CAPITULO IV– Reencontro com as lembranças...

- Onde estou? – Perguntou-se olhando para o quarto, quase vazio. Não consegui escapar... Não acredito...Não espera, eu lembro-me de quem sou... por isso, consegui, mas então onde estou...

Olhou para o quarto, tinha sido mudado de roupa, estava com um...PIJAMA?...
Tocou a sua cabeça... Não, não estava quente...olhou para o seu lado, estava uma mesinha, com uma bandeja, encima dela estava um copo de sumo de laranja, e uma sandes, com vários tipos de fruta...

Agarrou numa sandes, faminto. Há quanto tempo estaria ali?

Lembrava-se de Kioko, que lhe tinha dito que iria perder a memoria indefinidamente, mas nunca pensou que ela estava a dizer mesmo a verdade...

Afinal, ela lhe trairá...


- Shaoran... – a voz suave de Kioko fez-se ouvir ao lado de seu ouvido, fazendo o tremer – Tens a certeza que queres fazer isto?

- Sim! – Respondeu ele determinado.

- Toma! – Sussurrou ela, dando-lhe uma pequena bolinha, de metal verde – Consegui rouba-la do escritório do meu pai.

Shaoran sorriu, há tanto tempo que não via a sua espada. Desde que tinha quase tirado um olho a Xing Lao, num dos seus penosos treinos, tinha sido um golpe de sorte, dissera Xing Lao, enquanto, continuava a lutar com Shaoran, e este sorria por ter conseguido fazer algum dano no seu mestre, no fundo Xing Lao sabia que Shaoran, estava ficando cada vez mais forte, mas não queria admiti-lo, só sabia que os seus treinos, estavam fazendo efeito.

- Vou ter saudades tuas! – Disse Kioko tristemente, enquanto olhava para Shaoran.

- Não te preocupes eu vou procurar-te depois.... – Disse ele abraçando-a e guardando a espada, num bolso das suas calças.

- Não acho...

- Claro que vou!

- Não... esta arma de fuga, tem um inconveniente, que não te disse...

- Qual?

- Bem... Podes perder a memoria indefinidamente...se não a perderes definitivamente...

- Não te preocupes, eu a recupero por ti!

Kioko sorriu tristemente ao ouvir a resposta de Shaoran.

- Desculpa-me...

- Porque?

Ela não lhe respondeu, estava olhando, para alguém que estava atrás dele.

Shaoran virou-se, e viu um homem chinês, sorrindo maleficamente.

- O seu pai mandou agradecer, srta.Kioko, pode retirar-se.

- Kioko? – Perguntara Shaoran, enquanto via uma lágrima descer pela sua face.

Ela olhou para ele directamente. E depois saiu do esconderijo, que ela própria tinha arranjado para eles os dois.

- Agora tu... – Disse o homem, virando-se para ele.

Shaoran, pôs-se em posição de combate, enquanto o chinês fazia o mesmo. Vários homens apareceram de lugares escondidos e começaram a fazer uma roda ao redor dos dois.

Kioko, porque fizes-te isto... – Pensou Shaoran triste, enquanto esperava pelo ataque do homem.

- Não querias fugir? Porque não o fazes agora? – Perguntara o homem, sorrindo – O senhor Lao, manda-te comprimentos, e diz que já não precisa de ti para nada... E sabes o que isso significa...

Shaoran olhou para ele cheio de ódio.

- Que vamos poder matar-te... finalmente! – Exclamou o homem chinês, enquanto os outros riam abertamente.

- Ainda bem... Já não suportava ficar refém neste maldito casebre! – Respondeu Shaoran, sem importar-se dos grunhidos de alguns, afinal já estava num grande problema, tantas vezes a tentar fugir... e nada, se era o seu destino morrer, morreria, mas como um grande lutador, que venceu quase todos os homens de Lao. Um homem fraco e sem poder.

Lembrava-se da primeira vez que o tinha visto.


- Menino Shaoran! – Chamara Wei, o seu mordomo, ainda que ele não o achasse nada disso, para ele Wei, era quase como o pai que não tinha.

- Estou indo, Wei! – Respondeu ele, apanhando o seu casaco da cadeira do avião, e saindo atrás dele.

Chegou ao recebedor dos passageiros, com a cabeça baixa e com um sorriso, ainda se lembrava de Sakura, e como ele lhe tinha prometido, que iria voltar...

- Irmãozinhooo! – Ouviu quatro vozes conhecidas de raparigas, a gritarem. Uma gotinha apareceu na sua frente enquanto olhava para suas quatro irmãs, que acenavam freneticamente para ele. Olhou para Wei, que tinha um sorriso de conspiração, na face.

- Disseste-lhes que vínhamos? – Perguntou.

- Eu, menino Shaoran? Só disse que iríamos chegar em breve... – Respondeu Wei, sorrindo e olhando para as quatro raparigas na sua frente.

- Podias ter-me livrado de isto, até chegarmos a casa – disse simplesmente Shaoran, enquanto se deixava cobrir por um monte de braços.

- Deixem-me! Por favor! Estou ficando sem ar! – Reclamou Li, enquanto Fuutie, Shiefa, Fanren e Fimei, o abraçavam, afogando-o.

Eles não lhe ligaram nenhuma, e continuaram com os abraços, e começaram a falar, interrompendo-se uma a outra...

- Porque não nos disseste que vinhas? – Foi o primeiro que ouviu de uma delas.

- Há tanto tempo que não te víamos!

- Estás tão grande e bonito!

- E aquela menina, é Sakura não é? – Esta última pergunta o fez corar-se.

Ali todas ficaram caladas, e ficaram a espera da resposta de Li, que continuava calado.

- Responde! – Exclamaram as quatro, enquanto, olhavam para ele formando uma barreira.

- Não! – Exclamou Li, assustando-as, enquanto se afastava.

- Espera irmãozinho! – Gritaram as quatro, correndo atrás dele.

Li começou a correr, por sua sorte, viu um aviso a dizer em que direcção ir, estava um desenho de lavabos, e dirigiu-se para lá. Certamente, as suas irmãs não entrariam na casa de banho dos homens. Ainda que não estivesse muito certo.

Quando entrou na casa de banho, sentiu uma presença estranha...

Tentou sair de lá, mas não conseguiu abrir a porta.

- Li Shaoran... – A voz de um homem, fez-se ouvir, enquanto ele forcejava a porta da casa de banho, para abri-la. Virou-se para ver quem tinha falado.

- Quem esta ai! – Exclamou Shaoran, tirando a sua espada.

- Que vais fazer com essa espadinha? – Perguntara a voz.

- Aparece! – Gritou Li, empunhando a espada na sua frente.

- Como quiseres – Respondeu a voz ironicamente, aparecendo do nada na sua frente.

- Ahhh! – Shaoran gritou assustando-se, pelo homem que tinha na sua frente. Como terá aparecido? Perguntou-se.

O homem riu abertamente, vendo o susto do rapazinho na sua frente.

- Quem és?! – Exclamou Li, recompondo-se.

- Sou Xing Lao – Respondeu ele, ainda com um sorriso cínico, desenhado na sua face.

O homem tinha perto dos trinta anos, vestia um fato amarelo com símbolos chineses pretos, era parecido com o seu próprio fato. Mas o do homem, tinha alguns pormenores diferentes. Ele já tinha ouvido a sua mãe falar daquele tipo de fato, eles só eram usados pelo clã dos...Lao!

Os olhos de Xing Lao, eram pequenos e esticados, o nariz parecia que já tinha sido partido umas quantas vezes, enquanto a sua boca, grande e esticada, exibia um sorriso de maldade e dentes brilhantes. A sua face tinha feições muito escuras, sobretudo as olheiras, que circundavam os olhos, fazendo-os ficar ainda mais pequenos.

- Eu sei quem és! – Gritou Li, mais uma vez – És do clã dos Lao!

- Claro miúdo... – Respondeu ele – Eu sou o chefe, deles e tu vais vir comigo.

- NEM PENSAR! – Reclamou Li, empunhando a sua espada mágica, com ainda mais força.

- Queres lutar comigo pequeno? – Perguntou Lao, tirando uma espada parecida e sorrindo maldosamente – Como quiseres...

Shaoran, empunhou a espada na sua frente, esperando pelo ataque, enquanto Lao, punha-se em posição de combate. 'Não se iria deixar ganhar tão fácilmente' pensou Shaoran com raiva. Tinha sido muito bem treinado.

O ataque começou por um golpe de Lao, que mandou Li ao chão, ele não tinha estado a espera de tal força no ataque. Xing Lao começou a rir abertamente.

- Ainda pensas que me podes vencer, piolho? – Perguntou, enquanto olhava para Li odiosamente.

Li, não respondeu, e levantou-se do chão com um salto. ' Vamos ver! ' Pensou.

Recomeçaram o ataque, mas Shaoran, sempre caia. E rapidamente cansou-se.

- Já estou farto de brincadeiras de crianças! – Exclamou Lao, com raiva, dando-lhe um golpe na cabeça, e fazendo-o desmaiar.

Quando tinha acordado, estava num quarto escuro. Sem nenhum acessório.

Um golpe o tinha feito sair do seu mar de lembranças. Fazendo-o tropeçar e quase cair. Risos se fizeram ouvir a sua volta.


- Então o menino do clã Li, é muito forte... – Disse o homem chinês, com cara de gozo.

- Grrrr... – Disse Shaoran baixinho, estava furioso por ter-se desconcentrado assim, os treinos que tinha passado com eles, parecia que não lhe tinham ensinado nada, o que não era muito verdadeiro, pois esses treinos, eram muito piores daqueles que tinha, quando estava com a sua família. Ia vencer aquele inútil, custasse o que custasse...

A sua espada chocou com a do seu atacante, fazendo, varias faíscas surgirem, cada vez que estas se tocavam. Após uns minutos de luta e defesa.

- Acabou-se! – Disse Li, afastando a espada do homem chinês, do seu caminho com facilidade. E afundando a sua espada no estômago dele, enquanto este o olhava surpreso, por ver, que Li não tinha feito nenhum esforço para mata-lo.

Shaoran retirou a espada, do corpo dele lentamente. Começando o conjuro que Kioko lhe tinha ensinado.

Pelos deuses do Norte, sul, este e oeste. Façam destas portas invisíveis, para que se consiga escapar. Faça estes homens fracos para que se consiga lutar. Faça um portal onde se consiga passar e fugir. Eu Shaoran Li do clã dos Li, ordeno! PORTAL DOS TEMPOS ABRE-TE AGORA!

Todos os homens ao seu redor, que tinham começado a ir na sua direcção, furioso por ele ter derrotado a um do seu grupo, pararam assustados, enquanto viam uma circular negra, aparecendo lentamente do vazio, e sugando a Li com todas as suas forças.

Shaoran sentiu os pés elevarem-se do chão, enquanto era puxado, pela cabeça. Começou a dar voltas e voltas, numa escuridão total. O tempo que dava voltas, parecia passar tão lentamente. Parecia que estava ali a horas, quando na verdade estava a minutos. Um feixe de luz fez-se ver ao longe. Cada vez, aproximando-se mais. Quando já estava quase a chegar ai, a luz cegou-o e desmaiou.


A porta do quarto onde estava abriu-se. Uma rapariga de longos cabelos castanhos-claros e bastante bonita, entrou, com uma expressão triste.

Sakura suspirou, enquanto entrava no quarto de Touya para ver aquele que pensava chamar-se de Hakinaze Mutara.
O que terá acontecido a Tomoyo, para ela ficar nesse estado... – Perguntou-se, não se tinha dado conta, que o rapaz na cama, tinha os olhos abertos, e olhava para ela desconfiadamente.

- Cof cof – Tossiu Shaoran, para fazer-se perceber, que tinha acordado.

- Ahhh! – Gritou Sakura assustando-se, o rapaz que ainda estava na cama, tinha acordado, dando-lhe um susto.

- Haki! – Exclamou ela, correndo até ele e abraçando-o.

- Haki? – Murmurou Shaoran interrogativamente e corando, enquanto era envolvido, pelo aroma suave da jovem de cabelos compridos e olhos verdes. Como é que ela sabe, o diminutivo do nome, que os Lao me punham, cada vez que tentavam apagar-me a memoria, a única que me chamava por esse nome, e de vez em quando era Kioko, a filha de Xing Lao. Afinal, não tinha conseguido fugir, pensou.

- Sim! Não te lembras do teu próprio nome? – Perguntou Sakura incredulamente, enquanto via a cara fechada do rapaz.

- Esse não é o meu nome verdadeiro – Respondeu Shaoran, ao que ela tinha dito, os seus olhos magnificamente verdes, o faziam lembrar a... Não, não podia ser ela... corou um pouco, porque tinha de ser tão bela, ao menos assim, não se sentiria tão constrangedor, olhar para ela – Ao final onde estou?

- Estas na minha casa...

- Em que lugar? – Perguntou exasperado.

- Na cidade de Tomoeda, que pertence ao Japão. Do qual a sua capital é Tokyo... – Sakura tinha começado a dar uma lição de geografia, quando foi interrompida, por um surpreso jovem, que a olhava sem acreditar.

- TOMOEDA? – Exclamou Li, sem querer acreditar no que tinha ouvido. Certamente era demasiada coincidência.

- Sim... Porque? Estas a lembrar-te de algo? – Perguntou Sakura confusa, ao ver a surpresa dele.

- Como é que te chamas? – Perguntou ainda ele, com uma expressão de surpresa na cara. 'Não...não podia estar em frente da pessoa, que pensava estar em frente.'

Sakura ia responder, quando alguém abriu a porta. Entrando a voar. Um bonequinho de pelúcia amarelo, entrava efusivamente no quarto. Parando de repente, ao ver um jovem acordado e olhando para ele, Kero fez-se cair novamente no chão, como quando tinha feito, quando o tinha visto pela primeira vez. Uma gotinha apareceu na fronte dos três, que estavam no quarto.

Aquele bonequinho que tinha entrado, era o guardião das antigas cartas Clow, que posteriormente se tinham convertido em cartas Sakura, e se ele estava com aquela jovem. Era porque, ela era... ela era...

O seu rosto virou de um vermelho vivo.

- SAKURA? – Perguntou incrédulo, olhando a rapariga, que por sua vez mirava a Kero pelo canto dos olhos, exasperada.

Ela olhou para ele.

- O que foi? – Perguntou confusa, pelo grito que ele tinha dado, dizendo o seu nome.

- É que tu... é que eu... – Começou Shaoran tentando explicar-se, mas foi interrompido por outra entrada.

- Touya! – Foi a vez de Sakura exclamar o nome de outra pessoa. Shaoran olhou para os dois incrédulo. Estava hospedado na casa dos Kinomoto??

Touya, não sabia para quem olhar. Se para Sakura, para o boneco dela que estava no chão, ou para o rapaz que finalmente tinha acordado. Foi empurrado sem querer, por outra pessoa que vinha correr atrás dele, com uma sandes na mão.

- Aii...! – Resmungou Touya, enquanto tropeçava, para a frente.

- Desculpa Touya! – Exclamou Yuquito, apercebendo-se depois que o jovem que tinha estado na cama, tinha acordado. Uma gotinha, surgiu na fronte de Shaoran e Sakura, que olhavam para a cena que decorria em frente deles.

- Sakura, esse ranhoso fez-te alguma coisa? – Perguntou Touya, recuperando-se do choque com Yuquito.

- Não... – Respondeu Sakura, enquanto a gotinha na sua cabeça crescia – Porque?

- Ouvimos-te gritar... – Respondeu Yuquito, enquanto apanhava a Kero do chão.

- Eu...? Mas eu não gritei... – Replicou Sakura confusa, olhando de Touya para Yuquito.

- Gritas-te sim, monstro!

- Grrrr! – Resmungou Sakura levantando-se e tentando ir em direcção do irmão.

- Mas, porque não nos avisaste, que este ranhoso, acordou! – Reclamou Touya, enquanto, se afastava de Sakura, não fosse ela ter a ideia de pisar-lhe.

Shaoran olhava simplesmente para Touya sem falar.

- Bem, ele só acordou há poucos minutos... – Disse ela, esquecendo que lhe tinha chamado de monstro.

Touya ignorou-a, olhando agora para o jovem que estava deitado na sua cama. Uns raios saíram dos seus olhares, dirigindo-se um para o outro.

Enquanto umas gotinhas surgiam na fronte de todos no quarto.

- E tu?! Quem és! – Perguntou Touya agressivamente, um brilho conhecido tinha surgido no olhar do rapaz, quando ele estava desacordado, não tinha reparado, mas ele lhe fazia lembrar a aquele outro ranhoso, que andava sempre atrás da sua irmã.

Shaoran olhou para Touya, que o continuava a olhar agressivamente. E decidiu, ali desmascarar-se.

- Sou... – Começou, afinal ia ser mais difícil do que pensara. – sou...

- Fala logo ranhoso!

- ...Shaoran Li!

Sakura o olhou perplexa. Raciocinando um pouco depois.

- SHAORAN? – Gritou interrogativamente, virando-se muito rapidamente, para olhar o rapaz em cima da cama.

Enquanto Touya, Yuquito, e Kero, nos braços de Yuquito caiam para o chão.

Uma gotinha surgiu na cabeça de Shaoran, enquanto olhava para todos caídos no chão. Kero voou no ar, novamente, olhando para ele afogueado. E quase a gritar.

- Tens muita coisa que explicar ranhoso! – Exclamou Touya, recuperando-se da surpresa que tinha apanhado, e interpondo-se a Kero.

- Sim! – contribuiu Kero – ...muitaaa coisa, mesmo!

Shaoran olhou para eles mais uma vez. Tinha uma expressão seria e fechada. Parecia que nenhum dos comentários feitos por Touya e Kerberos o tinham afectado.

Yuquito olhou para Shaoran e para o relógio, interrompendo o silêncio, que se tinha instalado na sala.

- Tenho de ir embora... – anunciou tristemente, não queria perder esse espectáculo, mas tinha de ir.

Touya e Sakura desviaram o olhar surpreso de Shaoran, para o dirigirem a Yuqui.

- O trabalho me chama... Adeus a todos...e... hmmmm... Bom interrogatório! – Disse ele sorrindo quase ironicamente, deixando a todos mais uma vez com uma gotinha na cabeça. Era engraçado ver todos assim, confusos. Pensou Yuquito saindo do quarto ainda sorrindo.


Tomoyo olhou para o quarto em redor, já devia ser tarde, pensou.

Toc toc toc

- Sim??

- Tomoyo?

Tomoyo olhou para a porta pesarosamente.

- Posso entrar? – a voz de Sonomi fez-se ouvir novamente.

Tomoyo ficou a pensar em que dizer.

- Podes.

A porta do grande e belo quarto abriu-se lentamente. Uma mulher de cabelos com um corte de cabelo estranho e olhos azuis entrou, com uma expressão apenada.

Tomoyo virou-lhe as costas, e começou a caminhar em direcção à cama.

- Filha... – começou Sonomi com a voz baixa.

Tomoyo não respondeu, e continuou a caminhar.

Sonomi, estremeceu ligeiramente, tinha que pedir desculpas na sua única filha, e ela ia ouvi-la quisesse ou não. Agora que já sabia da verdade, não tinha mais nada que esconder.


Tinha saído da escola, muito tarde e estava chegando a casa.

Quando entrou tudo estava muito vazio e silencioso, deveria ter percebido que algo estava errado. A única luz ligada, era a da sala, onde se ouviam gritos distantes que chegavam até os seus ouvidos.

Olhou para o lado, umas malas ainda estavam na entrada. A sua mãe tinha finalmente chegado!

Começou a caminhar lentamente pelo corredor escuro coberto de formas, os gritos a cada passo se faziam ouvir mais.

- NÃO! – Gritava Sonomi – Eu NÃO te quero aqui de volta!

'Que estranho' pensou Tomoyo ' com quem é que a sua mãe estaria a falar'.

Ficou parada, espreitando pela fresta da porta.

- NÃO ME INTERESSA QUE ELA SEJA A TUA FILHA TAMBÉM! Se te aproximares dela ou da minha casa, juro que te meto na cadeia! Não te esqueças do que sei!

O auscultador do telefone embateu violentamente com o seu suporte, de repente a porta da sala abriu-se de par em par.

Tomoyo ficou olhando surpresa para a sua mãe, que pairava furiosamente diante dela.

- Com quem falavas? – Perguntou Tomoyo, fora a única coisa que se lhe ocorreu disser.

Sonomi, de repente ficou com uma expressão de temor na face.

- Com ninguém filha... – respondeu com a voz tremendo de raiva.

- Quem é filha de quem?

Os olhos de Sonomi retraíram-se.

- Ninguém é filha de ninguém! – Respondeu mais uma vez, elevando o tom de voz e quase perdendo a paciência. "Como tinha sido burra o suficiente para deixar o número da sua casa nas mãos desse idiota" Iria despedir Himotayu! tinha sido capaz de entregar o seu número a Quiang!"

Tomoyo olhou para a sua mãe duvidosamente, qualquer coisa estava errada, sua mãe nunca tinha falado assim com ela. Deu um suspiro longo. E olhou para a mãe, que ainda estava a bufar de raiva.

- A quem tencionas meter na cadeia? – A voz duvidosa e doce da sua filha, fez-se ouvir, fazendo-a sair do seu mar de pensamentos enraivecidos.

- Ao teu pai! – gritou Sonomi, tirando de si um grande peso, nunca tinha contado a Tomoyo o que tinha acontecido entre ela e o seu pai. Agora já era maior de idade, já poderia saber a verdade.

Tomoyo ficou seria num instante, olhou para a mãe durante um momento.

- Não me disseste que ele tinha morto num acidente de aviação?

- Não ele não morreu num acidente de aviação, não esta agora nos infinitos dos céus, não nós esta vigiando e muito menos...a esperar por nós! Fui eu que o mandei embora!

Aquilo já era demais, ela não sabia, o que ele tinha feito, a ela e a toda sua família, a ameaça... Todo o mal pelo qual ela tinha passado, as desconfianças... Sem dar-se conta começou a falar alto.

- Tu não sabes o que é, ser largada pelo homem que amas, por teres um rebento seu no teu ventre!

Tomoyo exaltou-se olhando para a mãe, que estava quase a explodir de rancor.

- Não sabes, o que é viver na desconfiança de ele estar a magoar toda a tua família, ou fazer algo pior! Não sabes, como é conviver com uma pessoa que te aterroriza todos os dias, a cada minuto, cada segundo, com medo que chegue a casa, pois ele poderá bater em ti, poderás perder o teu belo rebento, que ainda esta dentro de ti!

- mãe... – susurrou Tomoyo, nunca pensara que a sua mãe, tivesse tido uma vida tão dura.

- Na verdade... eu perdi o meu belo rebento...

Tomoyo olhou incrédula para ela, como podia dizer isso, se ela estava na sua frente.

- Tu... quer dizer... eu... eu adoptei uma linda rapariga... ou seja... tu...! – Acabou Sonomi dando um largo suspiro, e caindo numa cadeira da sala, com lágrimas a rolarem pela sua face.

Tomoyo sentiu o chão a desaparecer debaixo dos seus pés, todas as células do seu cérebro tentavam raciocinar, fazer algo, desaparecer...

- O que? Não pode ter acontecido isso! – Gritou.

- Desculpa filha... – Começou Sonomi, soluçando – mas... eu te menti...

- Não podes! – Gritou Tomoyo chorando e saindo a correr da sua casa.

- Menina! – Tinha dito uma das, suas guarda-costas, mas ela tinha continuado a correr, sem parar...


O menino começou a rir suavemente enquanto corria pelo caminho iluminado pela lua. Estranhamente não se sentia só, senão tudo ao contrario, estava muito contente e não tinha medo algum.

- " ¡Yukito!!.. Onde estás?" –lhe chamava uma voz feminina.

O pequeno só seguiu rindo enquanto se sentava tranquilamente no claro da lua mas o eco do seu riso foi suficiente para que a mulher lhe encontrara e de repente sentiu sobre seu rosto uma suave carícia.

- "Não percebo como não sentes medo de estar aqui sozinho de noite, qualquer outro menino teria...Só tens três anos!... Que tanto te pode gostar este lugar se estás só?"

- "Não só" – balbucio docemente indicando a lua.

- "De modo que a lua é a tua companhia, certo?" – a mulher o tinha elevado do solo com um braço - "se não fosses um pequeno tão adorável realmente estaria muito zangada contigo.." – o pequeno continuava indicando a lua - " gostas muito da lua Yuquito?"

Um enorme vento varreu o lugar e quando tudo se dispersou o menino tinha já 5 anos. Encontrava-se num templo quando outro pequeno se lhe aproximou.

- "Ola... o que és tu?" – inquiriu o outro miudo.

- "Eu?. Sou un menino... porque?"

- "Não... não sei" –disse o outro pequeno, que tinha aproximadamente a sua idade e o cabelo negro e curtinho - "quando te vi passar com os teus pais vi uma sombra prateada caminhar ao tu lado"

- "Que sombra?.. Não te percebo"

- "Acho que tinha asas... não sei... "

Uma velhinha aproximou-se então ao pequeno e o levou da mão. O primeiro menino encolheu-se de ombros outra vez e sorriu. Não tinha entendido o que dissera o outro miúdo mas já quase era de noite, a lua empeçava a aparecer no céu e isso o punha muito feliz...

- "Mas avó" – dizia o outro pequeno - "esse menino.... Não o sinto como uma pessoa senão como duas..."

- " Viste isso porque és um médium... mas não é algo que possas comentar.."

A lua brilhou com intensidade e agora o primeiro miúdo tinha uns dez ou doce anos. Encontrava-se saindo da escola e dizendo adeus a um grupo de miúdos da sua idade.

- "Cuidem-se muito!"

- "¿Então vais mesmo mudar de escola?" – lhe perguntou outro rapaz.

- "Sim. Meus pais vão mudar-se por trabalho e a outra escola fica mais perto. Alias, têm uma padaria muito perto da nova escola que tem doces muito bons!..."

- " Comes muito!" – riu outra miúda - "vamos ter saudades tuas!..."

- "Eu também"

- "Não digas isso Yuquito" – replicou outro miúdo - "tu és muito bom e nunca tens dificuldade para fazer amigos, todos gostam de ti... acho que nunca vais sentir-te só"

O miudo riu suavemente e repentinamente estava ante as portas fechadas de uma grande casa. Agora tinha o uniforme de secundaria e usava oculos. Tinha umas malas a sua esquerda e um par de velhinhos à sua direita.

- "Agora viras, viver connosco" – disse o velhinho - "ainda que a tua avó e eu normalmente estejamos muito ocupados, esperamos que não te sintas só"

- "Isso não avô" – disse voltando-se para vê-los com um sorriso no rosto - "Como posso estar só se vocês estão comigo?"

- "Então, vamos a tua nova casa"

O estudante tinha subido ao automóvel e tinha contemplado a paisagem. De repente já não estava no auto senão sobre uma bicicleta e um jovem de cabelo escuro e uma miúda em patins iam ao seu lado.

- "...Sonhei com um enorme peixe e quando acordei encontrei-o no meu pequeno-almoço... e deu-me tanto gosto que comi-o com seis taças de arroz!"

A miúda tinha sorrido e ele lhe tinha lançado um doce enquanto ela ficava à porta de uma primária. O jovem de cabelo escuro, tinha ficado olhando-o com uma expressão de assombro quando a miúda recebera o doce e a preocupação se desenhou por um instante no seu rosto bonito. O que foi isso? Sempre tinha tido a faculdade de poder ver espíritos ou coisas que os outros não notavam, mas nunca tinha observado isso no seu amigo quando estava junto à sua irmãzinha. Uma sombra prateada com asas de anjo? Sabia que Yuquito tinha uma aura estranha, quase como se não fosse uma só pessoa, mas aquilo só tinha feito que sua amizade fosse mais firme porque era ele o único que entendia as coisas que ele via e pelas que sempre se tinha afastado dos outros. Surpreendido na sua confusão, tinha murmurado com enjoo.

- "Porque sempre lhe ofereces um doce?" – tinha dito com um gesto frio - "é um monstro"

- "Tu dizes isso porque é tua irmã" – replicou - "mas a verdade é que teria gostado de ter uma família como a que tens..sabes?... as vezes tenho um pouco de inveja"

- "Isso não tira que ela seja um monstro.... um monstro que só pode inspirar terror..."

- " Pois ao contrario, a mim a tua irmãzinha me inspira uma grande ternura" – disse amavelmente "sabes?.. as vezes me sinto muito só na minha casa e teria gostado ter alguém a quem proteger e cuidar... uma família como a tua"

- "Bem, bem... se suportas à monstro quiçá a minha família possa adoptar-te" – tinha respondido o outro jovem enquanto encolhia os ombros – "ainda que duvide que nos suportes por muito tempo.... Já vais acabar pensando que é melhor estar só que mal acompanhado"

Um enorme vento envolveu o jovem de óculos, agora sim, via uma sombra prateada ao seu lado, à miúda dos patins com um báculo estranho e algo parecido a uma carta de tarot nas suas maõs; ao lado da miúda estava um pequeno em traje chines e uma enorme besta alada de olhos doirados e muitas cenas passaram demasiado rápido para que se pudessem descrever. Muitos sorrisos e encontros com essa menina e a sua família, a primeira família que o tratou de uma forma tão cálida. Mas repentinamente se encontrava ante o corpo frío do seu avô, e ao seu lado, sua avó parecia muito cansada.

E se encontrava então num quarto feminino, uma menina já de quinze anos, estava deitada na sua cama, com um boneco de pelúcia amarelo afagando os seus cabelos, a sombra com asas, estava-se a fazer-se sentir fortemente, enquanto olhava a cena, começou a caminhar na sua direcção, quando o cenário mudou.

Agora já saia da universidade com o aspecto de um homem de 23 o 24 anos... e ali estava essa moça aleijada à quem acompanhou à enfermaria da escola onde estava trabalhando.

Uma bela moça lhe tinha sorrido, como quando via à sombra com asas nos claros de lua - uma súbita alegria lhe tinha invadido. Era uma alegria estranha, muito diferente à que antes, alguma vez, tivera experimentado. Não tinha nada a ver com o afecto que sentiu pelos seus pais, o cálido companheirismo dos seus amigos infantis ou a tosca mas total confiança do seu melhor amigo da secundária. Lhe lembrava mais ao sentimento que tinha pela irmã menor do seu amigo, mas era ao mesmo tempo diferente e original.

Ante aquela menina a sombra com asas que sempre lhe tinha acompanhado lhe tinha animado a sentir por ela uma profunda ternura e um desejo de protege-la. Mas ante esta moça, sabia que era ele, por si mesmo, quem sentia esta calidez, esta alegria cada vez que ela sorria, este desejo de estar sempre ao seu lado e de cuida-la e faze-la feliz.
Mas esta moça, que não era parte de ele próprio, de alguma misteriosa forma e por este sentimento totalmente novo, agora o era.

Fim do 4º Capitulo

Notas da autora: Então gostaram desse capi?? Espero que sim, e o aparecimento de Shaoran, como foi?? Espero que bom! Eu sei que ainda faltam outras personagens mas tudo ao seu tempo, e a filha do Lao... será que Shaoran esqueceu Sakura?? Hummm descubram para os próximos Capis... (Espero que este capitulo não fique muito confuso, tou a precisar de alguém que ponha istu bem... um beta... é que tem muitos retornos ao passado) E a parte da tomoyo com a mãe acho que não ficou muito bem... ai ... não faz mal, beijus e comentem...

Ps: Bom eu sei que disse que a trama da mãe de tomoyo e ela ia se arranjar nesse capitulo, mas não deu... no próximo vejo se ponho como acaba a discussão.

E como sempre comentários, sugerências ou tomates ao meu mail, ou deixem REWIEW!

Avances para o próximo capítulo: Shaoran e Sakura, enfrentam o novo inimigo, enquanto vários problemas familiares resolvem-se e uma conversa particular entre Touya e Yue é feita. E uma pequena surpresa, leva a Shaoran, reencontrar-se com a sua velha família.

Capítulo V: A família Li