Capítulo Seis - Uma Visita Inesperada

Tonks voltou para a Floreios e Borrões. Pediu para que o vendedor trocasse o livro que ela tinha comprado naquela manhã, o vendedor com a sua cara de eu-avisei-que-esse-livro-não-lhe-serviria, foi muito simpático e trocou o livro sem reclamar (a bruxa não sabia qual dos livros sobre vira-tempo levar – pois todos falam exatamente a mesmíssima coisa -, por isso, acabou levando o livro que o vendedor recomendou).

Chegando em seu quarto – agradecendo por não ter se encontrado com Lupin pelo caminho, uma vez que ainda estava envergonhada pelo abraço que deu e porque sabia que ele lhe faria perguntas a respeito desse novo livro -, escondeu o volume em cima do armário. Assim, se o bruxo entrasse em seu quarto, não iria descobrir que ela trocara de livro.

A bruxa chegou a dar uma folheada no volume, porém, não conseguiu ler uma linha sequer; estava muito empolgada com o show das Esquisitonas. Afinal, ela assistirá um ensaio da sua banda favorita, ainda no começo de carreira. Isto é algo que muitos não tiveram a chance de fazer.


A hora para o show estava se aproximando. Tonks não saíra mais de seu quarto. Estava tentando evitar Lupin... Só agora a bruxa percebera o quão infantil foi a sua reação ao sair correndo. Mas foi à única coisa que ela conseguiu pensar para se afastar do bruxo... Como sempre eu tenho as MELHORES idéias...

Quando foi se arrumar para o show, notou que não tinha nenhuma roupa, com exceção das vestes pretas que estava usando. As mesmas que usava em seu verdadeiro tempo, como luto pela morte de Lupin. Mas agora que sabia que Lupin estava bem ao lado de seu quarto e que Lupin estava vivo no presente – sim, porque aquele desmaio seguido por aquele sonho... aquilo só poderia significar uma coisa: seu cérebro estava registrando as novas lembranças -, a idéia de continuar de luto pareceu para ela uma bobagem, sem falar que já estava usando aquele mesmo vestido desde a hora em que voltara ao passado. Ela não queria ir ao show das Esquisitonas com uma roupa tão sem graça como aquela. Despiu-se. Jogou a roupa na cama e começou a avaliá-la. Sabia que não podia se dar ao luxo de comprar uma roupa nova; ela estava quase sem moedas. Então, a solução seria transformar suas vestes velhas em novas.

Podia não ser muito boa em muitos feitiços, mas sempre fora ótima em feitiços para roupas – vivia modificando sua roupas, já que sua mãe não lhe dava uma mesada tão gorda para poder comprar várias vestes. Examinou por mais alguns minutos a roupa. Depois de alguns toques da varinha no vestido, este estava irreconhecível: seu decote era discreto, agora estava mais amplo – o que preocupou a bruxa, pois, este decote mais provocante mostraria o vira-tempo que levava ao pescoço, por isso ela teve que tirá-lo e guardá-lo no bolso de suas vestes -; era folgado, agora estava mais justo, e recebera alguns remendos artísticos.

Vestiu-se. Olhou-se pelo espelho anexado a porta do armário. Ficou tentada a deixar o seu cabelo - que no momento estava castanho claro -, azul, porém, não o fez: no futuro, quando Remus a visse se lembraria certamente de Edwiges, e isto acabaria mudando mais ainda o futuro. Contentou-se apenas em fazer algumas tranças em seu cabelo.

Toc-toc. Tonks abriu a porta.

- Não sei se está cedo demais... Bem, não combinamos o horário de irmos, então... – disse o bruxo, um pouco desorientado.

- Não, o horário está perfeito: nem muito cedo, nem muito tarde... Er... vamos?


A Sorveteria Florean Fortescue estava lotada: havia tantas pessoas que não couberam todas na sorveteria e muitas delas tiveram que ficar na calçada. Tonks e Lupin ficaram admirados com isso. Pelo jeito, as pessoas que pegaram os cartazes naquela manhã, no Caldeirão Furado, cumpriram o que prometeram: ajudá-las a divulgar o show. A bruxa, não intimidada pela quantidade de pessoas, arrastou Lupin para o meio da multidão, para ficar mais próxima do palco.

Após alguns minutos, finalmente a banda aparece no palco improvisado. Agradeceram a todos que compareceram, apresentaram-se ao público e em seguida começaram a tocar.

Para "animar a galera" – como disse a vocalista -, as Esquisitonas começaram com uma música bem agitada. Tonks, assim como muitos bruxos presentes, começaram a dançar animadamente. A bruxa olhou para Lupin, que continuava parado, só observando a banda.

- Ah, Remus! Se solte! Estamos num show de rock, não acredito que você ficara parado aí como uma estátua! – gritou Tonks, para que Lupin pudesse a ouvi-la.

Vendo que o bruxo continuava de má vontade, Tonks, pegara suas mãos e começou a sacudi-las pra ver se o bruxo começava a se animar e mexer o resto do corpo. Apesar de ouvir Remus falar-lhe que não era bom para danças, Tonks continuou a sacudir as mãos e braços dele, e até tentara um passo mais extravagante, rodopiando o bruxo. Depois de muitas tentativas e de vários passos – bizarros - de dança feitos por ambas as partes, Lupin se sentia mais à vontade.

Então, após muitas músicas agitadas, as Esquisitonas, começaram algo mais lento. Os dois que estavam dançando, até aquele momento, animados, trocaram olhares tímidos.

- Er... eu acho que vou comprar um sorvete. – esta foi a melhor desculpa que Tonks conseguira pensar nesse meio tempo.

- Edwiges, agora sou eu que terei de repreendê-la?

O bruxo, desajeitadamente, pôs suas mãos na cintura da mulher, que colocou as dela em volta do pescoço do outro. Começaram a dançar. Para quem jurava não dançar bem, Remus se saiu um perfeito dançarino. Não conversaram; apenas dançavam. Aos poucos, o corpo dos dois foi se aproximando cada vez mais... Tonks sentia a respiração do bruxo, seus rostos estavam colados um no outro. Os dois estavam gostando tanto de dançar daquela maneira que só depois de muito tempo, notaram que a música havia terminado e, que agora, as Esquisitonas voltaram a tocar uma música agitada. Separaram-se mais timidamente do que quando se uniram para dançar. Olharam-se novamente, sorriram e voltaram a dançar de acordo com o ritmo da música; um separado do outro como no início.

O show acabou ates do horário previsto, pois começou a chover. Chuva de verão: aquelas rápidas, porém, intensas. A maior parte da platéia, que estava do lado de fora da sorveteria, começou a aparatar. Vendo que os espectadores estavam se retirando, as Esquisitonas resolveram parar de tocar.

- Bem, é melhor irmos. – disse Lupin, fazendo um gesto indicando para ela aparatar também.

- Não, não! – disse a bruxa segurando o braço de Lupin. – Vamos andando.

- Mas esta chovendo! – protestou o outro.

- Por isso mesmo… Vamos, vai ser divertido!

- Ahhh, não! Não me faça essa cara de novo! – falou sorridente, ao ver Tonks fazendo, novamente, a cara de cachorro pidão.

Como da primeira vez, o truque da bruxa teve um efeito positivo. E lá estavam os dois, andando tranqüilamente, sob a chuva intensa que caia sobre eles.

- Adorei o show. – disse o bruxo.

- Elas são ótimas, não é à toa que eu sou fã delas.

- Adorei todas as músicas; das agitadas – Lupin deu uns passos loucos de dança, que fizeram Tonks rir - , até a lenta – ele envolveu a bruxa em seus braços e começou uma espécie de valsa.

Dançaram energeticamente por uns bons segundos, depois a dança foi se abrandando, abrandando...

Os dois, sorrindo, iam se aproximando cada vez mais. Tonks nunca chegara a saber quem foi que começou o beijo. Só sabia que aquele foi o melhor beijo de toda a sua vida, talvez por ser um beijo dado pela pessoa amada, talvez seja por causa das cócegas que as gotas da chuva faziam em sua face, talvez seja porque Lupin beije bem... ou, talvez, sejam todas as opções anteriores.

Para o desespero de Tonks, o longo beijo terminou. Separaram-se alguns centímetros, Lupin acariciou os cabelos úmidos da outra, que até então não parava de sorrir. Recomeçaram a andar. Caminhavam abraçados, e em silêncio. Pareciam querer aproveitar o momento, temiam que se falassem algo, estragassem a magia da ocasião.

Chegaram no Caldeirão Furado e foram recebidos por um Tom muito zangado; os dois estavam ensopados, molhando toda a entrada do bar-hospedaria. O casal, não se abalou – o que deixou Tom, mais revoltado -, e subiram as escadas.

Chegando ao primeiro andar, Tonks tirou o braço de Lupin que a envolvia, e caminhou em direção ao seu quarto. Ela sabia o que ele pretendia; para o fim daquela noite maravilhosa, ser mais perfeita, só uma coisa faltava... Mas ela não podia, não, não, não! Se eu deixar isto acontecer... sua afeição por mim aumentará mais ainda, e ele, que finalmente está se recuperando da perda de seus melhores amigos, voltaria a sua depressão, pois, em breve, eu terei que sair da sua vida para voltar ao meu tempo.

- Não – disse o bruxo ao puxar a mão de Tonks, e com um movimento mais forte, puxou-a para junto de si e a beijou. – Não deixarei você fugir, como fez hoje de manhã.

A bruxa ficou púrpura. Ele não havia se esquecido da reação estranha que ela fizera ao abraçá-lo...

Lupin abriu a sua porta e levou Tonks, para dentro do quarto. O bruxo deu múltiplos beijos no pescoço dela, parou e sussurrou:

- Eu não sei o que é, mas algo em você me atraiu desde a primeira vez que lhe vi.

Sentir a respiração dele tão próxima de sua pela, sentir o hálito quente sair de sua boca ao pronunciar aquelas palavras... tudo isso provocara um tremendo arrepio na mulher.

- Não, eu não posso... – disse Tonks, afastando-se do bruxo.

Este a ignorou, puxou-a novamente para si, beijou-a na boca, e aos poucos foi levando-a para a sua cama...

Bem, talvez eu possa, pensou.


Acordou sorridente. A luz do Sol iluminava sutilmente o quarto. Tonks, percebendo que Lupin ainda estava adormecido; para não acordá-lo, tirou, com muito cuidado, o braço dele de seu corpo e levantou-se da cama, tentando não fazer barulho. Vestiu sua roupa amarrotada, passou as mãos na cabeça para amenizar o cabelo despenteado, e saiu do quarto; ia fazer uma surpresa para o bruxo: acordá-lo com um delicioso café da manhã na cama.

Desceu as escadas sorrindo bestamente. Sabia que o que tinha feito poderia gerar problemas; sabia que tinha que encontrar uma maneira de voltar ao seu tempo logo, que suas reservas estavam quase no fim e se não agisse logo estaria perdida; sabia que agora que a ligação entre os dois estava mais forte, ele ficaria extremamente desanimado com a sua partida (Depois eu pensarei num modo de despedir-me dele sem magoá-lo...); porém, não se preocupara com nada disso, estava tão feliz, que estas coisas pareciam insignificantes naquele momento.

- Bom dia, Tom! – cumprimentou a bruxa, alegremente. – Você poderia preparar um café da manhã...

- Que bom que a srta. acordou. – interrompeu-a Tom, que a observava de uma maneira estranha: parecia que ele estava desconfiado.

- Porque diz isso? – o sorriso da mulher saiu de seus lábios, dando lugar a uma expressão de apreensão.

- Alguém a espera há um bom tempo, na saleta. – respondeu misterioso.

- Comigo? Tem certeza? – Tonks não conseguia descobrir quem seria este "alguém", afinal, ela não tinha feito amizade com quase ninguém durante o tempo que esteve lá.

- Acompanhe-me e você descobrirá. – recomendou Tom.

Para quê tanto mistério? Porque ele não fala de vez quem quer falar comigo?

Tom encaminhou a bruxa para um corredor estreito que se abria atrás do bar. Ambos continuavam em silêncio. Finalmente pararam de andar e o bruxo abriu a porta. A bruxa entrou, não reparou na decoração do lugar, nos móveis... seu olhar permaneceu fixo em um único ponto: no homem encapuzado, sentado em uma das poltronas.

- Vou deixá-los conversarem a sós. – falou Tom, fechando a porta.

Tonks ouviu os passos do dono do bar-hospedaria diminuírem a medida em que este se afastava mais da saleta. Não quis sentar-se. Continuou próxima da porta; ela não conhecia o bruxo, talvez fosse melhor ficar perto de uma saída para o caso de algo dar errado. Esperou o homem se pronunciar, mas ao ver que este não o fizera, resolveu fazê-lo:

- Que-quem é você? O que quer de mim? – balbuciou a bruxa, nervosamente.

Finalmente o bruxo encapuzado se mexeu, levantou-se, e Tonks notou que este era um homem - ou mulher -, alto. O bruxo encapuzado ergueu uma de suas mãos e puxou seu capuz. A bruxa deu um passo para trás ao ver e reconhecer a face do outro.

- Dum... Dumbledore?


Nota da Autora: Bem, o próximo capítulo é último. O que ninguém sabe é que não haverá só um último capítulo e sim dois; finais alternativos. Enfim, semana que vem (sexta-feira) postarei os dois finais alternativos. Até lá!
Beijokas