Capítulo Cinco - Celebridades no Caldeirão Furado

Era isso: uma penseira! Nela, ela poderia depositar seus pensamentos, entrar em sua recordação e, finalmente, descobrir o que tanto quer! Uma idéia genial! Não sei como não pensei nisto antes.

Ficara tanto tempo na livraria, Floreios e Borrões, que chegou no Caldeirão Furado na hora do almoço. O bar, assim como o Beco Diagonal que ela havia deixado, estava bem movimentado.

Apesar de sentir o maravilhoso cheiro de comida que vinha da cozinha, que a deixara com mais fome ainda, Tonks, resistiu à tentação e caminhou direto para o seu quarto. Estava louca para ler o livro e descobrir se, de fato, seu raciocínio estava correto. Se estivesse certa, naquela mesma noite ela voltaria para a sala de Minerva McGonnagal. Subiu as escadas e teve uma grande surpresa ao chegar no primeiro patamar:

- Finalmente! A senhorita poderia me dizer onde esteve a manhã toda?

Remus Lupin estava encostado na porta do quarto da bruxa.

Era justamente a última pessoa que eu queria ver agora! Como posso pensar em partir, vendo-o bem aqui na minha frente? Como posso pensar em partir se nem ao menos tenho certeza de que voltando ao presente eu poderei encontrá-lo vivo?

- Eu não acredito! – disse a bruxa, sem conseguir esconder a alegria – Você está me esperando desde manhã? Não precisa se preocupar Remus, eu lhe disse que estava bem.

- Sim, admito que estava te esperando, mas estava o fazendo pois você ficou com o meu tabuleiro e as minhas peças de xadrez bruxo.

O sorriso da bruxa, desapareceu aos poucos. Chegara a abrir a boca para responder-lhe algo, mas fechou-a em seguida por não conseguir pensar em nada. Agora era Lupin quem sorria triunfante, ao ver que conseguira calar a mulher.

- E então, você não irá abrir a porta?

- Se você fizer o grande favor de sair da frente...

O bruxo se afastou e ela pode abrir a porta. Jogou o livro em cima da cama, pegou o tabuleiro e as peças de xadrez que estavam sob o criado-mudo, virou-se para devolver a seu dono, mas encontrou-o examinando o livro que deixara em cima do móvel.

- Penseira? – perguntou o bruxo, ainda examinando as páginas do livro. – Você tem uma?

- Não. – respondeu a bruxa, se auto-amaldiçoando, por ter deixado o livro em qualquer lugar sem se lembrar de que Lupin poderia querer vê-lo. Bem, veja pelo lado positivo: pelo menos eu não comprei um livro sobre viras-tempo; isto sim poderia gerar futuros problemas …

- Então vai pedir para alguém emprestada? Ou vai ganhá-la?

- Você veio aqui para pegar o xadrez bruxo, certo? Então: aqui está! – disse a bruxa levando até ele o tabuleiro.

- Vai comprar uma? – continuou ele ignorando o comentário feito - Não... – disse o bruxo observando Tonks – Uma penseira é um objeto muito raro, talvez mais raro do que os viras-tempo – Tonks, inconscientemente colocou suas mãos acima do peito; Lupin, não sabia, mas ele estava bem próximo de uma dessas raridades -, deve estar valendo uma fortuna...

Ótimo! MUITO obrigada, Remus Lupin! Quando finalmente eu tinha achado ter tido uma idéia genial você vem e lembra-me do quanto sou acéfala! Realmente Tonks, você conseguira pensar em tudo - depositar seus pensamentos na penseira e entrar em sua recordação, para obter a informação tão preciosa -, exceto em como e onde conseguiria arranjar uma dessas coisinhas!

Ela continuara em silêncio. Estava nervosa demais pensando no quão burra havia sido ao não pensar naquele mero detalhe.

- Oras! Então porque comprar um livro sobre penseiras...? Aonde você vai?

Tonks deixou o tabuleiro em cima da cama, andou até a porta e já ia fechando-a, quando lhe respondeu com uma voz azeda:

- Vou almoçar. – e saiu.

Chegando no térreo. Tonks procurou Tom, e lhe pagou por mais um dia com o quarto. Como o seu plano tinha falhado antes mesmo de ter sido posto em prática, a bruxa sabia que, provavelmente, ela não estaria na sala de McGonnagal naquela noite. Ela teria que pensar em uma outra maneira de conseguir o que queria. E isto teria que ser rápido, pois suas moedas estavam quase no fim. No máximo, ela poderia passar outra noite no Caldeirão Furado, depois disso... ela não queria nem imaginar.

Sentou-se numa das mesas, para almoçar. E sentiu alguém se sentar ao seu lado. Era Lupin.

- Obrigado por me deixar falando sozinho.

- Se você está esperando um pedido de desculpas; ele não virá: você estava sendo inconveniente!

- Se você está esperando um pedido de desculpas; ele não virá: - imitou-a exageradamente - você está sendo muito chata; o que custa responder a uma simples pergunta?

- Acontece que eu não posso responder. – disse a bruxa tentando por um ponto final na conversa.

- Porquê? – ignorou totalmente o ponto final que Tonks tentava pôr.

- Porque não! – ao ver a cara de porque-não-não-é-uma-resposta-muito-explicativa que Remus fez, ela continuou: - Digamos que isto é uma das coisas que só as mulheres entenderiam... compreende agora?

- Compreendo... – respondeu o bruxo a olhando com ceticismo, porém, ele não insistiu mais no assunto: sabia que eles poderiam ficar assim por dias e ele nada saberia.

Continuaram a comer, em silêncio. Silêncio este que fora interrompido após alguns minutos.

- O que está acontecendo ali? – perguntou Tonks apontando para Tom, que estava brigando com algumas bruxas.

O bruxo deu de ombros, mas ficou observando a briga. A princípio, não dava para ouvir uma palavra do que os bruxos falam, mas, depois que todos perceberam a discussão e resolveram calar-se para ouvir, ficou claro o motivo da briga: um grupo de mulheres cabeludas estavam querendo colar na parede do Caldeirão Furado um cartaz e Tom não estava concordando com isso, alegando que, se fosse para usarem o seu bar como local de propagandas, ele teria que receber um certo "agrado". As bruxas se recusavam a pagar e então a discussão foi se alongando.

- Espere um pouco. – disse Tonks – Aquelas ali... apesar de estarem bem diferentes...

Ela caminhou até a discussão.

- Vocês não são as Esquisitonas?

A bruxa mais baixinha de todas confirmou com um aceno de cabeça. Estavam todas ali. A banda toda. Apesar de não estarem usando os seus famosos e diferentes trajes, e de seus cabelos estarem mais arrumadinho do que o normal, Tonks as reconhecera.

- Eu não acredito! Eu adoro as suas músicas! A minha favorita é... – acesso de tosse.

Se ela falasse "A minha favorita é 'Completamente Louca Por Você'", todas teriam o mesmo pensamento: que era ela quem estava completamente louca, já que esta música não existia... ainda. 'Completamente Louca Por Você' só será composta daqui a oito anos, pela vocalista da banda.

- Você tá legal? – quis saber a baixista.

- Sim. – respondeu Tonks se recompondo. – Er... eu posso dar uma olhada nestes cartazes?

- Claro. – e a baterista, sorridente, entregou-lhe uma das cópias.

No cartaz, havia uma grande foto da banda, onde se via as bruxas tocando, embora a imagem da guitarrista parasse às vezes de tocar para fazer gestos obscenos para Tom. Em cima da imagem havia, escrito com grandes e sinuosas letras de cor púrpura, "AS ESQUIZITONAS". Abaixo da foto, ainda escrito com as mesmas letras sinuosas, mas agora de cor verde: "Ensaio aberto ao público, em comemoração a queda de Você-Sabe-Quem. Local: Sorveteria Florean Fortescue, Beco Diagonal. Dia: HOJE! Horário: a partir das 21h00. Não se acanhem e compareçam: como se trata de um ensaio, não serão cobrados ingressos!"

Enquanto a bruxa examinava o cartaz, a discussão continuava.

- Tom, só é um cartaz! – disse Lupin, finalmente se aproximando da confusão.

- Sim, hoje é só um cartaz, mas se souberem que permiti um, irão aparecer mais cartazes... Por isso, acho que o melhor seria cobrar por eu estar cedendo um espaço do meu bar.

- Mas o show é gratuito! – protestou a vocalista da banda – Não temos como lhe pagar, sem falar que nossa banda ainda esta no início... o dinheiro que conseguimos, só mal da para as dispensas pessoais!

- Ok. Então quando vocês forem famosas, vocês poderão colar quantos cartazes quiserem aqui, de graça.

- Cuidado com o que você deseja, isso pode se realizar. – alertou Tonks.

A bruxa sabia, que anos mais tarde, quando as Esquisitonas, depois de muitos shows e luta, conseguiram conquistar a fama, encheram o Caldeirão Furado de cartazes, eram tantos que mal cabia os clientes no bar. Tonks lera sobre isto no Pasquim, mas nunca imaginou que fora real – duvidara da notícia, pois, o Pasquim afirmava que Tom enchera o seu bar com os cartazes da banda por ser grande fã e por ter um caso com a baterista (baterista esta que, na época, estava namorando a sério com um auror).

- Bem, não importa mais se você vai ou não aceitar que elas colem o cartaz. – disse Lupin.

E só então, Tom, a vocalista da banda e Tonks perceberam que todas as pessoas que estavam no bar estavam pegando os cartazes e se comprometiam a ajudá-las na divulgação do show.

- Isso! – comemorou a vocalista, sem se conter – Obrigada, Tom. Graças a sua generosidade, você acabou, sem querer, nos ajudando!

O bruxo ficara mal humorado, e saiu praguejando para detrás de seu balcão. Minutos depois, os cartazes haviam acabado. Elas agradeceram as pessoas e se retiraram do bar, deixando um Tom zangado e brigando com a sua freguesia por desafiá-lo.

- Da onde você conhece essa banda? – perguntou Remus a Tonks, quando estavam se afastando da multidão. – Eu nunca ouvi sequer uma única música dessa banda!

- Ótimo! Vejo que já encontrei um acompanhante. – disse Tonks sorridente, ignorando a pergunta que o bruxo fizera.

- Quem? Eu?! Não... não, não, não. Eu não vou a um show de rock a séculos!

- Vamos! Vai ser divertido! E lembre-se do que diz no cartaz: "não se acanhem e compareçam." - a bruxa fizera uma cara de cachorro pidão, o que acabou provocando risos no outro.

- Eu não acredito que vou dizer isso, mas: eu irei ao show.

- Legal! Legal! LEGAL!

Tonks abraçara o bruxo, que a principio não correspondeu devido à surpresa. Mas, por fim, quando ia abraçá-la, a bruxa afastou-se dele pedindo desculpas. E, antes mesmo que ele pudesse responder-lhe algo, a outra já estava muito longe: ao pedir desculpas, Tonks correra, subindo as escadas até chegar ao seu quarto.

O que eu fiz? O que foi que fiz? Eu estou enlouquecendo! Eu acabarei me envolvendo mais ainda com ele e eu não posso me envolver com este Remus Lupin! Céus! Eu não agüentarei... Não é à toa que a maioria das pessoas que utilizam um vira-tempo, acaba passando seus últimos dias internados no Hospital ST. Mungus Para Doenças e Acidentes Mágicos.

A bruxa entrou no quarto e viu o livro sobre penseiras em cima da cama. Suspirou desanimada.

Terei que voltar para a livraria. Trocarei este por um dos livros sobre viras-tempo que encontrei... Talvez, se eu ler o livro de cabo-a-rabo, em vez de só ler o índice, eu encontre alguma coisa útil. Eu TENHO que encontrar alguma solução... Não posso ficar presa no passado por mais tempo! Não posso!

Pegou o livro e saiu.