facilidade.

A Ordem. Tonks se dedicara totalmente, se oferecia a cumprir as missões de alto risco, sem hesitar – para ela quanto mais cedo morresse melhor, não agüentava mais ficar noites inteiras sonhando com a morte de Remus, e trabalhar bastante poderia deixar sua mente ocupada, assim ela não iria lembrar-se a toda hora de que não o veria mais, nunca mais, e de que fora ela a causadora de sua morte. Sim, ela se sentia culpada, afinal se não fosse a sua incapacidade de duelar, Remus não iria precisar salvá-la. E não importa quantas vezes as pessoas lhe dissessem que a culpa não fora dela, pois ela não acreditava, sabia que lhe diziam isso apenas para consolá-la.

- O que foi isso? – a bruxa começara a procurar pelo objeto que caiu na sua cabeça. Provavelmente a última batida de seu corpo na estante fora tão forte que derrubou algo.

Secou rapidamente as lágrimas de seu rosto e viu o pequeno item ao seu lado. Era dourado, tinha uma longa corrente também dourada, era de ouro, era...

- O Vira-Tempo! – um fraco sorriso perpassou pelo rosto dela.

Ela sabia que estava na sala de McGonnagal, Hermione a contara uma vez que usou este artefato e que o devolvera depois para a professora. Ela só não sabia que teria a sorte de encontrá-lo daquela maneira... quando nem se lembrava que o estava procurando.

Numa das noites em que, novamente, teve pesadelos e, novamente, reviveu o que considerava o pior dia de sua vida, Tonks recordara do dia em que Hermione falara da existência de um vira-tempo em Hogwarts. Ela tinha o conhecimento de que esse artefato era muito raro, tinha ciência de que havia milhares deles no Departamento de Mistérios, porém sabia que seria mais fácil entrar as escondidas na sala de McGonnagal, pegar o objeto e sair impune do que entrar naquele Departamento, ter a grande sorte de entrar na sala certa e conseguir encontrar a saída antes que a encontrassem. Sim, Nymphadora, trabalha no Ministério da Magia, mas isto não significa que ela soubesse como entrar e sair de lá facilmente; apenas os bruxos que trabalham naquela área têm esse conhecimento. Sem falar que depois da visita cortês de Voldemort, a segurança do Ministério aumentara e muito. Isto seria praticamente impossível. Pra quê tentar da maneira mais difícil se ela pode obter o mesmo sucesso com menos trabalho?

Seu plano era de ir a sala da professora, procurar pelo artefato e voltar ao tempo. Queria voltar para algumas horas antes do incidente, assim a bruxa - com o imenso cuidado para que ela não encontrasse a si própria, pois conhecia bem, as estórias das pessoas que usaram o vira-tempo e se depararam com elas mesmas; finais nada felizes aconteceram - poderia avisar a Remus para que tivesse cuidado... ou algo parecido. Bem, ela sabia que não poderia aparecer de supetão e falar "Você vai morrer hoje", isto poderia assustá-lo ou até mesmo afetar o passado mais do que ela pretendia, pois se falasse que ele iria morrer obviamente Lupin iria querer saber como e porque aconteceu. Então os comensais não teriam pegado todos de surpresa... Ela teria que ser sutil, ainda não fazia idéia do que falar para ele, mas certamente pensaria em alguma coisa.

Pegou o vira-tempo com suas mãos ainda trêmulas. Estava ali, em suas mãos, mas... não era certo usá-lo! Isto poderia causar sérios problemas no presente...! Oras, bobagem! Se ela continuasse a viver sabendo que perdera o amor de sua vida sem nunca ter se declarado, sem nunca ter provado seu beijo, sentido o seu carinho... isto sim resultaria em sérios problemas!, pensou Tonks.

Não pensou duas vezes antes que a razão voltasse a tomar conta dela novamente e ela voltasse a perceber que o que ia fazer era uma loucura, Nymphadora pegara o pequeno objeto e o girara algumas vezes – ela nunca se lembraria exatamente de quantas vezes o girara, pois ainda estava demasiada perturbada com toda aquela recordação.

De repente, tudo começou a andar rápido, McGonnagal ia e vinha de sua sala, algumas pessoas apareciam e desapareciam... o cenário começou a mudar, e depois de mudado completamente, aos poucos o tempo voltava ao seu curso natural, e os borrões, que Tonks sabia serem pessoas, começaram a tomar forma novamente...

Tonks olhou ao redor, mas não pode acreditar no que via: ela estava na Londres dos trouxas, numa das várias ruas da cidade trouxa que, no momento, encontrava-se abarrotado de bruxos que nem sequer se deram ao trabalho de se vestirem como as pessoas não-mágicas. E o estranho, é que todos pareciam… comemorar.

- Uma flor para outra flor. – disse um bruxo, que carregava uma cesta cheia de rosas amarelas e distribuía a todas as mulheres que passavam próximas dele.

Tonks segurara a rosa e soltou um desanimado 'obrigada' – ela não estava gostado nada, nada daquilo.

- Porque tão triste minha jovem? – voltou a falar o velho, que a bruxa reparara estar completamente calvo e um pouco acima do seu peso normal, porém, seu sorriso era tão bonito que ela não duvidara que na época em que este homem era jovem ele fora bonito. – Você-Sabe-Quem foi derrotado? Derrotado!!! Alegre-se jovem! Estamos, finalmente, livres daquele sádico maldito! – enquanto falava, o bruxo, dava pulinhos de alegria.

Ela congelou. O que ele disse? Não pode ser o que ela ouviu… Eu não posso ter...

- Não, não, não... – pensou em voz alta e deu alguns passos para trás do velho de vestes marrom.

- Sim, pode acreditar! – respondeu ele, interpretando errado os 'não' da outra. – Quando eu soube também não acreditei, mas depois que saiu no Profeta Diário… Dá pra acreditar?! Em apenas um curto tempo nos livramos daquele monstro asqueroso e do seu braço direito, aquele Sirius Black!

Acaba de ser confirmado. Tonks desconfiara a principio, mas ainda tinha a esperança de não ter ido tão ao passado assim. Seus 'não', foram de "Não, não, não posso ter sido tão estúpida e ter girado o vira-tempo tanto assim...!". Mas não havia mais dúvidas: de vez de estar a apenas algumas horas antes da morte de Remus, em vez de ter voltado apenas algumas semanas atrás, ela fora mais longe... fora parar a muitos anos atrás!


Nota da Autora:

Fim do primeiro capítulo da fic.

Antes, de mais nada, eu gostaria de agradecer a Li, minha beta!

Enquanto as atualizações: elas serão semanais, portanto, o segundo capítulo só semana que vem.

Ah!, e um aviso: está fic é BEM diferente de Miss Match…