Ele entrou na enfermaria, queria saber como Gina estava.
-Melhor?
-Um pouco. Talvez saia daqui alguns dias, mas Marrie não me deu um prazo certo.
-Ela gosta de ser implicante.
Gina riu.
-Um pouco, mas mudando de assunto... parabéns, Harry.
-Hã?
-Já estou sabendo do que aconteceu. Talismã do Cobra, hein? Sinceramente nunca acreditei muito nisso. Só me diga uma coisa, como você não foi afetado pelos feitiços?
-Talismã do Cobra. Eu, ofidiglota.
-Ah, faz sentido. E também faz sentido porque você não quis revelar como você pôde pegá-lo.
-Ah Gina, olhe isso –ele tirou uma das pedrinhas círculo-perfeito-que-perfura do bolso- Bonitas, não?
-Lindas –disse ela, hipnotiza, sem tirar os olhos das pedras de cores tão vivas- São essas que cortam, perfuram, rasgam de um jeito que ninguém sabe como?
-Essas mesmas, mas Ryan disse que elas dão sorte.
Gina riu e fez um muxoxo com a mão, ao ver a cara desentendida de Harry riu um pouco mais.
-Você acreditou nele?-perguntou Gina, rindo.
-Acreditei, por quê? Algo errado?
-Você não sabe qual é o apelido de Ryan?
-Deveria?
Gina riu, bebeu mais um pouco de seu chocolate quente.
-Piadista. Não acredite nas bobeiras que ele fala.
Harry se sentiu meio bobo. Tateou uma das pedrinhas que estava em seu bolso.
-Mas esqueça isso... Marrie disse que seria bom eu fazer uma caminhada. Não quer me acompanhar?
-Você poder caminhar, mesmo com essa perna assim? Mesmo ainda de cama?
-Minha perna parece melhor... e se ela disse, não deve ter problema...Só que eu tenho que ir com muletas.
Harry aceitou o convite, estendeu a mão para ela e a ajudou a levantar. Quando saía de dentro da quase prisão que era a 11ª Divisão, pensou em jogar fora as pedrinhas, supostas lágrimas da mulher do talismã, mas resolveu guardá-las, só porque eram bonitinhas.
O ar da floresta talvez fizesse bem para Gina, mas para Harry com certeza fazia um bem enorme.
-Como veio parar aqui, Gina?
-Fui recrutada, assim como cada um da 11ª Divisão. Só que como isso é secreto, para minha família eu estou estudando na Alemanha, em intercâmbio.
-Sabe, quando estávamos procurando o talismã, Kate falou algo sobre cada um ter uma habilidade.
-Claro que sim, Norma não recrutou pessoas aleatoriamente.
-Como funciona isso?
-Bom, se lhe perguntarem, você não sabe de nada, afinal, ninguém é autorizado a saber, mas...
-Ok.
-Só a 3 Divisões: A 5ª e a 11ª.
-Você disse 3 mas só citou duas...
-Sim, porque a primeira a surgir foi a de número 0, que muita gente, até os verdadeiros criadores, acham que está extinta. Por isso ela não tem nome algum, é como um fundo falso, uma parede que se move, um refúgio. É a mais protegida de todas e sobre a qual se tem menos informações, Norma só sabe o necessário a ela saber.
-Deixe-me adivinhar, de um modo ou de outro, todos ali sabem o que ela sabe.
-Sim e não. Porque todos sabem o que Norma tem escrito (ou teve) em papéis e documentos, esse é o problema de se conviver com espiões. –ela deu um leve sorriso e voltou a ficar séria- Ela guarda muita coisa na cabeça. Uma memória incrível aquela mulher tem. Cada Divisão, pelo menos em teoria, não sei como é dentro de cada uma, tem uma função. A nossa função é espionagem e ataques pequenos necessários. Você percebeu algo típico na 5ª Divisão?
-Nada, só me deixavam cuidar de doentes e olhe lá...
-De qualquer forma, acho que lá protege a população, pelo que sei lá há muitos duelistas e exímios controladores de dragões, e outros tipos de criaturas fortes e resistentes. Pelas informações que "pesquei", tenho quase certeza que lá se encontra o exército propriamente dito.
-E a Divisão nº 0? O que sabe sobre ela?
-Nada interessante. Só que é extremamente protegida e que só há gênios trabalhando nela.
-Sabe onde fica?
-Debaixo do nariz de todas as pessoas: no Departamento dos Mistérios, no Ministério da Magia.
Harry parecia ter levado um soco na boca do estômago, sempre passou por aquela porta no Ministério, e nunca soube de nada.
-Como o Ministro...
-O Ministro parece não saber coisa alguma sobre qualquer uma das Divisões, devem ocultar isso dele.
-Por quê?
-Luc Fudge, assim como o pai, não é um poço de coragem e resistência. Devem ter medo dele estragar tudo. Mas, na minha opinião, é favorável a todas as Divisões ter um Ministro de fachada, assim podemos fazer tudo sem intromissões.
-Você não tem alguma idéia do que se possa acontecer lá?
-Só uma hipótese... Você disse que pessoas pesquisaram durante muito tempo sobre o talismã da Cobra. E ultimamente tem aparecido uns feitiços e poções muito inovadores e potentes. Acho que essa Divisão cuida do nosso armamento e defesa, de todos os tipos. Por isso, por ser tão vital à nossa sobrevivência, é um segredo mais que absoluto.
O cérebro de Harry funcionou mais que rapidamente, Norma disse que Hermione ajudara na pesquisa do talismã da Cobra. E a hipótese de Gina não lhe parecia de todo errada, então... Mione trabalhava no Departamento dos Mistérios, a Divisão nº 0.
De repente algo veio a mente de Harry.
-Qual sua especialidade?
-Passar despercebida e pegar informações... mais claramente, uma ladra de informações. Sou pequena e leve e tenho uma facilidade de me locomover sem chamar atenção surpreendente. Kate desvenda senhas e coisas do tipo e Ryan é o cara que distrai as atenções quando a situação fica preta, ele sabe fazer uns encantamentos que hipnotizam as pessoas e coisas assim. David que fazia isso antes, mas ele foi embora...
-Então eu sou o único sem habilidade.
-Eu não diria isso, Norma i nunca /i te acolheria só por caridade. Ela com certeza sabe que você é ofidiglota, não se esqueça que ela queria que você fosse sozinho. Ela tem pessoas muito mais experientes e estratégicas a dispor dela, mas ela escolheu você.
-Olhando por esse lado...
-É melhor entrarmos, minha perna está começando a doer.
Assim que entraram na enfermaria Marrie expulsou Harry, disse que tinha que examinar Gina e a presença dele era dispensável. Ele não teve outra opção senão sair.
Ele foi para o seu quarto e começou a ligar os pontos, embora estivesse ali por acaso, ele já desempenhara um papel importante e Gina estava certa, ele tinha habilidades. O problema agora era saber as habilidades dos outros do lugar, aliás, ele mal conhecia as outras pessoas dali. Era óbvio que isso era de propósito, Norma não podia correr o risco de vazar todas as informações sobre a 11ª Divisão caso um dos espiões fosse pego.
Alguém bateu na porta, mas antes que ele respondesse a pessoa entrou.
-Pensando muito, Potter?
Era Norma, será que ela esteve lendo seus pensamentos, pelo sim ou pelo não resolveu ficar quieto.
-Um pouco.
-Eu tenho uma pergunta a fazer, posso? –mas como sempre ela não esperou resposta dele- Você não gosta daqui, por que resolveu ficar?
-Você sabe que meus amigos Ronald Weasley e Hermione Granger se casaram?
-Ah sim... entendo. Assim é a vida, Potter, as pessoas não gostam de ficar sozinhas a vida toda.
Ele não respondeu, não sentia vontade de conversar com ela.
-Não conversei antes sobre isso com você porque você ainda estava muito abalado. Mas já é tempo. As pessoas daqui têm habilidades fortes, e só por isso eu as mantenho aqui...
-Continue.
-A questão é que só ter habilidades fortes, para mim, não é o suficiente. As pessoas têm que ser fortes também. Medos eu não posso impedi-los de ter, mas fraquezas sim.
-O que quer dizer com isso?
-Fraquezas, Potter. A sua fraqueza são seus amigos, que você preza mais do que tudo. Se eu fosse uma tirana ou uma Voldemort da vida, eu mataria seus amigos e assim você não teria mais nenhuma fraqueza, mas eu tenho outro modo de fazer você superar sua fraqueza.
Os olhos dele se arregalaram, será que ela o deixaria ver Rony e Mione novamente?
-Não, definitivamente não. Isso seria fortalecer seu lado fraco. Seus amigos não querem você mais, para eles você morreu e está tudo muito bem assim. Quero que você i esqueça /i seus amigos, eles e você já não têm nada em comum, você não é o mesmo Harry Potter e eles também não são os mesmos.
As palavras dela o machucavam como se mil lanças estivessem ultrapassando seu coração. Sentiu vontade de gritar com ela, dizer que era tudo mentira, que ela era uma velha medíocre e amargurada. Quis tampar os ouvidos e não ouvir mais nada, quis expulsá-la do quarto. Sentou-se no chão, sem forças pra fazer nada.
-Eu geralmente não permito amizades por aqui, mas você realmente fica mais forte quando tem uma. Eu i permito /i que você veja e conviva com a Sra. Weasley. Quanto aos outros dois que você deixou, esqueça-os, assim como eles o esqueceram. E esqueça todo o mundo lá fora, seu mundo agora é esta Divisão.
Assim que a porta se fechou Norma sorriu estranhamente.