Capítulo Dois - Edwiges James
A primeira coisa que Tonks fizera após o susto foi arranjar um jeito de se afastar daquele senhor. Ela não estava nem um pouco a fim de conversar com aquele homem, muito menos de comemorar algo, afinal daqui a alguns anos, Voldemort voltara com força total e o terror que os bruxos pensam terem se livrado para sempre retornara...
- Sim, estou feliz. – forçou um sorriso – Desculpe-me, mas tenho que ir agora: vou comemorar com um amigo...
- Oh, sim. – riu o bruxo.
Ele já ia puxar novamente assunto com a mulher, quanto ela, ao ver o que ele pretendia, cortou logo:
- Obrigada pela rosa. – e dizendo isso saiu de perto do homem o mais rápido possível.
Olhou a sua volta e viu que muitos trouxas haviam parado perto daqueles bruxos, os olhando curiosos sem saber o porquê de tanta felicidade e o porquê de tantas corujas no céu. Tenho pena dos funcionários do Ministério, eles terão que fazer muitos feitiços de memória, pensou a bruxa, com um sorriso fraco.
Tonks caminhara pela rua observando a comemoração dos bruxos – porque parecia que ela já tinha visto esta cena? - enquanto raciocinava. Bem, não é o fim do mundo certo? Basta girar o vira tempo novamente… Mas, quantas vezes eu girei ele, mesmo? Não consigo me lembrar... E se eu acabar parando no futuro? E se eu nunca mais conseguir voltar para o meu verdadeiro tempo? Ela estremeceu com este último pensamento.
Enquanto não descobrisse exatamente quantas vezes ela girara o tal objeto, ela permaneceria naquela época. Acontece que ela não estava preparada para ficar muito tempo no passado; não tinha muitas moedas, só estava com a roupa do corpo, sem falar que sua casa provavelmente não é mais sua casa... Aonde ela passaria a noite?
Olhou ao redor, apesar das lojas e das casas estarem um pouco diferentes das do futuro, Tonks reconhecera aquela rua e, andando mais adiante, encontrou o que procurava: um bar completamente sujo; o Caldeirão Furado. Pediu licença para os bruxos que estavam aglomerados à porta (cada um segurava um copo contendo bebidas e brindavam a queda de Voldemort. Aquela comemoração já estava começando a irritá-la; talvez seja pelo mero fato de ela saber que o Lord NÃO estava morto, ou talvez seja pelo fato das pessoas parecerem, para ela, estarem rindo de sua cara por ter sido acéfala demais para girar um vira-tempo sem contar quantas vezes ele virou... Será que nunca deixarei de ser assim tão... desastrada?!, pensou.), e entrou no bar.
Não importa quantos anos tenham se passado daquela data até o tempo verdadeiro de Tonks, o Caldeirão Furado mantinha a mesmíssima aparência. O bar estava mais cheio do que o normal. Todos bebiam felizes; certamente este foi o dia em que Tom, o dono, lucrou mais.
Ia procurar Tom – o dono do bar-hospedaria -, mas antes se lembrou que o bruxo já havia visto a sua verdadeira aparência, então, para que no futuro não haja nenhum problema, ela resolveu se modificar. Mas, para isso, Tonks teria que encontrar um lugar vazio, onde ninguém a pegasse no flagra. Discretamente, a bruxa caminhara até o banheiro feminino.
Embora o banheiro fosse tão grande quanto os de Hogwarts, naquele momento, parecia minúsculo: havia várias mulheres que beberam um pouco além da conta, e estavam falando asneiras; outras – as sóbrias-, só estavam acompanhando as amigas, e havia também algumas jovens, numa conversa bem animada, em frente ao enorme espelho retangular preso a parede. Desviando-se com uma tremenda dificuldade, das mulheres, Tonks, conseguira a proeza de entrar num dos boxes sem nenhum arranhão. Lá, tentou concentrar-se.
Seus longos cabelos negros e ondulados, tornaram-se castanhos claros e lisos, seus olhos pretos clarearam e se tornaram verdes, sua pele branca pegou um pouco mais de cor, virando moreno claro. Ela saiu do boxe, e foi até o espelho retangular, olhou-se e aprovou a sua transformação, ela estava irreconhecível, talvez nem a sua mã...
- Nymphadora, venha cá menina!
Tonks permanecera com os olhos no espelho, porém não olhava mais para a sua imagem, estava à procura da pessoa que lhe chamara. Foi então que viu sua mãe de costas acompanhada de uma garota... tão familiar... Espere um pouco! Aquela garotinha, sou eu!
Ela deveria ser apenas uma criança, uma pré-adolescente. Seu cabelo estava liso, comprido, azul turquesa, mas seus olhos continuavam com a sua cor natural: um preto intenso. Sua mãe estava usando uma roupa trouxa - e Tonks notara que sua versão mais nova também usava.
A garotinha deixara a mãe esperando perto da porta, e caminhara em direção ao espelho. Chegara a poucos centímetros de distância de Tonks – esta por sua vez, virou o seu rosto para o outro lado -, olhara rapidamente para o espelho, mexera no cabelo, fizera uma careta e PUF!: seus cabelos tornaram-se curtos, e verde águaLogo depois, a jovem foi para junto de sua mãe. Antes das duas saírem do banheiro, Tonks conseguira ouvir os protestos da pequena: "Não me chame de Nymphadora!". E então, a porta se fechou.
Um calafrio fez o seu corpo inteiro se estremecer. Aquela cena fora à coisa mais estranha que viu em toda a sua vida – incluindo as coisas bizarras que viu no Departamento de Mistérios, quando foi, com os membros da Ordem, salvar Harry e seus amigos. Por sorte sua mãe não a viu. Apenas ela conseguiria reconhecer a sua filha mesmo a bruxa não estando com a sua real aparência. E isto era a última coisa que queria: deixar a sua mãe louca, pois seria assim que ela ficaria se tivesse visto uma cópia mais velha de sua filha circulando pelo bar.
Não entendia o porquê de não ter se lembrado que estivera no Caldeirão Furado, após alguns dias da ruína de Voldemort. Se Tonks tivesse se lembrado desse pequeno detalhe, certamente não ousaria entrar no bar. Imagine se eu tivesse as encontrado justo na hora em que tinha acabado de entrar. Aí sim ficaria muito fácil de me reconhecerem... Talvez até eu me reconhecesse! Foi então que puxou da memória a recordação daquele dia. Realmente ela estivera no Caldeirão Furado. Sua mãe, que desde que se casou vivia em Londres dos trouxas, fora ter mais informações sobre como tudo aconteceu. Lembrou-se também que seu pai estava trabalhando, e por isso não as acompanhou.
Como se sobre seu rosto só houvesse brumas, a bruxa balançou a cabeça, como se estivesse as expulsando, depois foi até a pia mais próxima, encheu suas mãos de água e molhou o seu rosto. Esperou alguns minutos, sabia que sua mãe e ela sairiam do bar logo. Talvez eu não tenha me lembrado que estive aqui com minha mãe exatamente por isso: porque fiquei aqui só por alguns minutinhos... Ou talvez seja porque você sempre foi uma desmemoriada atrapalhada!, uma vozinha malvada falou em sua cabeça. Jogou mais água no rosto, respirou fundo e abriu a porta do banheiro.
Fora uma busca árdua, mas Tonks, finalmente, encontrou Tom. Ele está mais jovem - em sua boca ainda havia alguns dentes, sua cabeça ainda continha fios de cabelo, e ele não andava tão curvo -, porém, não tão diferente da aparência que mantém no presente, no presente da bruxa. Ela aproximou-se dele e pediu um quarto.
- Você está com sorte. - informou o bruxo, enquanto servia dois enormes canecos fumegantes a duas bruxas gêmeas, de vestes esverdeadas e desgastadas. - Ainda tenho um quarto vago... o número doze.
- Oh, ótimo! Ficarei com este então.
- Bem, me acompanhe.
Tom levou Tonks até o balcão de seu bar, pegou um enorme livro de capa de couro, que estava dentro de uma das gavetas do móvel, e pediu para que ela o assinasse.
Tonks aceitou a pequena pena branca que Tom lhe ofereceu, molhou a ponta desta no tinteiro, ia assinar, quando hesitou. Eu não posso assinar como Nymphadora Tonks...! Preciso pensar em um nome agora! A bruxa olhara em volta do bar; estava à procura de alguma idéia. Viu vários bruxos bebendo, conversando, jogando... Novamente abriu-se a porta do bar e um senhor de cabelos negros e bagunçados entrou carregando uma grande coruja branca que soltou um longo e alto piado. É isso!, pensou satisfeita. E então, escreveu em letras garrafais: Edwiges James. Edwiges por causa da coruja de Harry e James porque é o nome do meio do garoto.
- Então, srta James – começou o bruxo ao ler o que a outra escrevera -, quanto tempo deseja ficar com o quarto?
- Só um dia. – Um dia é suficiente para lembrar-me de alguma poção ou feitiço que me faça lembrar quantas voltas dei naquele vira-tempo.
Hum-hum, fizera o bruxo, e, com a pena que acabara de emprestar para Tonks, escreveu ao lado de Edwiges James: um dia. Novamente ele abriu a gaveta do balcão, e guardou o livro.
- Naturalmente, a senhorita deve saber que o pagamento do aluguel do quarto deve ser feito assim que o aluga.
Agradecendo intensamente por sempre andar com uma quantia considerável de moedas, Tonks pagou ao homem, que, em seguida, abriu uma segunda gaveta e entregou-lhe a chave. Neste momento um homem gigantesco levantou-se de sua mesa e pediu a Tom mais uma dose de bebida.
Hagrid. O homenzarrão estava completamente bêbado. Continuava idêntica a sua versão do presente, e, como sempre, ele instigava receio nos outros bruxos, por isso era o único em que tinha uma mesa só para ele.
Ele deve estar chateado por que esteve próximo de Sirius e o deixou escapar... e ainda ficou com a sua moto... Ou talvez esteja apenas comemorando... Bem, isto não importa agora, o importante é saber que o quanto antes eu estiver dentro do quarto, melhor; não quero ver mais conhecidos, isto é muito incomodo!
- Então, é só isso, certo? – quis apressar as coisas para sair de lá o mais rápido possível.
Tom saiu de trás do móvel e Tonks ouvira mais bruxos o chamarem.
- Escute, adoraria mostrar-lhe os seus aposentos, mas no momento estou muito ocupado. Espero que não se importe. – falou Tom, mostrando a outra os vários clientes que o chamavam – Bem, já que não se importa – continuou o bruxo ao ver que Tonks não protestara – Veja, para chegar ao seu quarto, suba aquelas escadas. É o primeiro andar.
Ela agradeceu ao homem, guardou a chave no bolso de suas vestes e, se desfiando com dificuldade dos bruxos que estavam no bar, conseguiu chegar a uma bela escada de madeira. Subiu. Chegou ao primeiro patamar, passou pela porta onde havia uma placa de latão de número onze e seguiu até a próxima porta, onde havia uma outra placa, só que desta vez tinha o número doze gravado. Pegou a chave de seu bolso e ia colocá-la na fechadura quando parou no meio do caminho: ouviu passos e resolveu ver quem estava chegando.
O homem chegou ao primeiro patamar e dirigiu-se a primeira porta – o bruxo nem notara a presença da mulher. Tonks reparou que o homem aparentava ter a sua idade, estava com enormes olheiras, com uma cara inchada – Certamente ele chorou por um longo tempo, refletiu -, e sues trajes estavam completamente gastos, com algumas partes desfiadas.
Ao ver o jovem, Tonks sentira um frio intenso seguido por um estremecimento. O choque fora tão grande que sua chave caiu no chão causando um pequeno barulho. Finalmente o bruxo a reparara. Aproximou-se dela, abaixou-se, pegou, entregou-lhe a chave. As mãos da mulher estavam tão trêmulas que quase deixara a chave cair novamente. Sem esperar por agradecimentos, ele deu as costas a ela dirigiu-
se novamente para a porta de seu quarto, abriu a porta e antes de entrar no aposento...
- Obri... obrigada, Remus. - Agradeceu a bruxa, com um fio de voz.
